Meu caro camarada de armas [, Albino Silva:]
Obrigado por se ter lembrado de algumas coisas, mas não de todas:
1 - Ainda bem que confirma a real existência do Paparratos.
2 - Fica-lhe bem não querer nomear o graduado em questão. O que eu conto é a "morte do Paparratos" e não outro episódio passado antes da minha chegada ao aquartelamento que, como bem descreve, ficava ao pé do arame farpado.
3 - Está enganado: estive em Teixeira Pinto ao mesmo tempo que o meu colega e amigo Prof. Maymone Martins e fui enviado à pressa para o CAOP porque o Dr. Bessa deu baixa ao Hospital.
4 - Nunca fui Capitão, limitei-me a ser Alferes enquanto estive na Guiné e em T. Pinto não estive só 15 dias... esqueceu-se dos outros até aos seis meses!!!
5 - Obrigado pelas boas referências que fez de mim.
6 - Li o seu livro.
Desejo-lhe boa saúde e trabalho... nestes tempos de crise são coisas importantes a desejar aos amigos.
J. Pardete Ferreira
José Pardete Ferreira. Sim, sou o autor de "O Paparratos" de que tanto gostou. Agradeço-lhe a publicidade e o seu padrinho de casamento, o Emílio Rosa, está no Colonial e em Bissau. Estivemos pois muito próximos. O David Payne foi meu colega na Faculdade e creio que igualmente, durante um tempo no HM241 [, vd. foto acima, do nosso arquivo].
Afinal o mundo é pequeno. Um Abraço do Companheiro jpardete@hotmail.com + 1 blog no Sapo.
C. Comentário de L.G.:
José Pardete Ferreira foi, pois, nosso camaradana na Guiné, Alferes Miliciano Médico (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)... Nasceu em 1941, estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Turma de 1966), trabalhou no Hospital São Bernardo, em Setúbal (onde foi Director Clínico). Interessou-se também pela prática do desporto e pela medicina desportiva. Vive em Setúbal. Tem uma conta no Facebook. E um blogue no Sapo.
Sobre ele, como escritor, e sobre o seu Paparratos diz o nosso camarada Beja Santos (no poste P:
Sobre ele, como escritor, e sobre o seu Paparratos diz o nosso camarada Beja Santos (no poste P:
(...) "É assim que José Pardete Ferreira apresenta as suas divertidas memórias, que incluem, talvez com uma intensidade única o meio universitário do princípio dos anos 60, sobre a sua passagem por terras da Guiné onde serviu como alferes miliciano médico e, autobiograficamente falando, aparecerá como João Pekoff, um médico que forjou Gabriel, o Paparratos (“O Paparratos, Novas Crónicas da Guiné, 1969 – 1971”, por José Pardete Ferreira, Prefácio, 2004) " (...).
Também sobre o Paparratos, escrevue René Pélissier, na Análise Social, vol. XL (176), 2005, 717-730 ("Combater, viajar, rezar"):
Também sobre o Paparratos, escrevue René Pélissier, na Análise Social, vol. XL (176), 2005, 717-730 ("Combater, viajar, rezar"):
(...) "Apresentado o bom soldado português Gabriel ou o Paparratos], o autor divaga pelos espaços míticos dos estudantes que frequentavam a Cidade Universitária no início dos anos 60: o Café Roma, onde hoje é um Mc Donald’s, junto ao Cinema Londres, a praxe do luto académico, o Café Colonial, o CDUL, o Monte Carlo, o Monumental, o D. Rodrigo, a Pastelaria Biarritz bem como as respectivas faunas, sonhos, devaneios. Tudo entremeado pela vida mais ou menos bélica no chão manjaco onde vai aparecer o alferes miliciano médico Pekoff. Fica-se com a ilusão que Pekoff se cruza com o Paparratos, mas seguramente, já que são figuras mais ou menos falsas e mais ou menos reais, seguem caminhos paralelos. E temos um flash dessa tão celebrada e jamais esquecida 105ª Companhia de Comandos, comandada com cada vez maior frequência pelo alferes Jorge Esteves, em virtude das visitas, quase permanentes a Bissau, do capitão Dias Anjos e que se prolongavam no tempo. A sua mulher encontrava-se de férias na capital providencial, os dois pombinhos podiam ser encontrados no Quartel General.
"O Posto de Comando do Aquartelamento do Chão Manjaco era conhecido como A Casa da Mariquinhas com as suas janelas com tabuinhas. Por dever de causa, o autor apresenta-se pondo-se ao espelho através de João Pekoff, vamos aos seus locais de estudo, alguns dos cafés atrás referidos, subimos até à Cantina Universitária, às Pró-Associações de Medicina e de Letras, às Associações de Direito e de Ciências, entramos no Estádio Universitário. Ficamos a saber que além dos estudos de medicina, pratica desporto e andou no associativismo religioso. Pelo que se dirá adiante, a sua guerra não foi só feita de tiros e morteiradas mas também de hospital e em Bissau, remendando feridos graves e ligeiros, criando a ideia, junto dos autóctones, de que era feiticeiro. Um bom pretexto para, sempre a propósito e a despropósito, voltar aos cafés de Lisboa e saudar os seus amigos inesquecíveis. (...)
"Como quem não quer a coisa, dado o retrato do CDUL e o seu desempenho na Academia Lisboeta, vamos numa missão helitransportada à Caboiana, que meteu bombardeamentos, reconhecimentos e até mosquitos. No Cacheu, para que conste, as Companhias de açorianos e madeirenses não só não se misturavam como tinham hortas separadas. E depois o alferes Pekoff vai até à Ilha de Jeta, fazer a psico, tratar das populações, e o alferes deliciou-se com esta floresta quase tropical, pensou mesmo que estava num Haiti a 4 horas de voo da Europa. Spínola é conhecido pelo Brigadeiro Sebastião Ribeiro, alguém que vai todos os dias ao Hospital, lugar onde o pessoal de saúde é de uma dedicação exemplar. Nova saltada à mocidade de João Pekoff, desta feita às suas práticas no andebol e até às suas lembranças da campanha presidencial de 1958 e às manifestações ao candidato Humberto Delgado. Paparratos e Pekoff encontram-se de facto num passeio à Ponta de Caió, andaram por lá até desoras, o que trouxe uma grande inquietação lá no aquartelamento do chão manjaco. Fala-se da Pax Romana, dos movimentos católicos universitários, da retirada de Madina do Boé, da Operação Mar Verde (tratada no livro como a Operação Verde Tinto), depois viaja-se até Paris, segue-se o tratamento de um ferido VIP, o capitão cubano Peralta, a guerra prossegue, o Paparratos continua a fazer das suas na tabanca, ao aproximar-se do sentinela que grita 'Alto!', ele continua a avançar e é fulminado por uma rajada. A família soube da notícia e ficou incrédula pois disseram-lhes que tinha falecido de um acidente em serviço, morte impensável para quem fazia parte das tropas especiais". (...)
O francês, historiógrafo da nossa guerra colonial, e que tem acompanhado a produção literária dos ex-combatentes portugueses, René Pélissier, escreveu o seguinte sobre autor e o livro, num artigo ("Combater, viajar, rezar") publicado na revista Análise Social, vol. XL (176), 2005, 717-730:
(...) "Não é preciso mais do que o verbo 'amar' para fazer um ser humano completo. Quase completo! Mas o amor encontrá-lo-emos em alguns dos títulos referidos mais abaixo. Mesmo nos livros de guerra, o amor — ou o seu contrário — surge; sobretudo quando os seus autores não a fizeram pessoalmente. O amor em O Paparratos ? Verdadeiramente não, mas uma certa nostalgia positiva dos anos de juventude de José Pardete Ferreira, isto é, neste caso, os dois anos (1969-1971) que passou como médico militar na Guiné. Inicialmente mobilizado numa companhia de comandos no território dos manjacos, depois afecto ao Hospital Militar de Bissau, ele evoca neste romance «histórico» factos reais, como (i) a evacuação de Madina do Boé (...), (ii) o ataque português contra Conakry, (iii) a captura de um capitão cubano próximo de Guileje e o seu tratamento pelos médicos portugueses em Bissau (...).
"Pelo mesmo editor [, Prefácio], muito dinâmico a nível da literatura de guerra, recomendamos as recordações apaixonantes de José Alberto Mesquita, também ele, actualmente, médico. Decididamente, os médicos constituem uma percentagem muito grande dos autores que escrevem sobre a guerra colonial". (...)
Pardete Ferreira (de quem não temos qualquer foto) diz, sobre si próprio, o seguinte, em termos autobiográficos:
"(...) Nasci durante a 2ª Guerra e ainda me lembro das senhas de racionamento, aqueles
selinhos, castanho claro ou roxo esbatido, tavez com um pouco de verde,
igualmente! Penso no 'black out', porque a aviação alemã vinha bombardear Lisboa, com o meu pai a orientar as operações, com as tiras de papel a cruzarem
os vidros, as grandes portas interiores de madeira fechadas, luzes apagadas e a
permissão de uma ou outra vela em pontos estratégicos que não podessem ser
vistos do exterior. Fiz igualmente a minha Guerra, na Guiné, hoje Guiné-Bissau,
com um quarto de mato e três quartos em Bissau, nos hospitais, civil e
militar" (...).
Telefone> 265522530; telemóvel> 914019160
Data Nascimento> 15-02-1941
Ao nosso camarada J. Pardete Ferreira queremos dirigir formalmente o convite para se sentar, aqui, connosco no bentem da nossa Tabanca Grande, sob o mágico, frondoso, secular e fraterno poilão, onde cabe toda fauna do mundo, desde os morcegos aos irãs, desde os tugas aos fulas, desde os manjacos aos balantas, desde os inimigos de ontem aos amigos de hoje... Ele próprio já constatou que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande.
Com um Alfa Bravo do Luís Graça
______________
Nota do editor:
Vd. último poste da série > 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8032: Os nossos médicos (25): Dois louvores militares atribuídos ao ex-Alf Mil Med Amaral Bernardo (CCS / BCAÇ 2930, e CCAÇ 6, 1970/72)
2 comentários:
Meu caro Luís Graça - permita-me que o trate assim - É com muita honra que agradeço o convite para integrar a minha "morança" na "Tabanca Grande".
Já tenho umas velhas fotografias e uma nota curricular que lhe enviarei brevemente, bem como o meu "Fado da Orion". Não me posso impedir de enviar um bj. à minha querida amiga Maria Arminda e só tenho pena de já não o fazer a algumas das Enfs-Pàras
Caro 'camarigo' Pardete Ferreira
Saúdo a sua aceitação para partilhar o convívio deste grande espaço de afectos e memórias.
Não haverá sempre consensos por aqui, mas como não é propriamente um espaço de opinião, é mais um local para preservação da memória, nada de dar muita importância a algumas divergências que possam aparecer.
Bem vindo.
Um abraço
Hélder S.
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