Galomaro > Militares do Pel Rec/BCAÇ 3872 acabados de chegar de uma patrulha nocturna
Foto ©: Juvenal Amado
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 7 de Agosto de 2012, subordinada ao tema:
GUERRA PERDIDA, GUERRA GANHA
Página 144/145 - "Diário da Guiné"
de António Graça Abreu
"Cufar, 4 de Setembro de 1973
O Spínola retirou-se estrategicamente da guerra da Guiné. Fácil de entender porquê. Com o agravamento do conflito, não quis assumir derrotas. Foi a Lisboa, falou com o Marcelo Caetano, pediu mais meios, mais tropa, mais aviões, e disseram-lhe que não havia, não era possível. O General pediu a exoneração e acho que fez bem. Para os guineenses acabou o mito Spínola.
O novo governador, General Bettencourt Rodrigues, parece ser um homem com curriculum notável, mas que pode fazer na Guiné? Vai-se meter em grandes assados. Há muita descrença, cansaço, passividade a povoar o quotidiano da tropa portuguesa. E, de certeza haverá mais feridos e mortos. De que aspectos se revestirá a fase final da guerra na Guiné? Ninguém sabe.”
O autor descreve aqui um cenário pré apocalítico quanto à situação politica/militar, onde não falta a interrogação como será o final da guerra. Sabemos hoje pelo o que ele escreve, que era ainda uma coisa para continuar, até que talvez os soldados se negassem a combater. Cenário mais negro é difícil de imaginar. No fundo foi o que aconteceu de alguma forma com o 25 de Abril. Mas já antes os soldados se tinham negado a embarcar. E também já se falou aqui nas páginas do blogue que soldados houve, que embarcaram com destino a Angola e quando acordaram, estavam na terra dos Fulas, Papéis, Manjacos, etc. Como é que acabam as guerras?
Estando o blogue em águas mornas como convém a quem vai ou foi de férias, vem o meu amigo AGA agitá-las e faz leitura do que mais lhe convém, para assim levar água ao seu moinho.
Poste 10208*
Corta aqui, avança por ali, e lá vai debitando o que defende agora e tantas vezes repetiu, para que não fiquem dúvidas ao seu posicionamento. Porque penso que das piores coisas que se pode fazer a um homem é ignorá-lo, fiquei contente por ele me mencionar no seu comentário, provando assim que o que escrevi na altura acabadinho de “desembarcar no blogue”, ainda com o camuflado cheio de goma e a cheirar a novo, era hoje lembrado como prova irrefutável dos “diz que disse”, sobre o tema da Guerra Perdida, Guerra Ganha.
Não nego uma única palavra nem intensão sobre o que escrevi, embora concorde que hoje escreveria de outra forma, menos a quente e sem deixar lugar para dúvidas. Não sabia eu da existência dos relatórios que trouxeram à luz do dia o que se falava, mas que era considerado “jornal da caserna”
E escrevi eu como num desabafo:
“O medo dos Migs era real, pois foram distribuídos cartazes com fotos identificativos dos referidos aparelhos, em variados destacamentos.
Que nós não tínhamos meios de autodefesa contra esse tipo de ataque. Que a nossa Força Aérea já dificilmente cumpria a sua missão de apoio às tropas debaixo de fogo.
Que os helis e Dorniers voavam rente ao chão e de preferência por cima das estradas e rios (mesmo assim levavam rajadas de automáticas como aconteceu entre Nova Lamego e Piche com o comandante de batalhão dentro do heli).
Que os batalhões cumpriam 26, 27 meses por não haver homens para formar novos batalhões e assim serem rendidos.
Que havia movimentos para que os soldados se negassem a embarcar e se não se temesse o efeito dominó, a Guiné já teria sido abandonada.
Que os destacamentos junto à fronteira estavam a ponto de terem que ser evacuados.
Que as nossas armas mais emblemáticas (Chaimites e Fiats) se tornaram obsoletas, graças aos mísseis e novos RPGs (emboscada entre Bafatá e N. Lamego, onde a Chaimite foi varada por munição anticarro).
Que estávamos a um passo de ver os ex-Alferes, que já tinham cumprido comissões serem chamados a cursos de capitães, e serem obrigados a combater em novas comissões. A vez dos outros (furriéis, cabos e soldados) também chegaria a seu tempo.
Que na (Metrópole) a resistência ao regime, desencadeava cada vez mais acções de sabotagem (caso dos helis, centrais eléctricas e navio de transporte de tropas Cúnene dinamitados pela ARA).
As derrotas militares são normalmente precedidas do sofrimento das populações civis. O Povo Português estava cansado de sofrer.( o que eu conhecia, estava sim farto de sofrer e de criar filhos para a guerra)
Se não se tem promovido etnias em desfavor de outras. Se não se tem promovido a cavaleiros do Império, soldados oriundos das populações indígenas, que fizeram em muitos casos o trabalho “sujo”, a guerra teria durado ainda menos.”
Nos tempos que correm não há derrotas militares só por si. Os Americanos foram derrotados no Vietnam sem terem perdido um única grande batalha. Mas por que retiraram eles da Indochina tão atabalhoadamente deixando os seus até aqui aliados, entregues à ilusão que os iam ajudar a deter o vietcong? Foi ou não foi para evitar a derrota vergonhosa e assim salvar o seu sistema politico junto do eleitorado americano?
Como nós não tínhamos sistema eleitoral, facilmente se depreende que só derrubando o regime, acabávamos com a guerra.
Estes tipos de guerras, longe do nosso chão sagrado perdem-se primeiro na retaguarda, quando as pessoas descobrem que foram enganadas e que por causa disso, os seus filhos não param de chegar em caixões.
Hoje as guerras que a América trava são mais os grupos de segurança privados (ex-soldados hoje mercenários contratados por grupos poderosos que foram formados pela CIA) a combater do que soldados para evitar assim o efeito devastador do seus mortos na opinião publica.
Já agora pergunto porque não ganhámos aquela guerra? Quando apareceram os relatórios do Luis Vaz, que eram pertença de seu pai, perante as dúvidas que alguns camaradas levantaram à veracidade dos mesmos, fiz o seguinte comentário;
“Nunca duvidei da coragem dos soldados, marinheiros e pilotos, o que sempre pus em causa foi a impossibilidade de ganharmos a guerra, que quando se deu o 25 de Abril a estávamos a perder de forma acelerada e o porquê, acaba por ser explanado aqui neste poste, bem como nos comentários.
Põem-se em dúvida os relatórios, duvida-se das assinaturas independentemente da época em que foram feitos. Acaba-se por pôr em causa a qualidade do nosso estado maior na Guiné, com o tão aclamado Spínola e posteriormente B. Rodrigues à cabeça. Este tipo de suspeitas vem dar razão de que, efectivamente a guerra estava perdida e que o nossos governantes militares e civis, tinham perdido completamente o Norte. Com tais chefes que nem liam e pior assinavam sem ler, como é que íamos ganhar a guerra?
Temos aqui lido sobre a qualidade do nosso armamento.
Passo a citar:
Uma bomba de 750 libras largada de avião teria um efeito de destruição de duzentos e cinquenta metros (em todas as direcções) e provocava um terramoto de grau 5. Que um obus 14, fazia uma razia tal que nem árvores de grande porte ficavam de pé. Multipliquem-se por 3 obuses 14, mais morteiros, mais aviões a bombardear em voo picado, ou simplesmente aviões com a porta aberta, donde se atiravam bombas de 750 libras à mão (já aqui li isto também, o que prova que embora estando lá, não sabia da missa a metade.
Quanto às baixas do inimigo eram de arrepiar. Há pouco tempo se disse aqui num comentário que só 5% dos feridos sobreviviam. Não custa acreditar nisso, na verdade era um esforço enorme que a guerrilha tinha que fazer para transportar os seus feridos. Por muito mal que nós estivéssemos, nunca se poderiam comparar as condições de assistência médica e alimentar que nós tínhamos com as deles.
E agora pergunto eu quais eram os resultados ?
Como é que o IN escapava ao poder destruidor das nossas bombas? À partida eles quando atacavam não tinham protecção, pois não podiam andar com um abrigo às costas, contra semelhante poder de destruição, com a agravante de que muitos dos ataques deles não eram esporádicos, mas por vezes atacavam vários dias seguidos. Onde é que estão relatórios das baixas infligidas ao IN? Não falemos por favor de propaganda.
Em dez anos de guerra em que altura perante tanto poder de fogo se tornou visível a nossa vitória militar e se ela era possível porque não ganhamos? O aniquilamento do inimigo e a ocupação do terreno não deveria ser uma consequência lógica?
Voltamos a finais de 1968 quando o brigadeiro Hélio Felgueiras disse por outras palavras, que não era possível bater o IN embora o enorme dispêndio de homens e meios em operações militares, que após o seu fim voltava tudo ao mesmo nas zonas intervencionadas .
Não tínhamos no terreno o equivalente a seis soldados por cada guerrilheiro? Entre esses soldados tínhamos grupos especialmente formados para a guerra de guerrilha ( fuzileiros, comandos, paraquedistas e operações especiais). É verdade que a grande maioria da tropa, estava aquartelada em zonas que dominavam, policiavam e defendiam dos ataques do IN. ( fomos injustamente acusados de não sair do arame por um general, o que causou grande indignação nos camaradas deste blogue).
Com tal disparidade de meios como é que os não varremos, não lhe conseguimos tirar a capacidade ofensiva?
Gostei de ler o poste do camarada (António Martins de Matos), porque o acho com peso conta e medida. Também o considero muito corajoso. Nele é e explicada a forma como se tentou resolver a crise dos Strella, mas também é posto a nu as nossas fragilidades em equipamentos, a confrangedora economia de recursos, bem como a falta de pilotos. Onde é que se viu atirar bombas à mão pela porta do avião? Na 1.ª Guerra Mundial, nos livros do major Alvega e na Guiné em 1973.
Nunca haverá uma verdade para todos e se o que está escrito por quem nos comandou como ponto de partida não serve, estamo-nos a entreter e nada do que deixarmos escrito para o futuro terá qualquer valor.”
Termino com mais um excerto do Diário da Guiné do António G. Abreu.
“Cufar 12 de Novembro de 1973
Na LDG chegou uma companhia de “periquitos” com um mês de Guiné que vão render os infelizes que estão em Cobumba. Já perceberam para onde vão e estão completamente desmoralizados. Como é possível aguentar as NT a combater na Guiné quando o que todos desejam é a paz e sair daqui.”
Um abraço para todos
Juvenal Amado
Notas do editor:
- Sombreado da responsabilidade do autor do texto
- Título do poste da responsabilidade do editor
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10208: Notas de leitura (386): O 25 de Abril e o Conselho de Estado - A Questão das Actas, por Maria José Tiscar Santiago (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 19 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10171: (Ex)citações (190): Conhecemos pessoas que ignoramos serem camaradas de armas (Carlos Nabeiro)
11 comentários:
Camarada
Nada a acrescentar. Visão clara e simples dos acontecimentos.
O que é lamentável é a existência de "vencedores". Por mim já levantei cenários dantescos que não custa a admitir. Quando ficámos prisioneiros na Índia éramos prisioneiros de um país da Comon Wealth e obediência às convenções internacionais, mas a queda da Guiné não teria estas características. Aí havia outras condicionantes que são fáceis de adivinhar à luz da situação internacional do tempo. Seria um verdadeiro calvário. A mim o que mais me desagrada são os que não querem perder "nem a feijões" e dizem como os treinadores de bancada: "Tavam todos rotinhos. Eram mais 10 min. de jogo e a gente ganhava aquilo".
Um Ab. e boas férias do
António J. P. Costa
Caro camarada Juvenal Amado
Estou a responder apenas porque são transcritos excertos de comentários meus.
Nunca aqui disse que a guerra estava ganha militarmente e julgo que nenhum camarada o disse.
Disseram e dizem muitos que estava perdida militarmente,ora é essa afirmação que eu contesto,pelo simples facto de não ser verdade e por isso fere a dignidade de muitos e a mim especialmente.
Politicamente estava perdida antes de ter começado.
Estávamos exaustos,é verdade,mas eles estavam tanto ou mais do que nós.
Falo com conhecimento de causa e não de meras suposições.
Este tema,confesso que a mim já me "cheira mal".
Não pretendo mudar a opinião de quem quer que seja..cada um terá a sua e que lhe faça "bom proveito".
Quando se fala de assuntos estritamente militares é preciso ter conhecimento de causa.."cada macaco no seu galho".
Uma guerra de guerrilhas não se ganha enquanto uma parte da população estiver do lado do IN.
Não volto a dar para este "peditório",estou farto.
Um alfa bravo
C.Martins
Meu caro Juvenal
Tenho por ti todo o respeito. És um homem com um passado PCP, mas honesto e puro de intenções e coração.
Por isso, ainda alinho estas frases.
A anquilosada pancada marxista foi em ti demasiado forte e rudimentar Falta-te o Hegel, a dialéctica do entendimentos das coisas do mundo.
Guerra perdida, guerra ganha? Alguma vez no blogue e no meu Diário da Guiné, eu disse que íamos ganhar a guerra, ou que a podíamos ganhar? Se não me consegues dar um único exemplo de que eu tenha afirmado de que a guerra ia ser ganha ou era para ganhar, estamos aqui a falar de quê?
Até quando teremos de aturar estas distorções e dislates no blogue?
A 27 de Julho de 1972, em Teixeira Pinto, eu escrevia:
"As NT, as nossas tropas são constituídas por cerca de 35.000 homens, incluindo os negros que combatem do nosso lado. Pensa-se que o IN, o inimigo, os guerrilheiros do PAIGC, conta com cinco a sete mil homens.
Quem controla todos os centros urbanos, vilas, estradas, aeroportos, rios principais e ilhas da Guiné são os portugueses. O território é pequeno, pouco maior do que o Alentejo e os guerrilheiros nunca estão longe. Têm capacidade para lançar ataques, flagelações, emboscadas, colocar minas um pouco por todo lado, não é difícil movimentarem-se por entre a malha do dispositivo militar português. Todavia é um exagero afirmar-se que dois terços da Guiné estão nas mãos do PAIGC. Só controlam as aldeias escondidas nas florestas, quase sem estradas, onde não existe luz eléctrica, não têm viaturas para se movimentar, não dispõem de meios aéreos, nem de barcos, a não ser canoas. As suas principais bases militares situam-se do outro lado da fronteira, no Senegal e na Guiné-Conacry. Daí partem muitas vezes em acções militares e, cumprido o plano, para lá regressam. As zonas libertadas de que falam corresponderão em termos reais talvez a um terço do território da Guiné. São as tais florestas quase impenetráveis, às vezes circundadas por rios onde só costuma entrar a nossa tropa especial e há logo escaramuças, contactos de fogo. Trata-se de regiões mártires sujeitas a frequentes flagelações pelas NT."
O problema é que tu, e éne camaradas, ainda não entendem (ou estão fartos de entender mas dá jeito fingir que não entendem!)
que uma derrota militar significa que as Forças Armadas de um dos lados foram militarmente derrotadas, no terreno, no campo de batalha, o senhor de La Palisse não diria melhor.
Nem as NT nem o IN foram derrotados, Então as NT ganharam? Este raciocínio primário tem inquinado toda esta discussão. E não se pode discutir com pessoas que partem de pressupostos facciosos, mais do que politicamenbte comprometidos e sobretudos falsos, considerando a realidade da guerra que todos vivemos.
Guerra militarmente perdida, guerra
ganha!...
Até quando o sim ou sopas, o preto e o branco, o primarismo ideológico (não é meu coronel A.J.P.Costa?) a obscurecer o entendimento das realidades que todos vivemos?
Abraço,
António Graça de Abreu
Oh António para além de ter sido do .... " fisgas canhoto" ainda sou ignorante. É normal pois faltam-me os ensinamentos que colheste na China quando eras maoista.
Mas isto de eu ter pertencido a certo partido tem graça, mas não sei ao que vem ao caso. A não ser que o tempo que por lá andei me tenha tirado o descernimento e embutido os sentidos.
Olá Camaradas
Ao Graça Abreu sugiro que leis como calma o seu livro. O livro fala por si...
Relembro que qualquer guerra, mesmo "a petróleo" é um fenómeno total que marca toda a situação política, social e económica de um sociedade.
Por isso não há derrotas políticas e vitórias militares ou o contrário. A tentativa de "salvar a face" é absurda e só tem paralelo naqueles que nunca são derrotados. A culpa do sucedido é do adversário ou do inimigo que ganhou...
Na China no tempo do Nove, Sete, Um e já antes é que é assim.
Um Ab.
António J. P. Costa
À atenção do António J. P. Costa
que me recomenda a leitura do meu próprio Diário da Guiné.
A 8 de Agosto de 1972, em Teixeira Pinto, escrevia eu no meu Diário:
"Será que os homens do PAIGC estão cansados, após anos e anos de privações de toda a espécie? No chão manjaco e noutras zonas da Guiné, o controle – sempre relativo -- das populações e muitas das iniciativas de operações pertencem aos portugueses. Os guerrilheiros, às vezes pelo fresquinho da noite, vêm por aí abaixo e lançam um original fogo de artifício sobre os nossos aquartelamentos, raramente provocam baixas nas NT. Depois regressam, lestos e lampeiros, às zonas libertadas.
Em termos militares, não têm força para ganhar a guerra, isto é um conflito prolongado com uma solução militar tão a longo prazo que o mais valente – IN ou NT – desanima."
O que escrevi então, exceptuando Maio de 1973, com Guidage, Guileje e Gadamael, corresponde à situação até Abril de 1974.
Claro que a situação militar era dura e difícil para as NT mas ninguém assistiu a uma derrota militar das Forças Armadas Portuguesas.
Então mas Clausewitz não disse que "a guerra é a continuação da política por outros meios"? Ora
se a derrota política era mais do que evidente -- o regime político de Salazar e Caetano havia parado na História --, a derrota militar também não era evidente?
Não, não era mesmo evidente porque o inimigo não tinha força suficiente nem capacidade para nos derrotar no campo de batalha. E não vou referir mais uma vez toda a distribuição dos poderes militares no interior da Guiné, até Abril de 1974,francamente favorável as Nossas Tropas.
Basta a História posterior do PAICG, dos novos governantes instalados em Bissau, até hoje, sempre em conflitos fraticidas, para provar todas as fragilidades e incapacidades políticas e militares de muitos dos homens que pensaram lutar pela liberdade da sua pátria contra nós, o "derrotado exército colonial fascista".
Só um cego é que não vê, ou pior, vê tudo clarinho, mas finge continuar a não ver. Como diz o nosso povo, esse é o pior de todos os cegos.
Quanto a pcps, maoistas e outros, todos militámos um dia por causas em que acreditávamos. E tais militâncias não nos fica nada mal.
Mas os anos passaram, as ideologias em que acreditámos cairam. Evoluimos ou não como pessoas, passamos a conhecer melhor ou não as realidades do mundo?
Fé só em Deus.
Continuar a ter fé em ideologias que postas em prática criaram execráveis ditaduras, esmagaram povos inteiros, provocaram milhões de mortos (sim milhôes de mortos, só na China a Revolução Cultural em 1966/69 terá provocado 40 milhões de mortos) é de um reaccionarismo extremo. E fiquemos por aqui.
Abraço,
António Graça de Abreu
Camarada
"O tempo trabalha a favor da subversão". Isto é válido para qualquer sector da vida. Relembro que o termo subversão não tem nada de pejorativo e até pode ser aplicado em arte. Ou seja, o prolongar de um fenómeno social de características violentas por largo tempo leva à exaustão económica de uma das partes. Portugal consumia, em 1973, cerca de 40% do OGE em despesas directa ou indirectamente (como é o caso da sobrevivência da "marinha mercante", relacionadas com a defesa. Quanto à "História posterior do PAICG, dos novos governantes instalados em Bissau,(...) sempre em conflitos fratricidas, para provar todas as fragilidades e incapacidades políticas e militares de muitos dos homens que pensaram lutar pela liberdade da sua pátria contra nós, o "derrotado exército colonial fascista" relembro que sou português, que já tenho os meus problemas e que "quem não tem competência não se estabelece". É um problema da Guiné e dos guineenses.
Um Ab.
António Costa
A História está carregadas de feitos, vitórias, derrotas, avanços e fracassos.
Sempre tiveram que haver dois polos, para que a humanidade avançasse embora sujeita a muitos recuos. O antagonismo entre o poder instituído praticamente feudal e as novas ideias da revolução de Outubro, fizeram andar os direitos do Homem e o seu bem-estar mais em 70 anos de que nos Séculos passados. Compare-se o níveis de vida hoje com os do início do Século XX.
Mas não há bela sem senão, homens que lutaram por sociedades mais justas e que depois ajudaram a subverter esses mesmos ideais também os há. O poder corrompe, mas nem sempre e temos os que se afastaram, depois de o ajudar a conquistar a liberdade e independência para o seu povo. E esses dão-me esperança.
Tens razão sou um fraco marxista, de Engels só conheço praticamente o nome e quanto a Lenine, sempre me dei mal com a teatralização russa, bem como cultos da personalidade. Sou na verdade um iletrado latino.
Mas a diferença entre nós não é a minha falta de conhecimentos de Marx ou Engels, é a forma como eu me tornei militante no trabalho, na fábrica, nas necessidades em casa, no exemplos que recebi, nas injustiças que testemunhei. Já tu aprendeste nos livros e quiseste ser dirigente da classe operária, onde operários eram só decoração. É a diferença de um partido de operários, que tem intelectuais e outro, em que os intelectuais coabitam com alguns operários.
Li que fé só Fé em Deus. Mas essa fé é para resolver os bens terrenos? Achas possível negociar um acordo salarial, ou qualquer disputa de bens ou partilhas com base na Fé em Deus? E a fé em Deus é de quem? Do patrão que não quer pagar mais, ou do empregado que quer e que nunca lhe chega, porque é sempre tão pouco? Onde é que esse sentimento tem resolvido conflitos por todo o Mundo desde que se conhece História?
Não há sociedades justas, mas há o conceito e é esse que eu defendo se não apoio-me em quê?
Com todo o respeito que me mereces, acho que no afã de provares ser dono da razão, esgrimes as tuas razões de forma ofensiva, quando apelidas os outros de ignorantes como fizeste no eu caso.
Um abraço
Camaradas,
Eis um post interessante que transmite as sensações de frustração e ansiedade, extensivas à generalidade da tropa mobilizada, que sentia não estar a partilhar riscos na defesa do bem comum, e mais os acentuava pelos frequentes contactos com superiores incapazes, que abusavam na arrogância do poder, no descarado locupletanço dos bens do estado (principalmente gasolinas e alimentação), sempre nas tintas para o ambiente das companhias, quer, quanto à segurança, quer quanto à moral e saúde física.
A guerra de guerrilha contava com essas vertentes, com o aspecto psicológico na tropa como nas populações, o designado desgaste, na base do qual espera atingir a vitória, diluindo a óbvia vantagem do poderio militar do adversário, que dela não sabia, ou não podia, tirar proveito. Ou propõe-se voltar às "vitórias morais" que enalteciam as derrotas desportivas no tempo da outra senhora?
Portugal, pequeno país de escassos recursos e população, sem formação e preparação adequada para o prolongado esforço da guerra, desgastou-se, e manifestou-se por onde menos seria de esperar, a implosão do sistema militar.
Este aspecto parece-me suficiente para ilustrar o espírito de derrota que minava o moral dos comandos das NT, que facilmente se transmitia ao pessoal comandado. Como diz o outro, os exemplos devem vir de cima.
Para ser justo, devo distinguir duas formas de comando igualmente responsáveis, o civil e o militar.
Em meados dos anos sessenta, Salazar confessava a Franco Nogueira, ter esperança de já cá não estar (entre os vivos), para não assistir ao epílogo da guerra de África, apesar da diferença da correlação de forças entre as NT e os movimentos.
Nessa época, a China, os EUA, e a extrema direita fascizante - PIDE incluída, eram quase aliados na oposição contra os soviéticos. O que aconteceu nos novos países saídos da colonização portuguesa, tem que ser apreciado noutro contexto, noutras circunstâncias, no sentido de avaliação que é evocado por Ortega Y Gasset - o homem e a sua circunstância.
Alguém se questiona: "Evoluímos ou não como pessoas, passamos a conhecer melhor ou não as realidades do mundo?", talvez estribado em licenciaturas e nas maravilhas da televisão, e responde: "Fé só em Deus". Ora, na minha qualidade de ateu, provavelmente não terei lugar no olimpo de tão elevadas personagens, mas sempre acrescento a minha opinião, de que, o que o mundo precisaria, já, era de um deus verdadeiro, todo poderoso, esclarecido e presente, que antecipasse uns tabefes a cada humano, de cada vez que que lhe desse a tentação para prejudicar o próximo e violar as simples regras da convivência. Até me convertia.
Abraços fraternos
JD
Parecem os "Velhos" dos Marretas.
Abraços
AMM
Tens razão, António!
Mas há uns mais marretas do que outros.
Um Ab.
António Costa
Enviar um comentário