Luís:
Aquando das minhas últimas férias em Portugal [, em outubro passado,] tive a oportunidade de falar com um ex-soldado que esteve em Cacine durante a guerra. Disse-me ele que "fui parar à Guiné por troca."
Explicou-me que por ser de famílias pobres aceitou ir para a Guiné, por troca com um soldado que tinha sido para lá mobilizado. Disse-me que na altura era uma quantia boa, mas não me quis dizer quanto.
Jose J. Macedo, Esquire
Law Offices of Jose J. Macedo
392 Cambridge Street
Cambridge, MA 02141
Tel. (617) 354-1115
Fax (617) 354-9955
__________________
Nota do editor:
Último poste da série > 5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10620: Questões politicamente (in)correctas (41): A origem da palavra Turra (António Rosinha)
Passados mais de 40 anos "continua cheio de raiva" por tal ter sido permitido e que a chance de ser morto poderia ser vendida.
Embora tivesse ouvido falar de tal "sistema", nunca conheci nenhum dos "trocados", pois na Marinha tal prática não existia.
Procurei no nosso blogue, mas não encontrei nenhuma referência às trocas por dinheiro. Será que algum tabanqueiro passou por tal situação e gostaria de o abordar aqui no blogue?
Um abraço amigo,
José J. Macedo, DFE 21
Um abraço amigo,
José J. Macedo, DFE 21
Guine 73-74
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Último poste da série > 5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10620: Questões politicamente (in)correctas (41): A origem da palavra Turra (António Rosinha)
15 comentários:
Caro Zeca Macêdo:
Lembro-me de casos (poucos) de camaradas que, por dinheiro, avançavam para a guerra na vez de outros. Mais ainda, houve casos ( ainda mais raros) de camaradas que pagaram para outros os substituirem no embarque para África mas, não evitaram, posteriormente, a sua própria mobilização. É importante que se entendam estes atos dentro do contexto. De facto, alguns ofereceram-se para substituir outros no embarque, convencidos da sua, quase certa, mobilização e, deste modo, iam adiantando serviço. Era também essencial a convergência de duas circunstâncias, que muita raramente se verificavam: haver um filho de algo com um saco de dinheiro e do outro lado um camarada que gostasse muito de dinheiro e precisasse muito dele.
Abstenho-me de fazer qualquer juizo de valor em relação à atitude de qualquer um dos camaradas. Porém, adianto: se, quando fui mobilizado p a Guiné, tivesse dinheiro (200 contos)dá-los-ia, todo satisfeito.Mas, mil euros, naquele tempo, era uma fortuna.
Um abração
Carvalho de Mampatá
Casos verídicos conheço e até um camarada que me acompanhou na Guiné, acabou por lá voltar "pago" por ao que penso, 300 contos. Depois disso tornou-se "mercenário" a sério e combateu ou deu treino a tropas em várias partes d'Africa. O Carvalho de Manpatá realça dos porquês e o Exército decerto que teria normas autorizando que tal se fizesse.
Abraços.
Veríssimo Ferreira, CCAÇ 1422
Ex FUR MIL Guiné 65/67
Zeca:
A tua questão é "tabu"... É como a questão dos desertores... Sei que o Rui Simões, cineasta, está a fazer um filme sobre os desertores... Mas é óbvio que não podemos misturar a água e o azeite... Neste blogue, de combatentes, não temos quaisquer condições para abrir as portas aos desertores... Seria desconfortável ou constrangedor para uns e outros. No princípio, até tivemos algumas veleidades a esse respeito... Mas depressa percebemos que se tratava de uma questão "fracturante".
Pela mesma razão, é altamente improvável que apareça aqui alguém a confessar, candidamente, que foi para a Guiné em lugar de um felizardo, de um menino rico, que lhe entregou um maço de notas de 200 ou 300 contos... Não sejamos ingénuos... Ainda hoje, 40 ou 50 anos depois, esse comportamento seria moral ou socialmente condenado.
Se há gente, em situações extremas, capaz de vender um rim, ou de oferecer uma ""barrigs de aluguer", por que é que não haveria gente capaz de oferecer-se para ir para a guerra (e mais concretamente para a Guiné) em lugar de outrem, apenas por dinheiro ?
Tínhamos uma série, chamada "O segredo de...", que foi pensada como um "confessionário" onde se ia contar segredos na condição de ninguém (, mas ninguém mesmo!) fazer juízos de valor negativos, condenações, execuções sumárias, julgamentos na praça pública... Qual quê!, a série não passou de meia dúzia de postes... Depressa demos cabo do "confessionário" e da sua "função catártica"...
Um abração. Luis
PS - Tive de pena de não ter podido estar contigo, em Lisboa, em outubro passado.
Quantos teriam recebido dinheiro para substituir outros, e quantos estariam dispostos a tudo para não perder aquela adrenalina?
Luís, com respeito, até cabia toda a gente no luisgraca.
Luís, houve desertores e refractários.
Refractários provavelmente houve muitíssimos, mas como não marcharam ao nosso lado não sabemos quantos foram.
Desertores deve ter havido muito poucos, pois se da tua unidade conheceste algum, não sei, da minha não desertou nenhum.
Mas tanto refractários como desertores temos que distinguir em várias categorias.
E sobre certas categorias até podemos dizer que foram de um "patriotismo" tão útil como o daqueles que lá andaram.
São aqueles que iam de assalto com passadores para lá dos Pirineus e mandavam as remessas que até inconscientemente serviam para Salazar comprar balas para nos defendermos.
Outros já, em sentido contrário recebiam a "mesada paterna" para outros fins.
Claro que alguns, parece que se contam pelos dedos que se bandearam com armas e bagagens para o IN, e logicamente só como IN poderiam ser aceites, o que não tinha lógica.
Mas é bom que não haja muitos tabús, nem complexos em mostrar a nossa pluralidade para que estes 13 anos de guerra 1961/1974 sirvam como exemplo que podemos ter voz própria.
Pois como compreenderão os de hoje, que um dia estivemos "orgulhosamente sós" contra o mundo e hoje já estamos "orgulhosamente acompanhados".
Abaixo os tabús!
Era eu Aspirante em Vendas Novas,
apareceu um Coronel Reformado, a oferecer 300 contos,para ir para Angola,por troca com um sobrinho.
Se tivesse acedido,o tal sobrinho
teria mais tarde ido para a Guiné...
J.Cabral
No programa de ontem, na RTP1, "A Guerra", falou-se de (e falaram alguns conhecidos) desertores como o Fernando Baginha, português, membro do PAIGC, locutor na Rádio Libertação...
Se não ouvi mal, falou.se em "200 desertores do Exército Português" ns teatros de operações (Angola, Guiné, Moçambique)... E destes, provavelmente a maior parte desertou cá, na metrópole... Era mais simples não aparecer na data e local e embarque...
Gostava de saber qual era a fonte em que se baseou o Joaquim Furtado... Por que raio é que o exército "não salda estas contas" ?...
Tinha ideia de que número de "desertores" (não confundir com "refratários") era maior: cerca de 3 mil em toda guerra colonial...
Luís!
O Fernando Baginha,de quem fui muito
amigo,não foi desertor,mas refractário.
Infelizmente já faleceu.Se calhar
não te lembras,mas chegaste a falar
com ele,porque estava comigo,na estreia do filme da Diana.Abraço.
Luís!
O Fernando Baginha,de quem fui muito
amigo,não foi desertor,mas refractário.
Infelizmente já faleceu.Se calhar
não te lembras,mas chegaste a falar
com ele,porque estava comigo,na estreia do filme da Diana.Abraço.
Sobre o Fernando Baginha, um dos entrevistados do programa do Joaquim Furtado ("A Guerra"), encontrei esta referência (num artigo sobre o Rafael Barbosa), no blogue do nosso camarada A. Marques Lopes, "Coisas da Guiné":
(...) "Fernando Baginha viveu na Suécia onde trabalhou, durante alguns anos, com o PAIGC. Em 1972 e 1973 foi professor da Escola-Piloto do Partido, na República da Guiné, de que chegou a ser director. Foi também o autor e responsável pelos programas de propaganda dirigidos aos militares portugueses, através das emissões da Rádio Libertação do PAIGC". (...)
http://coisasdaguine.blogspot.pt/2011/05/181-ainda-rafael-barbosa.html
Fui como disse Amigo do Baginha.
Gostava muito de conversar com ele,sobre a Guerra da Guiné.
Era casado com uma sueca e vivia em Paço de Arcos,onde fui centenas de vezes.
Filho de Militar,tinha duas bonitas filhas,uma das quais é tradutora de policiais suecos.
Conheci no Regimento de Transmissões, pelo menos dois Açoreanos que a troco de dinheiro avançaram para a Guiné.
Outros casos se falaram mas pessoalmente não tive conhecimento e todos eles estavam ligados a jogadores de futebol (a unidade tinha muitos)sendo alguns muito conhecidos na época por estarem ligados aos grandes clubes.
Quanto a desertores,existiu um soldado na minha companhia,(não pertencia à mesma) mas veio de castigo ficando adiado à mesma.
A sua fuga deu-se em Cadique/Cantanhez e poucos dias depois já falava na rádio do PAIGC.
Já depois do 25 Abril apareceu numa entrevista no Jornal Républica onde diz que depois de passar pela Guiné Conacry/Argélia, acabou por ir para a Suécia.
Um abraço.
Jorge:
Obrigado pelo esclarecimento... Estou-me a recordar,sim, senhor, na Culturgest, de mo teres apresentado. Lamento que tenha morrido. E os mortos, mais do que ninguém, têm direito ao bom nome, à boa memória. Dizes que ele foi refractário e não desertor. Aqui fica a correção. LG
Um caso de que me lembro foi de um 1.Cabo radiomontador o Zoio no R.I de Abrantes que estava mobilizado para a Guine e que trucou com outro para ir para Angola e nao para a Guine tendo pago na altura segundo creio 100 contos. Infelizmente nao lhe serviu de nada pois acabou por morrer num acidente em Angola tendo o cabo que foi para a Guine ao fim de 2 anos voltado com saude da Guine. Como se pode concluir ter dinheiro nem sempre da sorte (mas ajuda)
Julio Abreu
Gr. Comandos Centurioes
Ex Guine Portuguesa
José Eduardo Alves, o comentário sobre o Brassard é teu ? Aparece como anónimo... Se não for assumido por ninguém, vou ter que o eliminar. Não pode haver comentários anónimos no nosso blogue. E devemos evitar a "fulanização"...
Caros Camaradas.
Penso eu que neste blogue ,não será apropriado dar lugar a escritos de "Desertores ou Refratarios".Basta o blogue se chamar Luíz Graça & Camradas da Guiné.No entanto e sem querer "branquear"qualquer situação de desertor ou refratario.Há situações de amigos meus de infância que foram práticamente empurrados para esse tipo de situações,tanto por pseudo atitude política como por situação social.Em expecial situações de pobresa material.
Assim sendo e atendendo que a grande maioria de nós foi obrigada a participar nas guerras do Ultramar,pois que quanto a mim nesta situação o "dever patriótico"é discutivel.Poderá assim haver matéria para entender algumas situações de deserção.
Eu fui um soldado que foi obrigado a ir combater um inimigo que me foi imposto.Não combati um inimigo que invadiu o meu país..No entanto fui ,cumpri e mesmo assim não me sinto mais patriota que aqueles que não o fizeram...
Um abraço
Henrique Cerqueira
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