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Fotos: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.
Sobre o Tejo
Que soldado tão triste esta chuva
sobre as sílabas escuras do outono
sobre o Tejo as últimas barcas
sobre as barcas uma luz de desterro.
Já foi lugar de amor o Tejo a boca
as mãos foram já fogo de abelhas
não era o corpo então dura e amarga
pedra do frio.
Sobre o Tejo cai a luz das fardas.
É tempo de te dizer adeus.
Eugénio de Andrade [1923-2005]
Véspera da água (1973).
In: Poesia: Eugénio de Andrade.
Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000. pag. 200.
Três ou quatro sílabas
Neste país
onde se morre de coração inacabado
deixarei apenas três ou quatro sílabas
de cal viva junto à água.
É só que me resta
e o bosque inocente do teu peito
meu tresloucado e doce e frágil
pássaro das areias apagadas.
Que estranho ofício o meu
procurar rente ao chão
uma folha entre a poeira e o sono
húmida ainda do primeiro sol.
Eugénio de Andrade [1923-2005]
Véspera da água (1973).
In: Poesia: Eugénio de Andrade.
Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000. pag. 192
Canção da mãe de um soldado
de partida para a Bósnia
É muito jovem, sem tempo ainda
de ser triste. Demora-se nos meus olhos
enquanto leva a maçã à boca.
Nenhuma fala obscura escurece a tarde,
a cabeleira solta é a sua bandeira;
os pés brancos, irmãos
da chuva do verão, anunciam a paz.
Suplico à estrela da manhã
que lhe guie os passos, agora que partiu;
que tenha em conta a sua ignorância,
não só da morte, também da vida.
Eugénio de Andrade [1923-2005]
Os Lugares do Lume (1998).
In: Poesia: Eugénio de Andrade.
Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000. pag. 568.
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Nota do editor:
Último poste da série > 12 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11244: Blogpoesia (328): Dos meus poemas de juventude (Cherno Baldé)
1 comentário:
Só agora li esta maravilha, meu caro Luís Graça.
Muito obrigado pelo prazer, pela emoção e comoção sentidas com a leitura destes poemas de Eugénio de Andrade.
Belas fotos, também.
Abraço
Manuel Joaquim
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