quarta-feira, 10 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11823: Blogpoesia (349): O milagre do pão (J. L. Mendes Gomes)



Marco de Canaves > Paredes de Viadores > Candoz  > Quinta de Candoz > 1 de setembro de 2012 > O forno do pão que no passado também era "calafetado com bosta de boi"... E onde se coze o pão também se assa o anho...

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.



Lourinhã > Atalaia > Festa do Pão do Moinho > 1 de julho de 2012 > O famoso pão de milho com sardinhas, típico do oeste estremenho de há 50 anos atrás... São sabores da infância de muitos de nós...

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


O milagre do pão...


por J.L. Mendes Gomes


Desde pequeno, assistia de graça,
a um milagre semanal.
Quando minha Mãe,
que Deus tenha em bom lugar,
com um montão de farinha milha,
água da fonte, mexia...mexia...
e fazia uma pasta branca,
na gamela de madeira,
parecia um barco.

Juntava-lhe um pedaço doutra,
a que chamava fermento,
e voltava a mexer... a mexer.
Deixava-a a dormir,
em silêncio profundo,
durante um certo tempo.
Com uma cruz de bênção...

O forno de barro ardia em chamas...
até ficar rubro ao fundo.


Sobre uma pá de madeira,erguia montes de massa
que colocava lá dentro.
Até encher.
Fechava o forno com uma porta
e betonava bem,
com bosta de boi...


Depois era só esperar.Um milagre à vista ia romper:
Aqueles montões de massa,
quando se abria a porta,
tinham crescido tanto...
Que lindas boroas de pão
surgiam cheirosas...
Eram o nosso pão
p’rá semana inteira!...

Berlim, 10 de Julho de 2013, 
15h00

Joaquim Luís Mendes Gomes

__________________


Nota do editor:

Último poste da série > 24 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11759: Blogpoesia (348): Pedir desculpa é pouco (Ernesto Duarte)

8 comentários:

Hélder Valério disse...

Olá Mendes Gomes

Ora aqui está uma recordação do mundo rural, do mundo das aldeias, da infância de muitos de nós.

Foi oportuno, num momento em que as vicissitudes da vida e as dificuldades crescentes estão a 'empurrar' largas camadas da população para a procura de soluções com base nas experiências tradicionais, particularmente nas grandes cidades, com a criação de 'hortas comunitárias' e também o regresso ao interior.

Vai um pão quentinho, acabadinho de cozer?

Abraço
Hélder S.

Mário Alberto Vasconcelos disse...

Se me lembram recordações destas!?
Pão de milho normal, de milho amarelo, broa com chouriça ou bolo de sardinhas,... é só pedirem meus senhores, que eu vou ao baú das minhas recordações familiares e despacho com gosto.
Que bom é reviver, obrigado pelo texto.

Manuel Carvalho disse...

Caro Mendes Gomes

O teu texto também me leva alguns anos atrás. Vi primeiro o meu avô fazer a broa para toda a semana. depois vi a minha mâe a fazer o mesmo e quando tinha aí uns 15 anos comecei eu e a coisa ficou tão bem que passei a ser o padeiro da casa.Agora penso que no teu texto te esqueces-te de um pequeno pormenor, o pão de milho para ficar consistente tem de levar mistura de uma pequena quantidade de farinha de centeio.Aproveito a oportunidade para te dizer que gosto muito do que tens escrito até aqui.

Manuel Carvalho

Luís Graça disse...

Ah! grande Jaquim... A milhares de quilómetros de distância, na tua teutónica Berlim, puseste-nos a salivar como o cãozinho do Pavlov!...

São estes cheiros, cores e sabores que a gente há de levar connosco para as profundezas da terra ou para a próxima incarnação, conforme a crença de cada um...

No meu concelho ainda há uma centena de moinhos de vento, 10% dos quais a trabalhar... Nasci a ouvir os moinhos, na minha vila... E sempre adorei o "pão caseiro" que as minhas tias, da aldeia de Nadrupe ou da Quinta do Bolardo, faziam semanalmente nop forno a lenha...

Não havia terra que não tivesse meia dúzia de moinhos... Toda a gente fazia pão em casa, de trigo ou de mistura...

Depois veio a moagem industrial, as panificadoras, o papo-seco. a carcaça, a baguete, o pão de plástico...

Felizmente que hoje estamos a recuperar tradições e produtos da terra que, estupidamente, estão ou estiveram à beira de se perder... Temos que ver esta maldsita crise também pelo lado das "janelas de oportunidade" (sic), como se diz hoje (aliás, é fino, fica bem no discurso dos filhos da mãe!)... LG

MANUEL MAIA disse...

OLÁ Joaquim,

A BOLA, AS SARDINHAS...
E NA BASE, A FOLHA DE COUVE A ENVOLVÊ-LO PARA NÃO PEGAR.
QUE MARAVILHA!
A CADA PASSO COMPRO BOROA MAS NÃO TEM NADA A VER COM A DE ANTIGAMENTE,ESSA DE QUE TÃO BEM NOS DÁS CONTA.

AGORA É MUITO BAIXA..NÃO SEI SE SERÁ FALTA DE FERMENTO, FALTA DE QUALIDADE DA FARINHA OU OUTRA RAZÃO QUALQUER MAS QUE NEM POR SOMBRAS SE ASSEMELHA,É UM FACTO...

UM ABRAÇO.

Anónimo disse...

Os meus amigo à volta do pãozinho caseiro, das tradições, as saudades, enfim...
Só me admirou não vir à baila a pinguinha!
Maldosa!
voçês sabem o que é para mim o passado, as lembranças, comuns a todos nós...
Os moinhos Luís! O barulho característico do girar da roda, era uma companhia naquele silêncio maior...

Abraço colectivo

Felismina

Henrique Cerqueira disse...

Camaradas
Tem sido um fartote de "salivar" com as memórias da nossa infância.
Mas que raio então agora que temos mais tempo disponível não se consegue realizar algumas dessas memórias ? E que tal o "milagre do pão".
Olhem que mesmo nos nossos apartamentos (mesmo que pequeninos" consegue-se fazer um bom pãozinho e boa boroa de milho !!! Sim cá em casa a Ni tem feito um pão de molho que é um estalo e boroa também.À já agora camarada Maia a boroa já não é o que era porque os padeiros de hoje usam fermento de acção rápida e posteriormente congelam as massas para fazerem fornadas conforme as vendas.Mas se fizeres em casa vais ter uma excelente boroa e até te vais espantar como até sabes partilhar o milagre do pão.Já sabes ,deixa levedar bem a massa e vais ver ela a crescer.E depois tal como a Felismina diz um tintinho ou branquinho, mais um chourissinho tudo bem moderadinho o MIlagre se Completa.
Um abraço
Henrique Cerqueira

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

são consoladores os vossos aplausos...
um grande abraço
Joaquim