domingo, 7 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11811: Os nossos médicos (60): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (3): Binta e Jamba


1. Conclusão da publicação das memórias do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho [foto actual à esquerda] que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), chegadas até nós através do nosso camarada Mário Vasconcelos, ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872.

Fica aqui o nosso obrigado ao camarada Mário Vasconcelos pela sua iniciativa, continuando nós a contar com a sua colaboração quer no envio de memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, assim como das suas.







O Dr. Rui Vieira Coelho numa cerimónia de fanado 

 Bajuda

Bajudas lavando roupa



Jamba com o Alf Mil Mário Vasconcelos
____________

Nota do editor

Vd. postes anteriores da série de:

5 de Julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11808: Os nossos médicos (58): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (1): Guiné I (Mário Vasconcelos / Rui Vieira Coelho)
e
6 de Julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11809: Os nossos médicos (59): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (2): Guiné II e III (Mário Vasconcelos / Rui Vieira Coelho)

12 comentários:

Luís Dias disse...

Caro amigo Rui Coelho

Mais duas lindas histórias das gentes de Galomaro. A Binta, que colocas em duas fotos aqui, era a mais bela das bajudas de Galomaro. Admirada por todos pela sua beleza e jovialidade. A história do Jama, mais tarde um quadro influente do PAIGC e que não sabemos do seu papel, com certeza já influente, nas informações que possa ter partilhado com o IN, era importante obter-se a sua versão dos acontecimentos e a sua participação na luta.
Um abraço.

Luís Dias

antonio graça de abreu disse...

Muito bonito e de grande qualidade humana e literária o texto da menina/mulher Binta, de seu nome.

Abraço,

António Graça de Abreu

Luís Graça disse...

Sem dúvida que é uma história de antologia. A Binta é um exemplo de rebeldia e de coragem, que acaba por inspirar e galvanizar outras mulheres. Em todas as cultura, mais ou menos opressivas, incluindo a nossa, ocidental, judaico-cristã, houve há casos como o da Binta, de mulheres que arriscam a liberdade e até a própria vida, ao contestarem as regras da sua comunidade, quase sempre impostas pelo poder dos machos, e dos mais velhos... Hoje há cada mais jovens fulas a recusarem a excisão e a ter a compreensão e a cumplicidade dos seus pais... Ainda há dias um camarada nosso, fula, que vive em Portugal há uns largos anos, me dizia que nuncna permitiria que a sua filha mais nova, a vivber com uma tia na Guiné-Bissau, fosse excizada...

Há uma saudável mudança de mentalidades... A tradição já não é o que era... A juventude da Guiné-Bissau tem o mesmo direito a ter uma sexualidade segura e saudável como em Portugal ou em qualquer outra parte da nossa "casa comum"...

Luís Graça disse...

Em mais uma noite tórrida de Lisboa, fazendo lembrar algumas das que passei/passámos em tabancas de Joladu, Badora ou Coruabl, em reforço do sistema de autodefesa, ou em operações no mato, aproveito as insónias para fazer um rápido comentário à deliciosa história do Jamba...

O que vem demonstrar ? A eficácia simbólica ou o efeito placebo da Cecrisina, usada como "Viagra"... muitos anos antes de aparecer a mágica pastilha azul... (nome comercial da sildenafila utilizada para tratamento da disfunção erétil).

O nosso "mauro doutor", Rui Vieira Coelho, fez uso da crença de que estava investido de uma dupla autoridade: técnico-científica e mágico-religiosa...

Sabemos de há muito que a mente tanto pode matar como curar...

Este conceito de "eficácia simbólica" foi desenvolvido pelo célebre antropólogo francês Lévi-Strauss, no seu escrito "Le Sorcier et sa magie" (O feiticerio e a sua magia"), de 1949.

Em termos simples, o que é isso da eficácia simbólica ? O Jamba está consciente de ser objeto de um feitiço que o leva à disfunção erétil... Nunca mais será "homem", está condenado: disso está intimamente persuadido, pelas mais solenes tradições de
seu grupo; não pode, todavia, partilhar esse terrível segredo com os seus parentes e amigos; resta-lhe a fuga... Ou ajuda dos seus amigos "tugas", com o "mauro doutor" à cabeça.... Sem isso, o seu problema poderia agravar-se e, no limite, levar
à morte (social e depois física9... O efeito desejado da magia negra é levar o enfeitiçado à ceder à ação do intenso terror que experimenta, resultante do colapso de todas os seus tradicionais sistemas de refer
ência e de "suporte social" que são fornecidos pela família e pelo grupo. A integridade física não resiste à dissolução da personalidade social.

Seguindo Levi Strauss, a eficácia da magia do "mauro doutor" implica a crença numa magia mais poderosa do que a do feiticeiro da aldeia, num processo terapêutico que tem basicamente 2 aspetos interligados:

a) a crença do feiticeiro (branco) na eficácia de suas técnicas; e b) a crença do doente que ele tem o poder de curar... E a verdade é que a "mesinha" do branco (... a Cecrisina, placebo) desfez o feitiço com que alguém quis fazer mal ao pobre do Jamba, até então um "cabra matcho"...(Possivelmente alguém, na aldeia, que ambicionava a sua posição de privilégio junto da tropa, o seu seja, o seu lugar de chefe do pessoal menor).

Agora vou retomar o sono, depois desta história de magia que me encantou... Depois disto percebo melhor também o uso (e o abuso) que os nossos médicos e enfermeiros, em Bambadinca, faziam das pastilhas LM (Laboratório Militar), como remédio para todos os males (ou seja, Panaceia, que na mitologia grega é o nome de uma as filhas do semideus da medicina, Asclépio)...

admor disse...

Há uma coisa que eu não percebo, por que é que os médicos muito mais virados para as ciências do que para as letras, para além de terem dado escritores de nomeada dão sempre bons escritores.

È engraçado que a maior parte das vezes que os homens grandes se me queixavam do seu desempenho sexual eu utilizava sempre um complemento vitmínico, mas por vários dias não fosse o diabo tecê-las.
Sempre joguei o mais possível com a parte psicológica.
Ao fim e ao cabo acho que todos o fizemos nas mais diversas situações.
Apesar da nossa pouca idade, já tinhamos muita experiência de vida.

Um grande abraço para todos.

Adriano Moreira - Ex-Fur. mil. enf. da Cart. 2412 -68/70
Bigene, Binta, Guidage e Barro.

Juvenal Amado disse...

`Há volta de Galomaro havia bajudas muito bonitas .
Quem não se lembra das Futa Fulas com a pele café com leite clarinho e os cabelos em trança muito mais compridos que a maioria das outras mulheres.
O fanado era de facto um flagelo que destruia a alegria daquelas meninas.

Mas uma coisa sabemos nós a Binta era linda,e tinha a beleza das mulheres que se revoltam com os usos e costumes, com que as querem oprimir.

Dr é uma prazer ler o que nos tem para contar. Mande mais e um abraço

Juvenal Amado disse...

`Há volta de Galomaro havia bajudas muito bonitas .
Quem não se lembra das Futa Fulas com a pele café com leite clarinho e os cabelos em trança muito mais compridos que a maioria das outras mulheres.
O fanado era de facto um flagelo que destruia a alegria daquelas meninas.

Mas uma coisa sabemos nós a Binta era linda,e tinha a beleza das mulheres que se revoltam com os usos e costumes, com que as querem oprimir.

Dr é uma prazer ler o que nos tem para contar. Mande mais e um abraço

Luís Graça disse...

Juvenal, corroboro a tua opinião: as futa-fulas da Guiné eram das mulheres mais lindas que eu já vi... Diamantes em estado puro!...

E a beleza quer-se também com a rebeldia das Bintas, sejam, elas guineenses, portuguesas, angolanas, alemães, russas ou chinesas. Detesto a estupidez humana, mesmo em invólucros enganadores, como são as da "nossa indústria de fazer estúpidas louras e louras estúpidas"...

Hélder Valério disse...

Caro camarada Rui Coelho

Li com muita atenção e interesse os relatos/memórias que foram aqui colocados.
Corroboro as palavras colocadas em comentários acima, especialmente do Graça de Abreu e do Adriano Moreira, relativas à qualidade literária dos textos.
Relatos curtos, incisivos, 'educativos', didáticos.
E recheados de 'colorido', só possível por quem 'esteve lá' e realmente 'olhou e viu' à sua volta, com olhos de ver e não de modo preconceituoso. Da época, ou 'tardio' como vai aparecendo de vez em quando.

Abraço
Hélder Sousa

Anónimo disse...

Cumpre-me informar o seguinte:

Os comprimidos LM não eram todos iguais.
Utilizava-se já nesse tempo o que hoje são os genéricos.
Cada comprimido era um medicamento diferente que só os membros dos serviços de saúde sabiam.

Caro L.Graça

Asclépio não era semideus mas sim "deus" da medicina, e os asclépios ou esculápios, templos (hospitais).
A Panaceia sua filha era "boa quemó milho".. não era Vénus, mas quase daí..coiso.
O viagra começou por ser um anti-hipertensor só que dava como efeito secundário o levantamento do ..coiso.. e em algumas situações provocava priapismo..isto é ..o coiso andava hirto e firme durante muito tempo...não se riam..provoca umas dores do caraças.
Redireccionou-se então o Viagra para tratamento da disfunção "murcha e mole" para "hirta e firme".

Na "minha guerra" não existiam bajudas quanto mais Bintas..

Um alfa bravo

C.Martins




Anónimo disse...

Caro camarada A.Moreira

Um médico que só sabe de medicina..nem medicina sabe.

A medicina não é uma ciência exacta..

Um médico para além do conhecimento científico ..(não pode invocar ignorância)...tem que ter intuição,raciocínio "rápido",humanismo,conhecimentos filosóficos,psicológicos e sociais..não é nada fácil.

Quanto a muitos serem escritores,confesso que não sei o motivo..talvez por tudo o que disse anteriormente.

Um alfa bravo

C.Martins

cisne disse...

Caro Doutor
Adorei os textos lindíssimos sobre Binta e Jamba! Mostram a pessoa fantástica que é!
Revejo-me em Binta! Somente não seria assim tão linda!
Um abraço amigo. E. Casais Monteiro