segunda-feira, 8 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11816: Os nossos médicos (62): A minha CCAÇ 5, de recrutamento local, não tinha médico... Lembro-me, isso, sim, do saudoso srgt mil enf Cipriano Mendes Pereira (José Martins, Canjadude, 1968/70)

Resposta, de 13 de junho último, ao questionário sobre "os nossos méedicos", por parte do nosso colaborador permanente, camarada, amigo e tabanqueiro da primeira hora, José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) [Foto à esquerda]


Foto: © José Martins (2013) . Todos os direitos reservados.


(a) Quantos médicos seguiram com o teu batalhão, no barco?


R: Como fui em rendição individual e num barco de passageiros e carga, seguiam apenas duas tripulações de LDO (8 marinheiros e respectivas lanchas) e 4 Furriéis do Exercito, sendo um do QP (por acaso enfermeiro) com destino à CCaç 6 em Bedanda.


(b) Quantos médicos é que o teu batalhão teve e por quanto tempo?


R: A unidade era “do recrutamento provincial” e, portanto, não tinha médico. O Batalhão (a que a CCAÇ 5 estava adstrita e no período em que lá estive 2 batalhões), tinha apenas um médico.


(c) Lembras-te dos nomes de alguns? E lembras-te se já eram especialistas na vida civil? Lembras-te da idade?


R: Não me recordo dos nomes, já que não estava na sede do batalhão. Falava-se que o médico do primeiro batalhão, o  [BCAÇ] 2835, tinha a especialidade em ginecologia. Já não eram novos. Provavelmente tinham pedido adiamento para o serviço militar, o que levou à sua mobilização mais tardia. Para o final da minha comissão, apareceram médicos-piras, e aí um bocado mais novos (não esquecer que nós também havíamos envelhecido).



Guião do BCAÇ 2835: Mobilizado pelo RI 15, partiu para a Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969. Esteve em Bissau e Nova Lamego. Comandantes: ten cor inf Esteves Correia, maj  inf Cristiano Henrique da Silveira e Lorena,  e ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos.  Subunidades de quadrícula: CCAÇ 2315 (Binar, Bissau, Mansoa, Mansabá, Mansoa, Nova Lamego, Dara, Madina Mandinga); CCAÇ 2316 (Bissau, Bula, Mejo, Guilejem, Gadamael, Bissau); e CCAÇ 2317 (Bissau, Bula, Mansabá, Guileje, Gandembel, Bula, Nova Lamego),


(d) Precisaste alguma vez de alguma consulta médica?

R: Nunca recorri a consultas médicas no batalhão.

(e) Estiveste alguma vez internado na enfermaria do aquartelamento (se é que existia)?


R: No período da minha permanência na companhia e no aquartelamento de Canjadude, a enfermaria começou por ser um tabanca (que ardeu ao esterilizarem seringas) tendo passado para o “armazém central” e mais tarde construída uma enfermaria para atendimento e internamento.


(f) Foste a alguma consulta de especialidade no HM 241?

R: Estive na consulta externa de medicina em Abril de 1970, mas não foi dado seguimento ao tratamento, uma vez que estava a cerca de um mês do fim da comissão, e o tratamento demoraria um a dois meses.


(g) Foste evacuado para a metrópole, para o HMP? Ou alguém da tua companhia ?


R: Não encontrei nos registos da companhia, apesar de pouco descritivos, qualquer referência a “evacuados” para Lisboa.


(h) Tiveste alguma problema de saúde que o teu médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?


R: Nesse aspecto o Sargento Cipriano “era um às”. Normalmente resolvia os casos que lhe apareciam, mesmo de ordem da estomatologia.

Em matéria de evacuações só tive conhecimento de um, um caso de trigémeos, em Agosto de 68, em que foi pedida a evacuação da parturiente. Resultado: um nado-morto, um morto prematuro (não viveu oito dias), e o terceiro morreu, com cerca de um ano em Nova Lamego, vítima de atropelamento.

(i) O vosso posto sanitário também atendia a população local (se sim, como é mais o mais provável, há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa?)...

R: Toda a população frequentava a consulta “médica” do Sargento Cipriano, de etnia manjaca. Era o cipaio que controlava a “obrigatoriedade” desta medida.

Nota: Este inquérito foi respondido com o “conhecimento” do tempo em que lá estive. Não foram remetidos para a metrópole, ou pelo menos não estão disponíveis no AHM, os relatórios sanitários.
Em Agosto de 1974 foi destruída toda a documentação considerada “não relevante”. A documentação que veio para cá, muita foi “perdida” por roubo de bagagens, já em Lisboa.


Guiné > Zona Leste > Gabu > Canjadude > 1969 > CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos (1968/70) > O Fur Mil Transmissões Martins com o seu amigo e camarada Cipriano Mendes Pereira (srgt mil enf), ,srgt mil enf), Cipriano) [Foto à direita] (*)

Foto: © José Martins (2006) . Todos os direitos reservados.

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Notas do editor:

(*) Cipriano Mendes Pereira: 2º Sargento Miliciano Enfermeiro, número mecanográfico 82034859, já se encontrava ao serviço da Companhia em finais de 1969, tendo assumido as funções de Comandante da Secção de Saúde.

Além das actividades inerentes à sua função, colaborou na construção do edifício destinado a Posto de Socorros e Enfermaria. Foi também professor das escolas primárias das crianças que residiam na povoação.

Foi abatido ao efectivo da Unidade em 10 de Outubro de 1970 por ter sido transferido para o Hospital Militar 241 / CTIG, em Bissau.

Veio a falecer em combate na noite de 16 de Novembro de 1970, durante a flagelação a Nova Lamego.



(**) Último poste da série > 8 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11815: Os nossos médicos (61): Lembrando o médico dr. Sousa Fernandes e o enfermeiro Silva Pinto (J. Crisóstomo Lucas, ex-alf mil, CCAÇ 2617, Magriços de Guileje, 1969/71)

3 comentários:

Manuel Carvalho disse...

Caro Zé Martins

Ao ouvir-te falar com tanto carinho do nosso camarada Sarg. Enf. Cipriano que era seguramente um grande profissional surgiu-me a pergunta terá ficado na Guiné? E se ficasse o que lhe teria acontecido?
Relativamente aos Médicos tanto quanto sei havia um na sede do Batalhão e as comp. quando tinham problemas ou os enf. resolviam ou eram evacuados para Bissau. Não me lembro de ver nenhum Médico em Jolmete.

Um abraço para todos

Manuel Carvalho

Luís Graça disse...

O Cipriano, manjaco, foi morto em combate em 16 de Novembro de 1970, durante uma flagelação a Nova Lamego, depois de deixar Canjadude e a CCAÇ 5.

José Marcelino Martins disse...

O Sargento Enfermeiro CIPRIANO MENDES PEREIRA, era de etnia manjada e, como represália de não se juntar ao PAIGC, mataram-lhe a mãe e outros membros da família.
Mesmo assim resistiu.
Já estava na CCAÇ 5 quando lá cheguei e ainda ficou.
Como realça o Luís Graça, morreu aquando do ataque com foguetões a Nova Lamego, em Novembro de 1970, quando se encontrava em trânsito para o HM 241, para onde tinha sido transferido.
Na altura e com ele, morreu a sua mulher e mãe de um casal. Da rapariga sei que recebeu ajuda dos Serviços Sociais das Forças Armadas (?) Portuguesas. Ele, hoje, deve ser Oficial Superior do Exército da Guiné.