1. O nosso
Camarada José Fernando dos Santos Ribeiro, ex-1º Cabo de Transmissões na CCS do
BCAÇ 2912 (Galomaro-Cossé),
1970/72, respondeu ao meu pedido para se juntar a nós neste projecto virtual
enviando-nos o seguinte texto e fotos:
Era o fim da tarde,
preparava-se um Grupo para partir, para um emboscada, a realizar na Picada
entre Galomaro e Dulombi.
Mais precisamente no
Aldeamento de Bangacia (DUAS-FONTES). Aldeamento que tinha como população
feminina, as Mulheres de pele negra (Fulas) mais lindas que eu alguma vez
vi. Tinham feições de brancas... mas bonitas!
Nesse dia, além do Grupo
destacado por escala (dos Sapadores, onde alinhava o "Vermelhinho",
nosso camarada, de Matosinhos, que tinha essa alcunha pela cor da sua tez,
devido às "bazucas", whisky e vinho que ingeria), foram também por
castigo o Laranjinha e mais outro camarada (do qual não me lembra o nome).
Como já tinha acabado o
meu serviço nas Transmissões e o jantar no refeitório, encaminhava-me para a
cantina, juntamente com outros companheiro... quando ao longe começamos a
ver "tracejantes" a rasgar o céu.
Antevimos, de imediato, a
desgraça que estava a acontecer para os lados das "Duas-Fontes".
Ficamos em estado de alerta. Passados, sei lá, duas horas ou mais... começaram
a chegar ao aquartelamento, a chorar, os companheiros que haviam saído sem
serem feridos ou mortos, na emboscada em que o Pelotão havia caído...
Primeiro o
"vermelhinho" e outros... mais adiante o Capitão da CCS, todos sem
arma e o pânico espelhado no rosto.
Formou-se, rapidamente,
um pelotão de Homens que avançaram (sujeitos em serem de novo emboscados) até
ao sítio onde se desenrolou o combate, encontrando deitados no chão, entre
outros, o Oliveira das Transmissões e o Laranjinha da "ferrugem"... com
a boca cheia de cartuchos da "costureirinha" e trespassados à bala.
Pelas suas posições,
verificou-se que tinham sido feridos e, posteriormente, deitados no chão onde,
cobarde e selvaticamente, foram mortos a tiro!
Durante os primeiros seis
a sete meses de comissão, em Galomaro, foram "umas férias", o que deu
origem a "facilitanços"... o pior deles foi o Grupo passar a levar as
armas metidas debaixo do banco do Unimog e, assim, foram apanhados de surpresa
na emboscada.
Este triste e fatídico desenlace deu-se ou em fins de 1970, ou principios de 1971 (a memória já me falha).
Quase todas as semanas me
encontro, em Matosinhos, com o "Vermelhinho", que, felizmente, deixou
há vários anos de beber álcool, para bem dele que estava com princípios de ficar
com cirrose.
É um solteirão e vive com
uma irmã na Rua da Lota, em Matosinhos...
Para memória futura e recordação
dos que por lá passaram envio a seguir algumas fotos:
Aquartelamento de Galomaro
“Bunker" das
Transmissões, no aquartelamento de Galomaro
Mercado de Bafatá
Tabanca de Bangacia
(DUAS-FONTES)
Rua Principal em Bafatá
Rua principal em Bafatá
(vista de cima)
Um abraço para todos,
José
Fernando dos Santos Ribeiro
1º Cabo Trms da CCS do BCAÇ 2912
Fotos: José
Fernando dos Santos Ribeiro (2013). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção: © Carlos
Coutinho (2009). Direitos reservados.
____________
Notas de M.R.:
* Amigo
e Camarada Ribeiro, foi bom sabermos que trabalhamos ambos na mesma empresa, e,
em nome do Luís Graça e demais Camaradas desta Tabanca Grande, como é habitual
sempre que mais um Homem da Guiné se junta a nós, nesta Unidade cibernética,
apresento-te os nossos melhores cumprimentos Amigáveis e calorosos votos de
boas vindas a esta nossa tertúlia.
Também
é costume aproveitar esta oportunidade para desejar que nos contes, daquilo que
te lembrares como é óbvio, mais algumas passagens e fotos da tua vivência e experiência
militar na Guiné.
Da
minha parte recebe desde já mais um forte abraço Amigo.
* Vd. último poste desta série em: 4 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 -
P11905: Tabanca Grande (406): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659
- "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967-68)
6 comentários:
Obrigao ao J.F. Santos Ribeiro, grã-t6abanqueiro nº 626, por aceitar o convite do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro para integrar a nossa Tabanca Grande.... Da CCS/BCAÇ 2912 (Galoaro, 1970/72), gente ainda do meu tempo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) temos aqui, de pedra e cal, o António Tavares e o Vasco Joaquim. Contigo são três. Não me lembro se há mais. De qualquer modo é um trio de ataque. Sê bem vindo. Um abraço aos quatro.
Nesta emboscada,iam alguns militares do PelCaçNat 53,dois deles feridos com alguma gravidade,Iero Seidi e Mamadú Sanhá,e como conhecia bem todos eles,não concebo que levassem as armas debaixo dos bancos.
O "facilitanço" foi outro,até podemos chamar-lhe "crime":fazer patrulhamentos nocturnos em cima de viaturas,é isso,é criminoso.O que aconteceu,era previsível,só o não seria para o básico do Octávio Pimentel.O Cap.Santos,que ganhara uma Cruz de Guerra em Moçambique,teve um comportamento indigno e cobarde ao abandonar o grupo,fugindo para o quartel,sem querer saber dos mortos , dos feridos e dos vivos que aguentaram a emboscada em situação complicada.
Claro que a carreira militar dele acabou ali.
Paulo Santiago
Numa rápida análise, conclui-se que a emboscada aconteceu no dia 1 de Outubro de 1971.
Tombaram:
CCS – BCAÇ 2912
1º Cabo Bate Chapas ALFREDO TOMÁS LARANJUNHA
Soldado Mecânico Auto LEONEL JOSÉ DA CONCEIÇÃO BARRETO
Soldado Transmissões JOSÉ TERALTA DE OLIVEIRA
Soldado Sapador JOSÉ FERREIRA, ferido, faleceu no HM241 em 6 de Outubro de 1971
CCAÇ 2700
Soldado Atirador JOSÉ GUEDES MONTEIRO
1º Cabo Atirador ROGÉRIO ANTÓNIO SOARES
Soldado Apontador Metralhadora LUÍS VASCO FERNANDES, ferido, faleceu no HM241 em 5 de Outubro de 1971
Camarada José Fernando Santos Ribeiro, um abraço d'um ex-1º Cabo de Transmissões, p'ra outro!.
Será que somos da mesma "fornada"?
Eu, Álvaro Vasconcelos, cheguei ao CTIG em 20 de Julho de 70, mobilizado (em rendição individual), a bordo do "Carvalho Araújo". Segui para Aldeia Formosa. em 28 de Julho Estive no posto do STM. Depois, em Junho de 71, transferiram-me para Bissau, onde acabei no Posto Recetor o resto de comissão. Regressei à Metrópole em 7 de Agosto de 72.
Votos de boas vindas e que continuemos "a bolir" por muitos anos!
Caro camarada José Ribeiro
Apresentas-te e fazes muito bem, pois embora hajam muitos locais onde se pode 'falar' do tempo da tropa e principalmente, no nosso caso, da Guiné, este espaço é, por excelência, O LOCAL!
E apresentas-te com o relato de um episódio bem triste, embora dele se possam tirar as ilações, já conhecidas, de que as 'facilidades' conduziam, quase sempre, ao desastre. Honra aos caídos.
Agora, nós. 1º Cabo de Transmissões com estadia na Guiné de 70/72, certo? E quando partiste de Portugal, ou seja, do que se dizia, 'metrópole'? E quando saíste da instrução no Porto, no então RTm? Estive lá dando instrução do final de Abril até à 1ª quinzena de Setembro de 70, será que ainda te apanhei?
Abraço
Hélder S.
Caro Camarada Ribeiro.
Parabéns pelo teu relato.
Eu estive no Xitole em 70/72 e tu em Galomaro também por essa época. Um amigo da juventude, que serviu nas tropas para-quedistas,terá falecido em combate na zona de Duas Fontes (?), talvez em Maio de 1971. Terás algum registo sobre esse triste episódio?
Abraço de camaradagem.
José Rodrigues
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