Luís:
O segundo caso (*) é o do meu conterrâneo e colega de escola A... [Opto por não identificá-lo, por respeito ao direito de reserva da intimidade].
Deu-me autorização para divulgar a sua história que recolhi, por duas vezes, na presença de outros amigos do Seixal, Lourinhã.
Parece-me que será importante não divulgar o nome, nem o da jovem [guineense] e do filho, que assinalo no ponto 2
É uma história exemplar, pela negativa, como tantas outras que conhecemos. Abraço, Jaime.
2. Filhos do vento > O caso do A..., meu
Deu-me autorização para divulgar a sua história que recolhi, por duas vezes, na presença de outros amigos do Seixal, Lourinhã.
Parece-me que será importante não divulgar o nome, nem o da jovem [guineense] e do filho, que assinalo no ponto 2
É uma história exemplar, pela negativa, como tantas outras que conhecemos. Abraço, Jaime.
2. Filhos do vento > O caso do A..., meu
conterrâneo e colega de escola
Parte 1
(Síntese do texto que escrevi para o seu cartaz na exposição do Seixal)
Durante a comissão e, uma vez chegado a Bissau, prestou serviço na Messe Geral como ajudante de cozinheiro.
Parte 1
(Síntese do texto que escrevi para o seu cartaz na exposição do Seixal)
Durante a comissão e, uma vez chegado a Bissau, prestou serviço na Messe Geral como ajudante de cozinheiro.
Brasão do RAAA1, Queluz, reproduzido com a devida vénia da página não oficial |
Diz o A...: “passei uma rica vida”, “foi o melhor tampo que passei na tropa.”
Só fez um serviço ao quartel durante toda a comissão no ultramar e foi logo nos primeiros dias após o desembarque. Nessa noite de serviço e vigilância, o camarada que foi render aconselhou-o a dormir o resto da noite:
“Tracei a bandoleira da espingarda Mauser às pernas e vá de dormir”…
REGISTO DA CADERNETA MILITAR:
I.1. Número de matrícula: E/ 09266665
I.2. Estado Civil
Data de nascimento: 3 de Junho de 1944
Local de nascimento: Seixal
Filiação (...)
I.3. Estado Militar
Só fez um serviço ao quartel durante toda a comissão no ultramar e foi logo nos primeiros dias após o desembarque. Nessa noite de serviço e vigilância, o camarada que foi render aconselhou-o a dormir o resto da noite:
“Tracei a bandoleira da espingarda Mauser às pernas e vá de dormir”…
REGISTO DA CADERNETA MILITAR:
I.1. Número de matrícula: E/ 09266665
I.2. Estado Civil
Data de nascimento: 3 de Junho de 1944
Local de nascimento: Seixal
Filiação (...)
I.3. Estado Militar
(i) Na Metrópole:
Resultado da inspeção sanitária da junta de recrutamento: apto para todo o serviço militar
Alistado: 2 de Junho de 1964.
Resultado da inspeção sanitária da junta de recrutamento: apto para todo o serviço militar
Alistado: 2 de Junho de 1964.
Incorporado: 1 de Fevereiro de 1965.
Pronto da Escola de recrutas: 11 de Junho de 1965,
Colocação durante o serviço:
RI 5 [Regimento de Infantareia nº 5] - Caldas da Rainha 1 de Fevereiro de 1965;
RAAA1 [, Regimento de Artilharia Antiaérea nº 1]- Queluz- 20 de Abril de 1965.
(ii) No Ultramar – Guiné
Especialidade: Artilharia (canhão de 4 cm)
Embarque: 10 de Novembro de 1965
Desembarcou em Bissau: 19 de Novembro de 1965
Unidade: Adidos em Bissau - CTIG
Regresso à metrópole: embarcou em Bissau, a 4 de Novembro de 1967, e chegou a Lisboa em 10 de Novembro
Passagem à disponibilidade: 2 de Dezembro de 1967
Nota:
(ii) No Ultramar – Guiné
Especialidade: Artilharia (canhão de 4 cm)
Embarque: 10 de Novembro de 1965
Desembarcou em Bissau: 19 de Novembro de 1965
Unidade: Adidos em Bissau - CTIG
Regresso à metrópole: embarcou em Bissau, a 4 de Novembro de 1967, e chegou a Lisboa em 10 de Novembro
Passagem à disponibilidade: 2 de Dezembro de 1967
Nota:
Após a disponibilidade trabalhou na agricultura e na manutenção de automóveis. É reformado e tem dois filhos.
Parte 2
(na segunda vez que o ouvi, em 24. 1.2014)
Desta vez, confirmou.
Parte 2
(na segunda vez que o ouvi, em 24. 1.2014)
Desta vez, confirmou.
Foi para a Guiné integrado num destacamento de artilharia anti-aérea (com 17 colegas) que prestou serviço, sempre no Aeroporto de Bissalanca. Confirma que foi destacado para a Messe Geral como auxiliar de cozinheiro.
A1. Conhece a “jovem nativa” quando esta se apresenta no quartel com outras amigas e se oferece para ser sua lavadeira. Esta morava na tabanca em frente ao Quartel / Messe (só separada por uma estrada).
A2. Do convívio e relacionamento a jovem engravida, garantindo o A... à família que era sua intenção ficar na Guiné, tanto mais que, agora, até iria ter um filho.
Perante esta declaração, o pai e restante família autoriza-o, a partir daí a dormir na morança com a jovem.
A história do filho
A1. Conhece a “jovem nativa” quando esta se apresenta no quartel com outras amigas e se oferece para ser sua lavadeira. Esta morava na tabanca em frente ao Quartel / Messe (só separada por uma estrada).
A2. Do convívio e relacionamento a jovem engravida, garantindo o A... à família que era sua intenção ficar na Guiné, tanto mais que, agora, até iria ter um filho.
Perante esta declaração, o pai e restante família autoriza-o, a partir daí a dormir na morança com a jovem.
A3. Entretanto o A... já tinha conquistado a confiança da família com os restos da comida da Messa. Todos os dias, disse, ao pequeno-almoço, almoço e jantar o pai da jovem recolhia junto ao arame farpado do quartel a comida que ele lhes deixava, religiosamente.
A4. Entretanto, nasce um rapaz de uma mulher cujo nome desconheceu sempre, era só M..., e tem um filho que, disse, não o batizou e não lhe deu nome, era só Z..., e que o viu crescer todos os dias e quando o deixou, já andava.
O problema foi no final da comissão, particularmente no dia do embarque. E contou, de novo:
Na véspera do embarque, no dia três de Novembro de 1967, todos os que iriam embarcar no dia seguinte formaram em parada no aeroporto e ele, disse, lá estava e recebeu a medalha das Campanhas de África da mãos do General [Schulz].
Durante a parada, a determinada altura, vê a jovem com o filho ao colo, o pai, a mãe e os irmãos entrarem no quartel, mas, por sorte, disse, não o conseguiram ver.
Logo que acaba a cerimónia vai ao Quartel, colocara a medalha no armário e vai direto para a casa da jovem M... que, entretanto, lhe pergunta:
A4. Entretanto, nasce um rapaz de uma mulher cujo nome desconheceu sempre, era só M..., e tem um filho que, disse, não o batizou e não lhe deu nome, era só Z..., e que o viu crescer todos os dias e quando o deixou, já andava.
O problema foi no final da comissão, particularmente no dia do embarque. E contou, de novo:
Na véspera do embarque, no dia três de Novembro de 1967, todos os que iriam embarcar no dia seguinte formaram em parada no aeroporto e ele, disse, lá estava e recebeu a medalha das Campanhas de África da mãos do General [Schulz].
Durante a parada, a determinada altura, vê a jovem com o filho ao colo, o pai, a mãe e os irmãos entrarem no quartel, mas, por sorte, disse, não o conseguiram ver.
Logo que acaba a cerimónia vai ao Quartel, colocara a medalha no armário e vai direto para a casa da jovem M... que, entretanto, lhe pergunta:
– Não te vais embora?
– Viste-me na parada ? – retorquiu o A... – Não viste, pois não? Eu não te disse que ficava cá contigo? Então!...
O problema era o dia seguinte quando a tropa desfilasse em direção ao barco e, se ela o visse e fizesse queixa, ele apanharia uma grande “porrada"!
Aí, disse, que quem o desenrascou foi o comandante que ficou lixado com ele e a quem teve de “contar tudo.”
O comandante montou uma estratégia que passou por o A... ficar junto do último grupo que não desfilava e se deslocava para o barco diretamente de viatura.
Este grupo tinha por missão passar o espólio do quartel para o novo Comandante e a assinatura do comandante cessante constituía o último ato e dava por finda a responsabilidade da sua comissão e daqueles que foram seus subordinados.
E no dia 4 de novembro de 1967, pela manhã, o A... faz, ainda o café e pequeno almoço para o pequeno grupo de comando, como fora combinado. Entrega calmamente ao “sogro” o resto da comida, como, aliás, sempre o tinha feito ao longo da comissão, dirige-se para o “jeep” que, discretamente os leva para o porão do navio.
Assim termina a história do A... por terras da Guiné. Certamente, começou outra, ainda por contar !
Abraço, Jaime
O comandante montou uma estratégia que passou por o A... ficar junto do último grupo que não desfilava e se deslocava para o barco diretamente de viatura.
Este grupo tinha por missão passar o espólio do quartel para o novo Comandante e a assinatura do comandante cessante constituía o último ato e dava por finda a responsabilidade da sua comissão e daqueles que foram seus subordinados.
E no dia 4 de novembro de 1967, pela manhã, o A... faz, ainda o café e pequeno almoço para o pequeno grupo de comando, como fora combinado. Entrega calmamente ao “sogro” o resto da comida, como, aliás, sempre o tinha feito ao longo da comissão, dirige-se para o “jeep” que, discretamente os leva para o porão do navio.
Assim termina a história do A... por terras da Guiné. Certamente, começou outra, ainda por contar !
Abraço, Jaime
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Nota do editor:
Último poste da série > , 6 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12687: Filhos do vento (27): Manuel Barros Castro, natural de Fafe, fur mil enf, CCAÇ 414 (Catió, Bissau e Cabo Verde, 1963/65) teve uma filha, de mãe guineense,e que ele de imediato perfilhou, Maria Biai Barros Castro (1964-2009)... Uma história exemplar (Jaime Bonifácio Marques da Silva)
2 comentários:
Jaime, tenho ideia de me teres dito que passaste por Bissalanca, num Hércules C 130, em paragem técnica, a caminho de Angola... De qualquer modo, não terás chegado a conhecer Bissau...
Quando te referes à messe, deve ser a da BA [Base Aérea] 12, Bissalanca, nas proximidades de Bissau, e não na Messe do QG, Quartel General, em Santa Luzia, Bissau...
A malta das antiéreas devia estar afeta a Bissalanca...
Mas isso não tem importância...
Por outro lado, e como é regra do nosso blogue, não fazemos juízos sobre o comportamento dos nossos camaradas. Contamos histórias, as nossas. Os outros que nos julguem. A História que nos julgue.
No caso dos "filhos do vento", é fácil a tentação, hoje e aqui, fazer julgamentos moralísticos...
Deixa-me reproduzir o comentário que enviaste à jornalista do Público, Catarina Gomes, que tem colaborado connosco e nós com elea, neste delicado dossiê... Com um alfabravo fraterno. Luis
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(...) "Parabéns, Catarina, pelo seu trabalho. Custa-me, no entanto, ler, na sequência do seu trabalho, alguns comentários de gente que me parece ser ainda jovem, e que desconhece por completo o que foi "aquilo" por lá: a mata densa, andar aos tiros, apontar para matar se não, morres primeiro, as emboscadas e os colegas a morrer nos nossos braços, a mina que não rebenta em nós,mas no colega que vem atrás de nós e ele fica sem uma perna e berra "eu vou morrer ! dê-me um tiro meu alferes, quero morrer" e temos que o levar às costas morro acima para o evacuar, enfim !...
"É claro que depois vinha a ressaca: os copos , sempre, e ninguém se lembrava de usar o preservativo quando a "lavadeira" aparecia no fim da "operação de combate". O "vento" não soprou pelo o meu lado, tenho a certeza, mas conheci bem "essa" realidade" e os casos que conheço não têm um final feliz como o do meu amigo Castro." (...)
Jaime Silva
12 fev 2014
Caro Luís
Envio-te um texto em anexo referente ao Furriel Manuel Castro
Vou reenviar o email à Senhora Jornalista do Público
Quanto à minha estadis em Bissau, só estive o tempo necessário para a escala técnica do avião e lembro-me do Vitor Marques convencer um PM a dar-nos boleia à messe dos Paraquedistas para comer qualquer coisa.
Abraço
Jaime
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