Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, 1947: eu, aos 8 meses, ao colo da minha mãe, Maria da Graça (1922-204) e ao lado do meu pai, Luis Henriques (1920-2012). Foto: LG |
1. É um sentimento de vazio, de orfandade, de abandono, quando perdemos pai e mãe...
Pode a morte ser mais ou menos esperada...E pode até a vida, de um idoso, doente, já não ter qualquer sentido, pelo menos aos olhos da nossa racionalidade humana, quando a rede de comunicação deixa de funcionar...e uma mãe não reconhece mais o seu filho.
Tive a premonição da morte da minha mãe quando, no sábado passado, fui visitá-la pela última vez, ao Lar e Centro de Dia de Nossa Senhora da Guia, na Atalaia, Lourinhã... Eu e a Alice, que foi para ela uma verdadeira filha... Sempre que lá íamos, quase todo os sábados, à hora do almoço, a Alice gostava de ser ela a dar-lhe a comida... Com infinita paciência e desvelo filial. No sábado, sentimos que a sua hora estava a chegar. Como chegou, às 9 e meia do dia 12.
Na despedida da minha mãe, tive o privilégio de contar com a presença física de bons amigos e camaradas da Guiné que puderam e quiseram deslocar-se à Lourinhã: o Jorge Narciso, que se deslocou do Cadaval, o Humberto Reis (que já passa uma parte da semana na Lourinhã), o Luis R. Moreira, o Miguel e a Giselda Pessoa (que vieram de Lisboa)...
Tive a premonição da morte da minha mãe quando, no sábado passado, fui visitá-la pela última vez, ao Lar e Centro de Dia de Nossa Senhora da Guia, na Atalaia, Lourinhã... Eu e a Alice, que foi para ela uma verdadeira filha... Sempre que lá íamos, quase todo os sábados, à hora do almoço, a Alice gostava de ser ela a dar-lhe a comida... Com infinita paciência e desvelo filial. No sábado, sentimos que a sua hora estava a chegar. Como chegou, às 9 e meia do dia 12.
Na despedida da minha mãe, tive o privilégio de contar com a presença física de bons amigos e camaradas da Guiné que puderam e quiseram deslocar-se à Lourinhã: o Jorge Narciso, que se deslocou do Cadaval, o Humberto Reis (que já passa uma parte da semana na Lourinhã), o Luis R. Moreira, o Miguel e a Giselda Pessoa (que vieram de Lisboa)...
Dezenas e dezenas de camaradas deram-me, à distância, o seu apoio e espiritual, telefonando-me, mandando-me msns ou emails, ou ainda fazendo comentários no nosso blogue e na nossa página do Facebook.
Mesmo nunca tendo conhecido (ou privado com) a minha mãe, associaram-se ao meu pesar e ajudaram-me a suportar um pouco melhor este momento difícil. Pensei também em todos, meus bons amigos e camaradas, quando na quinta-feira, dia 13, disse, no final da missa de corpo presente, a oração que a seguir reproduzo. (**)
______________
2. Oração dos filhos, nora e genros, netos e bisnetos,
demais parentes bem como amigos
que vieram de mais longe ou de mais perto
(Porto, Fundão, Lisboa, Torres Vedras, Nadrupe, Atalaia, Lourinhã...),
para acompanhar a Maria da Graça,
"até à sua última morada",
e a quem eu, a Alice, o João, a Joana e o resto da família da Lourinhã
estamos muito gratos e reconhecidos.
Minha querida mãe,
em nome de todos nós,
tua família e amigos,
e por ser o filho mais velho
deixa-me dizer-te
algumas palavras, breves, de despedida,
mas também de agradecimento e esperança.
Chegaste ao fim da autoestrada da vida,
ao km 91,
serenamente, sem dor, em paz.
E preparas-te para fazer outra viagem,
a travessia do rio Caronte,
como diziam os gregos antigos:
uma viagem de que nenhum mortal alguma vez regressou.
Estamos aqui,
na igreja onde tu me trouxeste para me batizares,
num dia frio como este, em 1947,
estamos hoje aqui
para te dizer
quanto te amamos.
Não ficarás na história com H grande,
mas ficas na nossa história,
nos nossos corações,
nas nossas memórias,
nas fotos e vídeos que fizemos,
nas palavras que sentimos,
nas palavras que te dissemos ou escrevemos,
nos gestos de amor, afeto e carinho
que trocámos…
Despedes-te da terra da alegria,
como diz o poeta Ruy Belo,
despedes-te da grande família
que, como uma verdadeira matriarca,
criaste, alimentaste, cuidaste…
Não vou dizer que foste a melhor mãe do mundo
porque estaria a fazer comparações sem sentido.
Para nós,
teus filhos, netos e bisnetos,
foste muito simplesmente
a mãe querida,
a sogra amada,
a avó babada,
a bisavó velhinha,
a boa amiga…
Não há palavras
para explicar o mistério da vida e da morte,
mas aqui, nesta oração, cabe uma palavra,
de reconhecimento,
de agradecimento
pelo amor incondicional que sempre tiveste por nós,
e pelo nosso saudoso e querido pai.
Por nós, teus filhos, nunca esqueceremos
os teus pequenos grandes gestos de amor,
desde a preciosa vida que nos deste
até ao desvelo e carinho
com que ajudaste a nascer e a a criar
e viste crescer os teus netos e bisnetos.
Foste uma boa mãe,
como todas as mães do mundo...
e eu, da minha parte, nunca esquecerei
que, com as minhas irmãs e o meu pai,
rezavas por mim, todos os dias,
nos quase 700 dias
em que estive lá longe,
na guerra, na Guiné.
Como rezavas por todos nós,
pelos teus demais filhos e netos
nas horas difíceis,
na véspera de um exame
ou na hora incerta de um parto.
Tal como pai, que tratava carinhosamente
por “Maria, minha cachopa”,
partes em paz contigo,
com o mundo,
e com Deus.
A tua vida foi um livro aberto,
a de um mulher simples e generosa
que nada ou muito pouco pedia em troca
e que tanto deu,
em serviço aos outros.
A tua vida,
a tua morte
são também um exemplo,
para todos nós,
de esperança, de tenacidade, de verdade e de bondade.
O teu exemplo e a tua doce memória
vão-nos acampanhar pelo resto das nossas das vidas.
Deixa-me, por mim, mandar-te um recado
dos teus netos e bisnetos,
estão aqui todos,
exceto o Filipe
que não pôde vir a tempo, de Inglaterra,
mas que está connosco em pensamento.
Avó linda, avó velhinha,
estamos-te gratos
por tudo o que nos deste em vida.
Falaremos de ti com saudade e ternura.
Vela por nós,
lá do alto,
onde já tens uma estrelinha com o teu nome,
Maria da Graça.
Lourinhã, Igreja de Nossa Senhora do Castelo,
13/2/2014
Luís Graça
Mesmo nunca tendo conhecido (ou privado com) a minha mãe, associaram-se ao meu pesar e ajudaram-me a suportar um pouco melhor este momento difícil. Pensei também em todos, meus bons amigos e camaradas, quando na quinta-feira, dia 13, disse, no final da missa de corpo presente, a oração que a seguir reproduzo. (**)
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2. Oração dos filhos, nora e genros, netos e bisnetos,
demais parentes bem como amigos
que vieram de mais longe ou de mais perto
(Porto, Fundão, Lisboa, Torres Vedras, Nadrupe, Atalaia, Lourinhã...),
para acompanhar a Maria da Graça,
"até à sua última morada",
e a quem eu, a Alice, o João, a Joana e o resto da família da Lourinhã
estamos muito gratos e reconhecidos.
Minha querida mãe,
em nome de todos nós,
tua família e amigos,
e por ser o filho mais velho
deixa-me dizer-te
algumas palavras, breves, de despedida,
mas também de agradecimento e esperança.
Chegaste ao fim da autoestrada da vida,
ao km 91,
serenamente, sem dor, em paz.
E preparas-te para fazer outra viagem,
a travessia do rio Caronte,
como diziam os gregos antigos:
uma viagem de que nenhum mortal alguma vez regressou.
Estamos aqui,
na igreja onde tu me trouxeste para me batizares,
num dia frio como este, em 1947,
estamos hoje aqui
para te dizer
quanto te amamos.
Não ficarás na história com H grande,
mas ficas na nossa história,
nos nossos corações,
nas nossas memórias,
nas fotos e vídeos que fizemos,
nas palavras que sentimos,
nas palavras que te dissemos ou escrevemos,
nos gestos de amor, afeto e carinho
que trocámos…
Despedes-te da terra da alegria,
como diz o poeta Ruy Belo,
despedes-te da grande família
que, como uma verdadeira matriarca,
criaste, alimentaste, cuidaste…
Não vou dizer que foste a melhor mãe do mundo
porque estaria a fazer comparações sem sentido.
Para nós,
teus filhos, netos e bisnetos,
foste muito simplesmente
a mãe querida,
a sogra amada,
a avó babada,
a bisavó velhinha,
a boa amiga…
Não há palavras
para explicar o mistério da vida e da morte,
mas aqui, nesta oração, cabe uma palavra,
de reconhecimento,
de agradecimento
pelo amor incondicional que sempre tiveste por nós,
e pelo nosso saudoso e querido pai.
Por nós, teus filhos, nunca esqueceremos
os teus pequenos grandes gestos de amor,
desde a preciosa vida que nos deste
até ao desvelo e carinho
com que ajudaste a nascer e a a criar
e viste crescer os teus netos e bisnetos.
Foste uma boa mãe,
como todas as mães do mundo...
e eu, da minha parte, nunca esquecerei
que, com as minhas irmãs e o meu pai,
rezavas por mim, todos os dias,
nos quase 700 dias
em que estive lá longe,
na guerra, na Guiné.
Como rezavas por todos nós,
pelos teus demais filhos e netos
nas horas difíceis,
na véspera de um exame
ou na hora incerta de um parto.
Tal como pai, que tratava carinhosamente
por “Maria, minha cachopa”,
partes em paz contigo,
com o mundo,
e com Deus.
A tua vida foi um livro aberto,
a de um mulher simples e generosa
que nada ou muito pouco pedia em troca
e que tanto deu,
em serviço aos outros.
A tua vida,
a tua morte
são também um exemplo,
para todos nós,
de esperança, de tenacidade, de verdade e de bondade.
O teu exemplo e a tua doce memória
vão-nos acampanhar pelo resto das nossas das vidas.
Deixa-me, por mim, mandar-te um recado
dos teus netos e bisnetos,
estão aqui todos,
exceto o Filipe
que não pôde vir a tempo, de Inglaterra,
mas que está connosco em pensamento.
Avó linda, avó velhinha,
estamos-te gratos
por tudo o que nos deste em vida.
Falaremos de ti com saudade e ternura.
Vela por nós,
lá do alto,
onde já tens uma estrelinha com o teu nome,
Maria da Graça.
Lourinhã, Igreja de Nossa Senhora do Castelo,
13/2/2014
Luís Graça
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 12 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12711: In Memoriam (177): Senhora Dona Maria da Graça (1922-2014), mãe do nosso editor Luís Graça
(**) Último poste da série > 20 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12610: Blogoterapia (247): Reacções intempestivas dos ex-combatentes face a situações provocadoras de stresse (Abel Santos)
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 12 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12711: In Memoriam (177): Senhora Dona Maria da Graça (1922-2014), mãe do nosso editor Luís Graça
(**) Último poste da série > 20 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12610: Blogoterapia (247): Reacções intempestivas dos ex-combatentes face a situações provocadoras de stresse (Abel Santos)
15 comentários:
Está lindo Luís. O poema e a homenagem. As nossas mães foram e serão sempre o melhor que este mundo nos deu.
Um grande abraço amigo.
Adriano Moreira
Caríssimo Luis,
Estes assuntos, pais, filhos, guerra, morte, fizeram-me voltar á década de 60.
Uma parte considerável da minha família foi para o Brasil, no fim do século XIX, começo do XX; circulavam regularmente entre os dois lados do Atlântico.Lembro, que a esses parentes,na altura, chamava à atenção a tristeza das famílias Portuguesas.
forte abraço
Vasco Pires
Nosso Grande Luís!
Correm-me lágrimas dos olhos.....não deixam ver as teclas....quero dizer-te que estamos contigo e tua Família...nesta hora dolrosa...mais que um parto...nosso porto final...Um abraço muito apertado...Sei o que isso é...
Joaquim Luís Mendes Gomes
Nosso Grande Luís!
Correm-me lágrimas dos olhos.....não deixam ver as teclas....quero dizer-te que estamos contigo e tua Família...nesta hora dolrosa...mais que um parto...nosso porto final...Um abraço muito apertado...Sei o que isso é...
Joaquim Luís Mendes Gomes
Nosso caríssimo Luís
As lágrimas escorrem-me dos olhos...não deixam ver as teclas...para te dizer que estamos contigo e tua Família nesta hora de dor...sei, sabemos o que é...mas não chega...
Um grande abraço...
Joaquim luís Mendes Gomes
Cara Luís
Este é o primeiro poema de uma saudade, que eternamente ficará, mas que nos honra e torna doce a lembrança!
Abraço fraterno
Felismina mealha
César Dias
15 fev 2014 19:20
Luis, esta homenagem é um hino de amor á mãe e também ao pai. Já tinha lido no Blogue, mas fiquei tão emoconado que nem comentei.
Para ti camarada amigo, tudo de bom.
Um grande abraço
César
César Dias
15 fev 2014 19:20
Luis, esta homenagem é um hino de amor á mãe e também ao pai. Já tinha lido no Blogue, mas fiquei tão emoconado que nem comentei.
Para ti camarada amigo, tudo de bom.
Um grande abraço
César
rosa-serra@sapo.pt
Luis
Acabo de ler as suas sentidas palavras de amor e gratidão pela sua Mãe. É muito bom ver um filho a falar das pessoas mais importantes das nossas vidas (Os nossos pais). Apesar do sofrimento que causa uma perda assim, é muito bom ter essas recordações, que lhe permite poder falar deles com todo esse amor e reconhecimento. Comoveu-me...
Envio-lhe um abraço solidário.
Rosa Serra
Carlos Alberto Rodrigues Cruz
15 fev 2014 23:09
Luis,
Obrigado pela tua mensagem que muito me sensibilizou e que demonstra bem o tipo de filho que calhou em sorte à D. Maria da Graça.
Outra coisa não seria de esperar de ti, mas a manifestação dos teus sentimentos em relação à tua mãe fez-me recordar o mesmo que senti, há já 20 anos, em relação à minha, que também perdi aos 77 anos, idade que não tardará muito irei atingir, se Deus me der vida e saúde para lá chegar.Não pude deixar de verter uma lágrima ao ler o teu depoimento e por isso te agradeço muito o teres conseguido exteriorizar os teus sentimentos da forma como só tu o sabes fazer.
Bem hajas por isso.
Abraço e até um próximo encontro.
Grã-tabanqueiro nº 638
Caro camarada e amigo Luís Graça
Bela e expressiva a oração fúnebre, preito de homenagem à tua mãe,
senhora Dona Maria da Graça.(Belo o nome e pleno de significados)
Jesus Cristo, no seu Mistério do Amor Redentor, venceu a morte,
oferecendo-nos um sentido novo e definitivo para a vida.
Foi neste Acto Redentor que fomos baptizados e foi por Ele,
que a tua mãe,(assim como a minha) porque muito amou e esperou,
foi acolhida na fonte do Amor que é Deus. Assim o creio e espero.
Podes assim, continuar a visitá-la e a expressar-lhe o teu amor e
a tua gratidão;claro que noutra dimensão:a da comunicação dos santos.
Ela velará por ti e pela vossa família. Assim o desejo. Muita coragem.
Um abraço com Confiança
JLFernandes
Amigo e Camarada Luís Graça.
Ao lêr as palavras sentidas e justas, que dedicaste á tua Mãe, Senhora Dona Maria da Graça, percorreu-me um sentimento de ternura, para com aquelas Mães, que nos criaram e cuidaram, sem nada pedir em troca. Por ti e por todos os que já perderam os seus Progenitores, onde infelizmente me incluo, peço a Deus, que os coloque naquele cantinho especial, que todos nós pensamos existir. Um Abraço de Amizade e Solidariedade.
Que bom que a sua Mãe pôde receber o seu menino de volta da guerra, vivo e agradecido até à hora da partida. Relembro todas as Mães que não mais viram os seus meninos queridos. Elas viveram e porventura algumas ainda vivem na saudade permanente e nalguns casos com a ferida que não fecha, de nem o corpo ter regressado. Abraço sentido
JCB
Caro amigo, também perdi a minha querida Mãe em junho de 2013 com 95 anos.E foi com muita emoção que li o seu poema.Estive em moçambique 67/69.
Um abraço.
A.Gomes
S.Feira 00.15h
Luís Manuel da Graça Henriques, queira por este meio aceitar as minhas condolências pelo falecimento da Senhora sua Mãe.
Cumprimenta,
o
João Carlos Abreu dos Santos
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