1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Agosto de 2014:
Queridos amigos,
Chega de vos cansar com estas viagens inglesas, uma coisa é a viagem ser inolvidável para quem a faz outra para quem acompanha os relatos apaixonados, rendidos, do viajante.
Este Peak District tem desfiladeiros, regatos, estâncias termais, arquitetura imponente, casas senhoriais e marcas profundas da I Revolução Industrial. O apanhado de imagens procura impressionar-vos para quem se sentiu, sem reservas, impressionado do princípio ao fim.
O Luís desafiou-nos em encher estes passos, em férias, falando das nossas férias. Foi assim que eu as vivi, e é com a maior satisfação que procurei transmitir-vos a alegria deste viajante.
Um abraço do
Márioviage
Biblioteca em férias (9)
Dentro do Peak District, a vasculhar belezas incomparáveis
Beja Santos
O Peak Distric fica em Derbyshire, nas Midlands. A ideia era percorrer uma pequena superfície a pente fino, monumentos arqueológicos dentro de quintas, ver regatos, passear nas florestas, embrenhar-nos em casa senhoriais ímpares, parar em feiras, percorrer instalações da I Revolução Industrial. É disso que vos vou relatar, sabendo antecipadamente que esta síntese não contribui em si tão favoravelmente como eu gostaria para vos aliciar a vir até aqui, dispostos à vida pedestre, a misturar ambiente com história, visitas a aldeias e pequenas cidades. Paciência, é o que posso fazer e faço-o com imenso gosto. Vamos então à última etapa desta viagem.
Primeiro a visita a Haddon Hall, sentimo-nos pequenos e até atrapalhados a detetar o que ali há de normando, de gótico e de Tudor, há por ali intervenções que chegaram até há um século atrás, intervenções dignas, nada de “fachadismo”. As reconstituições convencem.
Haddon Hall tem belas tapeçarias, móveis genuínos não faltam. A parede é do tempo. Senti-me nos tempos isabelinos e não desgostei.
Um detalhe do salão de receções, procurei registar o varandim onde os músicos alegravam os serões dos antepassados dos duques de Rutland e seus convidados. As dimensões são impressionantes e, curiosamente, o salão é acolhedor, é mesmo íntimo.
Este corredor é impressionante, quem concebeu esta ala sabia da poda, tinha tato fino para o cumprimento largura e altura, é tudo gigantesco e não é, grandioso e acolhedor. Entra muita luz, todas estas casas procuram rasgar janelas para vencer os invernos rigorosos, os tempos de negrume, que são longos.
No Peak District há património mundial da humanidade, e grandioso, digo-o sem exagero. Ali para os lados de Cromford, de Derwent Valley assinala a chegada da revolução industrial, do motor de ignição, do tear mecânico, o que estão a ver é uma das primeiras fábricas de lanifícios do mundo, isto, ainda por cima rodeado de vales frondosos, como Matlock Bath, que se mostra abaixo.
Matlock Bath terá sido assim há cerca de 180 anos atrás, o esforço para manter a sua beleza é grande, a despeito das lojas de Fish and Chips e de traquitana inconcebível. Ali perto temos Cromford onde um dos pioneiros da revolução industrial, Sir Richard Arkwright mandou construir Willersley Castle, hoje uma guest house superintendida pela Christian Guild Holidays, os preços são módicos, ali pernoitei.
Willersley Castle, Cromford, Derbyshire. Hoje não está exatamente assim, mas é dos pontos altos das belezas incomparáveis do Peak District. Mais: passeia-se à volta de Willersley Castle e fica-se com a sugestão de que Sintra para aqui se transmutou, em sem qualquer prejuízo.
A fotografia é minha, o postal é de 1930, tirei-a em Cromford, na visita aos primórdios do mundo fabril, em Inglaterra e em todo o mundo. O postal mostra-nos Derwent Valley e vale a pena andar por ali, muitas fábricas desapareceram, havia moinhos em profusão, hoje é meramente um recanto turístico, um espaço de negócios, de escritórios, de entretenimento.
Está na hora da abalada. Estas são as Midlands, mas não sai de Derbyshire. O leitor encontrará nomes como Biddulph Grange Garden, aconselho a visitar se gosta de floricultura, de um espaço reconstruído, com jardins secretos e recantos íntimos; Buxton é uma estância termal encantadora tem ópera e tudo; Leek para ser sincero, foi um desapontamento, mas vi lá uma instalação fabril abandonada que me arrepiou; Ashbourne é uma pequena jóia, com os seus declives e muita arquitetura jorgiana e eduardiana; e há Tidewell com uma imponente igreja, e visitei Eyam que tem uma casa espantosa, Eyam Hall. Chegámos ao fim. Para quem quiser, tenho mapas, brochuras e ofereço-me como cicerone para quem quiser ir visitar com um guia apaixonado. O Peak District gravou-se-me na alma. Nada mais a acrescentar.
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Nota do autor:
Tinha programado que a série terminaria hoje, mas seguir-se-à a resenha de uma viagem que fiz recentemente a Bilbau.
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13618: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (8): Notas soltas de viagem em Inglaterra, Maio-Julho de 2014
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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