segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15692: Notas de leitura (803): "Cartas de Amor de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do Homem" (António Graça de Abreu / Márcia Souto, da editora Rosa de Porcelana)




Capa e contracapa do livro "Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do Homem". Organização de Iva Cabral, Márcia Souto e Filinto Elísio. Praia, Cabo Verde: Rosa de Porcelana, 2015. (Cortesia da página do Facebook de Filinto Silva, cofundador da editora Rosa de Porcelana).



1. Mensagem de Antonio Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, nosso camarada, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com cerca de 170 referências:



Data: 21 de janeiro de 2016 às 11:43

Assunto: Cartas de Amor de Amílcar Cabral

Meu caro Luís

O Jornal "ponto final", Macau,  quinta feira,  21 jan 2016, de hoje portanto, traz este artigo de Márcia Souto (será mineira, brasileira?), que creio vale a pena publicar no blogue.

A editora Rosa de Porcelana creio que é de Cabo Verde. [Fundada em 2013 por Márcia Souto e Filinto Elísio]

Abraço,

António Graça de Abreu


2. O Amador e a Coisa Amada: considerações acerca da edição do livro "Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do Homem"

por Márcia Souto

"Ponto Final", Macau, 21 de janeiro de 2016 (reproduzido com a devida vénia)


Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude de muito o imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Luís Vaz de Camões


Há alguns meses, senti algo estremecer e este estremecimento, compartilhado com meu companheiro de vida e de lida, tornou-se enternecimento.

Confiadas pela historiadora Iva Cabral, tivemos, eu e Filinto Elísio, a grande honra de poder trabalhar, enquanto Editores, as cartas inéditas de Amílcar Cabral à sua primeira esposa, Maria Helena Vilhena Rodrigues. As missivas datam de 1946 a 1960.

Pelo facto, compreende-se o estremecimento e a emoção, bem como a responsabilidade que nos coube em editar tão valiosos textos. Desde o dia da generosa prenda, legada pela primogénita do casal Amílcar Cabral e Maria Helena, dormimos e acordámos envolvidos numa atmosfera de encanto. Já disse Guimarães Rosa que as pessoas não morrem, ficam é encantadas; assim, ressuscitados, senão mesmo transformados pelas cartas escritas por um Amílcar Cabral,  colega, amigo, namorado e marido de Maria Helena, estas passaram a habitar muito do nosso trabalho, da nossa casa, do nosso corpo, do nosso pensamento.

Do encantamento ao labor. Tratava-se de um livro de 53 missivas de/com amor, em que fomos vendo o desfiar de um belo romance nascendo, tomando corpo e caminhando firme, não só no tempo, mas no espaço, posto que por terras portuguesas, cabo-verdianas, bissau-guineenses e angolanas.

São cartas em que se vão descortinando aos poucos o Homem por trás do Mito, assim como a
Mulher, companheira e camarada, que, por meio do afeto e da confiança, permite-se estar na História. O amor a mover o mundo... O amor entre duas pessoas a metonimizar o amor pela Humanidade.

Superados os estremecimentos, arraigado o enternecimento, surgiu-nos um pudor estranho ("Mineira é Fogo!"): como tornar públicas letras tão íntimas? Ato contínuo, percebemos que a importância de se compreender Amílcar Cabral, uma das grandes figuras da nossa contemporaneidade e um dos arautos da luta anticolonial e anti-imperialista no século XX, superaria quaisquer sensações de invasão da privacidade. É que muito da intimidade de Amílcar, pelo teor germinal, explica o tanto do "homem do mundo" em que se tornara Cabral. Embora "amilcariano", como o próprio intitula seu estilo epistolar, não se pode fechar os olhos ao "cabralismo", já patente, então, no jovem estudante de engenharia agronómica ou consolidado, mais tarde, no competente engenheiro, que se compromete, por inteiro e com coerência, à luta pelo direito à autodeterminação e à independência dos povos africanos.

Ao invés dos frios e longínquos anexos, tomámos, na edição do nosso labor, a decisão de destacar
os textos fac-similados (razão de ser do livro), acompanhando cada transcrição com o seu respetivo
original, de modo a propiciar aos leitores não só o acompanhamento, no calor da leitura, do texto manuscrito (o papel, a letra e os estados de alma, elementos que possam vir a revelar mais acerca do autor no momento da feitura da carta), mas também para facilitar alguma atenção especial que
os mesmos possam ter em relação a alguma passagem e facilitar o contato mais próximo com o texto autógrafo.

Nesta edição da Rosa de Porcelana, amadora transformada, consoante a semântica camoniana, creio que operámos a tão barroca e moderna transubstanciação: vivemos, com alegria e consciência, como editores, parceiros, companheiros e amantes, um pouco da vida de Amílcar e Lena, com a certeza de que o mesmo pode acontecer aos muitos leitores que desejamos para esta obra.

Márcia Souto



Amílcar e Maria Helena recentemente chegados a Bissau, em 1952



Da direita para a esquerda: Amílcar Cabral, Maria Helena e Clara Schwarz, na estrada de regresso de Dakar para Bissau em 1954.


As presentes fotos do arquivo pessoal de Clara Schwarz, a decana da Tabanca Grande, que vai fazer completar este mês de fevereiro, no dia 14, 101 anos!... O seu marido, o escritor e jurista Artur Augusto Silva, é que conviveu mais com Amílcar Cabral. Clara, que foi professora no Liceu de Bissau, traduziu textos de Cabral para francês. O nosso querido e saudoso amigo Pepito, o filho mais novo, nasceu em Bissau, em 1949 e morreu em Lisboa, em 2014. [LG]

Fotos (e legendas): © Clara Schwarz / Pepito  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

3. Comentário do editor LG:

Obrigado, António, pela tua atenção, sentido de oportunidade e gentileza (*). A Rosa de Porcelana é, de facto, uma editora luso-caboverdiana, com sede na Praia. O livro "Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do Homem" tem já  sessões de lançamento para: (i) 12 de fevereiro, na cidade da Praia; (ii) 26 de fevereiro, na cidade de Luanda; e  (iii) 18 de março,  em Lisboa. A informação é do Filinto Elísio [ou Filinto Silva], na sua página no Facebook.

Esta edição tem apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Amílcar Cabral, com sede na Praia.

Maria Helena [de Ataíde] Vilhena Rodrigues, engenheira agrónoma,  transmontana de Chaves, casou em 1951 com Amílcar Cabral, de quem teve duas filhas, Iva e Ana (**). Iva Maria nasceu em 1953, é hoje historiadora e vive na Praia, Cabo Verde. (Eu conhecia-a pessoalmente em Bissau, em 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de  Guiledje).  Ana Luísa nasceu em 1962 e, segundo li, licenciou-se em  medicina e vive discretamente em Braga. 

Maria Helena e Amílcar separaram-se  definitivamente em meados da década de 60.  Cabral irá casar, em segundas núpcias, com Ana Maria Foss Sá, mais conhecida como Ana Maria Cabral, em maio de 1966. É assassinado em 20 de janeiro de 1973, na presença da segunda mulher. 

Sobre o resto da história de vida de Maria Helena,não sabemos grande coisa, nem se está viva. Casou, em segundas núpcias, com Henrique Cerqueira,  já falecido, um exilado político, português, em Rabat, Marrocos, que deu o alarme do desaparecimento do general Humberto Delgado, assassinado pelo agente da PIDE Casimiro Monteiro, perto de Badajoz,  em 13 de Fevereiro de 1965.  (Recorde-se que os cadáveres do general e da secretária apenas serão descobertos no dia 24 de Abril 1965.) Henrique Cerqueiro é autor de um livro panfletário, "Acuso", em dois  volumes (Aveiro, Editorial Intervenção, 1976), que terá diversas edições em Portugal.
_________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 31 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15691: Notas de leitura (802): "Genocídio Contra Portugal", edição SNI, Lisboa, 1961 (Manuel Luís R. Sousa)

(**) Vd. poste de 13 de fevereiro de  2012 >  Guiné 63/74 - P9477: Notas de leitura (333): Maria Helena Vilhena Rodrigues, mulher de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

(...) Na revista História de novembro de 1983 vem um artigo assinado por António Duarte “Amílcar Cabral visto pela viúva”, título de mau gosto, Maria Helena Vilhena Rodrigues foi a primeira mulher do líder do PAIGC, a viúva chama-se Ana Maria Cabral. 

O que conta é o retrato humano que ela nos oferece do namorado, marido e lutador pela independência. O que ela aqui menciona vem já reproduzido noutros textos, na sua tese de doutoramento Julião Soares de Sousa refere abundantemente o seu depoimento. 

Conheceram-se no primeiro ano do curso de Agronomia. Amílcar cedo se tornou popular, tanto como aluno distinto como pela sua simpatia. A aproximação fez-se no terceiro ano do curso, quando transitaram apenas escassos 25 dos 220 alunos iniciais. Ela recorda que Amílcar a ajudava muito nos estudos, ela sentiu-se muito atraída: “Achava que ele era uma pessoa extraordinária, com uma grande cabeça. Quando ele me pediu namoro, não recusei”. E adianta: “Admirava a sua maneira de estar na vida, de interpretar a vida. Apesar de ignorante de tudo o que se passava lá fora, eu interrogava-me muito sobre certos aspetos ligas à pobreza. Não entendia as razões das diferenças sociais… Serenamente e de uma forma clara, tudo isso o Amílcar me explicava”. Quando passeavam de mão dada, ouviam-se comentários, afloravam-se preconceitos. Maria Helena recorda que ele tinha sempre uma explicação, nunca perdia o controlo: “Eu vim de longe. É natural, sou diferente deles. Você é uma moça muito bonita que namora comigo. Compreende-se…”.

(...) Casaram-se em 1951, Maria Helena estava ligeiramente atrasada, ele apresentou trabalho sobre os solos e andou pela aldeia de Cuba no Alentejo, ela dedicou-se à botânica e pastos.

(...)  Partem para a Guiné-Bissau [, em 1952], é aqui que vai nascer a primeira filha do casal, Iva. Vão permanecer três anos na Guiné-Bissau, Amílcar vai ficar a conhecer a Guiné de lés a lés, tudo graças ao recenseamento agrícola. Ambos adoecem e regressam a Lisboa. Ele trabalha temporariamente na brigada fitossanitária, em Santos, Maria Helena entrega finalmente a tese. Os professores de Agronomia arranjam trabalho para Amílcar e ele vai para Angola. Ela acompanha-o em 1957, fica como professora em Luanda e no Lobito. Nesse ano têm já casa na Avenida Infante Santo, em Lisboa. Data dessa época a vigilância da PIDE (...).

Estamos em dezembro de 1959, Cabral viaja até Paris. É daqui que ele lhe envia uma carta a Maria Helena em que lhe comunica que não volta, tem o seu caminho a seguir. Maria Helena parte para Paris, Cabral pede-lhe para regressar a Lisboa mas, logo a seguir, defende que Maria Helena e a filha devem abandonar Portugal. Sem alarde, ela abandona o país do ano seguinte, nessa altura já havia uma ordem de captura contra ela. Vai para Paris com a filha, ficam ali 8 meses. Cabral partira para Londres, já estava em plena atividade. Depois passa por Paris a caminho de Conacri. A vida do casal torna-se muito atribulada, Cabral, para sobreviver em Conacri trabalha como técnico agrícola, não tem dinheiro para pagar a habitação onde vive. Depois Cabral arranja uma casa que virá a ser a sede do PAIGC. Foi à porta dessa casa que ele será assassinado, na presença da Ana Maria Cabral, na noite de 20 de Janeiro de 1973. Maria Helena vai trabalhar como professora de liceu em Conacri, Cabral deixa o trabalho para se dedicar exclusivamente à luta de libertação. 

Maria Helena recorda: “Vivíamos praticamente só com o que eu ganhava no liceu. Era uma vida difícil. Tanto mais que estava para nascer a nossa segunda filha, Ana. Eu gostava muito de estar em Conacri porque todos ali eram meus amigos. Entretanto, tinham chegado, também, o Luís Cabral, o Aristides Pereira e a mulher, a Dulce Almada e o Abílio Duarte. E, mais uma vez, tive me separar do Amílcar. Ele achava que eu devia ter o bebé onde houvesse condições. Em Conacri não havia hospitais. Fui para Rabat”.

Seguem-se as opções de fundo, ambos vivem muito longe um do outro, Cabral achava que Maria Helena não devia fazer parte do PAIGC, depois do nascimento da filha, ele achou que ela não devia regressar a Conacri. A distância pesou no que virá a ser a separação do casal em 1966. Ela é omissa nesta entrevista, vários historiadores adiantam que tinham sérias divergências ideológicas. Cabral irá casar com Ana Maria, Maria Helena, em Rabat, casa com Henrique Cerqueira, ajudante de campo do general Humberto Delgado no exílio. Cerqueira irá ser muito badalado em Portugal, depois do 25 de Abril por ter escrito o polémico livro “Acuso!”, sobre o caso Delgado.

E ela termina dizendo: “O PAIGC ainda fez um esforço para salvar o nosso casamento. Convidaram-nos para passar umas férias na União Soviética, mas o Amílcar não quis ir… Foi assim”. (...)

11 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Obrigado Luís, também por teres encorpado com qualidade estas notícias aparentemente inócuas sobre a primeira paixão de Amílcar Cabral.
Repara como depois, a militância revolucionária de Amílcar Cabral,
a entrada na irreal compreensão marxista-leninista-africana do mundo o leva a abandonar o desdobrar
dos eternos afectos, as filhas, enfim, a seguir em frente, ou por inomináveis atalhos,
a caminhar para uma morte inglória
traído e assassinado pelos pelos militantes da sua própria causa, diante da sua segunda esposa.

Abraço.

António Graça de Abreu

´Manuel Luís Lomba disse...

Olá, Luís:
Amílcar Cabral era muito afeiçoado ao sexo oposto, mas a separação da Maria Helena terá como causa e efeito a dissidência política dela, ao alinhar pelas posições do general Humberto Delgado, referidas ao futuro Portugal e do seu Ultramar, em oposição às do marido, alinhado com as de Álvaro Cunhal/União Soviética.

Amílcar Cabral tomou a liderança do PAI, transformou-o em PAIGC e começou o seu périplo pelas chancelarias do mundo, a predicar a sua revolução pela independência da Guiné-Bissau, financiando-se na conta bancária da Maria Helena, filha de um oficial do Exército Português, família distinta e de posses económicas.O casal emigrou para Conacri e o marido recorria ao ordenado de professora do seu liceu e aos seus proventos como tradutora para financiar a instalação do PAIGC e dar início à Guerra da Guiné.
Pelos avatares da sua vida pessoal tornou-se o primeiro financiador da guerra que conduziu à independência da Guiné.
A imprensa noticiou o seu falecimento em Braga, o ano passado, salvo erro, onde viveu na maior discrição, tendo refeito a sua vida com o secretário de Humberto Delgado.

Antº Rosinha disse...

Luís Lomba, como tens tanta informação, vai uma boca, boato, verdade ou mentira isso não garanto, constava em Luanda que no Regimento de Infantaria na minha tropa em 61/62 tínhamos um capitão, que era cunhado de Amílcar Cabral.

Era o capitão Vilhena, hoje homem perto de 90 anos, que me comandou temporariamente.

Vendo-a como o povo falava naquela altura, só para que te conste Luís Lomba, nem que sirva só para as palavras cruzadas.

Cumprimentos

Luís Graça disse...

Luís e António:

Não conheço as "cartas de amor" do Amílcar Cabral à sua Helena, mas estou curioso... Em todas as nossas histórias de vida, maiores ou menores, há misérias e grandezas... Mas dá para entender que esta transmontana, muito à frente do seu tempo, Maria Helena, merece a nossa admiração: acredito que no seu tempo de jovem, no final dos anos 40/princípios dos anos 50, numa Lisboa ainda provinciana, não fosse "fácil" ter uma namorado de pele mais escura...

Hoje, felizmente, vemos cada mais jovens, rapazes e raparigas, formando belíssimos, alegres, apaixonados casais "mistos", sem que alguém mande bocas ou faça reparos... O mundo mudou, Portugal mudou, e muito à custa da nossa geração que fez a guerra colonial... e daqueles que "retornaram" do império feito em cacos...

Julgo que o nosso blogue também tem contribuído para reforçar a ideia de que o amor não tem "fronteiras", não tem "raça", não tem "pátria", não tem "cor de pele", não tem "estigma", não tem "preconceito"... Eu sei que tem, mas temo-los combatido, os estigmas, os preconceitos...

Abraço grande, Luís

Luís Graça disse...

Rosinha, há na Net uma referência ao ten cor Joaquim Vilhena Rodrigues, cmdt do BCaç 3849, Noqui, 1971/73, natural de Casas Novas, Redondelo, Chaves, entretanto falecido (c. 2008), e seria irmão da Maria Helena Ataíde Vilhena Rodrigues, a primeira mulher de Amílcar Cabral.

http://www.panoramio.com/photo/39494099

Mas o Manuel Luís Lomba deve saber mais sobre esta família (ao que parece, de militares)... De qualquer modo, é possível que seja o teu capitão Vilhena, de 1961/62, que te comandou temporariamente em Luanda...

O mundo é pequeno, e todos temos pai, mãe, irmãos, irmãs... Com uma particularidade: somos livres de escolher as nossas vidas, ou o rumo a dar às nossas vidas... Não atribuo particular relevância a estas afinidades de parentesco... Mas admito que a Maria Helena tenha tido que arrostar com a hostilidade da família, ao casar com um guineense, de origem caboverdiana, mesmo com formação superior... Ou talvez não, uma rapariga que ia para agronomia, em Lisboa, na 2ª metade da década de 1940, sabia o que queria da vida!... Tiro-lhe o chapéu!...

Anónimo disse...

Como a instituição "casamento", segundo os usos e costumes europeus cristãos, tradicionais estão a querer transformar-se, talvez um dia se vejam dos dois lados, uniões de homens africanos com mulheres europeias, de uma maneira natural.

Não é o racismo que as famílias tenham dificuldade em vencer, é a subjugação de um às tradições do outro.

Um futebolista negro já pode aparecer ao lado de uma loira, mas porque a negra-mãe dos seus filhos, aceita a segunda e terceira mulher, por tradição e até obrigação.

E se um governante desiste de se mostrar ao lado de mulher branca (Cabral, JES) é por uma questão tribal ou política, ou as duas coisas.

Embora Cabral e JES, excepcional em África, não são integrados em tribos, os dois são oriundos de famílias das ilhas.

Antº Rosinha disse...

fui o autor do comentário anterior

Antº Rosinha disse...

Luís Graça, fui à tal net, é exactamente a mesma pessoa e a mesma conversa que essa gente conta e que eu ouvia 10 anos antes deles sobre o capitão Vilhena.

Eles em 1971 e eu em 1961, quando o homem era capitão.

Curioso que havia censura, mas precisamente por haver censura, quem vivia nas colónias estavamos mais de «olho à escuta» e estavamos melhor informados, quanto a boatos, verdades e mentiras de todos os lados da barreira.

Em Angola havia muitos milhares de caboverdeanos, no Estado, nas empresas, nos muceques e na "praça",como se diz na Guiné.

Eu tive muitos colegas e chefes caboverdeanos e vizinhos de bancada no futebol, e de cervejaria e farras de fim de semana.

E sei que todos admiravam e sentiam orgulho na projecção internacional de Amílcar.

Mas, eu já me torno a repetir neste blog, a mais genuína e sincera observação de um cabverdeano sobre o homem foi esta: "Amilcar é parbo".

Era assim que soava, não sei se em crioulo se troca o v pelo b.

Luís estou a refinar cada vez mais a minha memória, e este da tua busca veio-me comprovar isso mesmo, de tão fiel é a conversa desses tropas 10 anos mais novos que eu.

Hoje para mim, com coisas que vi, e ouvi e senti, duvido que não tenham sido os russos e cubanos os incentivadores «mandantes» do assassinato de Amílcar.

Nem compreendo como não se põe isso em livro, ou então o que vi em Bissau, durante muitos anos, só eu é que vi, ou então sou um par(b)inho, como foi Luís Cabral e já tinha sido o irmão Amílcar.

E, como se fala aqui em Delgado, creio que fossem verdades os boatos que se falavam sobre o assasinato deste, que não são exactamente como está registado nos livros e nas teorias de apenas de anti-salazarismo e se retirem os venenos de outros inimigos do homem.

Cumprimentos

Luís Graça disse...

Rosinha, vai refinando essas tuas memórias, só temos, tu e nós, a ganhar..."Massajar" os neurónios só nos faz bem... E que Deus nos livre do Alzheimer, individual e coletivo. Ab. Luis

antonio graça de abreu disse...

Eu escrevi: "a militância revolucionária de Amílcar Cabral,
a entrada na irreal compreensão marxista-leninista-africana do mundo".
O Rosinha explica muito melhor, via meio crioulo cabo-verdeano: "O Amilcar é parbo."

Manuel Luís Lomba disse...

Estimados Camaradas Luís, Rosinha e António:
Não pesquisei nem a vida nem a personalidade da Maria Helena, porque ela não "foi" à Guerra da Guiné; o que adianto tem apenas por suporte um primeiro indício de prova.
Enquanto portuguesa e transmontana,nasceu em Casas Novas, Chaves, filha do capitão médico Vilhena Rodrigues, que regressou de Angola deficiente motor, creio que na I Guerra Mundial. Humberto Delgado transferiu-se para Argel e pediu ao ex-general espanhol Bayo, derrotado da Guerra Civil de Espanha e sócio de Henrique Galvão no assalto ao Santa Maria, a sua mediação para Che Guevara vir a Argel ajudá-lo a unir a desunida união dos opositores ao regime de Salazar, com a sua revolucionarite. Claro que Che Guevara veio apoiar o PCP e deu uma fugida à Guiné, em apoio moral de Amílcar Cabral.
Mulher liberada e anti-salazarista, a Maria Helena alinhava pelas teses de Humberto Delgado, o que terá ajudado ao culminar da separação. Amílcar Cabral passava temporadas na Checo-Eslováquia, a namorar aquele satélite da URSS pela causa da independência da Guiné e a ex-mulher de um elemento do então "Trio Ouro Negro", desaparecido desse grupo musical, creio que por militar no MPLA.
Maria Helena nunca terá sido uma "Maria Turra" da rádio do PAIGC, na traição as soldados da sua Pátria - papel desempenhado pelas nossas compatriotas e mulheres de José Araújo (PAIGC),Piteira Santos (Democrata e Socialista) e do médico Pádua (desertor da guerra de Angola). Veio residir para Braga após o 25 de Abril e apoiou discretamente o seu segundo marido na oposição ao PREC.
Paz à sua alma.