sexta-feira, 1 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16255: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XI Parte: VI - Por Terras de Portugal (v) : a CCAÇ 763 toma conta do subsetor de Cufar e prepara-se para fazer uma experiência única no CTIG: a utilização de cães de guerra



Foto nº 1 > O Cadete em pose



Foto nº 2 > Secção de cães da CCaç 763


Foto nº 3 > Elementos da CCaç 763 em Cufar: Mário Fitas é o 1º da direita


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.

Texto e fotos e legendas : © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.



[À esquerda: capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.]



Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras, Lisboa, Bissau, Cufar> (v) (pp. 35-40)


por Mário Vicente [, foto à abaixo à direita, março de 2016, Oitavos, Guincho, Cascais]




Sinopse:

(i) Depois de Tavira (CISMI) e de Elvas (BC 8), 

(ii) o "Vagabundo" faz o curso de "ranger" em Lamego;

(iii) é mobilizado para a Guiné;

(iv) unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra"):

(v) parte para Bissau no T/T Timor, em 11 de fevereiro de 1965, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.;

(vi) chegada a Bissau a 17:

e (vii) partida para Cufar, no sul, na região de Tombali, em 2 de março de 1965,



[Mério Fitas foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô].


1. Continuação da publicação do cap VI - Por Terras de Portugal (v) (pp. 35-40) (*)....
[Fixação de textop e subitítulos: LG]
A 2 de Março de 1965, quando o 2º. Grupo de Combate aporta ao cais de Cufar, as Forças do PAIGC controlavam total­mente o sector, dispondo de um forte acampamento na mata de Cufar Nalu, de onde eram feitas flagelações ao aquartelamento. Apa­recendo aqui a primeira brincadeira, uma provocação do jogo do gato e o rato, que é a guerra de guerrilha. O corneteiro toca ao içar da bandeira e da mata, a resposta são rajadas de metralha­dora e de armas ligeiras. Há que arranjar abrigo para que o cor­neteiro se sinta seguro, e sopre na corneta com força.

O aquartelamento resume-se às ruínas de uma antiga fábrica de descasque de arroz, onde irão funcionar todos os serviços da Companhia. O pessoal encontra-se instalado em abrigos escavados no solo e cobertos por troncos de palmeira, chapas de bidões e terra por cima. Estes abrigos circundam a velha fábrica e no seu interior, a temperatura mínima é atingida durante a madrugada, nunca baixando dos 30.0 centígrados. Dor­mir só ao relento, nas trincheiras que ligam os abrigos. 

Vagabundo tinha aprendido muito de guerra, mas ao chegar a Cufar, sente a responsabilidade de que nada sabe. A guerra no terreno é totalmente diferente da guerra a brincar e no papel. Meus amigos, Cufar é um problema muito sério e há que tratar as coisas como devem ser tratadas. Com vinte e dois anos sente a responsabilidade e vê que a sua juventude não chegou a ser vivida. Tem de se tornar adulto, mas rápido. Na Guiné depara com terrenos de características especiais e que desco­nhecia por completo. Há que aprender a atravessar pântanos, bolanhas, lalas, tarrafos, com o lodo pela cintura, pelo peito, tem de transpor rios de maré de profundidades variadas, alguns atravessados a nado, a vau ou de cordas de margem a margem. Há que preparar o pessoal para este terreno, para a natureza do clima e para as exigências do combate.


Carlos, o comandante, o líder


Primeira fase: disciplinar o pessoal. Aqui o furriel tem pleno conhecimento de que tem que ser duro e que a forma de tratar com o pessoal tem de ser diferente, para os poder defender.  Carlos, chefe máximo, é sem dúvida um grande exemplo de militar, que saberá conjugar as obrigações profissionais com o tratamento humanizado do pessoal que dirige. Corajoso, abnegado, sempre na primeira linha de combate, a CCAÇ e todos nós, em geral, como veremos lhe ficaremos a dever os êxitos que iremos ter e, graças à sua capacidade de liderança, ultrapassaremos momentos de grande perigo, onde a decisão certa será o mais importante. Inteligentemente, é o primeiro a identificar e caracterizar a situação, e não tem problemas em definir as estratégias aos alferes e sargentos. Há que dar uma volta à guerra, em termos totais, equipamento, técnica e táctica.

Aqui nasce o primeiro princípio da anti-guerrilha. Dado estar o medo ligado à preservação da vida, manifestando-se perante situações de ameaça da mesma. Sendo resultante de reacções físicas e mentais motivadas por abalo do organismo, enviando o cérebro mensagens para todo o corpo com forte descarga de adrenalina, provocando a aceleração cardíaca, são necessárias formas de inverter este sistema para não termos medo. Sejamos claros, o primordial é saber dominar essa situação causadora do medo, dado que ele existe pois só os loucos não sentem essas manifestações. É pois primordial saber dominar essa coisa invisível, sem forma, mas que senti­mos e nos deprime. É necessário não ter medo. Acertemos en­tão, que o princípio dos princípios é a autodisciplina. Vamo-nos transformar em guerrilheiros para fazermos a anti-guerrilha. Carlos é extraordinário a transmitir estas mensagens aos seus comandados, não subordinados. Terão que se sacrificar determi­nados conceitos e regras, em prole da defesa da vida dos homens que nos estão confiados e da nossa.
Agora já sabemos que temos pela frente um IN (inimigo) numeroso, bem armado e aguerrido. Os procedimentos tácticos não podem ser os da guerra convencional, há que fazer alterações profundas. Vagabundo começa a entender determina­das instruções de Lamego. Só no terreno se pode actuar. Aos srs. mandantes da guerra nos gabinetes, que querem que os soldados apanhem os invólucros das munições quando em contacto com o inimigo, há que mandá-los urgentemente para as recrutas bási­cas, e que venham tirar o curso de sargentos milicianos nas matas da Guiné. Srs. comandantes de companhia, façam como o alferes Paolo, e atirem com as boinas para cima das secretárias, nos gabinetes de Bissau. O furriel Humberto tinha razão, quando, com o seu pastor alemão atrás, passava e gritava:
–  Oh "Mula Branca," vai pró mato, malandro.

Haveria que dar muitas lições de procedimentos técnicos e tácticos a esses senhores dos gabinetes. Carlos com certeza se irá encarregar disso. Vagabundo e seus companheiros têm de se preocupar com os seus soldados. Entramos na vida dramática que não é nada fácil.

A acção subversiva internamente atingiu já a fase de criação de bases e forças regulares. Temos como adversários neste jogo, na zona do prolongamento do corredor de Guilege, os nossos amigos João Bernardo Vieira "Nino", e Joãosinho "Guade", comandantes das forças armadas revolucionárias po­pulares e responsáveis pela Zona 11, que se situa algures, na península de Cabedu, entre os rios Cacine e Cumbijã, na região do Cafal.

A CCAÇ tem de construir todas as instalações. Não pode­mos ser apanhados pela época das chuvas dentro dos buracos. Nos intervalos da actividade operacional, os soldados, em vez do merecido descanso, têm uma obra ciclópica pela frente. Fa­bricam blocos de terra (barro amassado) e, improvisando com a habilidade e necessidade adquiridas, vão construindo abrigos, refeitórios, latrinas, paióis, balneários, e reconstruindo casas destruídas. As situações mais diversas levam os soldados à in­ventiva engenharia. Não suficientemente cómodas, nem obras primas de arquitectura, o esforço e a vontade colocada nas obras são insuspeitas, e fazem delas coisas maravilhosas num esforço sobre humano. 

Não é demais frisar a heroicidade destes verda­deiros e excelentes guerreiros aqui no Sul, referido como "cu de Judas" e onde a guerra se faz taco a taco. Toda a região de Cufar se encontra "depredada," porque destruídas e desabitadas muitas tabancas. Área plana, cortada por muitas linhas de água, nela predominam as bolanhas, o tarrafo e os pântanos, o que põe sérios problemas de progressão ao pessoal. Mas devagar vamos lá chegar.

A fauna e a flora do sector de Cufar

Quando a CCAÇ tomou conta do sector de Cufar, existia uma enorme lagoa entre o aquartelamento (antiga quinta do Sr. Camacho) e a tabanca de Iusse. Era pois um ponto onde para além do gado dos moradores daquela tabanca pastoreava e se sedentava, outros clientes utilizavam este maná: gazelas, cabras do mato, javalis, porcos-espinhos e alguns predadores, como uma espécie de gato bravo, mais parecido com o nosso furão.

Quanto a répteis, desde as serpentes às mais variadas espécies de cobras, tudo por ali aparecia, até uma espécie de lagarto grande parecido com as iguanas e com qual o meu amigo Alfa Nan Cabo se banqueteava.

Mas o verdadeiro espectáculo era dado pelas aves de variadíssimas espécies que frequentavam a lagoa, sendo fáceis de identificar. Desde o grou coroado conhecido por ganga, ao pato da Berbéria conhecido como pato mudo. Grande variedade, de patos de todos os tamanhos, assim como rolas, a rola diamante, pequenina com os seus pontinhos nas asas, até às rolas gigantes incluindo pombos verdes. Havia os massorongos, conhecidos por papagaios do Senegal, e periquitos verdes, o marabu, os jagudis abutres almeidas desta terra e protegidos por lei, a passarada miúda, desde os barulhentos tecelões que faziam das árvores colmeias de ninhos, até aos pequeninos bicos de lacre, degolados e sumptuosas viúvas do paraíso, no seu lindo e ondulante esvoaçar.

Com tudo isto, a guerra foi destruindo, não sendo portanto apenas calamidade humana, mas ecológica também.

Quanto aos nossos amigos babuínos, vulgar macaco-cão o qual se dizia ser um grande pitéu, alguns problemas tivemos, resultante das suas más relações provocatórias com os nossos cães. No entanto as nossas relações eram amistosas e até por vezes nossos batedores, pois quando progredíamos por estrada, eles faziam a mesma coisa que nós progredindo à nossa frente “em fila de pirilau”, e houve pelo menos duas ocasiões que nos foram úteis. Mas nessas alturas pareceu que fizeram mais barulho que o matraquear das armas. Babuínos, embora fosse fácil encontrá-los a todo o momento nas matas, na região de Cufar existiam dois grupos bem definidos que andariam acima dos cinquenta exemplares por grupo, incluindo fêmeas, machos e é claro o manda chuva dominante, sempre no comando.

Um dos grupos, e o mais numeroso, costumava acompanhar-nos pela estrada para Catió. Desde o começo da mata, ao cimo da lala a seguir ao cruzamento de Camaiupa Cabaceira, chegando até às proximidades de Priame.  O outro grupo aparecia na estrada Catió-Cobumba, após Camaiupa já próximo da mata de Afiá.

Uma experiência única no TO da Guiné: a utilização de cães de guerra

De qualquer forma estas maravilhas da natureza, não nos deixava esquecer que o grande problema era a guerra, e daí a ideia de Carlos, Comandante da CCAÇ 763 introduzir a experiência que se julga única na Guiné, da utilização de cães de guerra que vale a pena recordar:

Para nos rever, e ter fundamentos para esta experiência de introdução de cães de guerra na contra guerrilha em terras da Guiné, há que remontar a formação e criação da Secção de Cães de Guerra, composta pelo Chefe de Secção e oito tratadores que eram responsáveis pelos seguintes animais:

CADETE – macho, nascido em 15/09/1959

PUNCH DE BOANE – macho, nascido em 06/12/1962

FADO – macho, nascido em 29/04/1964

SOVA – macho, nascido em 30/08/1964

GUINÉ – macho, nascido em 29/02/1964

BISSAU – macho, nascido em 25/07/1964

CARHEN – Fêmea, nascida em 03/03/1963

LISBOA – Fêmea, nascida em 28/2/64

Eram propriedade de Carlos, Comandante da 763, o Cadete, o Punch de Boane e a Carhen sendo os restantes adquiridos pela CCAÇ. Conhecedor da mais valia que o cão de guerra poderia dar às Forças Armadas quando devidamente treinado, em termos ao seu emprego, em patrulhas, guarda, sentinela, esclarecedores no terreno, ataque e combate, decidiu Carlos, particular e por conta própria, formar uma secção de cães.

Porquê a escolha da raça pastor alemão? Por reunir as melhores condições para o cão de guerra, pelas razões que se descrevem:

– Aprende e pensa rapidamente;

–  Ouvido mais apurado do que qualquer outra raça;

–  O seu faro é melhor que qualquer outra raça do mesmo tipo:

– Ser extraordinariamente ágil e rápido;

–  Come pouco em relação ao seu tamanho;

–  O seu pelo confere-lhe protecção contra o calor ou frio,  picadas de insectos e mordeduras de outros animais;

– De elevado moral sobre desordeiros;

– Dominar com facilidade quem se lhe oponha.

Carlos, tendo consciência que este seu projecto implicaria custos não só na aquisição de animais, bem como em todo o equipamento necessário (trelas, coleiras, açaimes, material de limpeza e cirúrgico/veterinário de laboratório, para além de material de treino) não dispondo de qualquer dotação para alimentação e outros gastos, mesmo assim resolveu avançar com a formação da secção em várias etapas.

1ª. Fase:  Selecção do graduado que ficaria com a responsabilidade de administrar a formação e que ficaria como comandante da secção.

2ª. Fase: Formação dada ao comandante da secção através de fichas e práticas, utilizando para o efeito demonstrações com o Cadete, Carhen e Punch.

3ª. Fase: Selecção dos tratadores, os quais deveriam possuir as seguintes qualidades:  Ser amigo de cães, paciente, perseverante, inteligente, expedito e desembaraçado, imaginação, coordenação física/mental e resistência física.

4ª. Fase:  Treino dos cães em equipa já com os respectivos tratadores.

Treino de Obediência – com aprendizagem da voz do comando: neste período, o animal aprende a colocar-se junto ao tratador, a deitar-se,  pôr de pé, a ladrar, a estar quieto, condução de objectos, a rastejar,   progressão, interrupção de marcha, acção de busca, ataque, etc.

Físico – (obstáculos);
Básico;
Específico patrulha, guarda, sentinela, busca e pisteiro.




Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 1972 >  Babuíno (em cativeiro) e cão (doméstico). Foto do nosso camarada Herlander Simões, fur mil, que passou pelo CTIG entre maio de 72 e janeiro de 74. Destinado à CCAÇ 16 (onde nunca chegou a ser colocado) foi primeiro para os "Duros" de Nova Sintra (CART 2771, onde esteve seis meses) e posteriormente para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477, 1971/73), entretanto já sediados em Nhacra.

Foto : © Herlânder Simões  (2008). Todos os direitos reservados.



Atividade operacional:  vantagens e desvantagens do cão de guerra no CTIG (**)

Falemos agora da acção operacional na zona de Cufar. Algumas dificuldades surgiram, na actuação dos cães no teatro de guerra da Guiné, e que levaram a alterações na utilização do cão de guerra e que se especificam:

A existência de abundantes bandos de macacos-cães que pela sua extrema  agressividade enfrentavam os cães com tal alvoroço e agitação, o que permitia a fácil detecção das nossas forças pelo IN.

Surgiram várias infecções nas patas dos cães, que se verificou serem causadas pela existência de vasta vegetação arbórea constituída por espécies com espinhos.

Isto reduziu a utilização dos cães em operações, cuja natureza era de grande surpresa, principalmente em assaltos a acampamentos IN.

A redução da utilização do cão patrulha, levou a que o treino e utilização fosse  intensificado na utilização como cão pisteiro e sentinela.

Como cão sentinela, a sua prestação foi extraordinária, dando a possibilidade de  poupança de meios humanos, e melhor garantia de alerta pela grande capacidade de faro e audição. Foi de reconhecido mérito, a sua utilização, quando na pista de Cufar por qualquer motivo teria de pernoitar qualquer aeronave.

Como cão pisteiro, teve uma grande prestação no controlo das populações a  sul de Cufar, não só na detecção de material, bem como de pessoas, que escondendo-se, tentavam fugir à vigilância das nossas tropas. Aqui pode referir-se, a captura de guerrilheiros e controleiros do PAIGC.

Refira-se também a utilização do cão como guarda de prisioneiros.

Poder-se-iam narrar casos isolados: por exemplo o “Punch” rastejar junto ao seu  tratador numa emboscada. A descoberta de munições e pessoas escondidas em depósitos de arroz ou telhados de moranças etc. etc… Seria fastidioso, e possivelmente sem importância de maior.

Considerando embora os contratempos descritos e que impediram a utilização  plena do Cão de Guerra, pode afirmar-se que foi uma experiência bastante positiva levada a efeito pela CCAÇ  763 o que permitiu ser conhecida na região, para além dos “Lassas” como “Companhia dos Cães”.

Poderemos considerar que a CCAÇ 763 contou com mais oito elementos de  grande valia, estes extraordinários animais. Um testemunho, que os grupos armados do PAIGC que operavam no sector nessa altura, poderiam dar.

Foi-nos comunicado por testemunha idónea que, em 1999, trinta e quatro anos  depois, ao passar pela zona de Cufar, ouviu referenciar a companhia dos Cães.

Por tudo isto que se passou:

–   Meus Vagabundos! Eu, mísero furriel e vosso chefe, reconheço a vossa rusticidade, a vossa abnegação, os vossos feitos notáveis mas que parecem ser naturais, pelo que permane­cerão esquecidos para sempre. Aquilo a que se convencionou que se chamasse Pátria, como tem acontecido com alguma fre­quência ao longo da nossa História, não se mostrará convosco muito generosa, é verdade! Independentemente da razão ou falta dela, a dignidade e a forma como vos bateis, só confirma que o «Olhai a Pátria que a Pátria vos contempla», foi das maiores hipocrisias e falsidades que enlamearam a nossa História. Todas as guerras são iguais, mas cada povo faz a guerra com a sua herança cultural. Vós, soldados portugueses, vindos dos mais recônditos confins do velho Portugal, fazeis a guerra com gene­rosidade, suor, lágrimas e sangue, caldeados por séculos de His­tória. Só vós conseguisteis os prodígios de adaptação e dádiva necessária para vos manterdes nestas inconcebíveis circunstân­cias.  Rapazes, já que aqui nos puseram, entraremos pelo inferno dentro que já sabemos, existe nas matas de Cufar Nalu, Ca­maiupa, Cachaque e Cabolol. E quando chegar a vez de termos de atravessar o Cumbijã e o inferno for já o Cantanhez, que este­jamos preparados para a vida e sobretudo para a morte.

(Continua)

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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 18 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2664: Os Cães de Guerra (Mário Fitas e Carlos Filipe, ex-Fur Mil, CCaç 763, Cufar, 1965/66)

1 comentário:

Mário disse...

Não tem continuação?

Mário Fitas