domingo, 18 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17483: Blogpoesia (515): "Coro dos pardais"; "Mergulho no passado" e "Não são precisas asas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728



1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Coro dos pardais

Manhã serena e fresca.
Vou pelo bosque dentro
Como quem atravessa uma numerosa orquestra.

Vibrantes trinados,
De verde coloridos,
Ressoam entre os ramos.
É a festa da alegria e liberdade.

Arrulham as pombas em longas ladainhas.
Gorgolejam os pássaros
Em apressadas correrias.

Enquanto os corvos matreiros,
Devassam o chão
Com bicadas insistentes
E devoram as minhocas,
Uma à uma.

Pela tona do lago,
Deslizam felizes
Os patos esverdeados,
Que grasnam
Chamando suas ninhadas.

No silêncio dos caminhos,
Presos à sua trela,
Passeiam os cães e os donos,
Em ternurenta cumplicidade.

É a hora da paz e da harmonia…
Berlim, 12 de Junho de 2017
7h28m
Jlmg

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Mergulho no passado

Mergulho no passado
Como quem regressa duma viagem
Pela galáxia.

Busco os pós que deixei de mim
Por esses caminhos todos
Onde passei, desde menino.

Talvez reencontre o pó perfumado
Dos meus avós
Que tanto me amaram
E ajudaram a crescer.

O dos meus pais,
Aqueles seres sublimes,
Joaquim e Leonor,
De quem me veio o ser,
Nos anos quarenta.
Quando a guerra dizimava a Europa.

Daqueles serões tão quentes,
Pelas noites frias de Inverno,
Na sua oficina de alfaiate.
Aquele cheiro a giz.
Aqueles riscos certos na fazenda
Que, horas depois, davam um lindo fato feito.

Aqueles pães quentinhos
Que vinham na canastra de minha Mãe,
Desde a padaria longínqua de Margaride,
No dealbar agreste das madrugadas.

Tanta coisa linda que fez o meu passado
Eu queria reencontrar nesta viagem…

Berlim, 13 de Junho de 2017
19h44m
Jlmg

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Nem são precisas asas…

Como um passarinho livre
Passeio cada manhã.
Vou tão leve e tão feliz,
Sorvendo a frescura do ar.
Olhando as folhas lá ao cimo.

Só às vezes vejo um esquilo
Correndo de árvore em árvore,
Sem poisar os pés no chão.

Já conheço, só de ver,
Os companheiros da mesma hora.
Até as pombas, até os melros.
Cada qual no seu afã.
A todos falo de mim para mim.
Mas há um cão branco
Ainda jovem,
Um são bernardo,
Sei lá porquê,
Desata aos pulos quando me vê…

Berlim, 15 de Junho de 2017
8h30m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17455: Blogpoesia (514): "Ponte do silêncio"; "Sarilhado de fios" e "Leitura das almas", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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