Amigo Cherno Baldé, gosto de te ler e admiro-te porque tu tens o humanismo e a universalidade para estabelecer pontes entre as gentes e entre os povos, que muitos ex-combatentes como eu apreciam.
A tragédia do soldado Sissé que tu contas com arte e sabedoria é uma consequência de os estrategas militares quererem fazer de jovens, máquinas de guerra através de treino militar duro e desumano, para serem lançados nos piores e mais bárbaros cenários de guerra, sem se importarem com os efeitos nefastos a nível psicológico que irão provocar na personalidade desses jovens.
Estava eu em Buba, em 1971, quando um destacamento de fuzileiros africanos regressou lá depois da operação a Conakry [Op Mar Verde]. Sobre isso um subtenente dos fuzileiros falou-me. Estava em Mansabá em 1971, quando duas companhias de comandos africanos, foram lançadas na mata do Morés, depois de fortes bombardeamentos da aviação e de obuses levados para Cutia. O major, comandante do COP de Mansabá, quando regressou de helicóptero depois de visitar a zona intervencionada, encontrou-me no bar e falou-me dessa operação.
O subtenente dos fuzileiros e o major do exército já morreram, eram ambos bons amigos dos camaradas e dos copos. Falámos e bebemos uns copos, mais do que falámos, a guerra não é heróica, é miserável.
Guiné-Bissau > Bissau > c. 1995/1997 > O Cherno Baldé com a sua querida mãe, Cadi Candé (c. 1927-2017), aqui com c. 70 anos. A foto foi tirada depois do primeiro regresso do Chermo Baldé, de Lisboa, onde frequentou, um mestrado (ou curso de pós-graduação, não sabemos ao certo) no ISCTE-IUL (1993/95). Licenciou-se em economia na Universidade de Kiev, Ucrânia, tendo assistido ao desmantelamento da URSS. Trabalha como gestor de projetos no CAON - FED, em Bissau [Cellule d'Appui à l'Ordonnateur National du Fonds Européen de Développement]. Andou no Liceu Nacional Kwame N'Krumah. Aprendeu as primeiras letras em Fajonquito com os militares portugueses ali estacionados durante a guerra colonial. É casado, pai de 4 filhos. É sportinguista. Vive em Bissau. Tem página no Facebook.
Fotos (e legendas): © Cherno Baldé (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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são mandadas para as zonas de combate mais duras, vão morrendo senão fisicamente, psicologicamente porque vão matando a sensibilidade própria a todo o ser humano, o Estado Português, sobre a bandeira de quem eles combateram. abandona-os à fúria dos seus inimigos africanos, com promessas hipócritas das autoridades do novo Estado da Guiné Bissau.
Uma velha nação da Europa e uma jovem nação da África que deram uma lição miserável de hipocrisia e covardia a todo o mundo.
Amigo Cherno, meu irmão, acredito que, com homens como tu, a Guiné-Bissau ainda se vai tornar uma grande Pátria, com muitos homens bons e muitas etnias a viver em paz e harmonia. Os meninos da tua terra com tantas esperanças nos seus olhos tão delicados e doces merecem. (**)
Um grande abraço para ti e para toda essa terra de florestas, água e bolanha, que continuo a amar. Um Bom Ano.
Francisco Baptista
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 3 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18170: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (53): três balas de kalash para uma missão suicida: o trágico fim do ex-soldado 'comando', Cissé Candé, em abril de 1978
(*) Vd. poste de 3 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18170: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (53): três balas de kalash para uma missão suicida: o trágico fim do ex-soldado 'comando', Cissé Candé, em abril de 1978
(**) Último poste da série > 31 de dezembro de 2017 > Guiné 63/74 - P18160: (In)citações (113): Os Sexalescentes do Século XXI, por Miriam Goldenberg (Artur Conceição)
2 comentários:
Pessoalmente não conheço o amigo Francisco Baptista mas pelo que tenho lido do que escreve parece-me um Homem com coração dócil de sentimentos, amigo do seu amigo, ao mas algo me diz que um dia nos havemos de nos conhecer e trocar aquele abraço fraterno e amigo.
Subscrevo integralmente as palavras que dedicas ao amigo Cherno, só que o que a vida me tem demonstrado é que os homens com bom coração sabem sempre perdoar e na maioria das vezes caiem nas armadilhas dos traidores, como diz o velho provérbio é preciso cuidado com o cão que não ladra.
Um abraço.
Não li o que deu origem a esta resposta, mas mais uma vez o Francisco Baptista não nos surpreende, já nos habituámos aos seus escritos e pelo que dele conheci quando partilhámos mesa num dos encontros organizados por este blogue, ele, mais do que escrever, é efectivamente o que escreve.
Nessa altura julgo que ficámos amigos e embora a distância nos separe e o contacto seja praticamente nulo, vou apreciando e comentado os seus escritos, sinal do apreço e reconhecimento pela sua qualidade de prosa.
Da forma como aborda e desenvolve os temas bem merecia um livro, pode ser que ele pense o assunto.
Um abraço,
BS
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