domingo, 15 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18524: Blogpoesia (562): "Insaciável...", "Irrompeu a Primavera", e "Roda viva", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Insaciável… 

Insaciável é o cultor da arte. 
Vive dela como respira o ar. 
O poeta. 
Mal acaba um poema, sente viva a fome de dar vida a outro. 
Sua mente num rodopio. 
Não pára mais. 
Até encontrar o tema. 
Depois, segui-lo. 
O escultor. 
Ultimou a obra. 
Contempla-a. 
Se gosta dela, se sente triste. 
Chegou ao fim. 
O pintor.  
Sua alma encheu a tela. 
Amplidão. Harmonia e cor. 
Ali está tudo. 
Já não é seu. 
É outro ser. 
O músico. 
De repente, reluz a luz. 
O conduz ao céu. 
Encantado. 
É sou ouvir. 
O pior é o fim… 
O fogo só aquece enquanto arde. 

Ouvindo Hauser em violoncelo - Vocalise- Rachmaninov
Berlim, 8 de Abril de 2018
8h11m
Jlmg

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Irrompeu a Primavera 

Aquelas alamedas de sebes secas, 
Pareciam mortas. 
Aquelas copas hirtas e desgrenhadas 
Das árvores tristes. 
Aquelas hortas nuas, sempre a dormir, 
Tudo mudou. 
Bastou o sol de um só dia. 
Foi de repente. 
Dum dia para o outro. 
Ficaram verdes. Folhinhas tenras. 
Vieram flores, de várias cores. 
Com alegria. Fazia falta. 
A vida viva brota abundante. 
As vestes negras, de cores sombrias 
Se põem num canto. 
Surgiram braços à luz do dia. 
Brilham os rostos. 
Há algazarra da pequenada 
A jogar ao sol. 
Bailam baloiços. 
Se alcançam alturas 
Nas cordas bambas, 
Parece um circo. 
E os cantoneiros da praxe, 
De engaço em punho, 
Enchem o carro com o que há a mais, 
Pelo chão do bosque. 
Uma feliz ideia que ocupa os idosos 
E os faz felizes, por pouco dinheiro. 
Para eles é muito. 
Em vez da bisca... 

Berlim, 11 de Abril de 2018 
10h28m 
Jlmg

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Roda viva

A vida é roda viva.
Vela acesa.
Sua chama arde,
Brilha e ilumina.
Banha e inunda.
Dá cor.
Semeia a chuva
E sopra o vento.
Mas é o sol que a sustenta.
Um mar sem fim.
Um arco imenso.
Abraça o mundo.
Por vezes, plange,
Outras, sorri.
Tem duas faces.
Como a lua.
Uma brilha.
A outra não.
Para que serve, apagado
O farol na praia?
Moinho sem vento não mói.
Navio fantasma,
Carregado de oiro e de sonhos
Afugenta quem sonha,
Pelo aspecto que tem.
Afinal,
Para que serviu uma vida, sem vida?...

Berlim, 12 de Abril de 2018
17h12m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18501: Blogpoesia (561): "Natureza humana", "Deslumbramento...", e "Fulgurante o sol...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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