sábado, 21 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18547: Os nossos seres, saberes e lazeres (263): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 23 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,
Procurava-se pôr em marcha, com alguma meticulosidade, um farto passeio pela Lisboa que o engenheiro Ressano Garcia criou, projetavam-se itinerários, já se efetuara a 1.ª viagem exploratória quando se propôs uma viagem pelo Interior, começando por Estremoz, estacionando com alguma demora em Monsanto e dali arribar às termas de S. Pedro do Sul, na companha havia gente disposta a fazer inalações, aquelas termas são boas para isso e para as doenças músculo-esqueléticas.
Ora o viandante nunca fora a S. Pedro do Sul, dera cursos em Carregal do Sal, viajara pelo Caramulo e proximidades, mas ali não. Acrescia que a sua mãe, quando ele fizera guerra na Guiné, dali lhe enviara postais com vistas opíparas, ele guardara religiosamente tais imagens, era o momento azado para se reencontrar com o lugar onde sua mãe procurara, em vão, minorar o sofrimento das artroses dos joelhos.
E assim se concordou, sem hesitação, em tal viagem, que ora começa.

Um abraço do
Mário


De Estremoz para as termas de S. Pedro do Sul (1)

Beja Santos

Congeminava o viandante uma nova série de itinerância, bojuda e bem lisboeta, passear-se pelos muitos sítios desenhados pelo engenheiro Ressano Garcia, aquele talento das obras públicas que mais mexeu na capital depois dos arrojados trabalhos da reconstrução após o terramoto, quando lhe chegou o convite de gente amante de estâncias termais para um passeio deveras singular: começar em Estremoz, passar por Nisa e subir para o Interior, visitar com detalhe Monsanto e daqui avançar para as termas de S. Pedro do Sul. Acertados os pormenores, apanha-se autocarro até Estremoz, daqui se seguirá para um monte, início da confraternização. O viandante pede tréguas, duas horas para se passarinhar por alguns sítios. Pedido aceite. Começa a viagem





Manda o roteiro turístico que se vá à Alcáçova, contemplar a Torre de Menagem, a Capela da Rainha Sta. Isabel, ver o miradouro, descer e andar por portas e baluartes, e depois há o património religioso, enorme. Com pouco tempo, impõe-se a seletividade, começa-se pelo Convento dos Congregados, tem a ver com a Congregação dos Padres do Oratório, um monumento singularíssimo edificado por ordem de D. Pedro II. O primeiro olhar vai para os belos azulejos que acompanham a escadaria de mármore, temos motivos religiosos e motivos laicos, predominam as cenas de caça. Houve selvajaria dos soldados de Loison, no decurso da 1.ª invasão francesa andaram a picar aqueles belíssimos azulejos. Sobe-se e chega-se às instalações da Câmara. Desce-se e contempla-se a extraordinária beleza da fachada.


O que há de especial aqui, queridos amigos? São os alçados ondulantes, sente-se a influência de Borromini, e parece que estamos diante da fachada de Sta. Engrácia, Panteão Nacional, aliás são estes os dois únicos alçados ondulantes em Portugal. E muda-se de registo.


No Rossio Marquês de Pombal vendem-se produtos locais mas também flores de Inverno, o viandante sente-se atraído por tanto viço em amores-perfeitos e prímulas, quer encher os olhos de cor, tem muito tempo para se adaptar a quilómetros de granito, a partir de Penamacor, está de antemão informado que verá a desolação dos incêndios, muito antes de chegar ao rio Vouga.



Neste mesmo Rossio Marquês de Pombal há estabelecimentos de outras eras, entra-se no primeiro para se matar a sede e tapar uma fome, aproveita-se para mexericar nas brochuras oferecidas no Posto de Turismo, onde aliás se comprou um livro sobre o património religioso de Estremoz, leitura para mais tarde. Anuncia o folheto que o café Águias D’Ouro foi construído entre 1908 e 1909, é todo Arte Nova e desempenhou um papel central na vida quotidiana da cidade. Era aqui que no início do séc. XX se reuniam os estremocenses em tertúlia. Não se sabe se por aqui viajaram ideias republicanas. Hesita-se em bisbilhotar as portas da cidade, em contemplar os panoramas que se disfrutam no Largo do Gadanha, há que optar, estamos em terra de um consagrado regimento de cavalaria, ponham-se os olhos em memoriais de combatentes.




Preito aos nossos mortos, os da nossa geração, os que combateram na Flandres e nas Áfricas, da I Guerra Mundial. E não se pode ficar insensível aos Dragões de Olivença, a Espanha ocupou e jamais desocupou o que é nosso, é política e diplomaticamente um assunto arrumado, mas ficaram sinais que não se devem apagar de que Olivença é terra portuguesa usurpada. Para que conste.


O viandante tem uma séria paixão por casas de livros, mas esta é bem peculiar, está adossada ao Convento dos Congregados, ao que parece toda esta bela azulejaria veio de igrejas arruinadas, é uma bela biblioteca, dá gosto vir para aqui estudar, ler jornais ou escrever ou tomar conhecimento de tudo quanto se publica sobre esta terra cheia de belezas. Acabou-se o tempo, impõe-se mudar de agulha, ultrapassa a vintena o número de igrejas, capelas e ermidas que se podem conhecer, e perto temos outras belezas, por exemplo em Evoramonte, S. Bento do Ameixial, S. Lourenço de Mãoporcão e Veiros. Mais uma razão para aqui se voltar, para além do património religioso há os museus e os baluartes, a comida é de truz, não se pode esquecer a fartura do mármore. E da próxima vez, está garantido, o viandante senta-se no Largo do Gadanha a olhar para o céu, para a Alcáçova e para a Torre de Menagem. Assim se fará, haja saúde e esta permanente curiosidade em vasculhar lugares, mais aqui e mais além.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18530: Os nossos seres, saberes e lazeres (262): 1.º Encontro de Teatro Sénior, Organização Actis Sintra, dia 21 de Abril de 2018, Casa da Juventude das Mercês (António J. Pereira da Costa)

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