Foto nº 1 > Guiné > Região de Cacheu >São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1968 > "O rancho dos pobres"
Foto nº 2 > Guiné > Região de Cacheu >São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1969 > Companhia perfilada para a entrada no refeitório geral das praças.
Foto nº 3 > Guiné > Região de Cacheu >São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 27 de setembro de 1968 > Dia do Batalhão, que foi celebrado em 27 de Setembro de 1968, um ano depois da nossa partida no T/T Timor.
Foto nº 4 > Guiné > Região de Cacheu >São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1968 > Grupo especial numa ronda de rotina ao aquartelamento, composto por uma secção com 12 homens, e agora comandada por um aferes ‘especial’, SAM...
Foto nº 5 > Guiné > Região de Cacheu >São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1968 > Trincheiras a céu aberto, com várias saídas, abertas na terra vermelha protegidas com algumas palmeiras e em direcção ao Posto de Vigia das sentinelas.
Foto nº 6 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1968 > Trincheiras e abrigos feitos de bidões vazios e troncos de palmeiras, protegendo edifício militar, talvez uma caserna de telhado de zinco.
Foto nº 7 > Guiné > Região de Cacheu >São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1968 > Caserna fortemente protegida por uma carreira de troncos de palmeira e bidões vazios, cheios de terra, cascas de ostras e cimento.
Foto nº 8 > Guiné > Região de Cacheu >São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1968 > Posto de vigia dentro do arame farpado, composto por um esqueleto de troncos de madeira, acabando em cima com um pequeno cubículo, com bidões e troncos de palmeira como protecção, coberto com uma pequena estrutura de zinco, contra o sol e contra a chuva, algures num fim de tarde com o Sol a pôr-se a oeste.
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue.
Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: F037 – História e Imagens de São Domingos
I - Anotações e Introdução ao tema:
Pretende-se dar um contributo global a todo o Sector O1B – São Domingos, que esteve sob o comando e ordens do BCAÇ 1933, durante o período de 2 de Abril de 68 até 3 Agosto de 69.
Não houve qualquer intuito de meter esta ou aquela foto, foram apenas tiradas ao acaso dos grupos já organizados, em mais de 40 temas diferentes.
Cada um vai ser futuramente objecto de lançamento para edição do nosso Blogue. A maioria dos dados técnicos e confidenciais, foram retirados da leitura do Livro, ‘História da Unidade do Batalhão de Caçadores 1933’, cujo lema de estandarte era «O que fizermos vos dirá quem somos»
São apenas um pequeno Resumo daquilo que está escrito ao pormenor, Ssendo uma parte Reservada e outra Confidencial.
A – História do Sector O1B - São Domingos:
Introdução:
O BCAÇ 1933 foi ocupar o Sector O1B na fronteira Norte, uma faixa de 120 por 15 km2 o que perfaz uma superfície aproximada de 1800 km2 para este sector, com uma configuração geral de quase rectangular, compreendida entre a fronteira Norte com O Senegal, a Sul com o Rio Cacheu, a Oeste com o Oceano Atlântico até Cabo Roxo, e a Leste por uma linha de povoações, designadamente ‘Faranjato-Quissir-Rio Cacheu’ .
1 - Dispositivo das NT:
Integram o sector sob o comando do BC1933 o seguinte dispositivo:
- Comando e CCS do BCAÇ 1933;
- CCaç1684, CCaç1801, CArt1744;
- CCAÇ2 – Africanos; Companhia de Milícias 24 - Africanas.
2 – História e movimentos:
O BC1933 vem substituir o Batalhão de Caçadores 1894.
- A 21 Março 68 chegada a SD do Comandante e Oficial Adjunto por via aérea;
- A 22 Março68 chegada a SD por via marítima, de mais 16 elementos da CCS, incluindo o Chefe do Conselho Administrativo e outros elementos para fazer a passagem de testemunho da Companhia que iria sair.
- A 26 Março68 a chegada do restante pessoal do batalhão, ficando em sobreposição até 2 de Abril com BC1894.
- A 2 Abril68, o BC1933 passou a comandar e tomar posse administrativa e militar de todo o sector O1B de São Domingos.
– Não existem no sector populações controladas pelo IN
- Contudo a partir do Senegal existem cerca de 12 linhas de infiltração no sector O1B
– O IN em Susana e SD actua mais com minas A/P e por vezes A/C
– Na zona Norte os principais locais de apoio do IN são ‘Ziguinchor e Samine’
– O IN tenta implantar-se no sector com acções sobre as populações, recrutando á força elementos para a guerrilha, implantando engenhos explosivos – minas, fazendo emboscadas às NT, destruindo pontes e outros meios de circulação
– O IN estava instalado em diversos Santuário no Senegal, com cerca de 350 guerrilheiros.
– O armamento estimado e que era utilizado pelo IN, era pesado e ligeiro, nomeadamente:
1 Canhão S/R ; 5 morteiros 82; 11 morteiros 60; 7 Bazookas (LGF); 10 Lança Roquetes;
10 Metralhadoras pesadas; 21 metralhadoras ligeiras; 20 armas ligeiras; Varias minas A/P
– Foi na zona deste sector, ainda inexistente - Varela-Susana-SD – que se iniciaram os primeiros ataques à Guine Portuguesa, sendo considerado o início da guerra de guerrilha.
- A fronteira Norte com o Senegal, é mais ou menos paralela ao Rio Casamança – Rio Cacheu
- O ambiente envolvente é de bolanha, mangais, lalas e campadas, conforme o tipo de vegetação, arborescente, savana, manchas florestais, árvores de grande porte e palmeiras.
3 – Rede hidrográfica:
No sector, a rede hidrográfica é constituída por rios que são navegáveis para canoas, em parte dos rios pode navegar-se com barcos de motor fora de borda, e nos principais pode ser navegado por barcos-lanchas tipo LDM e LDP:
4 – Os aeródromos ou pistas de aterragem no sector, existem:
- 1 Pista em Varela e Sedengal apenas para Avionetas DO - Dornier 27
- 1 Pista em Ingoré com 975 m
- 1 Pista em Susana com 1000 m
- 1 Pista em SD com 1200 m
Todas são em terra-batida, e na época das chuvas carecem de assistência constante para não ficarem inoperacionais. Nenhuma das pistas tem postos de reabastecimento de combustível
5 – Portos:
No que respeita a Portos, temos:
- 2 Em Susana, 1 em São Vicente que serve Ingoré, e outro em SD
6 - Povoações:
São referenciadas cerca de 50 povoações no sector com população indígena:
- Na zona de Susana, temos Varela, Igim, Jufunco, Elia e Susana, todas com mais de 500 hab
- Na zona de SD temos apenas a Vila de SD, como centro principal, sede de circunscrição, com 3 bairros, 1 serração, e com 5 casas comerciais- apenas reconheci uma em toda a estadia naquele local. A população é de 609 habitantes e grande parte deles trabalha na serração e a tropa é a principal fonte de receita.
Podemos referenciar também a povoação de Poilão de Leão, dada a sua relativa importância estratégica e com uma população de 337 hab.
- Na área de Ingoré, que é a localidade mais importante de todo o sector, tem muito comércio e óptimas condições de vida, com uma população de 2149 hab;
- Depois tem Antotinha, é um reordenamento com um total de 2307 hab
7 – População:
São habitantes que têm vivido quase sempre na zona - sector O1B, desde tempos remotos.
Não existe praticamente população europeia – branca – no sector, com algumas raríssimas excepções aos escassos comerciantes Libaneses à procura do lucro, e missionários.
Nem mesmo os guardas administrativos são de origem europeia.
8 – Grupos étnicos:
- As etnias predominantes no sector são: Felupes, Baiotes, Manjacos, Banhuns, Mancanhas, Caboianas, Cassangas, Balantas, Mandingas e Fulas.
- Em SD podemos ver os Felupes, Baiotes, Manjacos os mais relevantes, e Mancanhas e Banhuns
9 – Modos de vida:
Tota a população do sector se dedica à lavoura, em especial na época das chuvas. Na época seca, podem dedicar-se à caça, pesca, furar palmeiras e recolha de chabéu.
Em SD trabalha muita gente na serração.
Os jovens deslocam-se para a Gâmbia e Senegal ou para centros maiores tais como Susana, SD, Ingoré à procura de trabalho.
Todos gostam de trabalhar para a tropa, mas o que mais desejam é ingressar na Milícia.
10 – Línguas e dialectos:
São falados os dialectos, Felupe, Baiote, Papel, Manjaco, Mancanha, Banhum, Caboiana, Balanta, Fula, Mandinga e Cassanga.
As mais faladas são a língua Balanta, Felupe-baiote e de menor importância as restantes.
Também é falada entre eles, num reduzido número, o crioulo.
O Português é falado por grande número dos mais jovens, de todas as etnias.
11 – Religiões:
A população do sector é quase toda Animista – Não sei o que significa animista!
Existe um pequeno número islamizado e um pequeno número de católicos.
Podemos dizer que existem no sector, cerca de 20.000 animistas, 500 islamitas, 70 católicos.
12 – Aspecto económico:
A população do sector dedica-se quase exclusivamente, à colheita e produção dos recursos indispensáveis à sua subsistência. O Coconote e a mancara vendem para exportação.
Cultivam para consumo próprio o arroz de bolanha e sequeiro, o óleo e o vinho de palma.
Na área de SD existe gado bovino que só com parcimónia pode ser utilizado na alimentação das tropas, dado que os nativos são renitentes à sua venda.
O mesmo quanto a gado caprino, aves de capoeira e ovos, sendo notória sua escassez.
A pesca é utilizada para consumo próprio e apesar da sua abundância não é prática corrente dos nativos a pesca para efeitos comerciais.
Embora existam pomares, só por acaso as NT consomem bananas, laranjas, limões, papaia ou ananás.
Não existem, praticamente, produtos hortícolas, para além daqueles que são cultivados pelas NT junto dos Aquartelamentos.
B – Aspectos da localidade de São Domingos:
SÃO DOMINGOS – "FORTE ÁLAMO" DA GUINÉ.
Legendas e Anotações Gerais:
Conforme já se referiu podemos notar que a Vila de São Domingos poderia até ser chamada de um pequeno ‘Campo de Concentração’, dado a sua área minúscula, o cerco de arame farpado e minado a toda a volta, e a reduzida falta de qualquer coisa que fazer que não seja esperar que o IN ataque. A diferença é que estamos comandados pelos nossos oficiais superiores das NT e não pelo IN.
Mas vou colar a imagem que já foi dada a este aquartelamento, por outro Poste da Companhia de Intervenção nos anos de 67/69, a CART1744 do Capitão Serrão. Foi quase comparada a um Forte do Faroeste Americano, pelas suas paliçadas em troncos de palmeira, os abrigos também de palmeira e bidões com cascas de ostras e terra, foi então que me lembrei das Histórias de Forte Álamo, no Novo México. Esta ideia cai melhor do que campo de concentração, que cheira mais a nazis e extermínio de povos.
Vou apresentar para edição algumas – 59 fotos - das centenas de imagens que tenho em arquivo de São Domingos, onde cumpri a minha missão entre final de Março 68 até ao fim da comissão, Agosto de 69. São portanto 16 meses no mesmo cenário, um pequeno perímetro de meia dúzia de quilómetros quadrados, feitas as contas acho que tem 3,3 km2, cercado a arame farpado, duas fileiras, armadilhado a toda a volta, com alguns postos de vigia e observação.
Era um local importante noutros tempos, agora dotado de Administrador civil, constituindo a Circunscrição de São Domingos. Habitado por população Felupe e outras etnias. Era limitado a Norte com a República do Senegal, a Leste com a Guiné Conacri, a Oeste a estrada que conduzia a Susana, Varela e Oceano Atlântico, a Sul o Rio São Domingos, um pequeno afluente do grande Rio Cacheu, a porta mais importante de saída daquele local.
Uma povoação sem nenhuma actividade comercial, existia uma pequena serração de madeiras perto da foz do rio, uma casa de comes e bebes, que era um pequeno tasco que servia alguns caranguejos, camarão ou ostras, e umas cervejas, normalmente não geladas, e nada mais. Não existia uma única casa comercial, nem qualquer população branca, que eu tivesse visto, e conhecia bem todo aquele pequeno espaço.
No centro da vila existia um largo, e em frente à casa do administrador civil, tínhamos então o Mastro onde se erguia e arreava a bandeira nacional, uma pequena avenida de terra com separador central, feita já no tempo do nosso batalhão, e mais tarde com meia dúzia de lâmpadas fluorescentes – e que passamos a designar por Avenida das Luzes Fluorescentes.
A população vivia fora do perímetro militar, mas eram protegidas e apoiadas pelas nossas tropas. Fazia parte da guarnição, a Companhia de Comando e Serviços, uma Companhia de Intervenção, neste caso a Companhia de Artilharia 1744, comandada pelo Capitão Serrão, que ocupava uns pavilhões a Norte, colados ao Centro de Comando.
Tinha uma pista de terra batida com 1200 metros, e um pequeno cubículo coberto que fazia de posto de vigia e de entrada e saída de passageiros. Apenas os aviões Dakota de 2 motores se faziam à pista, estando operacional, as Avionetas DO, os Heli Alouette III, e bombardeiros T6.
13 - A área da povoação de SD onde está localizado o Comando do Sector, é um pequeno núcleo com uma extensão em comprimento, desde o fim da pista até ao cais do Rio SD, de 2200m, com uma extensão lateral de cerca de 1500 m no máximo, o que dá uma área total disponível de não mais do que 3 a 3,3 km2. Isto é mais ou menos um pequeno Campo de Concentração, rodeado de arame farpado. É uma área semelhante a pouco mais do que a Avenida dos Aliados no Porto.
14 - Tem duas vias de entrada e saída por via terrestre – minadas – até Susana ou Ingoré;
Mais uma entrada e saída por via aérea com uma pista de 1200 metros, acessível a Dakota.
Mais uma entrada ou saída pelo Rio SD em direcção ao Rio Cacheu ou até Bissau, Atlântico.
15 – Dispositivo existente na sede do sector em SD:
- Comando e CCS;
- CART 1744;
- Pelotão de Milícias 173 da CM 24;
- Pelotão de Milícias 177 da CM24.
16 – Armamento existente no sector
Não é referido na História da Unidade o armamento e meios de combate das NT, nem no sector nem nos vários aquartelamentos.
Posso notar por conhecimento pessoal aproximado dos seguintes meios existentes em SD:
- Arma automática G3 para toda a tropa, incluindo africana e milícias;
- Pistolas pessoais para oficiais superiores e para o oficial de dia;
- Metralhadoras pesadas em abrigos próprios, talvez umas 10 unidades;
- Morteiros 81 instalados em poços próprios [, "espaldões"], talvez 6 unidades;
- Morteiros 60, localizados em poços ou para operações no exterior, talvez uns 20;
- Metralhadoras ligeiras, tipo MG42 de fita {iu HK 21 ?], uma para cada pelotão, talvez 30;
- Bazookas, uma para cada pelotão, talvez umas 30 também, ou mais
- Lança Roquetes [, 3,7 mm], também umas 30 unidades
Não existem carros blindados, Fox, Chaimite, nada. Mas havia uma ou duas Daimler, porque tenho uma foto junto duma com o nome de Luísa
Não existe canhão, com ou sem Recuo. Não existe nenhuma peça de artilharia pesada tipo Obus
Existem meios de transporte escassos, alguns Jipes, Unimogues, GMC, Mercedes, para transporte de mercadorias e pessoal do cais ou das aeronaves, tudo em estado de grande degradação, e falta de manutenção.
A NT raramente sai para operações em viaturas, devido à inexistência de estradas utilizáveis.
C - Fotos do tema T037 – Imagens de São Domingos – «Forte Álamo da Guiné».
Legendas e numeradas de f1 a f8 (de um total de 59)
F1 – Mais uma vez apresenta-se aqui a vergonha das nossas vidas. ‘O rancho dos pobres’. Eram miúdos indígenas, que vinham nos fins das refeições, com as suas latas, à procura dos restos do rancho ou das messes para comerem, eles e famílias. Depois de levarem para as suas palhotas, voltavam novamente para levar o máximo possível. Isto chocava-me muito, mas nada poderia fazer, a não ser facilitar estas operações, a sopa dos pobres. São Domingos 1968.
F2 – Companhia perfilada para a entrada no refeitório geral das praças. Era uma norma usual para que houvesse disciplina e a contagem dos números de comensais. SD1969.
F3 – Trata-se do dia do Batalhão, que foi celebrado em 27 de Setembro de 1968, um ano depois da partida do paquete Timor com as tropas. Foi a única celebração. A cerimónia constou de várias iniciativas que estão contadas e fotos captadas noutro tema que vai ser inserido na sua devida altura. SD27Set68.
F4 – Grupo especial numa ronda de rotina ao aquartelamento, composto por uma secção com 12 homens, e agora comandada por um Alferes ‘especial’. Todos os elementos eram da CCS do Batalhão, sem qualquer formação para este tipo de operações de rotina. SD1968.
F5 – Trincheiras a céu aberto, com várias saídas, abertas na terra vermelha protegidas com algumas palmeiras e em direcção ao Posto de Vigia das sentinelas. SD1968.
F6 – Trincheiras e abrigos feitos de bidões vazios e troncos de palmeiras, protegendo edifício militar, talvez uma caserna de telhado de zinco. SD em meados de 1968.
F7 – Caserna fortemente protegida por uma carreira de troncos de palmeira e bidões vazios, cheios de terra, ostras e cimento. SD em meados de 1968.
F8 – Posto de vigia dentro do arame farpado, composto por um esqueleto de troncos de madeira, acabando em cima com um pequeno cubículo, com bidões e troncos de palmeira como protecção, coberto com uma pequena estrutura de zinco, contra o sol e contra a chuva, algures num fim de tarde com o Sol a pôr-se a oeste. SD 1968.
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Nota do editor:
Último poste da série > 11 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18734: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXV: Como se faz um alferes milicinao do Serviço de Administração Militar (III)
14 comentários:
Virgílio, eu acho que a metralhadora de fitas MG42 só estava distribuída às tropas especiais: páras, fuzos, comandos... Na CCAÇ 12, em 1969/71, tínhamos a HK 21, de fita, com tripé, e o LGFog 3,7, além da bazuca, 8,9 e o morteiro (ou morteirete) 60... No quartéis, o nosso morteiro era o 81 e não o 82 (, esse, sim, o do PAIGC). Excecionalmente, levava-se o morteiro 81 em operações (lembro-me da Op Tigre Vadio, em março de 1970, a Madina / Belel), uma "ideia louca" do Mário Beja Santos, cmdt do Pel Caç Nat 52...
UM grande abraço. Obrigado pela partilha do álbum. Luís
Notável a foto nº 1... Não direi que diz "tudo", mas diz "muito"... O fotógrafo estava lá, milhares de nós assistíamos, quotidianamente, a essa cena "comovedora" mas também "constrangedora" dos meninos e meninas que viviam nas imediações dos nossos quart+eis, com as latas (recuperadas do lixo da tropa) a servirem de marmitas, ordeiramente, pacientemente, à espera dos "restos do rancho da tropa"...
Parabéns pela tua sensibilidade e sentido de oportunidade... É uma foto com grande interesse documental...
50 anos depois continua a haver fome na Guiné-Bissau... Ainda há dias falei, ao telefone, com um desgraçado de um camarada nosso, o ex-1º cabo António Baldé, de Contuboel, que regressou à Guiné, sem um tostão, sem uma pequena reforma e que, aos setenta e tal anos, passa fome em Caboxanque, no Cantanhez... O tal que tinha o sonho de vir a ser apicultor. E que era o pai da infeliz Alicinha do Cantanhez... Trabalhou com o Pepito, no DEPA... Vou ter que fazer alguma coisa por ele, para o ajudar... São situações que nos destroçam o coração...
Caro amigo Virgilio,
A descriçao da foto F1 diz assim:
"F1 – Mais uma vez apresenta-se aqui a vergonha das nossas vidas. ‘O rancho dos pobres’. Eram miúdos indígenas, que vinham nos fins das refeições, com as suas latas, à procura dos restos do rancho ou das messes para comerem, eles e famílias. Depois de levarem para as suas palhotas, voltavam novamente para levar o máximo possível. Isto chocava-me muito, mas nada poderia fazer, a não ser facilitar estas operações, a sopa dos pobres. São Domingos 1968."
Eh verdade que os miudos iam la pedir sobras do rancho, eu fui um deles, mas também, nao vamos exagerar ao ponto de afirmar que era para comerem eles e suas familias o que nao corresponde a verdade. Primeiro porque, normalmente e por regra, as sobras nao eram tao abundantes para alimentar a populacao. Em Segundo lugar, a populacao mesmo pobre era muito digna e conformava-se com o pouco que tinha em suas casas e, no caso das populaçoes de confeccao muçulmana, os adultos nao comiam nada que viesse dos quarteis por motivos religiosos. As vezes as aparencias iludem e penso que foi este o teu caso.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
PS/
A minha experiencia de rafeiro de quartel diz-me que a quantidade das sobras, dependia mais da qualidade da comida do que da bondade alheia, pois variava em funçao do prato do dia. Assim, nos dias em que havia carne de vaca ou cozido a portuguesa, nao sobrava nada
mesmo para os soldados que se atrasavam a chegar ao refeitorio.
Cherno
Errata: No meu primeiro comentario, onde diz confeccao, queria-se dizer confissao. As minhas desculpas.
Cherno
Caro amigo Cherno Baldé:
Antes de mais quero endereçar os meus parabéns pelo teu aniversário, no dia 20 de Junho, o dia de aniversário da minha falecida mãe. Teria hoje 98 anos, mas já passou a sua vez. Uma pura coincidência! Já agora andas pelos 60,65?...
Gostei da tua imagem nas fotos que apareciam até hoje, não conhecia essa foto passada, de barrete lá dos lados da URSS. Mas pronto, já passou, agora pertence ao povo Ocidental, penso eu. (brincadeira!).
Sobre os teus comentários a esta foto, a única que tenho, apesar de ter presenciado esta cena e outras imensas vezes, e só por vergonha nunca mais tirei nenhuma. Conheces aqueles ex-militares, com uma abraçadeira vermelha no braço esquerdo? Lembras-te ou não? Faziam de Oficial de Dia, os responsáveis por tudo o que acontecia durante 24 horas, incluindo nessa missão, assistir a todas as refeições nos refeitórios das praças e também provar e até muitas vezes também comia do rancho.
Esses meninos e meninas, cujo exemplo estão aí, não fabriquei essa foto, fui eu o fotografo, mas não tenho abraçadeira, não estava de serviço, e quando estava não podia fazer fotografias a tudo. Mas a minha memória Visual fenomenal não me deixa esquecer, e sei todos os pormenores de tanta coisa, mas não de tudo. Estes aqui que relatei são autênticos, só não sei se iam levar a comida à Tabanca para alimentar os familiares ou se era com outros fins, por exemplo a pecuária.
Não sabia sequer nessa altura, os hábitos dos muçulmanos, palavra que estava longe de pensar que não comiam carne de porco e outras coisas. Por isso em Chão Fula, Nova Lamego não era tão gritante esta prática, mas existia na mesma. Mas em especial no Quartel de Bra, nos Adidos, onde se serviam mais de 1000 militares todos os dias, e sobrava muito e as filas eram imensas, eu vi isso, pois estive lá com o meu Batalhão durante o mês de Março de 68 e fiz vários serviços de Oficial de Dia e assistia obrigatoriamente a estas cenas, tanto eu, como os outros. A minha sensibilidade não dava para ver isto, por isso tentei esquecer, até ao dia que voltei a ver as fotos, 50 anos depois.
Não queria de modo nenhum alimentar uma polemica sobre este assunto, que não me agrada, mas espero que aceites - tu e os outros - esta minha versão dos acontecimentos, pois esta é a minha versão e não a dos outros, cada um pensa o que sente, e não, nunca faria quaisquer Juízos de valor sobre isto. Sabes que eu gosto muito da população guineense, durante a guerra e depois dela, nunca esquecerei.
Quando estive aí em 1984/85 3 vezes, voltei a ver a fome nas populações, eram eles que me diziam, voltem para cá....
Um grande abraço de amizade,
Virgilio
Caro Luís,
A metralhadora de fitas MG42 havia muitas, quando os grupos saiam levavam-nas a tiracolo, bem como os bipés.(e não os tripés), estarei enganado?
Aliás, no Sintex onde fui a Susana e Varela e nos perdemos, levávamos uma delas, está lá nas fotos, e tenho mais uma com um soldado condutor a experimentar atirando para o rio.
Os Morteiros 81 ou 82, para mim são a mesma coisa, confundo-os. Eu acho que está escrito nos livros o 82, mas não tenho certezas dessas.
Em relação aos comentários à foto F01, que já esperava, já comentei com o Cherno, e serve para todos os outros que desconhecem esta faceta da guerra, ou da paz, neste caso.
Não é que ele nasceu no mesmo dia da minha falecida mãe!! Grande coincidência.
Um Ab, Virgilio
Caro amigo Virgilio,
As tuas fotografias sao excepcionais e muito importantes em todos os pontos de vista. Nao ha motivo para vergonha nenhuma nas fotos que, com todo o merito, conseguiste salvar e conservar em muito bom estado. A pobreza nao é uma desgraça em si e, na verdade, ela é sempre relativa, pois, se nao existissem pobres nao haveria ricos no mundo.
Também nao alimento polémicas, tao so tento corrigir possiveis erros de interpretaçao, muitas vezes, puramente subjectivos que os antigos combatentes metropolitanos podem estar, injustamente, a cometer sem ter a noçao completa dos seus erros. A minha funçao é tentar corrigir os tiros da malta que se embala no entusiasmo das palavras, tal Homem Pereira de Melo, como uma vez disse o nosso amigo Valdemar Queiroz.
Todas as criticas e/ou observaçoes que os Blogistas fizerem dos trabalhos (textos e fotos) publicados soh servirao para testar, enriquecer e consolidar os conteudos assim expostos a observacao e critica do vasto auditorio para uma eventual validaçao. Por isso, nao convem que sejamos muito sensiveis nem que sejamos tentados a defender a todo o custo aquilo que expomos ao publico da nossa Tabanca Grande.
Muito obrigado pelas simpaticas palavras de amizade dirigidas ao povo da Guiné-Bissau, em geral, e a mim, em particular.
Um abraço amigo,
Cherno Baldé
Virgílio
Muito interessante a foto nº. 1. Era habitual a 'formatura' das crianças à espera
das sobras do rancho da tropa. Também assisti em Bissau a uma 'formatura' destas, mas com muitas dezenas de crianças, quando estive de 'Sargento de Dia' no Quartel dos Adidos.
Mas, bem longe daquelas terras, na Europa da abundância, que até deita por fora, e há cerca de uns vinte anos, assisti à porta das instalações militares ou da Academia Militar ou dos Comandos, na Amadora, a uma 'formatura' de lata na mão que me fez lembrar aquelas que nós muito bem conhecemos na Guiné.
Mais uma vez afirmo, que me faz confusão a utilidade de um posto de vigia numa posição elevada. Coitado do sentinela era o primeiro levar com um balázio/roquetada de um sniper, ao mais excelente a fotografia. Na zona leste não me lembro da existência de tais 'torres' de vigia.
Ab.
Valdemar Queiroz
Obrigado, Virgílio, é claro que a MG 42 (e a HK 21) não têm tripé, mas bipé... As metralhadoras pesadas, como a Browning 12.7, é que tinham tripé... Recordo-me de a ver em Bambadinca:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/metralhadora%20Browning%2012.7
Sobre a MG 42 no TO da Guiné, tens aqui uma foto:
7 DE OUTUBRO DE 2010
Guiné 63/74 - P7093: (De) Caras (4): Eu também estive lá (Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára-Quedista, CCP 122/BCP 12, 1971/74)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/10/guine-6374-p7093-de-caras-4-eu-tambem.html
Sobre o Mort 81 e os Pelotões de Morteiro (Pel Mort) temos 10 referências:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Morteiro%2081
Sobre o nosso armamento e o armamentdo do PAIGG vê os seguintes postes do nosso especialista, o Luís Dias:
21 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5682: Armamento (1): Morteiros, Lança-Granadas, Granadas e Dilagrama (Luís Dias)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/01/guine-6374-p5682-armamento-morteiros.html
23 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5690: Armamento (2): Pistolas, Pistolas-Metralhadoras, Espingardas, Espingardas Automáticas e Metralhadoras Ligeiras (Luís Dias)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/01/guine-6374-p5688-armamento-2-pistolas.html
Em 15 de novembro de 1970, o morteiro 82 (do PAIGC) fez "estragos", numa terra, por onde passaste, Nova Lamego:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/morteiro%2082
Virgílio, fizeste mal as contas: o nosso Cherno é ainda um "cinquentão"... Terá nascido em 1960/61...
O Cherno esclarece um pouco o que era ir ao quartel apanhar restos, mas ainda não diz completamente tudo sobre o assunto para não melindrar algumas sensibilidades (penso eu)
Aqueles pretos não eram assim tão "coitadinhos", como havia uma tendência para os julgar assim para quem passava lá 24 meses.
Na África subsariana não havia fome, aquela fome que nos era exibida em Lisboa e Porto e menos em cidades e aldeias mais pequenas do interior.
Aquela fome que as guerras provocavam foram uma excepção, assim como a fome e carências primárias de algumas independências com total desorganização.
Ainda há três ou quatro dias uns reporteres entrevistaram uns jovens gambianos que rejeitados pelos italianos vieram para Valência, e o problema deles não era a fome nem a guerra, estavam bem tratados e bem dispostos, e um deles apenas queria uma oportunidade de poder jogar à bola.
As carências africanas nunca foi alimentação, tal como a conheciamos aqui antes de haver os peditórios à porta dos supermercados para as pessoas e para os animais.
Ao contrário das nossas tribos as tribos na África "partem" tudo entre si, dá para todos, aqui como cantava o Zeca:eles comem tudo e não deixam nada.
Luis já escrevi nos Parabéns ao Cherno, e pelas contas terá nascido até antes de 60. Por isso andará perto dos 60 anos, mas eu não sabia nada do seu passado, agora li os seus comentários e fiquei a saber mais.
Em relação ao armamento, também tínhamos várias pesadas 'Browning 12,7 e outras', em instalações fixas. As fotos deste Tema, mostram alguns abrigos que fotografei com elas, bem como os 'espaldões' dos morteiros, 81 e 60.
Uma boa continuação,
Virgilio
Luís. Ontem fui ver uma exposição - para desenjoar daquela exibição miserável da dita nossa selecção de futebol - que fazem aqui na Junta de Freguesia por este período das Festas de São João, da responsabilidade da Associação Local dos Ex-Combatentes de África. Já tinha visto há uns anos, e não gostei. Talvez porque sou esquisito demais, mas vale pelo menos pela boa vontade e paciência da rapaziada que se dedica a fazer este cenário, que diga-se, pouca gente vai ver, eu era o único, e falei lá com 2 sócios desta associação. O Presidente Nascimento, é um veterano da Guiné, e lá com a boa vontade ou com outras intenções lá vai fazendo umas coisas, politiquices acho eu. Tem tentado trazer-me para ficar como sócio, mas aquela malta não me diz nada e são pessoas daqui da beira, e isso não me agrada. Eu disse-lhe uma vez mas ele agora insistiu, e falou comigo no 10 de Junho, eu vou sempre lá prestar homenagem aos homens mortos em África e naturais de Vila do Conde, mas que não me dizem nada, porque eu só vim para cá depois de chegar da Guiné, oficialmente estou aqui desde 1973. Mas agora ele voltou à carga, veio ter comigo todo solicito, tinha havido um almoço anual da Associação, na qual esteve presente, como representante da Camara, o Sr. Vereador, meu genro. Chegaram à fala, e ele fez a ligação, falaram de mim, o meu genro já me tinha mostrado as fotos que lhe mandaram e até me perguntou porque não vou a estes almoços. Fui a um, mas não gostei, não encontrei nenhuma pessoa com quem falar, fiquei a saber quem esteve na Guiné e conhecia de vista, mas foi um dia de seca e não voltei mais. Agora talvez por razões de politiquice, quer ver-me junto deles, mas nunca irei, por razões pessoais, e como tens dito, para preservar a família...
Mas a exposição é muito triste, tem por lá a maioria das fotos, com o nome do militar que lhes entregou as fotos e a provincia - Angola, Moçambique e Guiné. Ainda lhes perguntei porque não está lá escrito o ano, o local, o significado, quem era o militar, a sua especialidade, o seu posto, qualquer coisa que diga mais do que simples fotos sem legendas. Eles não sabiam, o próprio homem que me acompanhava tinha lá uma série de fotos dele, em Moçambique, mas não fazia ideia onde eram as localidades, nem ano, mês, nada. Não se lembra, nem ele nem os outros. Isto é normal?
Eu tive de falar no nosso Blogue e o que fazemos, mas eles não conheciam nada disto, acho estranho e depois lanço uns bitaites e eles podem ficar melindrados. Eu até lhes disse que tenho tudo na memória e mais de 1000 fotos, 15 vezes mais do que eles tinham ali, e não havia uma única a cores.
Querem que eu partilhe com eles, mas não o faço pelos motivos já apontados, moram muito perto de mim, e todos me conhecem mas eu não.
Foi um comentário apenas,
Um bom dia, hoje vou à festa de fim de curso do meu neto de 17 anos. Tenho um dia preenchido, felizmente.
Ab, Virgilio
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