Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008 > 2 de março de 2008 >
A simpatiquíssima Cadidjatu Candé, da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do rio Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrava a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa). Em segundo plano, do lado direito, segurando o prato e esperando a vez, o nosso amigo, o dr. Alfredo Caldeira, representante da Fundação Mário Soares.
A simpatiquíssima Cadidjatu Candé, da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do rio Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrava a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa). Em segundo plano, do lado direito, segurando o prato e esperando a vez, o nosso amigo, o dr. Alfredo Caldeira, representante da Fundação Mário Soares.
Um dos pratos que foi servido no almoço de domingo, aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje, foi peixe de chabéu, do Rio Cacine, do melhor que comi em África... Durante a guerra colonial, na zona leste, em Bambadinca, só conhecíamos o desgraçado peixe da bolanha que sabia a lodo....
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Adão Cruz > Memórias de um médico em campanha > 8. O tanque
A meio da madrugada o Almeida acordou-me:
- Já que não vens comigo fazer a patrulha, meu cobardesito de merda, fazes um bom xabéu com essa galinha para mereceres o mergulho no tanque.
Eu respondi-lhe:
- Tem mas é juizinho nessa bola, não te armes em herói, senão nem a galinha provas.
- Cobarde, um cobardesito é o que tu és - retorquiu ele sorridente, com um aceno amigo que nunca mais haveria de fazer.
Eram dez horas da manhã quando a nossa velha GMC irrompeu pela cerca de arame farpado, em correria demasiada para o seu velho e gasto motor, como se ela própria sentisse a tragédia que transportava no bojo: o corpo do Alferes Almeida crivado de balas dos pés à cabeça.
Puxei de um cigarro mas não consegui segurá-lo entre os dedos. E nunca tomei banho no tanque.
A única recordação dele, que hoje ainda mantenho, é o livro que tinha na mesinha de cabeceira: 'Morreram pela pátria'. (...) (*)
[foto acima, à esquerda: Linhares de Almeida, quando ainda estudante do Liceu Honório Barreto, em finais de 1959, princípios de 1960; terá nascido em 1942, em Bissau; aparece numa foto de grupo (14 elementos) do Liceu, identificado com o n.º 2 como sendo o "Juca" - Carlos Linhares de Almeida (irmão do 'Banana')... A foto, sem data, é da autoria de Armindo do Grego Ferreira, Jr. Cortesia do blogue NhaGente, de Amaro Ligeiro].
2. Mais um exemplo de um vocábulo, Xabéu, um africanismo guineense, ou Chabéu (, do crioulo), que vem grafado no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, em duas variantes. E o nosso blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné) é mais uma vez citado, pelo Priberam (**), para ilustrar o uso do termo.
xabéu | s. m.
xa·béu
(africanismo da Guiné-Bissau)
substantivo masculino
[Botânica] Infrutescência das palmeiras muito estimada pelas suas variadas propriedades e sobretudo pelo saboroso molho de xabéu com que acompanham (especialmente os fulas) grande parte das suas comidas.
"xabéu", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/xab%C3%A9u [consultado em 26-11-2018]
"xabéu" em Blogues
(i) ...de merda, fazes um bom xabéu com essa galinha para mereceres... Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
(ii) ...português de Matosinhos, Frango de Xabéu elaborado por experiente cozinheira guineense... Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
(iii) ...apanha de mancarra, recolha de xabéu , etc.. Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
(iv) ...de carne com arroz de xabéu , que estava uma delicia,... Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
(v) Xabéu à Guineense-.. Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
(vi) ...junto à copa a colher xabéu... Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
chabéu | s. m.
cha·béu
(do crioulo da Guiné-Bissau)
substantivo masculino
1. [Guiné-Bissau] Fruto do dendezeiro. = DENDÊ
2. [Guiné-Bissau] Prato de carne ou peixe confeccionado com óleo de palma (ex.: chabéu de carne).
"chabéu", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/chab%C3%A9u [consultado em 28-11-2018].
"chabéu" em blogues:
(i) ...famosos almoços de frango de chabéu , em geral aos domingos...Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
"chabéu", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/chab%C3%A9u [consultado em 28-11-2018].
(ii) ... e orienta-me para umas caixas onde me acocoro . Ali estão as surpresas prometidas: um livro de cozinha e doçaria do ultramar português, inclui receitas da Guiné (Bolinhas de Mancarra, Bringe, Caldo de Mancarra, Caldo de Peixe, Chabéu de Galinha). A edição é da Agência Geral do Ultramar, o ano da... Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
"acocoro-a", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/acocoro-a [consultado em 28-11-2018].
2. Segundo o respeitado Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Lisboa, Círculo de Leitores, 2002), tomo II, pág. 886, a grafia correta seria "chabéu" (etimologia: do crioulo "tche bém"), que é o termo que também usamos, no blogue, como descritor. E que é usado na literatura especializada (, livros de gastronomia, por exemplo).
Uma receita de "chabéu de galinha" está disponível no nosso blogue, em poste da autoria do nosso camarada Hugo Moura Ferreira (***). Na pesquisa feita pelo Google, a grafia "chabéu de galinha" é mais frequente que "xabéu de galinha"... Esta questão ainda não foi posta ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
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Notas do editor:
(*) 27 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16528: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (8): O Tanque
(**) Último poste da série > 26 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19236: Em bom português nos entendemos (17): os vocábulos "sinceno" e "sincelo" no nosso blogue e no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
(***) Vd. poste de 12 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8087: Gastronomia(s) lusófona(s) (1): Algumas receitas tradicionais guineenses, do Caldo de Peixe (ou Mafefede) ao Chabéu de Galinha, do Caldo de Mancarra ao Bringe (Hugo Moura Ferreira)
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Notas do editor:
(*) 27 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16528: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (8): O Tanque
(**) Último poste da série > 26 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19236: Em bom português nos entendemos (17): os vocábulos "sinceno" e "sincelo" no nosso blogue e no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
(***) Vd. poste de 12 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8087: Gastronomia(s) lusófona(s) (1): Algumas receitas tradicionais guineenses, do Caldo de Peixe (ou Mafefede) ao Chabéu de Galinha, do Caldo de Mancarra ao Bringe (Hugo Moura Ferreira)
5 comentários:
Olá Camaradas
Também comi, em Cacine, galinha de xabéu.
Era bom. Mais tarde, em Mansabá era um pouco mais gorduroso o molho.
E que tal um pitch-patch de ostras?
Um Ab.
António J. P. Costa
Deixem-me recordar que a Cadijato Candé, mais conhecida por Cadi Guerra era filha do Alferes da milícia Aliu Sada Candé, à data da minha estadia, era o temível comandante da Cª de Milicia estacionada em Aldeia Formosa e posteriormente alferes comandante de grupo de uma Cª de Comandos Africanos. Foi dos infelizes que no pós guerra, segundo diz a família foi convidado a integrar as forças armadas libertadores, o que recusou e uns meses depois foi preso quando se dedicava à lavra na sua lala em Aldeia Formosa e foi julgado por um tribunal adoc popular e condenado à morte. Uns dizem que foi com um prego espetado na cabrça, a Cadijato diz que foi fuzilado.
A Cadijato infelizmente faleceu repentinamente em 2016 devido a problemas de coração.
"Mon ermon" Zé, fico triste por saber que a nossa Cadidjatu Candé já morreu...Era tão amorosa, como de resto o são as mulheres da Guiné-Bissau...
Era um homem misterioso, o Rendeiro, de Bambadinca, mas foi na casa dele que comi, duas ou três vezes, o melhor chabéu de frango da minha vida... Ele casou com uma senhora, de etnia mandinga, de seu nome Auá Seidi. Nunca ma mostrou, mas ela devia ser uma grande "chef" de cozinha...
A senhora Auá Seidi ainda era viva, há dois anos atrás, quando morreu mais um dos seus filhos... Creiam que eram nove, ao todo, os filhos do Rendeiro, de Bambadinca, natural da Murtosa... LG
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https://tonifuner.pt/2016/04/24/rodrigo-fernandes-rendeiro-participacao-de-funeral/
Tonifuner
Rodrigo Fernandes Rendeiro – Participação de Funeral
Por ToniFuner 24 Abril, 2016
Rodrigo Fernandes Rendeiro
Com a idade de 53 Anos
Residia no Caminho de São Lourenço, Nº3 Pardelhas, Murtosa.
O Velório com Oração – Terço, realiza-se
Segunda-feira, 25 de abril de 2016 às 19:00 horas na Capela do Hospital em Pardelhas.
O Funeral realiza-se
Terça-feira, 26 de abril de 2016 pelas 16:30 horas na Igreja Paroquial de Pardelhas,
indo a sepultar no cemitério da Murtosa.
Filho de Rodrigo José Fernandes Rendeiro, já falecido e de Auá Seidi .
Irmão de Maria Libânia, Joaquim Carlos, Joana Maria, Álvaro Henrique, João Herculano, Maria Paula e Hilário, todos com os apelidos Fernandes Rendeiro e de Ana Maria Fernandes Rendeiro Bernard, já falecida.
Sobrinho de Maria da Ascensão Rodrigues.
Deixem que lhes diga, comi uma vez o famoso chabéu de galinha, em Janeiro de 1985.
Está tudo contado no meu Poste sobre as minhas façanhas na Guiné Bissau, com um projecto a realizar em Cabuca, infelizmente falhou.
Um dos homens que nos forneceram para nos guiar pela Nova Guiné no seu Jeep velho, um caboverdeano, que era funcionário do Governo. Vamos ao que interessa.
Um Domingo, nos primeiros dias de JANEIRO, combinamos e fomos de madrugada às Ostras em Quinhamel, conseguimos um saco delas de 50 kg. Na casa desse moço, não sei o nome dele agora, acendeu-se uma fogueira no seu terreno, e então foi um dia inteiro a comer ostras assadas na brasa, uma luva para pegar nelas, a conhecida faca de abrir, o molho preparado como deve ser, a cerveja sempre fresca, e foi até acabar. Nesse longo período a mulher dele, lá foi preparando a galinha de chabéu, durante horas aquilo ferveu, depois foi comer um manjar de Deuses com aquele petisco acompanhado com arroz branco, ou era trinca, não interessa. Quando lá andei dois anos nunca provei daquilo, como os olhos também comem, não gostava do aspecto, mas depois foi um delirar de prazeres da boca e estomago.
Naturalmente também havia um deficit de outras coisas e a barriga vazia, mas foi um pitéu do caraças, e o especto e cor era este mesmo desta foto.
Nunca mais comi chabéu, e já disse em casa que não iria morrer sem voltar a comer, as ostras e o chabéu no seu local próprio, a Guiné. Não sei se vou conseguir, pelo menos vou sonhando.
Abraço,
Virgilio Teixeira
Em, 2018-11-29
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