1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Outubro de 2018:
Queridos amigos,
De há muito que o viandante ambicionava ver a Holanda noutra perspetiva: conhecer a vida de uma pequena cidade, saborear a viagem pelos canais, conhecer a Sinagoga Portuguesa de Amesterdão, visitar o Rijksmuseum depois das obras, há quem viaje a Paris para ver no Louvre a Vitória de Samotrácia ou a Gioconda, no Rijks o viandante quer deleitar-se em frente da Ronda da Noite, um impressionante Rembrandt, passear despreocupadamente entre a cidade e o campo, observar o movimento nas praias, enfim, a eterna ilusão de que durante uma semana se vê um fluxo de gente com uma certa profundidade, gente que tem uma história comum, andaram atrás do nosso comércio na Guiné, deram-nos guerra no Brasil e na Insulíndia, há um aspeto que o viandante gosta de vincar, na admiração que tem por este povo dos Países Baixos: a relação entre a terra e o mar, entre a arquitetura moderna e a antiga, entre a competência no trabalho e o folguedo, já tão presente na preciosa pintura holandesa do século XVII.
Foram umas belíssimas férias.
Um abraço do
Mário
Viagem à Holanda acima das águas (1)
Beja Santos
O viandante encontrou uma solução económica, partindo do aeroporto de Lisboa até Alphen aan den Rijn, nos Países Baixos: viagem low cost até Bruxelas, de comboio até Roterdão, transferência para outro comboio até Gouda, depois um autocarro até Alphen, será o local de onde se irradiará nos próximos sete dias.
O viandante só tem boas recordações das suas passagens fugazes por Haia, Amesterdão, Eindhoven, Hilversum, Utrecht, Groningen, e pouco mais. Viu museus, passou sobre pontes de muitos canais, viu diques e pólderes; ficou especado com tanta bicicleta e ciclistas de todas as idades, nas cidades e campos; gosta do caráter arquitetónico, há um enorme respeito por aqueles edifícios que vêm do passado, mas há arrojo na nova arquitetura, pôde contemplar edifícios impressionantes em Haia como Roterdão. Há gente a viver nas embarcações, o holandês pela-se pelo convívio, os bares a partir do meio da tarde, estão repletos. Pasma igualmente o viandante com a preservação e o ordenamento, há um cuidado esmerado com o mundo floral, os moinhos, não há casas arruinadas. A primeira proposta de passeio foi visitar Leiden ou Leida em português, cidade bem antiga, os batavos deram luta feroz às hostes do Império Romano, na Idade Média há referências de Leida no início do século XII, hoje tem pouco mais de 120 mil habitantes, mas está rica de história, museus e teatros, o seu centro histórico é vibrante e a sua universidade goza de fama mundial. Vamos esquecer os sofrimentos padecidos pela população ao tempo dos exércitos de Filipe II. O viandante recebe a sugestão de cirandar despreocupadamente e centrar a sua atenção no chamado bairro latino onde se situa uma jóia arquitetónica, a Pieterskerk de Leiden, é uma bela proposta para um dia ensolarado, anda tudo em mangas de camisa, os holandeses queixam-se do estilo prolongado, estes campos da Holanda do Sul estão um tanto amarelados, os agricultores preveem dificuldades acrescidas.
Mesmo no bulício das zonas mais movimentadas, entre o shopping frenético e os cafés à beira dos canais, em torno das árvores, a Holanda é muito mais que uma fábrica de túlipas, é o gosto de dialogar com a Natureza, de matizar o urbano com a flora. E sempre com grande sucesso.
Ciranda-se despreocupadamente, dá gosto, neste sábado de manhã, ver os holandeses matinais, captar o seu movimento, os pontos de lazer, o transporte aquático, apanhar a imagem da fachada da sua Câmara Municipal, renascentista, destruída por um incêndio em 1929, bem reconstruida, ufanando-se esta gloriosa fachada de um carrilhão de 49 sinos, os alemães confiscaram todas aqueles toneladas de metal, os holandeses não desarmaram, reconstruiram-nos no fim da guerra. Os alemães destruíram Roterdão, os holandeses reconstruiram, está ali arquitetura moderna que não embaraça ninguém.
A caminho de Pieterskerk e do chamado bairro latino, irresistível ao viandante não fotografar esta montra arte-nova, já confessou mil vezes ser canhestro a fotografar, no caso vertente procurou um ângulo favorável para não fazer parte da foto. Esse ângulo não existia, paciência, ali está ele, como assombração, mas estava felicíssimo da vida com esta descoberta de Leida, prometedora de férias felizes. Como foram.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de Novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19227: Os nossos seres, saberes e lazeres (294): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (13): À despedida, uma sentida homenagem a Toulouse-Lautrec (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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