domingo, 25 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19232: PAIGC - Quem foi quem (11): Lourenço Gomes, era uma espécie de "bombeiro" para situações difíceis ... A seguir à independência era um homem temido, ligado ao aparelho de segurança do Estado (Cherno Baldé, Bissau)


Foto nº 1 > República da Guiné > Conacri > c. 1960  > Dirigentes do PAIGC, junto ao Secretariado Geral: da esquerda para a direita, (i) Osvaldo Vieira, (ii) Constantino Teixeira, (iii) Lourenço Gomes e (iv) Armando Ramos.  

Recorde-se que o "estado-maior" do PAIGC instalara-se em Conacri em maio de 1960. A foto deve ser do ano de 1960, já que em janeiro de 1961 Osvaldo Vieira e Constantino Teixeira faziam parte do grupo de futuros históricos comandantes, mandados por Amílcar Cabral para a  Academia Militar de Nanquim, na China, para receber treino político-militar. Uns meses antes, em agosto de 1960. Amílcar Cabral em pessoa tinha-se deslocado a Pequim para negociar o treino dos quadros do PAIGC na Academia Militar de Nanquim.  No grupo de quadros do PAIGC que vão nesse ano para a China incluem-se, além dos supracitados Osvaldo Vieira e Constantino Teixeira, os nome de João Bernardo Vieira [Nino], Francisco Mendes, Pedro Ramos, Manuel Saturnino, Vitorino Costa ], irmão de Manuel Saturnino],  Domingos Ramos [, irmão de Pedro Ramos e amigo do nosso Mário Dias], Rui Djassi, e Hilário Gomes.

Foto (e legenda): Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral  > Pasta: 05222.000.084 (adapt por Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2018, com a devida vénia...)


1. Comentário do nosso editor LG:

Não era um tipo qualquer, este Lourenço Gomes (*)... Escrevia bem português, tinha estudos, devia ser natural de Bissau, talvez papel,  e, no início da guerra, pertencia ao "Comité Executivo da Luta"... Parece ser, pelo que se lê,  algo "enrascado", "queixinhas" e "timorato"... mas sensível aos gravíssimos problemas de assistência médico e hospitalar dos guerrilheiros e população evacuados para os hospitais no exterior (Senegal e Guiné-Conacri)... Quantos, centenas e centenas, não terão morrido por falta de medicamentos e outro material médico-hospitalar básico?...

Vamos encontrá-lo, em escassas fotos do Arquivo Amílcar Cabral, muito jovem (c. 1969) ao lado de outros dirigentes do PAIGC, e mais tarde (entre 1963 e 1973) como membro do "Comité Executivo da Luta" (Foto nº 2).


Foto nº 2 >República da Guiné > Conacri > c. 1963-1973  >  Reunião de responsáveis do PAIGC [Comité Executivo da Luta].  Da esquerda para a direita: (i) Lourenço Gomes, (ii) Honório Chantre, (iii) Victor Saúde Maria, (iv) Abílio Duarte,  (v) Pedro Pires, (vi) Luís Cabral e (vii) Aristides Pereira.


Foto nº 2 A > República da Guiné > Conacri > c. 1963-1973  >  Reunião de responsáveis do PAIGC [Comité Executivo da Luta].  Detalhe: Da esquerda para a direita: (i) Lourenço Gomes, (ii) Honório Chantre, e (iii) Victor Saúde Maria.

Foto (e legenda): Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral  > Pasta: 05247.000.074 (adapt por Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2018, com a devida vénia...)

Tivemos, entre as NT,  muitos erros de "casting", muitos dos nossos comandantes (e nomeadamente oficiais superiores, comandantes de batalhão) não tinham mesmo jeito para a guerra... Foram só preparados para a tropa e as suas burocracias... O busílis é que, quando há uma guerra, e é preciso saber liderar (, que não é a mesma coisa que chefiar...). E liderar é literalmente "ir à frente, mostrando o caminho"...

O PAIGC tinha, naturalmente, o mesmo problema. Este desabafo do Lourenço Gomes é mesmo de um homem, vulgar, como qualquer um de nós, à beira de um ataque de nervos... Este Lourenço Gomes não tinha fibra de revolucionário... Até onde é que ele chegou ?... Talvez o Cherno Baldé nos possa dar uma dica...

(...) "Estou sujeito a ser preso dum momento para o outro, pois o proprietário da Farmácia, constantemente me manda cobrar.

"A minha situação é semelhante a de um náufrago, que já cansado de nadar e com as forças esgotadas se deixa morrer. Assim também, não será de admirar e até será muito possível o ter de qualquer dia abandonar o meu lugar, sem esperar ordens superiores, não significando isso falta de respeito ou disciplina, mas sim, só saturação e canseira até ao esgotamento." (...)

Era bom que os nossos médicos e enfermeiros pudessem comentar... Andam muito arredios do nosso blogue...


2. Comentário do Cherno Baldé, nosso colaborador permanente:

Caro amigo Luís,

O Lourenço Gomes (suponho que é o mesmo), não é tão fraquinho como parece nesta imagem de missivas de 1965. Era de muita confiança e devia ser uma espécie de "bombeiro" para situações difíceis. 

No período pós-independência, o Lourenço foi o primeiro responsável do Partido a trabalhar com as chefias militares do exército português com vista a entrega das instalações e quartéis de Bissau. Deve haver muitas referências sobre ele nos contactos havidos com a parte portuguesa e, sobretudo a resolução da situação dos Comandos e soldados Guineenses que combateram do lado português.

Esteve depois ligado aos serviços da segurança do Estado, mesmo depois do golpe militar de 14 de Novembro de 1980 [, liderado por 'Nino' Vieira contra Luís Cabral]. Deve ter morrido de doença numa idade avançada, em finais dos anos 90 ou inícios de 2000. Era muito temido, como todos os da segurança num país de ditadura pseudo-revolucionária. (**)

Com um abraço amigo,
Cherno AB
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de novembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19224: (D)o outro lado do combate (38): Carta de Lourenço Gomes, datada de Samine, 3 de março de 1965, dirigida a Luís Cabral, expondo a dramática situação da farmácia do PAIGC (Jorge Araújo)

3 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6102: PAIGC - Quem foi quem (10): Abdú Indjai, pai da Cadi, guerrilheiro desde 1963, perdeu uma perna lá para os lados de Quebo, Saltinho e Contabane (Pepito / Luís Graça)


4 de junho de 2009 >  Guiné 63/74 - P4460: PAIGC - Quem foi quem (8): O Luís Cabral que eu conheci (Pepito)

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