terça-feira, 27 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19239: Fotos à procura de... uma legenda (110): O sorriso da bajuda... (Virgílio Teixeira / Cherno Baldé)



Foto nº 6A > Belíssima imagem!... Um dos mais belos sorrisos (e seios) de bajuda do Gabu, que temos aqui publicado...




F6 – Uma bela bajuda lavadeira, até tirou o vestido para baixo, fui eu de certeza que lhe pedi, e outra mais novinha ao lado, e os seus rapazes a controlar tudo. Nova Lamego, Outubro 67.


Guiné > Região de Gabu > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Fonte de Nova Lamego > Fotos do álbum do Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM. (*)


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  O que é que cada um de nós na foto nº 6A ?

(i) Cherno Baldé:

Na foto n.6A está  uma Bajuda de Gabu, de etnia indefinida, a quem o Virgílio deve ter pedido para mostrar os seios para a fotografia, pois a posiçao do braço preso pela manga do vestido e a cara da mesma mostram que ela acedeu ao pedido sem grandes contrariedades, mas claramente embaraçada e pouco à vontade.

É isto que significa aquilo que parece ser um sorriso, mas que significa ao mesmo tempo uma cedência/recusa desafiante. 

Explicando melhor:  a posição dos lábios mostram desprezo pelo acto em si, sinalizado com a emissão de um som característico, ao mesmo tempo que os seus olhos brilhantes lançam um desafio ao Virgílio como quem diz: 'Era isto que querias, seu desavergonhado e depois?!'...

 (ii) O dono da foto (e da máquina que tirou a foto), o Virgílio Teixeira,  esclarece o contexto: "Uma bela bajuda lavadeira, até tirou o vestido para baixo, fui eu de certeza que lhe pedi, e outra mais novinha ao lado, e os seus rapazes a controlar tudo. Nova Lamego, Outubro 67".

(iii) Em legenda complementar, o editor do blogue, comenta: "Belíssima imagem!... Um dos mais belos sorrisos (e seios) de bajuda do Gabu, que temos aqui publicado"...

2.  Todos o(s) olhar(es) é(são) "etnocêntrico(s)"... O do Virgílio Teixeira, português, o do Cherno Baldé, guineense, o do editor, o do leitor... Toda a comunicação é complexa, em todas as espécies animais... A comunicação humana é ainda mais complexa porque junta à "natureza" a "cultura"...  Comunicamos por sistemas de  signos, a língua, a fotografia, a música, os cheiros, suportados por códigos próprios  (linguísticos, icónicos, musicais, sensoriais, etc.), que não são universais...

Uma foto não é a "realidade", mas um signo (ou um conjunto complexo de signos) que estabelece uma "relação" entre um significante e um significado... Algo que "fala" pela realidade... 

A foto nº 6A não é apenas a de uma lavadeira, bajuda, do Gabu, no leste da Guiné-Bissau (hoje,  no passado, Guiné, colónia portuguesa em guerra...) que mostra os seios a um militar português, a aparentemente a pedido deste, "para a fotografia"...  

O Virgílio Teixeira acrescentaria: "naturalmente, sem pudor"... E o nosso editor viu, ingenuamente, um "belo sorriso"... O Cherno Baldé, por seu turno,  dá importância à "postura corporal" e diz que aquele aparente  sorriso denota  ao mesmo tempo "uma cedência/recusa desafiante". 

É a leitura mais atenta, mais rica mas também a mais arriscada, podendo suscitar "contraditório".  Não deixa de ser tão "etnocêntrica" como a do Virgílio... Mas o Cherno tem, por si, a vantagem de pertencer à mesma cultura da bajuda fotografada:

(...) A posição dos lábios mostram desprezo pelo acto em si, sinalizado com a emissão de um som característico, ao mesmo tempo que os seus olhos brilhantes lançam um desafio ao Virgílio como quem diz: 'Era isto que querias, seu desavergonhado e depois?!' (...)

No nosso entender, o sorriso da bajuda pode ser tão enigmático como a da Giaconda...

Caro/a leitor(a): é a tua vez...Acrescenta a tua legenda à foto nº 6A.
________________

Notas do editor:

(*) 27 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19238: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LIII: As fontes e as lavadeiras de Nova Lamego

(**) Último poste da série > 31 de outubro de  2018 > Guiné 61/74 - P19151: Fotos à procura de...uma legenda (109): a GNR de ontem e de hoje, na Feira Saloia da Lourinhã, no passado dia 27 de maio de 2018... Ou os uniformes que também contam histórias... (Luís Graça)

10 comentários:

Adriano Miranda Lima disse...

Creio que a foto em si mesma é uma legenda. Não precisa de palavras para exprimir a espontaneidade da inocência nela esparramada.
Este blogue é o mais válido e completo instrumento da historiografia dos acontecimentos militares vividos em África. Aliás, o blogue é já história.
Tive a honra de ser baptizado tabanqueiro há alguns anos, apesar de não ter servido na Guiné, mas em Angola e em Moçambique. Contudo, um conjunto de circunstâncias alheias à minha vontade me têm impedido de aqui intervir e comentar com a assiduidade desejável. Farei os possíveis para futuramente corrigir este défice.

Gostaria agora de pedir ao companheiro José Marcelino Martins o seu endereço electrónico para o contactar pessoalmente sobre uma questão particular. O meu é limadri64@gmail.com

Valdemar Silva disse...

Existem milhares de fotografias com um tropa a posar ao lado duma bajuda de mamas amostra. A rapaziada ia de propósito às 'lavandarias' para ver as mamas ás bajudas e para tirar fotografias, de preferência, ao lado duma delas. Cá na nossa terra não havia disto.
Nesta excelente fotografia nota-se que foi pedido à bajuda para mostrar as suas mamas, para o Virgílio ficar com uma bela recordação.
O sorriso da bajuda é enigmático, mas parece-me um 'pfa.. isto é pra quê?'.

Quanto ao Chafariz, que pelos azulejos, é do ano em que eu nasci, não me recordo de alguma vez lá ter ido.

Valdemar Queiroz

Luís Graça disse...

Adriano: É bom saber de ti!...

Obrigado pelo teu comentário. Volta sempre. Não tenho ido ao blogue Praia de Bote ver a tua colaboração... Espreitei agora mesmo, tens andado "fora"...

Respondi-me por email, com conhecimento ao José Martins (que está a fazer um trabalho de investição sobre o RI 7, Leiria).

Abraço, Luís

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

No meu comentario, onde falei de "posiçao dos labios" seria mais correcto dizer "expressao dos labios". A julgar pelos sinais exteriores, a menina deve ser de uma etnia mais puritana que os Fulas de Gabu daquela época e mais enraizada na religiao, provavelmente Djacanca ou Saracole.


Ainda sobre o tema, acrescento que, cada povo ou sociedade, possui formas proprias de expressar que, as vezes, podem nao ser comuns noutros povos ou sociedades. Nao sei se esta expressao captada pela camara do Virgilio é familiar para pessoas de outras sociedades nao africanas (?). E uma expressao gestual de reacçao a uma determinada atitude d'outrem, e o som que resulta da posiçao esprimida dos labios é muito semelhante ao de um peido (gazes).

Entre africanos pode ser o cumulo do desprezo e quando exprimido entre adultos o significado soh pode ser muito grave e de completa repulsa . Mas, entre os jovens, e sobretudo entre meninas (quanto mais nova menos grave) o expressao vira-se quase banal e "peidam-se" vocalmente por tudo e por nada sem consequencias. E como tal, nao é facil distinguir quando se trata de um real desprezo e/ou quando é pura diversao e uma forma de dizer "Nao" quando querem dizer "Sim".

No meio social africano tradicional e penso que noutras sociedades também, a linguagem (gestual e verbal) tem fronteiras muito tenues que, no mundo occidental actual, estao a tornar-se muito rigidas ou muito rigidificadas pela, cada vez mais forte, corrente feminista dominante. A continuar assim, o mundo de amanha sera muito diferente daquilo que até aqui estavamos habituados nas relaçoes homem/mulher.

O nosso amigo Virgilio é um fotografo muito bom e honesto na sua attitude, pelo que o felicito.


Com um abraço amigo,


Cherno Baldé


PS: Amigo Luis Graça, a minha vantagem também resulta do facto de que, no passado, acompanhei varios "fotografos" amadores nas Tabancas e fontenarios e conheçi algumas das suas tecnicas.

Anónimo disse...

Cont.

As imagens das outras fotos, que nao a 6A, mostram meninas da etnia Fula e a 7A é claramente uma Fula-Forro de Gabu com idade de 11/12 anos, aproximadamente.

Cherno AB

Fernando de Sousa Ribeiro disse...

De um modo geral, estou de acordo com o nosso amigo Cherno Baldé. Nota-se que a moça não está muito à vontade a mostrar o peito aos militares portugueses, mesmo que ande habitualmente com ele a descoberto entre a sua gente. Nota-se constrangimento e até desprezo na sua expressão.

No norte de Angola, onde eu cumpri o serviço militar, as camponesas não costumavam andar de peito descoberto, mas não se coibiam de o descobrir diante de quem quer que fosse para dar de mamar, por exemplo. No fim, voltavam a cobrir-se. Mas quando trabalhavam em lavras situadas em locais mais afastados, onde não era habitual aparecerem estranhos, elas chegavam a despir-se quase completamente, ficando apenas com um minúsculo pano entre as pernas, em jeito de penso higiénico. Aconteceu-me uma vez passar por uma lavra onde algumas camponesas trabalhavam nesta situação e elas não esboçaram o mais pequeno movimento para se taparem. Apenas interromperam a sua tarefa por um momento para me cumprimentarem em português: «Bom dia!». Eu respondi em quicongo, «Kimbote!», elas fizeram-me um rasgado sorriso e continuaram a trabalhar.

No sul de Angola, já o peito descoberto era e é completamente banal em diversas etnias, sobretudo do sudoeste. Mesmo quando desciam à cidade, as camponesas destas etnias andavam pelas ruas, praças e avenidas com os seios ao léu. Para estas moças e senhoras não era vergonha mostrar o peito; vergonha era, isso sim, mostrar o traseiro.

No Youtube existe um vídeo em que se veem imagens de pessoas pertencentes, quase todas, às etnias mais nuas de Angola: muílas ou mumuílas, mucubais, himbas ou muhimbas, muhakaonas, khoisan ou bosquímanos, etc. Independentemente do exotismo dos trajos e adornos e da sensualidade dos corpos, que são patentes no vídeo, o que mais ressalta dele é a pureza dos olhares, a cristalinidade dos sorrisos, a franqueza dos rostos, a pureza dos corações. É impossível não gostar de gente assim. O vídeo é este: https://www.youtube.com/watch?v=VDg75ocaHTU

Fernando de Sousa Ribeiro

Anónimo disse...

Valdemar, a Fonte estava lá, em Nova Lamego, havia um ribeiro que está nas fotos, com pouca água, era ali a 'lavandaria'. Em S. Domingos por exemplo não faltava a água dos imensos rios que nos abafavam, havia muito sitio para lavandarias. Querias fotos de NL aí estão algumas, mas ainda há mais de uma centena, um dia serão publicadas.

Fernando Sousa Ribeiro/ Cherno Baldé:
A rapariga está à vontade, isso eu sei, porque temos outras fotos e ela andava sempre sem roupa para cima, tenho provas. Naquela altura, eu tinha acabado de chegar, ela tinha o vestido, talvez por ser Domingo ou outro dia de festa, depois, devo ter pedido para baixar o vestido, ou até não, pode ter sido ela a fazer isso para ficar igual às outras. Não acredito em desprezo, falta de pudor, o sorriso dela é tudo, menos uma expressão de 'peido' como diz o Cherno.
Cada vez aprecio mais esta fotografia, é um perfeito acto natural o que ela faz, e ri-se porque foi apanhada assim pelo fotografo, nada mais. Nunca andei a pedir a ninguém que baixasse a roupa, aliás se bem me lembro, havia mais raparigas e mulheres sem roupa do que vestidas, e mais em S. Domingos do que em Nova Lamego, mas também as havia em Bissau, no mercado de Landim ou no mercado municipal.
É a minha opinião, vale o que vale.

Virgilio Teixeira
Em, 2018-11-29

Valdemar Silva disse...

Parece-me, e para finalizar, o que pode ser criticável não é ter fotografado uma bela bajuda de Gabu, mas sim o de poder ter sido 'mostra mamas pra Senhor Alfero tirar foto com bó'.

Mas, cá temos mais uma excelente fotografia da Guiné.
Virgílio venham mais fotos de Nova Lamego.

Valdemar Queiroz

Luís Graça disse...

Valdemar, como sabes, nós aqui não nos "criticamos" uns aos outros... Isto é: este blogue é "amoral"...

Se fosse "politicamente correto" já há muito que o blogue não existia... É importante que todos nós, "camaradas da Guiné", nos sintamos à vontade para publicar o que que seja, relativo à Guiné e ao período da guerra colonial (que começou em 1961 com os primeiros ataques do MLG, mais tarde FLING, liderado pelo François Mendy...), sem o receio de haver "censura social" ou crítica dos pares...

A menos que se trate de "enormidades, mentiras, falsidades, inventonas", etc.

Aquele abraço, Luís

Valdemar Silva disse...

Luís.
Com certeza, nada de críticas 'amorais'. Nada disso, nem pensar. Foi uma constatação que poderia ser pouco plausível. Fotos do Alfero ao lado da bajuda de vestido abaixo e mamas amostra, não eram muito habituais aparecer.

Ab.
Valdemar Queiroz