sexta-feira, 28 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11773: Notas de leitura (495): A Guiné que vou encontrando na Feira da Ladra (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2013:

Queridos amigos,
A Feira da Ladra, para um acumulador como eu, é uma atmosfera irresistível.
Sei de antemão que é quase impossível encontrar ali livros raros, hoje os herdeiros de bibliófilos chamam os especialistas que escrutinam as pérolas que depois são canalizadas para os leilões de livros; a escória, isto é, os livros vulgares, edições sem história, são vendidos ao baratucho.
Há depois outros universos: a filatelia, a numismática, domínios pelos quais nutro pouco afeto. E há as caixas com cartas, bilhetes-postais, fotografias, folhetos… e há as bancadas com obras de todas as dimensões. É aqui que jogo o fator surpresa.
Foi num destes territórios que o artista Manuel Botelho encontrou correspondência de um cabo de transmissões que viveu no Bachile dois anos, o Necas, que escreveu aerogramas pungentes para a Carlinda, deu uma instalação de truz, ideia bem original.
Isto para vos convidar a frequentar feiras de trastes e traquitanas.

Um abraço do
Mário


A Guiné que vou encontrando na Feira da Ladra

Beja Santos

Quem frequenta feiras de trastes e traquitanas sabe muito bem que o cheiro a pólvora aqui é o inesperado em livro, móvel ou peça decorativa. O inesperado é subjetivo e para mim, percorrer a Feira da Ladra, é estar sempre disponível para bens guineenses. Estabelecem-se cumplicidades com os feirantes e essas cumplicidades geram estimas perduráveis. Eduardo Martinho telefona-me e avisa-me que tenho surpresas à espera. Entro no quiosque e primeiro procura convencer-me que me falta em casa uma aguarela de Alberto de Souza, uma peça em nácar ou madeira exótica ou um tratado de ciência médica do século XVIII. Vê-me reticente, suspira, e orienta-me para umas caixas onde me acocoro. Ali estão as surpresas prometidas: um livro de cozinha e doçaria do ultramar português, inclui receitas da Guiné (Bolinhas de Mancarra, Bringe, Caldo de Mancarra, Caldo de Peixe, Chabéu de Galinha). A edição é da Agência Geral do Ultramar, o ano da edição é 1969. Quem organizou lembra aos interessados que devem ler a Cozinha do Mundo Português, Tavares Martins Editores.

Suscitou-me interesse o Bringe, cuja receita é um pato, um copo de vinho branco, malagueta, sal, 4 colheres de óleo de mancarra, 4 colheres de banha e uma chávena de arroz. Fica-se a saber que o pato é estufado com todos os ingredientes, que se lava o arroz que vai ser frito em banha. Mas a coisa não fica por aqui, quanto ao arroz e ao resto. Quanto ao arroz, quando cor de palha, juntam-se-lhe duas chávenas de água e mete-se no forno. Quando pronto serve-se com os pedaços de pato e com os acompanhamentos que podem ser camarões ou mexilhões guisados com azeite. Juro que nunca ouvi falar no Bringe. Desculpo a minha ignorância justificando-a pela falta de restaurantes guineenses, às vezes ando bem aguado à procura de uma sopa de ostra, bato à porta dos restaurantes cabo-verdianos, nada. Que tem a cozinha guineense contra nós, apraz perguntar.

A brochura Guiné é propaganda bem-feita e um tanto. Estão para ali frases de Spínola e a essência da sua política “Por uma Guiné melhor”, o partido que ele criou. Estão ali as palavras de ordem sobre educação, cultura, cuidados de saúde, ação psicossocial, ordenamentos, comunicações e desenvolvimento agrário, fotografias dos soldados como agentes da paz.





E a última surpresa é o calendário da associação dos Apicultores do Leste da Guiné-Bissau, o mel chama-se Badjudessa e o contacto é: apileste.gb@hotmail.com. Lamento não poder publicar integralmente o calendário. No boletim da Artissal www.artissal.org, há menção da constituição desta associação de apicultores ainda em 2011. Certamente que todos nós lhe desejamos uma longa e bem-sucedida existência.

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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11757: Notas de leitura (494): "Adormecer de um Sonho" por Carlos-Edmilson M. Vieira (Mário Beja Santos)

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