Gabu em memórias
Marcelino da Mata, um homem que deu o corpo às balas
De herói a vilão
O tema poderá, eventualmente, considerar-se polémico. Reconheço o atrevimento, mas não o é considerado por mim nefasto. Respeito o contraditório. Tanto mais que falamos de uma temática onde o conteúdo da guerra tem dois opositores. Por conseguinte, alerto que me cinjo exclusivamente ao heroísmo de homens que não esconderam “a cabeça na areia” como faz a avestruz.
A minha longa vida como jornalista (iniciada em fevereiro de 1983), também escritor com oito obras publicadas, sempre a pautei pela dignidade. Ouvir, e saber ouvir, deu-me “estaleca” e ânimo, acessórios que indicam uma força enorme na destreza de bem caminhar numa “picada” que considero, até hoje, limpa.
Ouvir as partes é um direito do código deontológico e rege literalmente as frações envolventes. Sei, porém, que a energia de uma narrativa nem sempre agrada a gregos e a troianos. E mexer com a “coisa” incomoda.
Camaradas, na condição de jornalista fui, por duas vezes, sujeito à condição de réu. Escrevi publicamente a verdade, somente a verdade, mas eis que essa visível verdade não era a verdade dos queixosos. Não lhes convinha. Mentes mesquinhas que por vezes se julgam senhores da razão, não sabendo, porque assim o querem, distinguir “o trigo do joio”. A honra do homem é impagável e primo por essa nobreza. A retidão faz parte do meu ADN. Ninguém se assuma superior ao parceiro do lado.
Aguardei, calmamente, a decisão do tribunal. Sabia que não havia cometido nenhum crime de lesa a pátria, ou que mexesse com a honestidade moral de alguém. Entretanto, lá fui submetido aos princípios de um conjunto de impedimentos que usurparam o meu quotidiano ao longo de um processo que terminou com a minha absolvição.
Conheço, e muito bem, a força do conteúdo das palavras e como elas são entendidas por quem se julga o único portador da razão. Hoje, sou, tal como sempre o fui, amigo desses companheiros que compreenderam, mais tarde, que o móbil da decisão não estava, nem podia estar, do seu lado. Pediram-me desculpas pelo incómodo e nossa amizade mantém-se.
Arrisco, e a vida é feita de riscos, trazer ao nosso blogue a opinião, que é minha, sobre um antigo guerrilheiro que combateu ao lado das NT no conflito da Guiné. Aliás, foi através de pequenos textos lançados no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné que consegui desarticular tabus que entretanto ainda se consomem no ego de camaradas que não admitem inequívocas realidades por todos nós conhecidas. Lembro, a talho de foice, os “filhos do vento” e o impacto mediático que causou, não só a nível nacional como internacional. Bem-haja a arriscada ideia e as consequências que dela resultaram.
Não tive a oportunidade em combater ao seu lado. Não me foi dada essa missão e a oportunidade esvaziou-se no infinito de um horizonte onde o serpenteado das cores visíveis no infindável céu guineense era deslumbrante. Todavia, a mensagem da sua bravura passava de aquartelamento para aquartelamento a uma velocidade alucinante.
Todos, ou quase todos, lhe atribuíam dotes de combatente de primeira água. Falava-se dele amiúde e esse falatório obrigava a malta atribuir-lhe míticos feitos, uns verdadeiros, outros salpicados de “pozinhos” recheados de meras imaginações. Diz o povo “quem conta um conto, acrescenta-lhe mais um ponto”. Compreendo.
Não vou, como é óbvio, ser minucioso na sua forma de atuar, ou delinear o modo como enfrentava o IN. Foi comando, eu ranger, e muitas vezes me indaguei sobre a sua capacidade em agir quando o zumbido das balas pareciam não ter fim. Ou, a sua sagacidade na sapiência em resolver o conflito por ora deparado.
A guerra proporciona momentos de inquietação, sobretudo quando falamos na componente guerrilha. Enfrentar o inimigo, sem rosto, onde a surpresa amiúde acontecia, era um flagelo para jovens soldados atirados para as frentes de combate sem dó nem piedade. Jovens forçados a combater, sem “escola”, nem tão-pouco uma aprumada capacidade de ação, sendo o intuito prioritário salvar a pele. “Matar para não morrer” era o lema.
Recordo Marcelino da Mata, um guineense que nasceu em Porta Nova, Guiné, no dia 7 de maio de 1940 e que presentemente ostenta a patente de Tenente Coronel. A sua incorporação no exército português teve lugar a 3 de janeiro de 1960, em Bolama, mas acidentalmente, uma vez que acabou por ser agrupado no Centro de Instrução Militar em lugar do irmão.
Ofereceu-se, depois, como voluntário, sendo o fundador das tropas de operações especiais e membro ativo nos comandos africanos.
Segundo registos da História do Exército Português, o antigo combatente terá participado em 2412 operações e que lhe confere o direito em sustentar o título de militar português mais condecorado.
Aconteceu que das várias operações em que as NT levaram a ação ao extremo, e com baixas registadas ao IN, entre recuperações de material bélico e não só, deparamo-nos com nomes de graduados de alta patente como gestores da operacionalidade, sendo que pouco se falava do Marcelino da Mata nessas ditas reuniões. Admito, e aceito o perverso descuido que certamente era intuito, uma vez que a preparação da operação era delineada em gabinetes entre os graduados superiores, como é óbvio, sendo ele, no entanto, a arma “secreta” no terreno em determinadas operações.
Com o fim da guerra, graças ao 25 de Abril, Revolução dos Cravos, a nossa atividade guerrilheira teve o seu términus. O Marcelino “arrumou” as armas e fixou-se em Portugal. Mas, a sua vinda para Pátria à qual muito deu, ter-lhe-á virado as costas e, nessa altura, considerado como um ser humano alegadamente indigente.
Os movimentos revolucionários que então proliferavam num Portugal livre, e democrático, trancou-lhe as portas e o herói, “não morto, e nem tão-pouco posto”, caiu em desgraça. Numa entrevista dada ao jornalista Duarte Branquinho e publicada no jornal “O Diabo” de 1 de janeiro de 2015, segunda edição, sendo a primeira divulgada a 29 de julho de 2014, dizia: “Portugal esqueceu-se de mim, mas os amigos não”.
Marcelino da Mata adianta nessa entrevista, que sublinho com a devida vénia, quando o tema era o seu sentir por parte das Forças Armadas portuguesas, opina: “Tenho a impressão que há aí uma dor de cotovelo. Porque um preto que vem do Ultramar, da Guiné, do mato, e sou mais condecorado que os oficiais da nação, é uma vergonha para eles. Isso caiu mal”.
Leva-me a narração dos factos recuar aos tempos revolucionários e transpor mais uma dica sobre se houve, ou não, sensibilidade na sua prisão: “Parece que não existiu, mas eu fui preso e torturado que nem um cão. Foram a minha casa e não me encontraram. Foi a minha falecida mulher que me disse que lá tinham estado tropas à minha procura”.
E conclui: “… mandaram-me encostar à parede e eu recusei-me, dizendo que um militar não bate num militar, que se queriam deviam participar de mim. Mas agarraram em mim e encostaram-me à parede. Foi o fim da minha vida! Levei tantas que só Deus sabe. Depois de desmaiar, atiraram-me com um balde de água em cima e continuaram. Nem quero falar mais disso…”.
Recuso, perentoriamente, comentar tais factos, sei, melhor, sabemos que tudo terminou com perseguições e a sua subsequente fuga para Espanha, regressando a solo português após o Golpe de 25 de Novembro.
Reflito, convictamente, sobre o Tenente Coronel Marcelino da Mata e a sua destemida bravura na guerra da Guiné, deparando-me com várias Medalhas de Guerra, 1ª, 2ª e 3ª Classes, de entre outras condecorações com que foi agraciado.
No dia 2 de julho de 1969 foi nomeado Cavaleiro da Ordem Militar da Torre, do Valor, Lealdade e Mérito.
Cito, também, o nome de algumas operações para que a memória futura jamais esqueça: “Operação Trindente”, ilha do Como - “Operação Cajado” - “Resgate de 150 portugueses cativos em território senegalês” - “Operação Mar Verde” – “Operação Ametista Real”.
Marcelino da Mata foi várias vezes ferido na ocorrência de combates, mas quando na noite de 24 para 25 de abril de 1974 se ouviu “E depois do Adeus” pela voz de Paulo de Carvalho, o antigo combatente, tal como as tropas lusas que se encontravam nas três frentes de guerra – Angola, Moçambique e Guiné –, cessou a sua atividade operacional.
A sua história é vasta e as opiniões sobre o seu caráter como combatente poderão, eventualmente, não coincidirem. Numa pesquisa internauta fiquei a conhecer melhor o homem que tinha conhecido no meu quartel na então Nova Lamego em princípios do ano de 1973.
A sua vida não foi fácil e enterrar o “machado de guerra” é coisa muito vaga. Veja-se a forma como fora tratado já num Portugal onde os “Cravos” desabrochavam. Mas, o toque de alerta soou e o Exército Português que fez dele o atual Tenente Coronel.
Para trás ficam as memórias e o improvável regresso, mesmo como visitante, ao solo que o viu nascer: Guiné-Bissau.
Concluindo: este é um pequeníssimo texto onde deparamos com combatente guineense que passou de herói a vilão!...
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Fotos: Com a devida vénia e agradecimentos ao jornal TAL & QUAL.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
18 DE DEZEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19303: Memórias de Gabú (José Saúde) (74): Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia. Natal de 1973 (José Saúde)
Fotos: Com a devida vénia e agradecimentos ao jornal TAL & QUAL.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
18 DE DEZEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19303: Memórias de Gabú (José Saúde) (74): Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia. Natal de 1973 (José Saúde)
18 comentários:
Vilão, nunca. O que sofreu depois do 25 de Abril deveu-se ao ar do tempo, já não era políticamente correcto,mas escusavam de o ter humilhado. Estive na Guiné de 72 a 74, nunca o conheci, mas as suas façanhas andavam de boca em boca. Recordo-me que quando estava em Nhacra em fim de comissão, parar ali por vezes um condutor felupe com uma carrinha carregada de armamento, às ordens do Comando Chefe que se dirigia ao Morés para abastecer o grupo do Marcelino, para mais uma operação das suas.
Camarada, caro leitor, esqueceste-te de assinar o comentário supra. Pode-se entrar como "anónimo", mas deixa-se sempre o nome no fim, e se possível o posto, e a unidade em que se esteve (na Guiné ou noutro TO).
Enfim, são as regras (elementares) de convívio aqui no blogue. Ganhamos todos em dar a cara.
Houve muitos Marcelinos (milhões), que podiam ficar simplesmente para a história como "soldado desconhecido".
E que sofreram as consequências abrilistas, de uma mesquinhez inqualificável, que envergonha um povo.
Uns abandonados, outros entregues desarmados ao IN e outros rejeitados como "lepra".
Foram eles que nos últimos 3 ou 4 anos (Marcelismo)da guerra do Ultramar, seguraram as pontas, já a revolução estava na cabeça dos "capitães".
Eu como retornado soube como eles o que é ficar entregue à "sua sorte", só que com outras alternativas, estava lá e vi a "cara" desolada e incrédulos daquela gente ligada à minha actividade, difícil de descrever.
Não sei avaliar o que fizeram os Belgas no Congo, os Franceses nas diversas colónias, (Argélia e outras) os Ingleses no Quénia India e outras, mas devem ter feito algo semelhante a nós, mas depois de tudo tínhamos obrigação de termos actuado com mais degnidade ...e tomates!
esta
Em 1974 já passei o Natal no Brasil, enquanto lá em Angola e Guiné havia as matanças a que queremos fechar os olhos.
Logo este post nesta quadra...mas tem que ser, paciência!
Boas festas e saúde José Saúde para ti e tabanca em geral.
Zé Saúde:
Como sabes, no nosso blogue há certos vocábulos e expressões que, por serem insultuosos , ou implicarem juízes de valor (sobre o comportamento dos nossos camaradas, humano, militar, operacional, disciplinar, ético...), nós não usamos: por exemplo, "vilões"... Como eu gosto de dizer, "não diabolizamos nem santificamos" os camaradas que combateram ao nosso lado... Mesmo oo terno "herói" deve ser usado com "reserva"... Não somos advogados em causa própria...
Devemos preservar a memória dos ex-combatentes, de preferências através dos testemunhos ou depoimentos na 1ª primeira pessoal do singular ou do plural: eu vivi, eu estive lá, eu vi, nós estivemos lá, nós vivemos, etc.
Quem pode (e deve) falar sobre o Marcelino da Mata é ele próprio e os camaradas que o conheceram, de mais perto, por terem combatido e/ou convivido com ele... O nosso camarada Marcelino da Mata, nascido por volta de 1940, costumava frequentar a Tabanca da Linha, mas deixei de o ver, nos últimos dois anos... Tem mais de 40 referências no nosso blogue...
25 DE SETEMBRO DE 2015
Guiné 63/74 - P15156: Convívios (711): Tabanca da Linha, Cascais, estrada do Guincho, Oitavos, a "rentrée", 5ª feira, 24 de setembro de 2015: fotos do Manuel Resende (Parte I)
No nosso blogue, por exemplo, tu tens o nosso coeditor, amigo e camarada Virgínio Briote, que foi comandante do Grupo Diabólicos a que o 1º cabo Marcelino da Mata pertenceu... Os Diabólicos faziam parte dos Comandos da Guiné, que estiveram sedeados em Brá, de 1965 a 1967... Outro camarada nosso que pode falar do Marcelino da Mata, é o nosso grã-tabanqueiro cor art ref Nuno Rubim, um dos primeiros comandantes dos Cmds da Guiné...
Ver aqui postes do Virgínio Briote:
10 DE DEZEMBRO DE 2006
Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
14 DE JULHO DE 2015
Guiné 63/74 - P14876: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VI Parte): A nossa causa é uma causa justa
Luís, meu amigo e camarada!
Respeito escrupulosamente esse raciocínio, mas, a intenção foi elevar o homem e a sua plenitude como combatente na guerra da Guiné. Sei que o termo "herói" se aplica literalmente a muitos camaradas que em determinados momentos fizeram das "tripas coração" para se salvarem a eles próprios e os camaradas do lado. O "vilão" aplica-se, não no sentido pejorativo, mas para enaltecer a sua coragem quando na situação de preso implicou maus tratos. É pressuposto que não tivesse existido um reconhecimento da sua pessoa, sendo que fora, eventualmente, tratado como um "vilão".
Creio que ficou explícito esta minha singela opinião. Não quero, e nem tão-pouco pretendo usurpar um espaço que é de todos e para todos. Levo, creio, que 142 textos publicados e a minha intenção é debitar uma narrativa ativa que visa, claramente, mexer com a componente guerra na então Guiné, hoje, Guiné/Bissau.
Serei, sempre, um eterno colaborar narrando acontecimentos numa causa onde ainda me revejo na situação de combatente.
Conheci o Marcelino da Mata no meu quartel em Nova Lamego, agora Gabu, mas não partilhei com ele momento algum quer de convívio pessoal, quer no terreno de guerra. Aliás, deixei isso bem frisado no texto. Louvei-o pela sua capacidade de ação e pela péssima forma, repito que esta é minha opinião e uma opinião vale o que vale, como fora tratado num Portugal livre.
Reconheço que cada um de nós desenvolve uma opinião, que poderá não coincidir com a de um outro camarada, mas que respeito religiosamente.
E com esta simples explicação me vou!...
Um abraço, meu caro amigo.
Zé Saúde
Na minha modesta opinião, já em 67 e 68 se ouvia falar do nome de Marcelino da Mata, e isso chegou-me aos ouvidos como um mito, tal como o do Capitão Robles.
Não vou ajuizar nada, porque nada sei, nada vi.
Mas subscrevo a história do José Saúde, bem como as reservas do Luís sobre 'nomes e vocábulos' utilizados, são regras têm de ser cumpridas, eu tantas vezes ultrapassei essa barreira por não ligar muito, pois escrevo o que me vem à cabeça, sem intenções de ferir ninguém.
Mas também subscrevo na integra os comentários do Antº Rosinha, nem preciso acrescentar mais. Estes chegam.
Mas a minha vinda a este Poste foi acerca 'dos filhos do vento' depois chamadas de 'restos de tuga' ou 'português suave' e tantos outros.
A nossa marca ficou lá, para o bem e para o mal, já escrevi muito sobre este tema, aliás foi este tema que me trouxe aqui a este Blogue que desconhecia. Fui vendo e aprendendo a lidar com isto, cheguei a ter correspondência com a Isabel Levy, foi ela que me disse que a 'ilha maldita' se chamava agora a 'ilha de bolol, ou a ilha dos felupes'. Mal adivinhava que passados cerca de 5 anos viria a saber que era a esposa do nosso já falecido Pepito, cuja história já conheço parcialmente. Ela chegou a mandar-me a sua foto, ainda a guardo nas 'coisas da Guiné', é assim que chamo aos assuntos que dizem respeito à Guiné. Depois perdi o rasto dela, e daí iniciei um processo junto do Blogue, através do Carlos Vinhal, que viria a abandonar por não me «achar digno, ou desinteressante, para pertencer a esta Tabanca, e por não ter nada ou pouco, a acrescentar àquilo que já existia».
Felizmente fui apanhado já fez agora um ano, e não me arrependo, acho que melhorei o meu estado de espirito, e tenho com quem falar sobre este tema, ingrato para as gerações futuras, que nada querem saber, e sobretudo ingrato por parte do nosso Estado, que tinha obrigação de nos respeitar e acarinhar.
Vejo que fui bem recebido, e tudo isto se deve à reportagem e posterior repercussão da reportagem sobre 'os filhos do vento'.
Temos em comum, eu e o José Saúde, a nossa estadia em Nova Lamego, em anos bem diferentes. Recordo como já disse muitas vezes, com saudade as terras do Gabu, as suas gentes, os homens e mulheres, e particularmente as suas bajudas, quer Fulas ou outras Etnias.
Bem hajam e que aquela terra seja digna, daqueles portugueses que por lá passaram e foram muitos.
Festas Felizes de Natal e Ano Novo,
Virgilio Teixeira
Rosinha, é difícil fugir à "armadilha" do Natal... Mas a vida continua e o nosso blogue vai-se aguentando com os contributos de camaradas como tu... Boa continuação das festas... LG
José Saúde,
Gostei do texto sobre o Tenente Coronel Marcelino da Mata. É verdade e é lamentável que agora, por questões de consciência política que na altura não tinham ou não manifestavam, não saibam reconhecer o seu valor como militar que o foi ao serviço da nossa bandeira.
Não somos obrigados a concordar com tudo o que é dito que terá feito, mas quem andou por lá sabe o quanto custa perder um camarada...como é a reacção imediata, enfim...nem tudo é justificável, mas isso não deve ser impeditivo de sermos honestos e justos no reconhecimento que a cada um respeita.
Uma vez mais obrigado pela forma como foi abordado este tema.
BS
Eu participei na operação tridente militares de 2ª linha que conheci já com nome de guerra o então 1º cabo João Backer Jaló, do Marcelino da Mata que eu desse por tal não me cruzei com o militar Marcelino da Mata, mas na vida civil encontrei o tenente coronel Marcelino da Mata várias vezes no forte do Bom Sucesso no 10 de Junho em Lisboa onde era convidado de honra, mas nos últimos anos 2017 e 2018 o Marcelino privou pela ausência e nem a organização soube responder por qual o motivo segundo me disseram que ele não respondeu ao contacto. O mesmo se passa nos convívios na Tabanca da Linha não atende o telefone. Quando ele morava na outra casa o Zé Dinis tinha a morada e código de contacto e ia lá busca-lo e leva-lo, mas entretanto ele mudou de casa, o Zé Dinis também tem privado pela ausência nos almoços de convívio na Tabanca da Linha. Resumindo o tenente Coronel Marcelino da Mata encontra-se cada dia que passa mais isolado, talvez a maior motivo seja o avanço da idade que não perdoa.
Caros amigos,
No primeiro Post do José Saúde sobre o Marcelino da Mata, afirmei que os herois vivos incomodam sempre, nas mais diversas épocas e espaços. Na altura tinha em mente a vida e o destino de Yuri Gagarine, Cosmonauta Soviético que, segundo algumas vozes, foi eliminado pelos poderosos da época devido ao incomodo que causava aqueles em virtude do seu carisma e grande projecção nacional e internacional. De qualquer modo, seria importante que os antigos combatentes percebessem que, para todos os efeitos, a pagina da guerra colonial pertence a um passado pouco glorioso de Portugal que é preciso fechar bem fechado e esquecer a bem da nação.
Mudando de assunto sobre o mesmo tema, quero partilhar duas informações ou confidencias que acabo de ouvir hoje, na minha viagem de regresso a uma visita a região de Bafata:
1. Ao que parece, engana-se quem pensa que o Marcelino da Mata nunca voltou ao seu pais de origem, a GBissau. Segundo esta confidencia, o Marcelino tem viajado diversas vezes até a Guiné a fim de realizar suas cerimónias tradicionais que ainda nenhum Pepel, em perfeito juizo, dispensa de fazer sob pena de graves consequencias. Como conseguiu fazé-lo? Simples, entra disfarçado, assim como o fazia, várias vezes, para penetrar as linhas do IN de ontem. Quem quiser acreditar que acredite, trata-se de uma confidencia não confirmada, mas que não surpreende vindo do Da Mata.
Outra confidencia terá a ver com um ex-colega e companheiro de armas que dá pelo nome de Bodo Jau. Sabem o que ele fez?
Estavamos na estrada que liga Bafata a Bambadinca. Depois de algum silencio e quando rolavamos vertiginosamente colina abaixo, colina acima e a um dado momento um velho da nossa aldeia que conheceu o Bodo Jau, disse: Foi aqui. Todos olhamos para ele que continua: Foi aqui que o nosso Bodo Jau saltou do carro em pleno andamento, com as mãos e os pés atados com uma corda. A acreditar nessa versão o Bodo Jau teria aproveitado o abrandamento do veiculo numa subida a caminho de Bambadinca onde, certamente, seriam fuzilados, para atirar o corpo ao chão fora do alcatrão e diante dos olhos estupefactos dos seus escoltas e desaparecer entres arvores e arbustos. Estacionado o veiculo militar, as Akas (H47) varreram tudo que mexia ao redor, mas o Bodo saiu ileso e conseguiu fugir para mais tarde aparecer no outro lado da fronteira com o Senegal. O Bodo, actualmente, vive em Portugal, ignoramos em que condições, mas fez parte do grupo especial do Marcelino da Mata.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Estava em Nova Lamego à espera, para ver, da chegada da coluna de Canjadude.
Canjadude era a tabanca defendida pela CCAÇ.5 'Os Gatos Pretos', na maioria de tropa africana.
Diziam que vinha na coluna o Marcelino da Mata e havia muita gente à espera pró ver.
Chegou a coluna 'manga de ronco', desordeira para os civis e reguilas com a tropa local. Vinham empoleirados nas viaturas, alguns com camuflados diferentes dos nossos e com algum armamento capturado ao IN.
Mas, o Marcelino da Mata não apareceu. Ele não era da CCAÇ. 5 'Os Gatos Pretos'.
Na coluna, apareceu o Fur. Mil. Pinho, do meu tempo de Vendas Novas, com um revolver à cowboy à cintura, que fez grande 'ronco' aos da metrópole.
Não consegui saber o papel do cowboy Pinho no meio daquela tropa, mas fiquei a saber que havia muita gente à espera para ver o Marcelino da Mata.
Valdemar Queiroz
O Marcelino da Mata, mencionado nestes comentários e membro da Magnífica Tabanca da Linha, já veio a nove convívios, só que nos últimos dois anos tem andado afastado. Devo dizer que é sempre convidado pelos dois Nº de telefone que tenho e não atende. Esta ausência coincidiu com a mudança de residência. Aqui também apelo a quem tiver contacto privilegiado que lhe transmita esta preocupação nossa.
Manuel Resende
-" De qualquer modo, seria importante que os antigos combatentes percebessem que, para todos os efeitos, a pagina da guerra colonial pertence a um passado pouco glorioso de Portugal que é preciso fechar bem fechado e esquecer a bem da nação."
Este paragrafo é escrito pelo nosso camarada Cherno Baldé.
Meu amigo Cherno tu que tens sempre ou (quase)palavras sábias e moderadas nos teus comentários os quais eu raramente perco de ler,não poderei estar mais em desacordo com o teu paragrafo descrito no inicio do meu texto.
Não amigo Cerno,nós os velhos militares que estivemos a combater nas ex.colónias jamais devemos esquecer o dito "Passado inglório",pois que de uma forma ou de outra nós os jovens da altura fomos convencidos que iríamos defender Portugal e quando não éramos convencidos a bem o Estado da altura se encarregava de nos convencer pelos meios que hoje em dia toada a gente está "careca" de saber. Quanto mais não seja por si só já é motivo para não nos esquecermos desse passado.E depois nem tudo que os colonialistas(e aqui estou a me referir aos militares)fizeram nas colónias foi motivo de vergonha antes pelo contrário visto que eu e tantos outros camaradas de armas pusemos a nossa vida em risco para salvar vidas da população e até para salvar a vida de combatentes capturados e feridos em especial na sua protecção e transporte para os hospitais.
Amigo Cherno expus aqui o meu pensamento quanto ás tuas palavras.Continuo a acreditar que és um Homem sábio e ponderado,no entanto neste caso estou em total desacordo contigo.
Um abraço . Henrique Cerqueira.
Caríssimos Henrique e Cherno
O Cherno fala como guineense e isso dá-lhe todo o direito de ser "duro" com os colonialistas, no caso, Portugal. Quanto a nós portugueses, Henrique, temos a tendência de falar sobre o passado com o ponto de vista actual. Como dizes, fomos combater com a convicção imposta de que as colónias eram pedaços de Portugal. E dizemos, nós, nós e nós. E os outros? Os outros países que ainda eram à época, colonizadores, que exploravam até à exaustão África? A Inglaterra não mantém ainda sob a sua administração as Ilhas Malvinas ao largo da Argentina? A Inglaterra não tem sob a sua administração Gibraltar, aquele rochedo ali mesmo ao lado de Espanha? África não continuará actualmente debaixo de um neocolonialismo encapotado pelas grandes potências? Estamos estafados de dizer que combatemos até que politicamente fosse resolvido o colonialismo e se proporcionasse o direito de independência às colónias. Não temos que nos envergonhar e o Cherno é nosso amigo, sabendo que vemos nele o "nosso menino", o amigo de outros quase "meninos" que combateram na sua terra sem possibilidade de escolha.
Um abraço fraterno para o Cherno e outro para ti Henrique.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Virgilio Teixeira, disse:
Totalmente de acordo Henrique Cerqueira, sou também um admirador do nosso amigo Cherno, mas quanto a esse comentário, imprudente, 'jamais'. Penso que ele vai refletir e estar de acordo que não temos um passado para esquecer, bem pelo contrário, devemos ter orgulho naquilo que por lá fizemos. Se houve exageros, foi de ambas as partes, nem vamos comentar isso.
Um bom Ano Novo
Virgilio Teixeira
O MARCELINO DA MATA É UM HEROI. FOI UM JOVEM COMBATENTE.
TAMBEM NÓS SOMOS HEROIS E FOMOS JOVENS COMBATENTES, POIS NO MEU CASO CONCRETO TINHA 16 ANOS QUANDO ME OFERECI PARA A MARINHA DE GUERRA PORTUGUESA. ESTIVE COM O MARCELINO DA MATA NA GUINE NO PERIODO 1969-1973.
ASSIM, SEM GRANDES COMENTARIOS VOU-ME IDENTIFICAR COM O MEU ILUSTRE CAMARADA MARCELINO DA MATA DA SEGUINTE FORMA :
"JE SUIS MARCELINO DA MATA"
VIVAM OS JOVENS COMBATENTES.
JOSE MARIA MONTEIRO, MARINHEIRO, 171/68
ABRAÇO NATALAICIO
27/12/2018
M
Amigo Carlos e Virgílio Teixeira.
Eu quando opinei sobre as frases do Cherno é pura e simplesmente para afirmar que não tenho nada a esquecer que me envergonhe por ter estado a combater na Guiné assim como os naturais da Guiné ou outra província que combateram ao nosso lado e desde que se tenha combatido respeitando as leis militares não cometendo atrocidades deliberadamente,nada há para envergonhar. E no que respeita a nós metropolitanos muito menos ainda pelas razões já por mim descritas. Já é triste quando os nossos governantes e certas entidades militares tentam "varrer"para baixo do tapete essa era da guerra colonial talvez porque convém esquecer o papel que as sociedades civis coloniais fizeram em prol das colónias e até de Portugal Continental.Então e talvez os militares que combateram nessas guerras sejam um excelente bode expiatório para arcarem com as "vergonhas da guerra???".Bom em todo o caso e aqui eis as questão eu admiro sinceramente o nosso Cherno Baldé e nem sequer quero fazer deste assunto motivo de alguma polémica perniciosa.Apenas mostrar desacordo no assunto.
Um abraço ao Carlos Vinhal,Virgílio, Cherno e todos os tabanqueiros desta praça.
Henrique Cerqueira
Amigo Zé Saúde, bem tu perdes o teu rico tempo a tentar converter alguns daqueles que sempre foram e serão uns cobardes e traidores. Eu já perdi esse hábito... enjoei. Que se fod... e até penso que foi pena o Marcelino não ter combatido sempre pelo PAIGC, pois muitos f.d.p. ainda acham que 3 mil e tal mortos nossos, na Guiné, ainda foram poucos! Manda-os para a grande p.q.p.!
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