quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20268: (De)Caras (137): Camaradas da Companhia de Terminal (Bissau, 1973/74), que em menos de 2 meses carregou mais de setenta barcos para o Leste (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547, Contuboel, 1972/74)


Foto nº 1 > O fur mil Manuel Oliveira Pereira, em Bambadinca, c. 1973/74, ao serviço da Companhia de Terminal


Foto nº 2 > Porto fluvial de Bambadinca > c. 1973/74 >  Companhia de Terminal > O fur mil Manuel Oliveira Pereira acompanha a entrega de abastecimentos, vindos de barco de Bissau


Foto nº 3 > Bissau > Companhia de Terminal > c- 1973/74 > O fur mil Manuel Oliveira Pereira nas instalações da Quinta do Fim do Mundo, assim chamada por estar nas traseiras do cemitério da cidade de Bissau: eram as instalações da antiga fábrica de cana da Casa Gouveia. Ficavam bem por trás do BINT (Batalhão de Intendência).


Foto nº 4 > Bissau > Companhia de Terminal > c- 1973/74 > O fur mil Manuel Oliveira Pereira com o fur mil Melo nas instalações da  Quinta do Fim do Mundo


Foto nº 5 > Bissau > Companhia de Terminal > c- 1973/74 > O fur mil Manuel Oliveira Pereira com o fur mil Mealha  nas instalações da  Quinta do Fim do Mundo





Louvor ao fur mil Manuel Oliveira Pereira, exarado na sua caderneta militar, a pp.11 e 12,  atribuído pelo comandante da CCAÇ 3547, na data de 16 de junho de  1973,  por, sendo o delegado administrativo do Batalhão, o BCaç 3884 (Bafatá, 1972/74), ter ajudado a criar e a desenvolver a "Companhia de Terminal" (Bissau, 1973.

Fotos (e legenda): © Manuel Oliveira Pereira (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Manuel Oliveira Pereira, algures, no rio Geba,
ao serviço da Companhia de Terminal
(Bissau, 1973/74)

1. O Manuel Oliveira Pereira,  membro da nossa Tabanca Grande, desde 14 de outubro de 2006,  já nos explicou em tempos o que era a Companhia Terminal [ou de Terminal] (*):


(...) Conjuntamente com mais uns tantos camaradas fui fundador da "Companhia Terminal" que resultou da junção de todos os "Delegados de Batalhão" (---) a que se juntaram uns tantos "piras" - milicianos e malta dos pupilos do exército - vindos directamente de Lisboa (administração militar).

As nossas instalações [eram na] Quinta do Fim do Mundo, assim chamada por estar nas traseiras do cemitério da cidade [de Bissau:]  eram as da antiga fábrica de cana da Casa Gouveia. Ficavam bem por trás da Intendência e ao lado do armazém de medicamentos/produtos farmacêuticos do Batalhão Saúde.

(...) Os "Delegados" tinham total autonomia. A Delegação era formada normalmente pelos seguintes meios humanos e materiais: um Sargento ou Furriel, um Cabo, dois Soldados motoristas, um Unimog 404 e um Jipe. Esta era a minha formação (BCaç 3884, Bafatá), talvez a mais numerosa, contudo as diferenças, se existiam, eram poucas.

Com o avolumar da guerra, tornou-se necessária uma coordenação efectiva dos parcos meios humanos e logísticos - barcos, barcaças, viaturas e aviões. Todo era necessário!

As Delegações requisitavam e, devido à sua autonomia, qualquer um dos meios de transporte referidos quando bem entendesse. Por exemplo: em alturas diferentes ou quase em simultâneo seguia para Bambadinca carregamento para o sector de Bafatá, no dia seguinte para Nova Lamego e porque não para Piche?!...

Falei dos sectores Leste l e Leste ll como poderia falar da zona Sul ou de Farim/Cacheu.

Surge assim a Companhia Terminal com o objectivo de coordenar e planificar toda acção das diversas Delegações.

A Companhia Terminal não era uma verdadeira Companhia, pelo menos na sua organização e estrutura. É certo que tinha um Capitão SGE – Herman [Mendes] Schultz [ Guimarães], não como Cmdt, mas como Coordenador, coadjuvado por dois oficiais; uns quanto sargentos / furriéis piras e por todas as Delegações de Batalhão/Companhia. A esta grande equipa, foi ainda acrescentado todo o nosso parque auto.

A partir da sua formação, talvez outubro/novembro de 1972  - não tenho de momento a certeza  (...) -   todos os "abastecimentos" passaram a ser feitos em conjunto (na gíria actual "Serviços Partilhados"),  ou seja, abastecimento / carregamento de barcos ou aviões feito em simultâneo (ex. Bambadinca/Galomaro ou Bafatá/Nova Lamego ou Nova Lamego/Piche).

Qualquer combinação é possível. Já não servíamos o "nosso" Batalhão, mas qualquer um que necessitasse do nosso apoio. Se na minha anterior missão de Delegado, apenas requisitava, organizava, transportava e acompanhava as "coisas" para o meu Batalhão por barco até ao Xime ou Bambadinca e de avião para Bafatá, passei com a Companhia Terminal a ir, para além das referidos [destinos], a Aldeia Formosa, Nova Lamego, etc.

(... Aqui vão alguns dos nomes que de momento me vêm à memória: Cap Schultz, Alf Neves, Furriéis Catana, Mealha, Grenho, Botelho, Mestre, Ferreira, Aarão, Pinheiro, Soldados Soares, Melo e Pereira. Mantenho, com alguns deles fortes laços de amizade nomeadamente com o Catana, o Mealha, o Grenho, o Aarão, Soares e o Melo. (...) (*)


2. O Manuel Oliveira Pereira foi louvado pelo seu comandante [, da CCAÇ 3547], em 16 de junho de 1973 pelo elevado empenhado e grande competência com que exerceu funções na "Companhia de Terminal", permitindo que esta efetuasse carregamentos em mais de setenta (70) barcos, no curto espaço de dois meses (o que dava em média mais de um barco por dia). (**)
_______________


Vd. também postes de:

12 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)

(...) Telefonou-me o ex-Fur Mil Daniel Vieira, que fez parte da Companhia Terminal, sediada em Bissau, mais exactamente na antiga Fábrica da Cana de Açúcar, por detrás do Cemitério, em instalações que outrora terão pertencido à Casa Gouveia. Lembram-se ?

Eu nunca ouvira falar desta Companhia Terminal, cuja missão era fazer os reabastecimentos das unidades espalhadas pelo TO da Guiné, por ar, terra, rio e mar… Iam a todo lado, de Buba a Bambadinca...

Pois bem, pelo que o Daniel Vieira me contou ao telefone, e que eu aqui reproduzo, ele chegou à Guiné, em rendição individual, em março de 1973 e foi um dos últimos militares a abandonar o território, em outubro de 1974.

Pelo meio, aí por volta de 12 ou 13 de março de 1974, foi ferido no Rio Geba, por ocasião de um ataque do PAIGC, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca, a um batelão carregado com 24 toneladas de munições. Morreu um cabo da Companhia Terminal, para além de 13 ou 14 africanos (civis ou militares, não faço ideia). Ele depois poderá contar mais pormenores: não sei se o batelão foi ao fundo, se houve explosões em cadeia, etc. /...)

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manel, os comentários são extensos e interessantes. Vamos publicamos num ou dois postes. Manda-me as fotas através do meu email:

luis.graca.prof@gmail.com

Só os editores é que podem publicar os textos e as fotos nos postes. Na caixa de comentários, ainda não possível os comentadores anexarem fotos/imagens/videos...

Temos muitas lacunas de informação sobre: (i) Contuboel; (ii) Sonaco: (iii) Companhia de Terminal; e (iv) "barcas turras"...

Temho mesmo grandes saudades dos meus escassos dois meses (ou mês e meio...)e em Contuboel...Mesmo a dormir em tendas...

Um abraço fraterno. Luís