segunda-feira, 27 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21203: Efemérides (331): Os 100 anos de Amália, "o povo que lavas no rio" e Afife (onde vivi até aos 9 anos) (Valdemar Queiroz)



(com a devida vénia...)

1. Mensagem do nosso camarada e amigo Valdemar Queiroz [, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; tem 110 referências no nosso blogue]

Data - sexta, 24/07, 17:48 (há 22 horas)


Assunto - Amália, o 'Povo que lavas no rio' e Afife

 Luís,

Os 100 anos da Amália merecem aparecer no nosso blogue.

Agora, e sempre, ouvir a Amália cantar este fado [, o Povo que lavas no rio,]é estar em Afife com nove anos de idade.

O poema de Pedro Homem de Melo [, Porto, 1904 - Porto, 1984] é sobre o povo, também o povo de Afife, Viana do Castelo.

É imperdível a consulta ao blogue lopesdareosa (vd. anexo) e a explicação tim-tim-por-tim sobre do poema, e não só, é uma pérola.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
________________

Povo que lavas no rio

Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era vinho que me deste
Água pura e fruto agreste
Mas a tua vida não

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não


Letra: Pedro Homem de Melo  / Música: Fado Vitória / Criação: Amália Rodrigues (1963)  (com a devida vénia...)


2. Excertos de um poste do blogue lopesdareosa, de António Alves de Barros Lopes > 
sábado, 29 de dezembro de 2012 > Povo que Lavas no Rio (com a devida vénia...)

(...) O tal povo que lavava no rio eu o conheci. Era a minha mãe, era a minha avó era a minha tia. Eram todas as mulheres de Areosa.

Até sei onde eram os rios e seus nomes. Era o da Maganhão, era o dos Ôlhos, era o da Ponte Nova. era o do Rapido, era o das Pontes do Cascudo era o do Poço da Baeta o do Poço da Arrinca. Era o da Romenda, Era o de Fontes era o do Fincão onde até as da Ribeira vinham lavar.

Depois o tal Povo que ía à feira e à tenda eu o conheci. Era o meu avô que dizia que ir a Ponte de Lima e não ir à tenda do Cachadinha ou da Rosa Paula era como ir a Roma e não ver o Papa. Ainda reconheço esse Povo nas feiras de Ponte e do Cerdal nas tendas de S. João ou da Peneda. Eram todos os lavradores que se debatiam com os regatões por umas quantas notas, por uma vaca.

A malga de mão em mão eu por ela bebi nos tempos em que os artistas no regresso a casa paravam na Loja do Perrito e de lá não saíam sem que antes tivessem pago cada um a sua rodada daquele verde tinto intragável. Se no beijo na tigela que passava de mão em mão o Poeta viu irmandade, comunhão ou outra coisa qualquer, por isso era Poeta: 

Procissões, praias e montes, areais, píncaros passos, braços e fontes, quem não os conheceu???

Montanhas veredas e cangostas foi Pedro Homem de Mello que as inventou?

Buxas, lobas, estrelas. Vozes na casa deserta, almas penadas, chascas nas encruzilhadas? - Quem não ouviu histórias medonhas?

Quem não sabe ao que o Poeta se refere quando afirma que tinha rasgado certo corpo ao meio e que tinha visto certa curva em certo seio?

Apesar de tudo e mesmo assim o Poeta se confessa apartado da essência do Povo que tão bem canta.
- Pertenço-te e deste-me alturas de incenso, mas não me deste o teu modo de viver porque esse é inatingivel.

(...) Resumindo, Povo que Lavas no Rio  é um hino ao Povo. Pelo menos ao Povo do Alto Minho, em relação aos quais  já pressenti muito desdém.

Talvez por inveja. Talvez porque haja muita boa gente que não aceitou em  Pedro Homem de Mello a sua rebeldia.

"- Monárquico em todas as repúblicas do mundo."

Ou que, apesar disso, ousou afastar-se dos seus, cujo desprezo presenciei na muralha inultrapassável em frente à Havaneza em noites de Feiras Novas.

Ou porque a intelectualidade não conseguiu catalogar o Poeta no cardápio das correntes e das mediocridades.
Outros porque não perdoaram ao Poeta ter-se misturado com o tal povo e cantado essa vivência roubando assim a iniciativa aos especialistas.

Outros porque não lhe chegando à bitola se apressaram a classificar Pedro Homem de Mello como poeta de segunda!

Sei lá! (...)

________________

23 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Um poeta "menorizado" e mal conhecido... Está em campa rasa no cemitério de Afife (,concelho de Viana do Castelo), sua terra adotiva. Poeta e folclorista, tinha raízes na pequena fidalguia rural do Norte.

______________

REVELAÇÃO

Tinha quarenta e cinco... e eu, dezesseis...
Na minha fronte, indômitos anéis
Vinham da infância, saltitando ainda.

Contavam dela: — Já falou a reis!
Tinha quarenta e cinco... e eu, dezesseis...
Formosa? Não. Mais que formosa: linda.

Seu olhar diz: Seja o que o Amor quiser
A verdade planta que os meus dedos tomem!

Pela última vez foste mulher...
E eu, pela vez primeira, fui um homem!

Pedro Homem de Melo

https://www.escritas.org/pt/t/7881/revelacao

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Para saber mais sobre o poeta:

Capítulo 31. O povo enquanto líbido no folclorismo poético de Pedro Homem de Melo (1904-1984)
João Vasconcelos
p. 461-482 [Texto integral]

In VOZES DO POVO | Salwa El-Shawan Castelo-Branco, Jorge Freitas Branco (dir). Lisboa: Etnografica Press, 2018

https://books.openedition.org/etnograficapress/612

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Já chega de Amália!
Cantou bem? Sim!
Mas nos últimos 20 anos de vida "profissional", ouvi-la era uma praxe.
Por faavo, mais Amália, nããããããããããõooooooooooooooo!
Já dei para tal peditório.
A menos que ela tenha estudado na CEI...
Um Ab.
António J. P. Costa

Carlos Vinhal disse...

Pois também eu tenho uma costela minhota, ou não seja um dos meus apelidos, Esteves. A minha avó materna, Perpétua da Luz Esteves, assim como a minha mãe, nasceu na raia, em Valença. O meu avô materno, Manuel José Afonso, nasceu em Paradamonte, ali pertinho de Lindoso, na margem esquerda do Rio Lima. Casaram e, a certa altura da vida, assentaram arraiais na bonita localidade de Soajo, onde existe talvez a segunda maior concentração de espigueiros de Portugal. O meu avô, que era militar da Guarda Fiscal, ali comandou o Posto da Guarda. Posteriormente veio comandar o de Azurara, sito no areal da foz do Rio Ave. Aqui, a minha mãe, então um borracho de 16 anos, conheceu o meu pai que não mais a largou até morrer. Dele, herdei a costela duriense.
Do poeta Pedro Homem de Mello, muito se tem falado, agora mais, a propósito do centenário do nascimento da fadista Amália Rodrigues, para quem este poeta escreveu.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não faltaram fadistas na Guiné, e o "povo que lavas no rio", genial criação da Amáçia, foi parodiado, seguramente em vários sítios e ocasiões... Lembro esta:


Fado "Brito... que és militar!"(*)

Letra: Tony Levezinho

[Adapt: Fado "Povo que lavas no rio"

[Música: Fado Victória, composição original de Joaquim Campos (1911-1981)]

O Tony Levezinho é nem mais nem emnos do que um antigo vizinho, condiscípulo e amigo do To Zé Pereira... Segndo sei, moravam no mesmo prédio (aonde fui depois da peluda, e onde conheci o saudoso e afável Levezinho pai).


7 DE JULHO DE 2019
Guiné 61/74 - P19953: O Cancioneiro da Nossa Guerra (11): o fado "Brito, que és militar" (Bambadinca, 1970, ao tempo da CCS/BART 2917 e CCAÇ 12) (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não faltaram fadistas na Guiné, de maior ou menor talento, e o "povo que lavas no rio", genial criação da Amáçia, foi um fado muiytop parodiado, seguramente em vários sítios e ocasiões... Lembro esta:

Fado "Brito... que és militar!"(*)
Letra: Tony Levezinho
[Adapt: Fado "Povo que lavas no rio"
[Música: Fado Victória, composição original de Joaquim Campos (1911-1981)]

O Tony Levezinho é nem mais nem emnos do que um antigo vizinho, condiscípulo e amigo do To Zé Pereira... Segundo sei, moravam no mesmo prédio (aonde fui depois da peluda, e onde conheci o saudoso e afável Levezinho pai).

7 DE JULHO DE 2019
Guiné 61/74 - P19953: O Cancioneiro da Nossa Guerra (11): o fado "Brito, que és militar" (Bambadinca, 1970, ao tempo da CCS/BART 2917 e CCAÇ 12) (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)


Confesso que na altura não gostava de fado... Por preconceito. Mas gostava das paródias que fazíamos na Guiné, com mais ou menor bom humor, espírito crítico, e até com sentido contestatário...

Acabei por, no decurso da mimha licenciatura em sociologia, fazer alguma investigação empírica em socioantropologia do "fado vadio" que, no final dos anos 70, ainda se podia ouvir em algunas tascas icónicas como a "Princesa da Atalaia"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E já que se fala aqui do clã Levezinho, tenho que os recordar aqui, pai e filho... E, já agora, neste momento difícil porque estão a passar, por razões de saúde, para a Isabel e o Tony, vai um chiroração apertado deste velho amigo do peito, o Luís Graça.

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10 DE JUNHO DE 2017
Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (77): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O mesmo povo, evocado aqui por Eça de Queiroz, em "O distrito de Évora" (, de que foi diretor), em editorial de 10 de janeiro de 1867:

Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão.

Estes homens são o Povo.

Estes homens, sob o peso do calor e do sol, transidos pelas chuvas, e pelo frio, descalços, mal nutridos, lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida, a sua forca, para criar o pão, o alimento de todos.

Estes são o Povo, e são os que nos alimentam.

Estes homens vivem nas fábricas, pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os console, sem ter o repouso do corpo e a expansão da alma, e fabricam . O linho, o pano, a seda, os estofos.

Estes homens são o Povo, e são os que nos vestem.

Estes homens vivem debaixo das minas, sem o sol e as doçuras consoladoras da Natureza, respirando mal, comendo pouco, sempre na véspera da morte, rotos, sujos, curvados, e extraem o metal, o minério, o cobre, o ferro, e toda a matéria das indústrias.

Estes homens são o Povo, e são as que nos enriquecem.

Estes homens, nos tempos de lutas e de crises, tomam as velhas armas da Pátria e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, a neve, a chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento.

Estes homens são o Povo, e são os que nos defendem.

Estes homens formam as equipagens dos navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal retribuídos e desprezados.

Estes homens, são os que nos servem.

E o mundo oficial, opulento, soberano, o que faz a estes homens que o vestem, que o alimentam, que o enriquecem, que o defendem, que o servem?

Primeiro, despreza-os não pensa neles, não vela por eles; trata-os como se tratam os bois; deixa-lhes apenas uma pequena porção dos seus trabalhos dolorosos; não lhes melhora a sorte, cerca-os de obstáculos e de dificuldades; forma-lhes em redor uma servidão que os prende e uma miséria que os esmaga; não lhes dá proteção; e, terrível coisa, não os instrui: deixa-lhes morrer a alma.

E por isso que os que tem coração e alma, e amam a Justiça, devem lutar e combater pelo Povo. E ainda que não sejam escutados, tem na amizade dele uma consolação suprema.

Fonte:http://www.santoandre.sp.gov.br/pesquisa/ebooks/366722.pdf (com a devida vénia...)

Valdemar Silva disse...

Carlos Vinhal
Em criança, talvez com sete anos, eu e a minha avó fomos a pé dos Arcos à Senhora da Peneda.
Esperamos por umas parentes, que vinham do Lindoso, precisamente junta da grande eira dos Espigueiros do Soajo. Depois, pra mim, foi um sofrimento andar tanto tempo com umas chancas de madeira que me aleijavam os pés.
Julgo que o conjunto dos Espigueiros, junto do Castelo do Lindoso, será o maior existente em Portugal.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o Lindoso e os seus espigueiros...

[Comi aqui há muitos anos o melhor bacalhau frito, de cebolada e batatas fritas às rodelas, num tasca cheia de moscas, às tantas da tarde, junto ao castelo do Lindoso; a Alice conhece muito bem todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês, criado em 1971, porque trabalhou lá no arranque nessa altura, no arranque do projeto...].

Adoro os espigueiros de pedra, são umas das "joias" do património rural do nosso Noroeste... Tantos os do Soajo como os do Lindoso, merecem uma visita...


(...) "Situado em pleno coração do Alto Minho, numa das zonas dotadas de maior beleza natural, o território correspondente, na actualidade, ao concelho de Ponte da Barca (antiga "Torre da Nóbrega", "Terras da Nóbrega" ou, ainda, Anóbrega) distingue-se pela variedade da sua paisagem, em grande graças à presença do Rio Lima e da albufeira (natural) do Alto Lindoso, a maior da Península Ibérica. Mas também os enormes afloramentos graníticos não deixam de lhe conferir monumentalidade, ao mesmo tempo que uma personalidade fortemente vincada, transposta para as inúmeras estruturas erigidas ao longo dos tempos pelas mãos de quem soube escolher a região para sua permanência e sobrevivência, enquanto assistia ao desenrolar de alguns dos episódios mais relevantes da constituição e afirmação do reino português, testemunhado, por exemplo, pelo castelo afonsino, reconstruído já ao tempo de D. Dinis (1261-1325).

De entre as freguesias que compõem o termo de Ponte da Barca, sobressai a de Lindoso, amplamente conhecida pelos inúmeros espigueiros que ostenta. Com efeito, a par dos exemplares existente na Vila de Soajo, Lindoso destaca-se das demais localidades pela organização social e económica que caracterizou sempre as suas gentes, estruturadas em torno do princípio comunitário, tão particular das comunidades rurais.

Construídos de forma harmoniosa com a restante paisagem os sessenta e quatro espigueiros - perfazendo, deste modo, um dos mais notáveis conjuntos existentes no país - agrupam-se ao longo do declive do morro onde se ergue o castelo, sobranceiro à povoação e ao próprio Rio Lima, em torno de uma eira colectiva, entre grandes afloramentos graníticos, uma protecção natural valorizada por um muro tosco construído propositadamente para impedir a passagem do gado, num sítio originalmente baldio.

É, justamente, na área de Soajo e Lindoso que abundam os espigueiros com o corpo inteiramente de pedra, "[...] uma das manifestações mais notáveis não só desta classe de edifícios, mas mesmo da construção popular em geral [...]." (DIAS, J., OLIVEIRA, E. V., GALHANO, F., 1963, p. 59). A utilização de material pétreo não implicou, todavia, diferenças estruturais no conceito e na própria arquitectura do espigueiro. Ela apenas lhe atribuiu uma feição sui generis, ao mesmo tempo que acentuada robustez.

(Continua)

Fonte:

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/73301

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os espigueiros do Lindoso:

(Continuação)

Dividindo-se os espigueiros de pedra entre os que apresentam fendas horizontais e verticais, os de Lindoso inserem-se neste último tipo - o de fendas verticais -, ainda que coexistindo com o tipo de telhado de cápeas e guarda-ventos, assim como a par dos espigueiros mistos, construídos em pedra, madeira e/ou tijolo.

Por conseguinte, os espigueiros de Lindoso assentam em pilares simples, com ou sem sapata, sendo coroados com mós ou mesas de diferentes formatos e bem talhados. É esta base que apoia o corpo do espigueiro, propriamente dito, formado por padieiras laterais com pequena saliência interna para suporte das lajes ou soleiras de lastro; as colunas, nas arestas, e, por fim, os lintéis de topo.

Um dos elementos mais interessantes residirá, contudo, no facto destas estruturas serem profusamente decoradas, ostentando vestígios de sugestiva sacralização, a exemplo das cruzes colocadas no alto do lintel, no topo frontal, provavelmente destinadas a invocar protecção divina sobre os produtos neles contidos. Na realidade, "[...] raras vezes deixa de se ver qualquer motivo, medalhão, data, símbolo religioso, rasgo geométrico, por vezes vazado, etc. [...]. urnas, pináculos, relógios de sol, ou outros motivos, sobre peanhas lavradas." (Idem, Ibidem, p. 65).

Datáveis dos séculos XVIII, XIX e XX, os espigueiros conheceram maior actividade ao tempo do investimento na cultura do milho, assim resguardado, quer das intempéries, quer dos animais, substituindo, provavelmente, os primitivos canastros, hoje desaparecidos, e que seriam construídos em verga, como o próprio nome indicará."

[AMartins]

Fonte:

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/73301

Valdemar Silva disse...

Luís
Isso do bacalhau frito, depois com a cebolada e as batatas fritas às rodelas no mesmo azeite é preciso cuidado, que pode causar viciação. Eu que o diga, no tempo em que se comprava bacalhau demolhado à posta, a minha mãe dava-me esse manjar (como se diz agora) três/quatro vezes por semana.
Na descrição dos espigueiros, faltou dizer a razão do formato da base das colunas e no topo em que assentavam serem pedras redondas e lisas, como as abas dum chapéu, para evitar a subida dos ratos.
Então, e nós todos juntos com esta conversa sobre o Alto Minho, Pedro Homem de Melo, Afife, espigueiros e bacalhau frito de cebolada, com uma malguinha de tinto verde, mesmo com s7tenta e tais, até o António J.P. Costa dizia: agora ia mesmo aquela do 'Hei-de ir a Viana' da Amália.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

O meu problema era que aí viesse um dilúvio de Amália Rodrigues, pelo menos durante uma semana e eu não sei onde pus capacete.
Contra o Peter Man of Milôu (grande poeta minhoto) não tenho nada e até já descarreguei o poema que o ouvi recitar. Se calhar vou aprendê-lo para dizer às velhas puritanas da minha associação.
Mas por favor, Amália, Nããããããoooooooooooo!

Um Ab.
António J. P. Costa

A conversa tomou o rumo certo e eu

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, eu agora não posso ir, ando de canadianas, mas ainda "Havemos de ir a Viana"... E Bibó o Minho e o Binho Berde Tinto e o Albarinho... E o bacalhau, pois claro: é aqui que se come o melhor bacalhau no mundo...Tudo coisinhas boas que não há no céu...

E viva, onde que esteja, o Alain Oulman (Oeiras, 1928 - Paris, 1990), que "revolucionou" o reportório da Amalia (sem acento)...

https://pt.wikipedia.org/wiki/Alain_Oulman


Havemos de ir a Viana

Música: Alain Oulman

Letra: Pedro Homem de Melo

Intérprete: Amália Rodrigues

Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorços têm oitenta.

'São canta Amália Rodriguez'


https://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/amalia-havemosDeIraViana.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É pouco comhecido o fado "Senhora do Livramento", interpretado pela Amália, em 1967...

Vd. aqui vídeo no You Tube

https://youtu.be/NtJxaLovUNU

"Em 1967 Amália Rodrigues gravava o tema popular 'Senhora do Livramento'. Arriscou e venceu. A censura - talvez pela letra ser de origem 'popular' - não deu pela subversão da coisa e a música foi publicada.

"Estávamos em plena Guerra Colonial e esta música era uma oração, uma súplica... o pedido de uma rapariga à 'Senhora do Livramento' para ajudar o namorado que parte para a guerra." (José Daniel Ferreira)


Letra popular:

Senhora Do Livramento
Amália Rodrigues


Senhora do Livramento
Livrai o meu namorado
Que me vai deixar sozinha
Ai, meu Jesus!
Ai, meu Jesus!
Pela vida de soldado!
Pela vida de soldado!

As vossas tranças, Senhora
São loiras como as espigas!
Senhora do Livramento
Ai, meu Jesus!
Ai, meu Jesus!
Ajudai as raparigas!
Ajudai as raparigas

(Letra recolhida aqui:

https://www.letras.mus.br/amalia-rodrigues/567278/ )

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Quem partiu nos T/T Niassa, Uige, Carvalho Araújo e quejandos, mas também no navio.escola Sagres, não consegue ouvir este fado, em interpretação magistral da Amália, sem sentir um arrepio...É uma gravação, tardia, de 1990.

https://www.youtube.com/watch?v=Ybd5F40ZXkI

Letra:

Que Fazes Aí, Lisboa
Amália Rodrigues

[Autores: Letra: Mário Gonçalves / Música: Arlindo de Carvalho
Músicos: Guitarra Portuguesa: Carlos Gonçalves; Fontes Rocha; Viola: Jorge Fernando; Viola Baixo: Joel Pina]

Que fazes aí, Lisboa,
De olhos fincados no rio?
Os olhos não se levantam
Para prender um navio?
Que fazes aí, Lisboa,
De olhos fincados no rio?

O barco que ontem partiu
Partiu e não volta mais!
Chora lágrimas de pedra
Em cada esquina do cais!
O barco que ontem partiu,
Partiu e não volta mais!

Lisboa, velha Lisboa,
Mãe pobre à beira do rio!
Seja o xaile dos meus ombros
Agasalho do teu frio!
Lisboa, velha Lisboa,
Mãe pobre à beira do rio!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há uma lista, na Wikipédia, ordenada por ordem alfabética, dos temas gravados por Amália (476 temas).

https://pt.wikipedia.org/wiki/Can%C3%A7%C3%B5es_gravadas_por_Am%C3%A1lia_Rodrigues

Encontrei, pro exemplo, este tema. Zé Soldado, Soldadinho (1971)

Amália Rodrigues

Letra: Guilherme de Melo;
Música: Fontes Rocha

https://www.youtube.com/watch?v=nr83DntOUA8&list=OLAK5uy_nWI6CIwsE_gp2ApzRo8X9IcitiFFMccqU&index=47&t=0s


Cais largado, nevoeiro, boa sorte...
Ai, ligeiro mar salgado, espumeirinho!
Deus teu o norte, teu roteiro, teu caminho,
Zé soldado, Zé soldado, soldadinho!

Longe, longe, na lonjura, aos da casa,
Só brancura, longe, longe, atravessa
Desenhado de mansinho, longe, longe,
Zé soldado, Zé soldado, soldadinho!

Arma o peito, chuva e lama, sentinela,
Quem te chama, corpo afeito, negro pinho,
Luz da vela, Deus louvado! Vem Zezinho!
Zé soldado, Zé soldado, soldadinho!

Ai, um dia voltarás, sol doirado, romaria!
Festa e vinho! Deus, teu norte!
Teu roteiro, teu caminho! Marinheiro,
Zé soldado, Zé soldado, soldadinho!

(Letra recolhida aqui:

https://www.letras.mus.br/amalia-rodrigues/567298/ )

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Amália Rodrigues - Meu Amigo Está Longe (1977)

Letra:José Carços Ary dos Santos
Música. Alain Oulman

Américo Pereira: "Consta-se que José Carlos Ary dos Santo escreveu este Poema em louvor ao Soldado que partia para o Ultramar Português em missão de Serviço. Amália canta divinamente e para mais com música de Alain Oulman.Este video é dedicado à mana Cibele. Um abraço amaliano do Portuga Amigo.Américo"

https://www.youtube.com/watch?v=wAWtk3xeSFo

Amália Rodrigues

Nem um poema, nem um verso, nem um canto,
Tudo raso de ausência, tudo liso de espanto
Amiga, noiva, mãe, irmã, amante,
Meu amigo está longe
E a distância é tão grande.

Nem um som, nem um grito, nem um ai
Tudo calado, todos sem mãe nem pai
Amiga noiva mãe irmã amante,
Meu amigo está longe
E a tristeza é tão grande.

Ai esta mágoa, ai este pranto, ai esta dor
Dor do amor sozinho, o amor maior
Amiga noiva mãe irmã amante,
Meu amigo está longe
E a saudade é tão grande.

[Letra recolhida aqui:

https://www.vagalume.com.br/amalia-rodrigues/meu-amigo-esta-longe.html]

Fernando Ribeiro disse...

O Cancioneiro do Niassa, constituído por fados e canções aos quais foram adaptadas novas letras alusivas à guerra e à vida militar, foi publicado na internet por Jorge Rabaça Gaspar, que fez comissão militar no Niassa, Norte de Moçambique, como capelão militar. O site original já foi apagado, mas permanece disponível em parte no Arquivo da Internet. Digo «em parte», porque, das gravações áudio originais feitas em 1969 na Base Naval de Metangula, só consegui encontrar duas, que são «O turra das minas» e o «Hino do Lunho». As restantes gravações originais, que Jorge Rabaça Gaspar tinha publicado no seu site, não foram copiadas para o Arquivo, ou pelo menos assim parece.

O site de Jorge Rabaça Gaspar sobre o Cancioneiro do Niassa pode ser encontrado no endereço https://web.archive.org/web/20110424052829/http://www.joraga.net/cancioneirodoniassa/index.htm

As gravações áudio que consegui localizar estão nos endereços seguintes:

O turra das minas -
https://web.archive.org/web/20150113023144/http://www.joraga.net/cancioneirodoniassa/musicas/CancNiassa/02TurraMinas.mp3


Hino do Lunho - https://web.archive.org/web/20150112173252/http://www.joraga.net/cancioneirodoniassa/musicas/CancNiassa/07hlunho.mp3

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Obrigado, Fernando Ribeiro... Vê também, no portal UTW - Ultramar TerraWeb, Dos Veteranos da Guerra do Ultramar (1954-1975),

(...) "O suporte material de som que se segue sobre 'O Cancioneiro do Niassa' foi cedido por
João Santos, ex- Alferes Mil.º, do 3.º Pelotão da Companhia de Artilharia 2763" (...)


Fado do Checa (04:24)
O Turra das Minas (02:21)
Adeus Metangula - Fado da Despedida (03:33)
Fado das Partituras (02:45)
Fado do Render da Guarda (03:39)
Fado do Turra (02:08)
Hino do Lunho (06:00)
Fado do Destacamento Veterano (03:04)
Fado das Comparações (06:15)
Fado do Estado Maior (01:34)
Fado do Buldozer (02:06)
A Júlia Golpista (02:19)
e Fado a Metangula (01:45)

http://ultramar.terraweb.biz/Cancioneiro_do_Niassa/mocambique_cancioneiro_do_niassa.htm

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mais uma das paródias a fados da Amália...

Infelizmente o resgisto áudio desapareceu, com o cancelamento da página na Net do Joraga [José Rabaça Gaspar], que inseriu a gravação áudio, com a voz do João Paneque, na Rádio Metangula, em 1970 (...)

É uma pena que estes registos, da nossa presença em África, desaparaçam, de um pé para a mão... Há servidores que desaparecem (Terravista, Sapo...), há editores que morrem ou que pura e simplesmente "desligam o botão"...

Neste poste reproduzimos a letra do "Fado das Comparações"...


3 DE DEZEMBRO DE 2012
Guiné 63/74 - P10757: (Ex)citações (203): O "fado das comparações"... ou o humor sarcástico do Cancioneiro do Niassa (Luís Graça)



Na altura comentei:

(...) A música deste fado, do Cancioneiro do Niassa, é a do clássico fado Estranha forma de vida (Letra e música: Alfredo Duarte e Amália Rodrigues). No entantato, a segunda parte parece-me ser a do Embuçado , precisarei de tempo para confirmar.

Mas o que importa agora é a letra: sarcástica, parodia a privilegiada condição dos colonos moçambicanos e dos seus filhos e filhas, condição que, vista de Metangula, no lago Niassa, deveria uma das contradições daquela guerra, difíceis de (di)gerir: de facto, dificilmente se poderia convencer um soldado metropolitano que estava a defender o chão sagrado da Pátria, quando do inferno do Niassa se olhava para o bem-bom de Lourenço Marques...Em todo o caso, é bom não esquecer que houve moçambicanos, filhos de colonos brancos, que morreram em combate no TO da Guiné: caso do nosso camarada Mário Sasso, por exemplo.

Noutro registo, era o mesmo tipo de crítica que nós fazíamos na Guiné - nós, os operacionais, a carne para canhão - aos mais privilegiados, não os colons que praticamente não os havia, mas sim a rapaziada da guerra do ar condicionado, instalada no relativo conforto e na precária segurança de Bissau...

Recorde-se que na Guiné não havia colonos brancos, a única empresa que se podia chamar colonialista era a Casa Gouveia, ligada à CUF - Companhia União Fabril, mas que ficou praticamente inactiva com o início da guerra, reduzida a muitos poucos entrepostos no mato (em Bambadinca, ainda havia um, no meu tempo, 1969/71).

Acrescente-se que o léxico do combatente de Moçambique e da Guiné tinha muitas coisas em comum: por ex., a palavra lerpar que era utilizada pelas nossas tropas, nos dois TO, com o mesmo sentido de perda: morrer, ser ferido, perder qualquer coisa (por ex., ao jogo da lerpa), apanhar uma 'porrada' (castigo), ser escalado, etc. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vd. também aqui, no meu antigo blogue Blogueforanada, um poste de 14 de maio de 2004, com as letras das Canções do Niassa:


http://blogueforanada.blogspot.com/2004_05_09_blogueforanada_archive.html

Fernando Ribeiro disse...

Luís Graça, encontrei no Youtube as gravações originais de Luís Peneque, feitas na Base Naval de Metangula em 1969. Foram publicadas, sequencialmente, num vídeo feito por UTW - Ultramar Terra Web, e estão em https://youtu.be/J4yHrvp98Ro. Assim, já podemos associar as letras dos fados e canções, que estão no antigo site de Jorge Rabaça Gaspar, ao som original, que está no vídeo do UTW.