quarta-feira, 29 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21206: (Ex)citações (363): Colonialismo e pós-colonialismo: as três cidades da África Ocidental: Bissau, Conacri e Dacar (António Rosinha / Cherno Baldé)


Guiné.Bissau > Bissau > c. 2010 > Ao centro, o Palácio Colinas de Boé, sede da Assembleia Nacional Popular (Parlamento), sito na Av Francisco Mendes... 

O edífício, de arquitetura moderna, foi construida pela China. Foi inaugurado em 2005. À esquerda, frente ao Palácio Colinas do Boé, fica o CEIBA Hotel

E, assinalado, com um círculo a vermelho (,depois de chamada de atenção do nosso camarada António Rosinha) (*),  está " a mãe-de-água, depósito de água (colonial), pintado de côr amarela, no espaço da Assembleia da República"... E acrescenta o Rsoinha: "Esse espaço foi um lindo jardim colonial, o jardim do Alto [do] Crim, mandado arrasar pelo Luís Cabral"... [O sistema de abastecimento de água à cidade foi obra do governador Sarmento Rodrigues, inaugurado em 1947].(**)

Foto: © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné-Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir, em 1975,  o roteiro português: Av Unidade Guiné-Cabo Verde, Av 3 de Agosto, Av Pansau Na Isna, Av Amílcar Cabral,  etc.  


Na parte superior do mapa, do lado esquerdo, ficava o Alto [do] Crim (, assinalado com um retângulo a verde),  (Mapa gentilmente fornecido por A. Marques Lopes, em 2006).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020).


1. Comentário de Antº Rosinha ao poste P20344 (*)

Antº Rosinha, topógrafo da TECNIL, Bissau,
ao tempo de Luís Cab
ral... 

É membro da nossa Tabanca Grande desde 
29 de novembro de 2006: tem 120 referências
no blogue.
Não era esta Bissau que Luís Cabral tinha projectado (imaginado) urbanisticamente enquanto presidente da República e presidente do PAIGC, que acumulava tudo.

A maior obra, a grande avenida, Combatentes da Liberdade da Patria, projectada como "Avenida Unidade Guiné-Cabo Verde", única saída da ilha de Bissau, quer de carro ou de avião, congestionadíssima, tinha na ideia de Luís Cabral, já com projecto em estudo, uma alternativa de saída da ilha através de Antula a sair para os lados de Cuméré.

Desafogava aquilo que prevemos que deve ser uma autêntica IC 19 (Sintra) em hora de ponta, mas 24 horas por dia.

Havia outro projecto de Luís Cabral, este não urbanístico mas político, segurar democraticamente à cacetada, cada guineense, na sua tabanca de origem, prendendo todos aqueles que se passeasse em Bissau, sem actividade comprovada, ou seja não podia fazer turismo, aí também ajudava a descongestionar.

Aliás, todos os dirigentes dos partidos vencedores, MPLA, FRELIMO e PAIGC gabavam-se que iam transformar as suas capitais mais bonitas e mais modernas do que aquio que os atrasados dos portugueses conseguiam fazer.

Pessoalmente penso que não seria difícil, porque nós, os colonialistas, não eramos nem somos lá muito competentes. Só que penso que eles apenas ampliaram as asneiras que nós tinhamos feito.
Luanda tem mais muceques, Lourenço Marques (Maputo) não conheço, mas as noticias só mostram decadência, no caso do PAIGC de Bissau, ficamos na eterna dúvida se os dirigentes iam ou não conseguir fazer melhor que nós, a um dirigente assassinaram-no, a outro expulssaram-no, e os restantes ficaram sem grande voz activa.

2. Comentários ao poste P21199 (***):



Cherno Baldé, Bissau,
quadro superior na área
de gestão de projetos

(i) Chermo Baldé

De facto, se há alguma coisa que se perdeu com a independência da Guiné é aquele orgulho, o sentimento de autoestima com uma mistura de uma certa superioridade que os guineenses tinham relativamente aos paises vizinhos.

Durante muito tempo (até princípios dos anos 80) Bissau foi ponto de referência para as populaçoes de origem guineense, residentes em Dacar, Ziguinchor e Conacri, entre outras cidades, aos quais tentavam copiar o modo de vida, a vestimenta, a culinária, a boa educaçao, etc...etc (tudo à portuguesa).

Caro Rosinha, a preferência do PAIGC do Amílcar por Conacri é mais politica que outra coisa, porque quando chegaram em Dacar em 1959/60, já a FLING de Kankola Mendy, que parecia politicamente mais moderado, tinha conseguido o apoio do LS Senghor, assim Conacri serviu de alternativa, também com as dificuldades que se sabem.


Na verdade, desde a independência, a Guiné-Bissau não deixa de perder os seus antigos "valores" coloniais a favor de uma maior e melhor integração na subregião onde está inserida, o que, para muitos, não passa de uma banalização do que era a cultura guineense que, na realidade, não passava de uma cultura de alienação colonial,  conseguida com base na politica da assimilação mal efetivada, bem distante da nossa realidade quase feudal e africana.

Eu conheci Bissau muito mais tarde, aliás na altura, a circulação de pessoas e bens era muito limitada e bem controlada pelo regime e pouca gente se deslocava a capital, porque também as outras localidades tinham o mínimo necessário.

Mas, como diz o Valdemar (***), provavelmente Bissau só começou a concentrar mais população à procura de trabalho no consulado do Sarmento Rodrigues (1945-49) e início das "grandes" obras da construção da cidade. (**)

Antes desse periodo, provavelmente Bissau se resumia ao Porto e ao pequeno Bairro de Chão-de-Papel, junto à bolanha ao lado do rio, habitado por grumetes e emigrantes cabo-verdianos.

De resto, o crescimento da cidade arranca com o inicio da Guerra em 1963/64.

Por isso, quando vejo na biografia do Bobo Keita que ele teria nascido em Bissau em 1939, não deixa de criar algumas dúvidas, posto que era pouco provável a existência do Bairro do Pilum onde diz que habitavam os seus pais.


(ii) Antº Rosinha:

Havia algum cinismo e alguma mentira na cabeça de muitos guineenses do PAIGC quanto às preferências por Conacri e contra Dacar, antes do multipatidarismo.

Havia uma necessidade de apregoar as virtudes do comunismo (sem o praticarem pessoalmente), e ai de quem se atrevesse a opinar com um ministro ou outro dirigente do PAIGC, que o unipartdarismo do Sekou Touré amachucava o povo guineense ao contrário do multipartidarismo de Senghor.

De facto, Cherno, eram os valores coloniais a serem banalizados, e trocados por outros valores ainda mais estranhos ao povo da(s) Guiné(s), e até que lentamente a Guiné-Bissau se integrou no ambiente que a rodeia num multipartidarismo que é um mimetismo do que se faz na Europa.

Mas, apesar do ambiente em redor não falar português, a Guiné será sempre um PALOP, porque se não falar português nem crioulo em Bissau, fala-se em Lisboa, porque são guineenses, muitos milhares de portugueses à volta de Lisboa.

E se juntarmos os guineenses de Bissau, com passaporte português e que podem votar em Lisboa, (assim como os angolanos e moçambicanos nas mesmas condições), qualquer dia é Portugal que se transforma em PALOP.

Ainda outro dia o SEF quis fazer o teste do Covid-19 num avião de moçambicanos no aeroporto Humberto Delgado e não pôde testar porque eram portugueses.

PS - Só não é português quem não é filho, neto ou bisneto de uma das esposas ou filhas de um antigo grande dirigente do PAIGC, FRELIMO ou MPLA.

Se aparecer algum a provar o contrário é a excepção à regra.

Cherno, esta conversa toda, não é só para ti, porque tu já sabes muito mais que isto. (****)

__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20344: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte I

(**) Vd. também postes de:

10 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1264: Postais Ilustrados (10): Bissau, melhor do que diz o fotógrafo (Beja Santos / Mário Dias)

18 de outuhro de 2017 > Guiné 61/74 - P17877: Historiografia da presença portuguesa em África (98): Bissau, em 1947, ao tempo de Sarmento Rodrigues, revisitada por Norberto Lopes, o grande repórter da "terra ardente"

(***) Vd. poste de 26 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21199: Da Suécia com saudade (78): “O que teria sido se....?” ... A propósito da Bissau dos anos 60/70, recordados por Carlos Pinheiro... (José Belo)

(****) Último poste da série > 28 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21204: (Ex)citações (362): "O que vemos não é o que vemos mas sim o que somos" (Bernardo Soares / Fernando Pessoa, com o 'colon' António Rosinha e o 'luso-sami' José Belo, a assinarem por baixo)

5 comentários:

Anónimo disse...

Nas entre linhas de algumas das muito interessante análises sociais de António Rosinha surgem sempre as tais verdade...duras como pedras.
Pedras não arremessadas.
Simplesmente levantadas para por a descoberto o que está por de baixo.

“.....porque nós os colonos não éramos nem somos lá muito competentes.
Só penso que eles ampliaram as asneiras que nós tínhamos feito.”.

Um abraço do J.Belo

Anónimo disse...

Amigos

1 - O Hotel Ceiba foi inaugurado em 2015 e não em 2005 como postado, tenho fotos da sua construção do ano 2014.
2 - No alto Crim estava a estátua de Teixeira Pinto e essa avenida que vai até à Praça do Império/Praça Heróis Nacionais, tem a designação de Tchico Mendes e nesse alto do lado esquerdo para quem está virado para o lado da frente da Assembleia e do lado da Embaixada do Brasil, existia o Parque Municipal.
3 - O pensar de Amilcar Cabral ou do seu irmão Luís para o Urbanismo e descongestionamento de Bissau, isso não sabemos se se concretizava ou não, na medida em que a pressão urbanística se viessem a reinar o que não aconteceu, sempre estavam submetidos a essa pressão e como tal, não sabemos como essa situação evoluiria no seu reinado.
4 - Quanto ao descongestionamento da Ilha de Bissau, como designa o Rosinha, que poderia passar pelo Cumeré a partir de Antula, essa visão não se deve aos 2 irmãos, mas talvez aos engenheiros portugueses e creio que no tempo do anterior Governador a Sarmento Rodrigues, tal como prova existente os restos da ponte iniciada a partir dos estaleiros do Cumeré, sobre o canal do Impernal para acederem a Bissau a partir daquela zona. Tenho slides aí tirados em 1971.
5 - Continuando com o descongestionamento, como sabem e também o Cherno Baldé, que tenho o prazer de conhecer pessoalmente desde há alguns anos, nutrido por ele amizade, pelo menos em grande parte poderia ser resolvido enquanto não fosse posta em prática essa a via do Cumeré, e não é preciso ser técnico de transportes, pois se as autoridades guineenses tivessem vontade política, poderiam determinar o trânsito obrigatório dos camiões com destino ao porto que cresceu muito, através da circula Volta Bissau, que eu designo por CEB-Circular Exterior de Bissau e que parte mais ou menos da zona do novo Palácio do Governo, construído pelos chineses, e vai encostada às bolanhas adjacentes do Canal Impernal, vejam o Google, em vez de entrarem directamente desde a circular do aeroporto onde está a estátua de Amilcar Cabral, seguindo toda a via rápida com 2 faixas de cada lado até à Mãe d'Água, continuando pela Av Tchico Mendes (Té), Praça do Império/Heróis Nacionais, descendo a Av da República/Amilcar Cabral e Av Marginal até ao porto, degradando toda a cidade e o pavimento.
6 - Esta degradação acontece e aconteceu com os camiões de longo curso que transportavam as madeiras do das florestas para o o porto para seguirem para a China como é sobejamente conhecido. As filas desse camiões aguardando o descarregamento dos toros chegavam por vezes à sede do Benfica ou mais e agora temos o caso do transporte do caju e outros produtos e materiais e de contentores com destino à Guiné.
7 - O Cherno poderá apresentar esta sugestão ao Ministério competente, não sei é será ouvido.
8 - Continuando com a pressão urbanística, vejam só o a construção do Hotel Império 4*, com 6 andares, na Praça dos Heróis Nacionais, que descaracteriza a praça. Já quando foi construído o edifício da TAP com 2 ou 3 andares houve imensas críticas e agora estão todos silenciosos, bem como, o caso da construção do Hotel Real 5* em plena Av Amilcar Cabral com 6 ou 7 andares, o Hotel Ceiba não está assim tão desenquadrado, mas porque passam licenciamentos de construção para o Centro Histórico de Bissau e porque não aconselham a sua construção por exemplo junto da via rápida que liga ao aeroporto, tal como aconteceu com a construção do Hotel Sheraton/Hotti Hotel/Lybia Hotel e por último Ladger Hotel e mais à frente o Palace Hotel/Embaixada de Angola.
Mas situações destas, infelizmente vêem-se em todo o mundo.
Amigos, reflitam
Abraço
Carlos Silva

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

São comentários,informações,referências,como as apresentadas por Carlos Silva,António Rosinha,Cherno Balde, que tornam este blogue a importante fonte de informação, consulta,e ponto de encontro que é.

Tudo o resto ...............

Um abraço
J.Belo