Hospital Amadora-Sintra > 25 de dezembro de 2020 > O Natal do Valdemar Queiroz... que pediu ao Pai Natal que lhe recitasse, em voz bem alta, o poema de António Gedeão, "Dia de Natal"...
O Pai Natal, com a freima do Natal, respondeu-lhe com mais modos: que tinha mais que fazer (, muitas criancinhas para atender...) e que o nosso doente de dopcê já não tinha direito a brincar ao Natal, que passasse bem e que fosse bater à porta do Blogue dos Camaradas da Guiné... E o Valdemar foi... porque sabe que, aqui, nunca se bate à porta tarde e a más horas...
1. Mensagem de hoje, 26 dez 2020 13:49 , enviada pelo Valdemar Queiroz
Luís.
Bom Natal.
Um pouco atrasado, passei a noite e o dia de Natal nas urgências covid do Hospital Amadora-Sintra (HFF) a tratar da minha DPOC e, como estava relacionado com problemas respiratórios, fui parar aos covid...ados.
Queria enviar o poema de "Dia de Natal", de António Gedeão, para o nosso blogue e agora, calhando, vai fora da Quadra Natalícia. (*)
O Renato Monteiro telefonou-me, e também tem DPOC e está retido em casa sem poder sair. É uma uma grande chatice esta dpocê
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
PS - Anexo o poema Dia de Natal, de António Gedeão e fostos da minha permanência nos covid...ados
Dia de Natal (**)
Luís.
Bom Natal.
Um pouco atrasado, passei a noite e o dia de Natal nas urgências covid do Hospital Amadora-Sintra (HFF) a tratar da minha DPOC e, como estava relacionado com problemas respiratórios, fui parar aos covid...ados.
Deu teste negativo, mais umas bombas e oxigénio e casa com ele.
Queria enviar o poema de "Dia de Natal", de António Gedeão, para o nosso blogue e agora, calhando, vai fora da Quadra Natalícia. (*)
O Renato Monteiro telefonou-me, e também tem DPOC e está retido em casa sem poder sair. É uma uma grande chatice esta dpocê
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
PS - Anexo o poema Dia de Natal, de António Gedeão e fostos da minha permanência nos covid...ados
Dia de Natal (**)
por António Gedeão
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha em pijama.
Ah!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
António Gedeão, in 'Antologia Poética'
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente acotovela, se multiplica em gestos esfuziantes,
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
E como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra –louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar.
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente acotovela, se multiplica em gestos esfuziantes,
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
E como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra –louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha em pijama.
Ah!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
António Gedeão, in 'Antologia Poética'
(Cortesia do portal Citador)
[Poema escrito em 13 de janeiro de 1960]
___________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 25 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21691: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (30): Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf e José Câmara, ex-Fur Mil Inf
(**) O poema já aqui foi "recitado", há quatro anos atrás, pelo nosso camarada Alberto Branquinho:
19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16848: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (4): Alberto Branquinho / António Gedeão (com o poema "Dia de Natal")
10 comentários:
Pois é, querido amigo e camrada Valdemar, até o sacana do Pai Natal não tem tempo para velhadas como nós...
Desde que o gajo matou o Menino Jesus e a magia da Natal da nossa infância, tornou-se um vendido, um lacaio do capitalismo internacional, que não tem pátria nem lei nem Deus!...
Nem sei porque é o deixam andar aí solta... Até no Hospital Amadora-Sintra, imagina!
Ainda bem que vieste paar causa, tratado e com o certficado de validade até pelo meenos aos 100 anos...
Boa continuação das festas... Era só agora o que faltava, o Pai Natal estragar-nos... o Dia de Natal!...
Camarigo Luís
Que bela prenda.
Há sempre os amigos e camaradas da Guiné a consolar-me com palavras como se fossem nozes, figos ou batatas cozidas com bacalhau e couves.
Prós lados da minha terra, nos anos 20-30 do século passado, havia um Pai Natal que adiantava dinheiro pra quem quisesse imigrar pró Brasil. E o Augusto aproveitou e lá foi, deixando cá a Maria e os filhos, e de quando em vez ia escrevendo umas cartas que o Pai Natal lia por a mulher não saber ler nem escrever. Passado mais de ano e sem que o Augusto mandasse algum dinheiro para abater no empréstimo, o Pai Natal escreveu-lhe como se fosse a mando da Maria contando que era preciso que mandasse o dinheiro prometido.
E o Augusto, sabendo que era o Pai Natal que lia as cartas, na resposta escreveu-lhe:
Maria espero que estejas boa de saúde e os nossos filhos que devem estar muito crescidos também. Isto por aqui está difícil de arranjar dinheiro, mas o importante é tu e os nossos filhos terem saúde, comam e bebam e o Pai Natal que se foda.
Abraços
Valdemar Queiroz
Abração
Olá Valdemar.
Ainda bem que foste para casa e que tudo corra pelo melhor.
Já é sina, ires parar ao Hospital nesta data.
As tuas melhoras-
Abraço.
Abílio Duarte
É verdade, Duarte.
Em duas vezes anos atrás tem calhado idas em Dezembro, mas nunca foi no Natal. Provavelmente será na mudança do tempo mais frio, mas não sei. Sei que esta merda está a evoluir com a idade.
O Monteiro também foi agarrado com a mesma chatice e já não sai de casa. Telefonou-me anteontem a desejar Feliz Natal quando comecei a ficar bloqueado, ontem voltou a telefonar.
O ganda Cunha também me telefonou no dia 24 quando ia a caminho da grande ceia e ainda estava com os bofes a funcionar dentro do habitual.
Obrigado a todos pelo cuidado.
Abraço
Valdemar Queiroz
Caro amigo Valdemar,
Diga ao DPOC, gentilmente, que te deixe ainda porque precisamos da tua companhia e amizade, ainda é cedo para ficarmos orfãos.
Se o tal DPOC tem a ver com problemas (dificuldades) respiratórias, então acho que também caminho pra, pois no meu caso os meses de Agosto e Setembro (mais chuvosos, quentes e húmidos) são críticos. Talvez por influência do ambiente do quartel, mais tarde comecei a fumar e assim por 20 anos. Consegui abandonar em 1994, mas ficaram as mazelas.
Um grande abraço e votos de melhoras.
Cherno Baldé
Obrigado, caro Cherno Baldé.
Tens que ter cuidado com essa chatice da DPOC, nada de cigarros/fumo de cachimbo que é uma grande porcaria para a saúde. Eu fumei estupidamente desde criança 15/16 anos quase 50 anos.
A humidade da cacimbada matinal, por esses lados, também é prejudicial para esta doença.
Mas, cá vou aguentado e talvez os "calos" da Ponte Caium, Piche, Canquelifá, enfim da Guiné, sejam algum "tratamento retardatário" no avanço da doença.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz Embaló
Amigos e camaradas, o "humor de caserna" não é cura para os nossos males, mas ajuda a desanuviar a tola...
Para ajudar a manter a autoestima do "doente crónico", há agora uma nova definição de saúde para a malta da nossa idade, de acordo com os gurus da Organização Mundial de Saúde: a saúde já não é a ausência de doença, nem o máximo de bem estar (físico, mental, espiritual..:) mas "a arte e ciência da gestão inteligente e integrada da doença crónica"...
E todos vamos ter uma dúzia delas, inluindo um ou mais cancrozinhos, antes de, aí por volta dos 100 anos, darmos a alma ao criador: umas do foro músculo-esquelético, outras do sistema respiratório, outras ainda do aparelho circulatório, digestivo, reprodutor, e por aí fora"...
Em suma, protésicos, amnésicos, radioativos... mas ainda "saudáveis"!
PS - Vou ver se dou uma apitadela ao Monteiro, que raramenet aparece por aqui...
Eh, Valdemar!
Que nunca esse tal DOPC e quejandos te inibam de continuar a foguear os posts e comentários do Blogue LG&CG!
Quem teve bofes para superar os males e maldades bélicas escondidas ou aprontados nas estradas Nova Lamego-Canquelifá e Buruntuma - também sou um deles, levei com 17 minas anticarro nelas e passei problematicamente a Páscoa de 1965 a comandar o problemático destacamento pontão de Camajabá - teve direito ao seu endurance contra tais maleitas.
Pegando na deixa do Luís Graça, se retirasses o P, a sigla ficava DOC - e, quem sabe, se em algum momento melhorarias, se substituísses as habituais "bombas" pelas conhecidas "ampolas bebíveis" de origem vegetal (com moderação, não te esqueças...)
Votos de rápidas melhoras e de feliz Ano Novo para ti, para os comentaristas do teu post, extensivos a toda a malta da nossa Tabanca Grande.
Abr.
Manuel Luís Lomba
Caro Luís Lomba
É cá um DOC que até tira o folgo. Tomara eu, nem que fosse de origem descontrolada.
O outro dizia que Jesus foi cruxificado para nos salvar e então por que continuamos a sofrer, nós dizemos quem passou pelas maldades escondidas nas estradas da Guiné merecia ter melhor caminho para chegar ao céu. E se lá nos esperasse um DOC de ampolas bebíveis de origem vegetal, queríamos lá saber da moderação que os passarinhos eram a sério.
Obrigado pelo teu cuidado.
Bom Ano
Abr.
Valdemar Queiroz
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