Eduardo Estrela: vive em Cacela Velha, (en)cantatada por Sophia,
e que pertence a Vila Real de Santo António
[O nosso editor LG pertenceu, juntamente com ele, ao 3º turno do CSM, em Tavira, ele era da 3ª companhia, e eu da 4ª Companhia; partimos no mesmo dia, 24/5/1969, para o CTIG, no T/T Niassa, ele integrando a CCAÇ 2592, eu a CCAÇ 2590, futuras CCAÇ 14, de tropas mandingas, e eu a CCAÇ 12, de tropas fulas, respetivamente; ele seguiu para o CIM de Bolama, eu para o CIM de Contuboel: disse uma coisa interessante: a CCAÇ 14 não era etnicamente homogénea: tinha dois pelotões de mandingas, um de manjacos e outro de felupes, acabando depois por fazer trocas com as companhias africanas: os manjacos devem ter ido, por exemplo, para a CCAÇ 16: a lógica era pôr as tropas locais a defender o seu "chão"... Estivemos um bom bocado ao telefone a recordar estas peripécias da vida; tem 3 filhas, vai passar o Natal sozinho com a esposa, porque a saúde é quem mais ordena...]
Data: quinta, 17/12/2020 à(s) 22:45
Assunto: Boas Festas
Boa noite, Luís!
Do Sul, mando um fraterno abraço a todos os tabanqueiros, desejando um bom Natal e melhor Ano Novo, na companhia das famílias e amigos. Cuidemo-nos, façamos dos "abrigos " das máscaras, da higienização das mãos e da distância física, a nossa e dos outros defesa. O vírus anda á solta e compete-nos como operacionais que fomos e somos, emboscá-lo e destruí-lo.
Natal de 1969. Manhã de 24 de Dezembro. Três grupos de combate, dois da CCAÇ 2549 e um da CCAÇ 14, saem para o mato para interditaram os carreiros de infiltração do corredor de Sitató. O grupo da 14 é o meu. Habitualmente saem dois grupos de combate por períodos de 48 horas, permanentemente, mas porque é Natal e há informação de movimentos do PAIGC na zona, saímos mais reforçados.
Executamos os procedimentos habituais montando emboscadas nos terceiro e segundo carreiros de infiltração utilizados pelas forças dos guerrilheiros, não há contacto, passa-se o dia e a noite de 24 e no dia 25 por volta das 9,30 da noite, quando estávamos instalados para descansar um bocado, rebenta um brutal bombardeamento ao aquartelamento de Cuntima.
O PAIGC tinha instalado as armas pesadas no Senegal, junto á linha de fronteira e cá vai disto. A noite estava escura e a luminosidade dos rebentamentos era impressionante. Felizmente foi mais o barulho e a imagem das granadas a estoirar do que os danos físicos e materiais provocados.
Esse foi o meu/nosso primeiro Natal passado na Guiné. O confinamento vai obrigar-nos a ter cuidados redobrados e a não termos toda a família connosco, mas hão-de vir melhores dias e vamos poder usufruir outra vez em pleno, das coisas boas da vida que nos rodeia.
Boas Festas
Eduardo Estrela
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