quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21680: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (23): Os meus/nossos três Natais no CTIG (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)


Foto 1 > Ponta Coli (1972) > situada na estrada Xime-Bambadinca > local de muitas memórias do colectivo da CART 3494, tais como: (i) Local do "baptismo de fogo" dos elementos do 4.º Gr Comb, em 22 de Abril de 1972, em acção dirigida pelo Cmdt Mário Mendes (1943-1972); (ii) local da primeira baixa (a única em combate), em 22 de Abril de 1972, a do fur mil art Manuel da Rocha Bento (1950-1972): (iii) Local da segunda emboscada sofrida por elementos do 4.º Gr Comb, em 01 de Dezembro de 1972, devido a acção dirigida pelos Cmdts Mamadu Turé e Pana Djata. (iv) Local da recolha de cadáveres de dois guerrilheiros participantes na emboscada acima, incluídos no grupo de assaltantes (ou de assalto), e das suas respectiva armas: uma Kalashnikov (AK47) e um RPG. Os seus corpos foram inumados no cemitério de Bambadinca.

 

O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo; tem cerca de 270 referências no nosso blogue.

BOAS FESTAS

em tempo de pandemia "COVID-19"

RECORDAR É… TORNAR PRESENTE!

OS TRÊS NATAIS DA MISSÃO ULTRAMARINA NO CTIG


Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada [RAP 2], da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Artilharia 3878 [BART 3873], do TCor António Tiago Martins [1919-1992], embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», rumo ao TO do Comando Territorial Independente da Guiné [CTIG], numa altura em que o conflito armado contabilizava nove anos.

A sua chegada ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau, ocorreu a 29 de Dezembro, 4.ª feira.


 

Foto 2 > Cais da Rocha > Lisboa > 22 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Mais um contingente de cerca de mil e quinhentos jovens milicianos rumo ao TO do CTIG. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.


1.º NATAL (1971) a BORDO DO «NIASSA»

Ao terceiro dia de uma viagem de seis, mas que era só de ida pois o regresso não tinha data marcada, teve lugar a consoada de 1971, realizada em pleno Alto Mar, talvez na linha imaginária de Santa Cruz de Tenerife, no Oceano Atlântico Norte.

 



Foto 3 > Cais do Pidjiguiti > Bissau > 29 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Desembarque do contingente metropolitano da foto 2. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.

2.º NATAL (1972) NO XIME

Decorrido um ano da sua missão ultramarina no CTIG que, pode aceitar-se, coincidiu com a comemoração da primeira festa natalícia fora do contexto familiar do colectivo da CART 3494, esta a bordo do «Niassa», este voltou a sentir o ambiente simbólico dessa secular celebração religiosa anual, nomeadamente os membros da família cristã.


Esta segunda reunião natalícia, que por tradição cultural sempre foi considerada de relevante significado espiritual, incluindo o meio militar, foi organizada no Aquartelamento do Xime, espaço físico onde ficou instalada durante catorze meses a partir do qual operacionalizava as diversas acções diárias que lhe haviam sido confiadas.


Esta cerimónia, ainda que não tenha sido possível reunir todo o contingente da Unidade, pois 2.º Gr Comb estava destacado no Enxalé, sempre ajudou a elevar um pouco mais o ânimo individual, reforçando a solidariedade e o companheirismo entre os seus pares, valores importantes num contexto geográfico considerado de excepcional importância estratégia para a mobilidade da logística militar, e de civis, entre Bissau e a restante Região Leste, o primeiro por via marítima (rio Geba) e depois por meio rodoviário (e vice-versa) e, por isso mesmo, de grande exigência e rigor, logo de elevada inquietação e labor nos múltiplos desempenhos.

 


Foto 4 > Xime > Natal/1972. Alguns dos militares participantes no almoço/convívio, distribuídos por mesas colocadas na Messe de Oficiais.

 


Foto 5 > Xime > Natal/1972. Em primeiro plano; de pé, António Costa [1.º C]; José Pacheco [20.º Pel Art]; Jorge Araújo e Mário Neves [Furriéis].

 


Foto 6 > Xime > Natal/1972. Da esquerda para a direita: 1.º Sarg Orlando Bagorro [, morreu em 2018]; 1.º Sarg Carlos Simões; Alferes Manuel Gomes [morreu em 2014; metade do rosto]; Alferes José Araújo [-2012]; Alferes Maurício Viegas [20.º Pel Art]; D. Idalina Carvalho Pereira Jorge Martins; esposa do Cmdt BART [1923-2011]; TCor António Tiago Martins [1919-1992; Cmdt BART 3873]; Cap Mil Luciano Costa [3.º Cmdt da CART 3494] e Alferes Serradas Pereira [de costas].


3.º NATAL (1973) EM MANSAMBO


Já com vinte e quatro meses de comissão, mas agora em Mansambo, para onde seguimos em Março do mesmo ano, por troca com a CART 3493, realizou-se a 3.ª reunião natalícia, num tempo que ainda não era possível prever ou "adivinhar" o regresso ao Continente (à Metrópole), o qual só se veio a concretizar nos primeiros dias do mês de Abril de 1974, ou seja, a três semanas do «25 de Abril».

 


Foto 7 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Serradas Pereira [Alferes]; António Costa, de pé [1.º C]; Luciano Costa [Cap Mil, 3.º Cmdt da 3494]; Lobo da Costa [Alferes]; João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873]; Carvalhido da Ponte [Furriel] e Cláudio Ferreira, de costas [Furriel].

 


Foto 8 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Carola Figueira [1950-2017; Furriel]; António Costa, de pé [1.º C]; Orlando Bagorro [-2018; 1.º Sarg]; Serradas Pereira [Alferes]; Luciano Costa [Cap Mil 3.º Cmdt da 3494]; Jorge Araújo, de pé [Furriel]; Lobo da Costa [Alferes] e João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873].

 


Foto 9 > Mansambo > Natal/1973. Mesa 1 [esq.]: Abílio Oliveira; mesa central [esq/dtª]: João Godinho; Mendes Pinto; Sousa Pinto [1950-2012] e Benjamim Dias; mesa 3 [dtª]: Carvalhido da Ponte e Jorge Araújo – todos furriéis.

Termino esta pequena resenha histórica natalícia enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa TABANCA GRANDE, e aos leitores assíduos do nosso blogue, os meus votos de BOAS FESTAS, ainda que o cenário de pandemia provocada pelo «coronavírus» nos imponha algumas restrições. Nós, os ex-combatentes, sabemos bem, por experiência própria, o que significa o conceito de "confinamento".

BOM NATAL E UM MELHOR 2021

Muitas Felicidades.

 

Com um forte abraço de amizade, e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

20DEZ2020.

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21677: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (22): Natal Santo que a todos nos abraça... (João Afonso Bento Soares, maj gen ref)

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, não há muita malta que tenha apanhado três Natais na Guiné... De qualquer mnodo, deixa-me felicitar-te por esta reconstituição... O teu BART 3873 deve ter sido uma exceção: não me lembro de os comandantes dos "meus" BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72) terem ido ao "mato" passar o Natal com os seus homens (Xime, Mansambo, Xitole...).

É verdade que (ainda) não havia estrada alcatroada de Bambadinca para o Xime no meu tempo...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, não sei de o teu comandante, o ten cor António Tiago Martins, que repousa há muito na terra da verdade, em São João da Trapa, São Pedro do Sul, foi um bom militar... Deve ter sido, pelo menos, um bom homem. E os dois atributos devem estar associados.

O simples facto de ele ter deixado o conforto relativo de Bambadinca, para passar o Natal de 72 convosco no Xime (, almoço ou jantar, não importa) é suficiente para eu ter que prezar a sua memória...Ele teria nesta altura 52 ou 53 anos, era da idade do meu pai...

Registo também aqui o nome da esposa que o acompanhou: Idalina Carvalho Pereira Jorge Martins, igualmente já falecida... A Guiné não era para todos... Mas este casal deve ter merecido o vosso respeito... LG

Jorge Araujo disse...

Caro Luís,

Boa tarde.

Obrigado pela tua ajuda na postagem da presente mensagem de BOAS FESTAS... em tempo de pandemia.

Agora, mais às claras, dei de caras com uma gralha da minha responsabilidade. Na foto 2, o dia indicado - 29 de Dezembro de 1971 - não está correcto: é 22 de Dezembro, como está referido no primeiro parágrafo. As minhas desculpas,

Quanto às Unidades com três Natais no CTIG, apenas conheço os seguintes casos:

1. - BCAÇ 372 (Galomaro) e as suas três unidades de quadrícula: CCAÇ 3489 (Cancolim); CCAÇ 3490 (Saltinho) e CCAÇ 3491 (Dulombi).
2. - E ainda as Unidades Independentes: CCAÇ 3518 (Gadamael); CCAÇ 3519 (Barro) e CCAÇ 3520 (Cacine, Cameconde, Guileje, Gadamael e Quinhamel), estas formadas na Região Autónoma da Madeira, e a CART 3521 (Piche), do RAP2.

O BCAÇ 3872 e as suas três Unidades embarcaram em Lisboa, a 18 de Dezembro de 1971, a bordo do N/M «Angra do Heroísmo», onde, dois dias depois, no Funchal, entraram as três Companhias de Madeirenses. O desembarque verificou-se na véspera do dia de Natal'1971, desconhecendo, eu, o que aconteceu nessa noite e no dia seguinte.

O regresso deste contingente ocorreu em 27 de Março de 1974, a bordo do N/M «Niassa», com escala no Funchal, viagem em que também participei. A chegada a Lisboa aconteceu a 04 de Abril de 1974.

Sobre a pessoa do Cmdt do BART 3873, Tcor Tiago Martins, apenas privei com ele duas vezes:

a 1.ª (alguns dias antes do Natal de 1972) = A propósito de um ataque matinal, perpetrado pelos guerrilheiros do PAIGC a partir da área da Ponta da Varela, tendo por alvo uma embarcação civil que navegava no Rio Geba, onde se verificaram alguns feridos. Depois do almoço, e sem ninguém prever ou saber, o n/ Cmdt apareceu no Xime seguindo em direcção ao Comando da Companhia, que era, então, o Cap Mil Luciano Costa.

Pediu-lhe para organizar uma "força" para o acompanhar ao local donde, eventualmente, se tinha realizado o ataque. Mobilizado o Gr Comb de "intervenção", no qual eu estava incluído, saímos no cumprimento da missão. Durante a progressão colocou-se na minha retaguarda, pelo que durante a marcha tivemos a oportunidade de estabelecer alguns diálogos.

Resultado da missão: não aconteceu nada...

a 2.ª = Foi no almoço de Natal'1972 no Xime, conforme se dá conta nas fotos acima.

Reforço os meus votos de BOAS FESTAS.
Um abraço,
Jorge Araújo.

Jorge Araujo disse...

Atenção;

No ponto 1: onde se lê BCAÇ 372, deve ler-se BCAÇ 3872... naturalmente. O teclado "comeu" o algarismo «8».

J.A.

Valdemar Silva disse...

Quem conheceu o Xime, e sabendo dos constantes ataques ao aquartelamento e tabanca, sabe do grau de perigosidade que o Cmdt. do Batalhão e a sua esposa ficaram sujeitos. Tempos antes, até os soldados da CCAÇ.12 se recusaram ir para o Xime.
Como a demais tropa, provavelmente, passaram noite nos abrigos e puderam testemunhar as más condições que todos passavam no "mato".
É de louvar este procedimento, assim como foi de louvar o Cap. Mil. Analido Pinto, Cmdt. da minha CART.11, trocando o "bem bom" de Nova Lamego, ter ido passar o Natal de 1969 no "mato" com os nossos dois Pelotões em Canquelifá.

Boas Festas
Valdemar Queiroz

Jorge Araujo disse...

Luís... a "coisa" hoje não está a correr bem.

Mais uma gralha monumental: onde se lê "Ponta da Varela", deve ler-se «PONTA VARELA»... como foi possível escrever esta "calinada"?

Talvez, devido a estar envolvido em diferentes textos em simultâneo.

J.A.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É, estamos com a "cabeça" em vários sítios, a fazer várias coisas, etc... Como se costuma dizre, fica o "canal único" entupido, como da Mancha...

Já corrigi a legenda da foto nº 2: se vocês tivessem partido depois do Natal, não podias pôr do currículo 3 Natais no CTIG..., se bem que o 1º seja a caminho de...

Espero que o bacalhau esteja lascudo e temperado q.b. Bebe um copo por mim, que estou a precisar!... Luís

Carlos Vinhal disse...

Sem querer ser "desmancha prazeres", "tecnicamente" o Jorge e os seus companheiros não passaram três natais na Guiné, já que a comissão de serviço só começava após o desembarque no CTIG, no caso, 29 de Dezembro.
Inegável que lhe(s) estragaram 3 natais, uma indecência e falta de sensibilidade, por, por dias impedir que quem já condenado, pelo mínimo ao degredo e pelo máximo à morte, passasse junto da família uma das quadras festivas mais importantes da cristandade, para alguns até a última vez.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Jorge Araujo disse...

Caro Vinhal,

Obrigado pelo teu oportuno comentário. Por isso, não é, sem poderia ser considerado "desmancha prazeres", pois o que referes está correctíssimo. Contudo o meu título (também) é esclarecedor «Os três natais da missão ultramarina no CTIG»: o 1º a "Bordo do Niassa", o 2º no "Xime" e o 3º em "Mansambo".

Um grande abraço e BOAS FESTAS.
Jorge Araújo.