segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21671: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (18): recordando o meu Natal no mato, em Piche, 1970 (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)



Guiné > Região de Gabu > Piche > BCAV 2922 (1970/72) > Jantar de Natal de 1970 > Em primeiro plano, uma travessa de leitão... A cerveja era Cristal... Dos comensais, reconheço da esquerda para a direita, os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni (no topo da mesa) , eu e, à minha esquerda,  o Ferreira (Trms da CCav 2749)-



Guiné > Região de Gabu > Piche > BCAV 2922 (1970/72)  >  Jantar de Natal de 1970 > Um brinde!...  (com Martini ?)...Em primeiro plano, do lado esquerdo o Luís Borrega, de camuflado (CCav 2749) (, infelizmente já falecido, em 2013) e à direita o Herlander (Vagomestre da CCav 2749), sendo que os restantes são os que estão na outra foto. os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni (no topo da mesa), eu e, à esquerda,  o Ferreira (Trms da CCav 2749).


Fotos (e legendas): © Hélder Sousa(2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Hélder Sousa, (ex-fur mil trms, TSF, Piche e Bissau, 1970/72):

Foto atual à esquerda: 

(i) é membro da nossa Tabanca Grande desde  10 de abril de 2007; 

(ii) nosso colaborador permanentem, tem cerc de 170 referências no nosso blogue;

(iii) foi Furriel Miliciano de Transmissões, do STM, cumprindo a comissão de serviço na Guiné entre 9 de Novembro de 1970 e 10 de Novembro de 1972, tendo estado cerca 7 meses em Piche (ao tempo do BCAV 2922, 1970/72 e o resto da comissão ao serviço do Centro de Escuta e de Radiolocalização do Agrupamento de Transmissões da Guiné;

(iv) natural de Vila Franca de Xira, mora em Setúbal, é engenheiro ténico;

(v) tem página no Facebook.


Data:20/12/2020, 18h02
Assunto: Texto para o Natal, no Blogue.

Caros amigos

A propósito do Natal e das nossas memórias sobre estas efemérides e para enquadramento nesta "campanha" de "Natal em rede", aqui envio um texto que na sua maioria foi publicado na "Tabanca do Centro" e de que obtive o consentimento para esta republicação "corrigida e melhorada".
O texto vai acompanhado das fotos referidas e de uma foto minha mais recente,

Aproveito também a ocasião para endereçar os meus votos de "Boas Festas" e a esperança de que o "Novo Ano" possa ser um "Ano Novo", com o retomar dos nossos "encontros".

Abraços
Hélder Sousa


OS MEUS NATAIS NA GUINÉ 

por Hélder Sousa

É normal e natural que encontremos memórias das coisas que se passaram quando as respetivas datas nos “batem à porta”. Por isso, muito recentemente, encontramos aqui no Blogue as memórias das “partidas” ou das “chegadas” que muitos camaradas nos relataram, tendo em conta a data do Natal e que agora é mesmo, também, objecto das recordações de como essa época, essas festividades foram passadas ou vividas durante a nossa permanência em terras da Guiné.

Deste modo, e tendo em conta dar o meu contributo para o conhecimento de como os meus Natais, principalmente o que fará agora 50 anos, ocorrido em 1970, foram vividos, fui repescar um texto que escrevi a propósito disso para a “Tabanca do Centro”, com a devida vénia e autorização de “pessoa amiga”, que aqui utilizo com os acrescentos que, entretanto, introduzo.

Ora, tendo chegado à Guiné em Novembro de 1970 e regressado em Novembro de 1972, é certo que os Natais de 1970 e de 1971 foram passados durante esse período e como por essas épocas não estive de férias, é então certo que foram passados lá.

O problema é que tenho pouca memória desses eventos. O Natal de 1970 foi passado “no mato”, em Piche, onde estive agregado ao BCAV 2922 desde o início de Dezembro desse ano até quase ao fim da Maio do ano seguinte.

Desse Natal de 1970 muito pouco relembro. Procurei apoio de memória em dois camaradas que estiveram comigo no CSM em Santarém e que integravam o referido Batalhão, os então Furriéis Fernando Boto e Herlander Almeida mas nada consegui que me pudesse ajudar.

O Boto disse-me que, após a Guiné, “apagou” todas essas memórias e que não me poderia valer. O Herlander foi no mesmo sentido, que não se lembra praticamente de nada, mas que agradece tudo o que eu tenho feito (escrito) e que, em certa medida, também o ajuda.

Quem poderia ser mais contributivo era o Luís Borrega, também membro da “Tabanca Grande” mas, entretanto, já falecido. Quando vivo, foi um dos impulsionadores de encontros e convívios entre o pessoal das várias Companhias desse Batalhão e mesmo de encontros parcelares. Portanto, por aí, também nada consegui.

Contudo, tenho umas fotos que o Borrega em tempos me facultou e que julgo terem sido desse Natal de 1970 e de aqui junto duas delas.

Na que diz “Jantar Natal 1970” em que se vê uma travessa com leitão, reconheço da esquerda para a direita, os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni, eu e o Ferreira (Trms da CCav 2749) à esquerda.

Na foto que diz “Brinde”, que se passa na mesma mesa, tem agora em primeiro plano do lado esquerdo o Luís Borrega, de camuflado (CCav 2749) e à direita o Herlander (Vagomestre da CCav 2749), sendo que os restantes são os que estão na outra foto.

Não me recordo de pormenores mas tenho a ideia que foi uma noite passada com alegria, nesse jantar, com a protecção adequada no exterior. Depois, no recato, em solidão, os pensamentos voaram para longe, para junto dos familiares tentando visualizar como estariam de saúde e como estariam celebrando essa ocasião.

Já o Natal de 1971 foi passado em Bissau.

Estava de serviço no meu turno na “Escuta” que, recordo bem, era das 19:00 de 24 às 01:00 já do dia 25 de Dezembro.

Por tal motivo não participei no jantar coletivo que ocorreu na Messe de Sargentos do QG em Santa Luzia, que contemplava o “velho” bacalhau, pois comi mais cedo e tive direito a um reforço alimentar, composto por duas sandes de queijo e fiambre e uma lata de leite com chocolate, holandês. Dadas as circunstâncias não tenho nenhuma foto ilustrativa.

Recordo apenas que durante a solidão do turno tive tempo, muito tempo, para me interrogar sobre o que fazia ali, sobre o que e como seria o futuro após o fim da comissão, sobre o que e como poderia fazer para contribuir para que aquela guerra não se prolongasse indefinidamente.

Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
_________

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Diz-me lá, meu malandro, onde é que vocês (ou melhor, talvez o vagomestre da CCAV 2749, o Herlander Almeida) foram "desencantar" os leitóes para a consoada de 1970... Piche era chão fula... Os leitões só eram criados, na minha zona (Bambdainca), pelos animistas e pelos cristãos...

Seria "leitão turra" ?

Por outro lado, é de sublinhar as "brancas" da rapaziada... Refiro-me aos "buracos negros" da nossa memória... Dizes tu:

(...) O problema é que tenho pouca memória desses eventos. O Natal de 1970 foi passado “no mato”, em Piche, onde estive agregado ao BCAV 2922 desde o início de Dezembro desse ano até quase ao fim da Maio do ano seguinte.

Desse Natal de 1970 muito pouco relembro. Procurei apoio de memória em dois camaradas que estiveram comigo no CSM em Santarém e que integravam o referido Batalhão, os então Furriéis Fernando Boto e Herlander Almeida mas nada consegui que me pudesse ajudar.

O Boto disse-me que, após a Guiné, “apagou” todas essas memórias e que não me poderia valer. O Herlander foi no mesmo sentido, que não se lembra praticamente de nada, mas que agradece tudo o que eu tenho feito (escrito) e que, em certa medida, também o ajuda" (...)

Eu bem gostava de "apagar" algumas das memórias mais "negras" (, sem conotação racista...) dos meus tempos de Guiné... mas não consigo. Vale-me a "blogoterapia"...

Dos meus dois Natais (1969 e 1970) também esqueci...

Que tenhas um Natal de 2020 tão bonzinho quanto possível... E um melhor Ano de 2021 para todos... Da Madalena, com um chicoração grande. Luís

Valdemar Silva disse...

Helder
Piche, qual Manteigas ou Castro Laboreiro, excelente local para passar o Natal, com ementa natalícia da região e tudo.
Um ano antes, 1969, também passei por Piche a caminho de passar a Natal em Canquelifá. Paramos uns dias em Piche, não deu para pescar leitões para o Natal mas abarbatamos umas granadas de bazuca e morteiro "esquecidas" que saldaram as nossas perdidas no mato.
Também não tenho memória desse Natal na Guiné e é interessante, também, não ter fotografias desse dia e por isso não me lembrar.

Feliz Natal
Valdemar Queiroz

Hélder Valério disse...

Caros amigos

As questões que levantam fazem, de facto, algum sentido.
Mas nem sempre há explicações fáceis e/ou imediatas.

O leitão, embora eu não estivesse "por dentro" do assunto, até porque por essa ocasião teria aí entre duas a três semanas em Piche e não teria socializado o suficiente, é mesmo muito provável que tivesse sido "arranjado" pelo Herlander.
Digo isto porque, tempos mais tarde, estive com ele e outro Furriel, de que não tenho a certeza mas que creio ter sido o José Centeno, do Pel. Art. de Piche (hoje um renomado artista no Porto) na casa do Chefe do Posto (civil) a comer um leitão no forno com arroz no bucho, arranjado pelo responsável da "Casa Gouveia". Ora, como parece ser recorrente, o "homem da Casa Gouveia" era caboverdeano e, já se sabe, "os caboverdeanos jogavam com pau de dois bicos" (conforme a "voz da caserna") e dizia-se que este de que falo, em particular, teria sido visto na sua (dele) motorizada a fazer sinais de luzes no final da pista.
Portanto.... juntando as pontas..... o leitão poderia ser "turra" ou "aparentado".

O obliteramento da memória, ou parte dela, ou até mesmo a "memória selectiva", creio que não é assim um processo tão estranho. Ocorre-me, agora mesmo, o caso de um amigo com o qual trabalhei e interagi na Sapec, nosso "camarada da Guiné" onde foi Capitão no final dos tempos, e que também resolveu escrever um livro ("Guiné - para além das balas") onde pudesse homenagear a lembrança dos homens que estiveram sob o seu comando e ao referir-se à Unidade sob o seu comando indica a "1ª Companhia de Caçadores de Infantaria, integrada num Batalhão de cujo nome não quero recordar-me, como diria Cervantes".
Daqui se pode concluir que, muitas vezes, o "esquecimento" pode ser motivado como um processo de "defesa".

Quanto a Piche ser "um excelente local para passar o Natal", como refere, não sem alguma ironia, o Valdemar, a verdade é que, tendo em conta as circunstâncias, gostei mesmo muito de lá ter estado. Claro que "não ser operacional" ajudou muito a ter este "entendimento"...

Obrigado pelos votos de Boas Festas e que o Novo Ano possa realmente ser um "Ano Novo", com a esperança de que se possa recomeçar com mais força e vontade.

Hélder Sousa