segunda-feira, 29 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22048: Tabanca Grande (517): Jean Soares, ex-1º cabo de radiolocalização, Batalhão de Reconhecimento de Transmissões (Trafaria, e Maquela do Zombo, 1972/75): enfermeiro psiquiátrico reformado, a viver em França, em Caen, Normandia, e que está a tentar a recuperar a nacionalidade portuguesa que perdeu... Nasceu em Pirada... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 839.



Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Pirada > s/d  [c. meados 1950]  > O João Pinheiro Soares, talvez com 4 anos, brincando com um jipe da MP [Polícia Militar] dos EUA


Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Pirada > s/d  [c. 1960] > O jovem João Pinheiro Soares, na fronteira do Senegal, nas férias grandes, com um chefe de posto administrativo à sua direita e um alferes miliciano do Exército Português à sua èsquerda


Foto nº 2A >  Região de Gabu > Pirada > s/d  [c. 1960] > O nosso  jovem  , na fronteira do Senegal, nas férias grandes, com um chefe de posto administrativo   


Foto nº 2B Região de Gabu > Pirada > s/d  [c. 1960] > Possivelmente m alferes miliciano  do Exército Português, das primeiras subunidades que passaram por aquelas bandas. Esta foto deve ser anterior ao Carlos Geraldes (1941-2012),  ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66.



Foto nº 3 >  Região de Gabu > Pirada > s/d  [c. meados de 1960 ] > O jovem João Pinheiro Soares, já com 13 ou 14 anos (o primeiro à direita), num jantar de família, tendo à sua direita a mãe,o pai, duas irmãs e outros familiares. Os dois  adultos, no lado esquerdo, devem ser militares.

 Sabemos, pelo nosso saudoso Carlos Geraldes, que foi amigo  e "hóspede" do comerciante de Pirada, que em 1964/65, era casado, tinha duas filhas e um filho e era natural de Lisboa. É possível o Carlos que  tenha intencionalmente  trocada os nomes dos familiares para proteger as suas verdadeiras identidades..., mas Luísa seria o nome da esposa, Rosa, o da  filha mais velha, e o filho do meio era José  (e estudava em Lisboa) (, na realidade era o nosso João, ou Jean Soares). A mais nova, Eva Lúcia, tinha nascido em 11/9/1957. O Carlos Geraldes chamava M. Santos ao Mário Soares. 

Por email de hoje, o Jean Soares acrescentou o seguinte a respeito desta foto:

(...) "O senhor Carlos Geraldes nâo tenho lembranças em o ter visto, infelizmente. Na fotografia da família está um alferes e o médico da companhia que gostava muito de fado. O nome da minha mãe era Irene ( morreu o ano passado com 102 anos) e as minhas irmãs sâo a Nini (Maria Irene) e a Ana Maria. O outro médico que esteve em Pirada foi o Dr. Luís Goes já falecido." (...)




Foto nº 4 > Guiné Região de Gabu > Pirada > s/d [c. meados de 1960 ] > O jovem João Pinheiro Soares, com um dos empregados da família. (Seria o Demba, de que nos fala o nosso saudoso camarada Carlos Geraldes, em 1964 ?)



Foto nº 5  > Bilhete de Identidade Militar do soldado recruta João Pinheiro L.P. Soares, emitido pelo R I 7 [, Leiria,] em 10/7/1972


Foto nº 5A > Assinatura do João Pinheiro L.P.Soares, nº mecanográfico 101687/72


Fotos (e legendas): © Jean Soares (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Mensagem de Jean Soares, filho do c0merciante de Pirada, Mário [Rodrigues] Soares,vivendo desde 1975 em França, atualmente em Caen, Normandia.



Jean Soares, 70 anos, 
nascido em Pirada, Gabu, Guiné-Bissau.
Vive em França. Foto atual.



Sold reruta nº
mecanográfico  101687/72
 
Data - quarta, 24/03, 15:11 
Assunto - Mário Rodrigues Soares


Senhor Luís Graça,

Muito obrigado em ter publicado no seu blogue a minha história e tentar ajudar -me (*).

 Vou tentar responder às suas perguntas:


1. A minha história de vida:

Chamo-me Joâo Pinheiro Loio Pequito Soares, tenho 70 anos e nasçi em Pirada [, hoje Guiné-Bissau], aí vivi até aos 6 anos.


Nesse ano fui para Lisboa viver com a minha avó paterna, na calçada de Sant’ana [, freguesia da Pena], tendo feito os meus estudos até o serviço militar. 

Todos os anos ia a Pirada durante as férias grandes (4 meses).

Após o serviço militar ,  em 1975 fui para a França fazer os meus estudos , casei, e obtive a naçionalidade francesa. Fui enfermeiro em psiquiatria e estou reformado desde 2011. Tenho 2 filhos e 3 netos. Hoje moro na Normandia, na cidade de Caen.  [Hoje uma belíssima cidade, que foi quase totalmente destruída durante a II Guerra Mundial, justamente na sangrenta batalha da Normandia, iniciada em 6 de junho de 1944. (LG)]

2. Regresso de meu Pai a Lisboa, em  1975:

Quando chegou, foi para a prisâo de Caxias, por ordem do  pela Copcon,  tendo saído livre mais tarde.

Tentou uma nova vida em Aljezur,  criando uma fábrica de mármore e um restaurante mas sem sucesso e com muitos problemas pessoais (, incluindo o divórcio em 1983).

Das poucas relações que guardou em Portugal foi com o senhor Comandante Alpoim Calvão,
faleçido em 2014, em Cascais.

3. Relações com o meu Pai :

Tenho a recordação de um pai "distante, ausente",  durante a minha infância. 

Na adolescência não partilhava as paixões dele,  como a política, a vida social, mas sempre o admirava.

De 1984 a 1995 (ano da sua morte), ficávamos muito juntos com a presença dos seus netos todos os anos durante as férias, na Quarteira,  com a sua segunda esposa.

Os meus respeitosos cumprimentos
Jean Soares

P.S. - Junto envio fotos de documentos militares meus [. Fotos nºs 5, 6 e 7], fotografias de oficiais em nossa casa em Pirada [, Foto nº 3]  e na fronteira com o Senegal [,Foto nº 2], uma  foto quando tinha 4 anos  [Foto nº 1] e que se parece com aquela em que me enganei (*),  assim como o livro que fala do meu pai, de António Ramalho de Almeida  (páginas 125 a 140) [Vd, capa, Foto nº 8]

Espero que compreenda, depois de ter lido a minha história e a do meu pai,  que vou passar o resto da minha vida a bater-me para recuperar a minha nacionalidade portuguesa e a minha caderneta militar.

Obrigado pela atenção.
 



Foto nº 6 > Passaporte militar: licença, com data de 6 de maio de 1975, assinada pelo comandante do Batalhão de Reconhecimento de Transmissões, autorizando o 1º cabo de radiolocalização nº 101687/72 João Pinheiro Loio [, no original Loiro, erro dactilográfico,] Pequito Soares, na situação de disponibilidade, a ausentar-se do país "a título eventual, por espaço de tempo não superior a noventa dias"...


Foto nº 7 > Documento passado pelo Consulado Português do Havre, com data de 10 de maio de 1978.


Foto nº 8 > Capa do livro de António Ramalho de Almeia (**), que conheceu em Pirada o comerciante Mário Soares. 


Luís Graça, editor

II.  Mensagem do editor LG, enviada no passado domingo, 28,às 11h23:


Jean, obrigado pela partilha. Vamos tratar-nos por tu, como mandam as nossas regras da Tabanca Grande. Facilita a comunicação. E de resto somos/fomos camaradas (de armas) e amigos da Guiné. O enfoque deste blogue (com 17 anos!) é a partilha de memórias (e de afetos). 

Vejo que estiveste ligado à saúde toda a vida. Este blogue deve ser salutogénico. Eu próprio sou da área da saúde: socíólogo, doutorado em saúde pública, docente da Escola Nacional de Saúde Pública. Estou com 74 anos, já aposentado. Tenho uma mana mais nova que é enfermeira e dois filhos "psis", ele psiquiatra (em oncologia) e ela psicóloga...

Diz-me se posso partilhar no blogue a tua história,incluindo as fotos... E se aceitas integrar a Tabanca Grande (tertúlia): já tenho as 2 fotos da praxe, uma atual e outra mais antiga. Se sim, passas a ser o membro nº 839. Temos um "livro de estilo" com 10 regras de "convívio" que todos procuramos respeitar.
 
Jean, tu dando a cara no blogue, facilitas também a resolução do teu problema. Haverá mais gente a interessar-se pelo teu caso. Tens o meu/nosso apoio. E vais reaver a tua nacionalidade portuguesa. O teu processo militar deve estar no Arquivo Histórico-Militar (de momento fechado, por causa da situação pandémica).

O autor do livro cuja capa nos manda,foi visita do teu pai, e é amigo de dos nossos coeditores, o Virgínio Briote

Fico à espera da tua resposta. Luís

4. Resposta pronta do novo membro da Tabanca Grande, nº 839. Jean Soares (***):

(...) "É com honra que aceito integrar a vossa Tabanca Grande com o número 839; li as 10 regras de »convívio" e aceito partihar no vosso blogue a minha história mais  as fotografias." (...)

_____________



(...) António Ramalho de Almeida, estudante de medicina em 1963, foi mandado apresentar-se em Mafra para efectuar a recruta, após a qual foi destacado para a EPC em Santarém, onde tirou a especialidade de autometralhadoras Panhard. Logo a seguir, que o tempo urgia, foi mobilizado para a Guiné como alferes miliciano, recebendo como missão dar instrução a naturais da então Província, organizando-os em companhias de milícias.

Neste livro, António Ramalho de Almeida aproveita para nos descrever os contrastes a que assistiu. A guerra, ainda no princípio mas já na brutalidade em mortos e estropiados pelas minas, armadilhas, emboscadas e flagelações, os olhos a perderem-se nas maravilhosas paisagens, a presença de Portugal de mais de 400 anos praticamente ausente no interior da Província, de tal forma que, em certos locais, se julgava o primeiro branco a pisá-los e a vê-los.
 
(...) Fui contemporâneo do António Ramalho, conhecido, entre nós, por Toni Ramalho. Éramos companheiros assíduos, sempre que coincidia estarmos presentes em Bissau, na esplanada do Bento e nos jantares à mesma mesa do hotel. Muito do que aqui conta, regressou-me, vi, ouvi e vivi naqueles anos. Quanto mais não fosse estou-lhe grato por isso.
 
(...) António Ramalho prometera à Mãe, antes de a ver morrer, que havia de ser médico. Fiel à promessa e ao desejo pessoal preparou-se para o ser e convenceu-se de que iria beneficiar do estatuto de adiamento de incorporação que o Exército então facultava, dada a escassez de médicos.

Houve, porém, um acontecimento, que lhe alterou a vida. Em Maio de 1963, comemorou-se em Lisboa o Dia do Estudante e esse dia trouxe-lhe consequências. Quando deu por si estava em Mafra a fazer o COM. Depois seguiu-se Santarém, o RC6 (Porto), o RC8 em Sta. Margarida e o embarque, em 12 de Outubro de 1964, no Niassa, rumo à Guiné. (...)
 
Vd. também postes de:

16 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12048: Notas de leitura (520): "Guiné Mal Amada - O Inferno da Guerra", por António Ramalho de Almeida (Mário Beja Santos)

(...) alferes instrutor de milícias,  chega a Pirada, descreve o ambiente fronteiriço, a atmosfera de espionagem e o papel de levar e trazer atribuído ao comerciante Mário Soares. Tanto quanto parece, já não estamos na ficção, o que se descreve é real, os incidentes fronteiriços, com retaliações de premeio. (...)

1 de julho de  2014 > Guiné 63/74 - P13352: Notas de leitura (607): Livro de memórias de guerra, de António Ramalho de Almeida, médico pneumologista, do Porto, ex-alf mil, GG, Bissau, 1964/66

(***) Último poste da série > 19 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22019: Tabanca Grande (516): Joaquim da Silva Correia (Penalva do Castelo, 1946 - Oliveira de Azemeis, 2021), ex-1.º Cabo, Pel Mort 1242 (Buba, 1967/69): em sua memória, no dia do Pai (e em apreço ao gesto do seu filho, António Correia), reservamos o talhão n.º 838, sob o nosso simbólico poilão

4 comentários:

Abilio Duarte disse...

É assim, se o amigo e camarada, filho do Sr. Mário Soares de Pirada, ia lá passar as férias, é possível, que nos tivesse mos cruzado, naquela tabanca, pois estive lá várias vezes, em 69/70.

Bem haja nesta tabanca, pois estas memórias para mim são o sal que me traz energia.

Patricio Ribeiro disse...


Ó Pirada,

Quente e poeira.
Falta de agua, as barragens no Senegal complicam os níveis freáticos.
Tem alguns problemas étnicos, que complicam os trabalhos.
É a principal entrada de fronteira, para quem vem de Dakar,
muito movimento, muitos camiões carregados com um pouco de tudo, essencialmente combustíveis.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jean, fui procurar, na Net, resposta para a pergunta "Como se perde a nacionalidade portuguesa e quem pode (ou não) perdâ-la?"...

Resposta, aqui no sítio da Fundação Francisco Santos (FFS)


https://www.direitosedeveres.pt/q/constituicao-politica-e-sociedade/cidadania/como-se-perde-a-cidadania-portuguesa-e-quem-pode-ou-nao-perdela

__________________

A Constituição protege a cidadania, atribuindo‑lhe o regime dos direitos fundamentais.

Esta proteção implica, sobretudo, o direito a não ser privado da cidadania por motivos políticos — ou seja, em consequência de ações ou opções políticas, mesmo aquelas tidas como «antipatrióticas» — ou como resultado de uma pena ou de um efeito de pena.

A Constituição e a lei apenas preveem a perda de cidadania em caso de renúncia pelo seu titular. Por isso, a perda da cidadania portuguesa depende exclusivamente da declaração da vontade do cidadão em causa — e desde que tenha outra nacionalidade, a fim de que não se torne apátrida. Assim, só perde a nacionalidade portuguesa o cidadão que, sendo nacional de outro Estado, declare que não quer ser português.

Deve evitar‑se a apatridia, isto é, a condição de quem não tem nacionalidade, porque a ausência desse estatuto priva a pessoa de um conjunto de direitos importantes como os de circular livremente, entrando e saindo do território do Estado, e o direito a votar e ser eleito para cargos políticos.

No plano europeu, a apatridia deve ser evitada na medida em que a atribuição da cidadania europeia depende de o indivíduo ser nacional de um Estado‑membro da União Europeia pelo que a perda da nacionalidade de um Estado‑membro implica a perda da cidadania europeia e dos direitos que lhe são associados. CIV

___________

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Luíx Goes (1933-2012), médico, músico, compositor e cantor da canção de Coimbra, tem 6 referências no nosso blogue.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Luiz%20Goes

Quem seria, na foto nº 3, "o médico da companhia que gostava muito de fado" ? Não aeria o Luiz Goes, que usava óculos...