terça-feira, 12 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22622: (Ex)citações (394): A propósito da evocação dos fuzilamentos de Comandos Africanos e de milhares de guineenses (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 11 de Outubro de 2021:


A propósito da evocação dos fuzilamentos de Comandos Africanos e de milhares de guineenses

O Partido armado da Guiné começou a fuzilar guineenses em 1964, logo que ascendeu a Partido-único-armado-Estado da G-Bissau, em 1974, implementou o seu crescimento exponencial de Comandos e Fuzileiros africanos e de milhares de guineenses que serviram a Guiné sob a administração portuguesa, sem julgamento, selvagem.

O blogue evocou-os e vou repetir-me: O Gen. Nino Vieira tinha acabado de separar a Guiné de Cabo Verde e iniciado o seu consulado, em Bissau os fuzilamentos andavam na boca do mundo, ouvi da boca de pessoas em funções governativas que, entre 1964-1980, os “libertadores” tinham passado pelas armas cerca de 10.000 guineenses, opositores políticos, ex-tropas nativas especiais, do contingente geral e outros “colaboracionistas”.

O que a Descolonização portuguesa teve de exemplar foi o seu desastre, parafraseando o Cor. Morais da Silva, o seu extraordinário, no imediato e a médio prazo não foi o fim da guerra, mas a substituição duma ditadura por outras, o seu maior activo são as suas mais que muitas vítimas e a falência de Portugal - factos acontecimentais e indissociáveis da nossa e da história do ex-Ultramar português.

Na Guiné, estava a Operação Tridente/Batalha do Como no auge, o seu líder eng.º Amílcar Cabral, gestor talentoso dos contextos da sua guerra, convocou e veio ao I Congresso de Cassacá explicitar o Código de justiça e penal, o seu articulado plasmava a pena de morte (terá sido menos um congresso e mais uma reunião de quadros), a sua ordem de trabalhos incluía fuzilamentos e o seu instituto, sindicava de inimigos e traidores à pátria os seus opositores, passou a mandar fuzilar os desalinhados políticos, os seus desertores e os militares e milicianos nativos que caíam prisioneiros, no entanto, merece ênfase o tratamento humano aos militares portugueses da Metrópole seus prisioneiros.

Até à concessão das independências, todos os nascidos no Portugal africano eram portugueses de lei, os rebeldes inclusive, os nossos descolonizadores negligenciaram esse código, era uma verdade inconveniente, a sua derrogação não convinha nem ao PR Luís Cabral nem ao seu modelo político, este acabou destituído pelo Gen. Nino Viera, só não foi fuzilado, ao abrigo desse código, em deferência à intercessão dos PR Léopold Senghor, Fidel Castro, generais Ramalho Eanes e Lausanna Conté, sorte que não tiveram os acusados da “revolta dos balantas”.

O “golpe de Bissau” do MFA, o 26 de Abril de 1974 da Guiné, aconteceu 10 anos depois, muita água havia passado sob as pontes da Guiné, não será plausível que esse código e o seu efeito dirigido fossem do desconhecimento da oficialidade protagonista da “capitulação” na mata de Morés, ou o “cessar-fogo de facto” em politicamente correto, ou da oficialidade negociadora da sua “descolonização”, o Exército não negligenciava a investigação, é-lhe intrínseca e rigorosa, o acesso à informação apurada era privilégio da oficialidade; por exemplo: enquanto os historiadores têm dúvidas e discutem a paternidade do PAIGC, em 1964 já o Exército partilhava com os oficiais a sua informação, classificada, que o fundador era Rafael Barbosa e que Amílcar Cabral lhe aderiu e se apropriou da sua liderança quatro anos depois.

A sua ignorância da parte dos civis, nomeadamente dos notáveis drs. Mário Soares e Almeida Santos, será plausível e merecedora de condescendência, tinham escapado ao serviço militar, apenas habilitados a dirimir as armas do direito e dialógicas, a paz pela guerra é habilitação dos militares, os do contexto começaram logo a baixar a espada, o caminho mais rápido à paz é a derrota, as posições relativas haviam-se invertido, os militares tinham deixado de se subordinar ao poder civil, o poder civil passara a subordinar-se ao poder dos militares - já os centuriões de Roma haviam feito o mesmo.

Mário Soares, arauto da Descolonização, queixou-se ao General Spínola que na de Moçambique foi desautorizado pelo então Major Otelo Saraiva de Carvalho, “não discutamos, entregamos isto aos camaradas da Frelimo e ponto final”, também desabafava que na da Guiné os seus negociadores, os notáveis comandante Pedro Pires e dr. José Araújo, aquele desertor de controlador aéreo da FAP e este desertor de jogador da Académica, eram uma cassette, a tudo respondiam “não, não, vão-se embora, têm que ir embora!” – de leão Portugal passara a sendeiro.

Conjugando a sobranceria à mesa das negociações com adequadas (e toleradas) manobras no terreno, o PAIGC não só impôs a Portugal a imediata retracção do seu dispositivo militar, mas também a obrigação do imediato desarmamento dos militares das suas forças militares e militarizadas… com a sua ajuda! - os termos do n.º 17 do Anexo ao anterior Acordo. O rabo escondido e o gato de fora… Se necessário o recurso às armas, combatiam-nos ao nosso lado…

O efectivo das forças militares e militarizadas nativas da guarnição era superior a 10 mil combatentes activos, tropas de recrutamento gerais e especiais de Fuzileiros, Comandos e Milícias, os reservistas eram outro potencial, eram mais do dobro dos do outro campo, a sua superioridade uma evidência, o projecto “uma Guiné melhor” do Gen. António de Spínola tinha feito escola e produzido muitos “estragos” à essa reunião quimérica, os sentimentos da cidadania e a pluralidade estavam em crescendo, a maioria desses combatentes já não combatia por Portugal mas por rejeição ao PAIGC, os fulas e os mandingas eram antimarxistas, islamizados, moderados e pluralistas, o seu código de justiça era “não matar, a Natureza faz”, o PAIGC já tinha conseguido a nossa fragilização.

Essa celebrizada “corrupção” com o adiantamento de seis meses de salários (os metropolitanos não recebiam a “ponta dum corno” quando terminavam a Guerra da Guiné e), a sua “desistência” de portugueses de direito e a trama recambolesca do seu desarmamento são temas merecedores de melhor estudo e discussão.

A implosão do Bloco comunista foi o início da verdadeira descolonização do antigo Portugal africano, evidência de quão a sua ideologia e interesses geoestratégicos “assalariaram” as suas guerras de libertação e a descolonização portuguesa.

A Guerra da Guiné foi o combate pelo passado, Amílcar Cabral contra ele e Portugal para o manter – as suas consequências mais lastimáveis resultaram directamente desses desideratos.

Enquanto a guerra conduzida por Spínola tinha os guineenses por seu sujeito, com materializada no projecto de “Uma Guiné Melhor”, a guerra concebida e conduzida por Cabral era quimérica que se eclipsou, destruiu muito e pouco construirá, infernizou-lhes a vida no início e no durante – perdura desde o seu fim.

Na realidade, não foi a Guiné que se libertou de Portugal, foi Portugal que se libertou da Guiné…

Os ex-combatentes visitantes da Guiné em turismo de nostalgia, não raro se comovem e sofrem, confrontados com camaradas do antigamente, a tal “praga grisalha”, orgulhosos das suas recordações materiais e mentais do tempo da sua condição de soldados, de portugueses de direito e esperançosos, - mas que acabarão por morrer sem receber as suas reformas e as suas pensões de sangue…

Portugal não pode escusar-se às suas responsabilidades com a Guiné!

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Nota do editor

Vd. postes de:

30 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22584: Recortes de imprensa (119): Reacção de Mário Beja Santos ao artigo do "Diário de Notícias", de 29 de Setembro de 2021, "Comandos africanos nas Forças Armadas Portuguesas. Histórias de abandono e traição"

1 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22588: (Ex)citações (393): Estas teses elaboradas sem reflexão e apreciadas por ignorantes, obrigam-me a vir ajudar a clarificar o que respeita aos militares dos Comandos (Cor Art Ref Morais da Silva)

2 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22590: (Ex)citações (394): Em cerca de 600 militares do Batalhão de Comandos da Guiné, 200 estiveram inscritos numa lista para seguir para a metrópole, com as respetivas famílias, confirma o último 2º comandante e comandante (jun/out 1974), ex-cap art 'comando' Glória Alves, de "uma das mais nobres e heróicas unidades militares portuguesas", em depoimento público de 2007, aqui transcrito (Cor art ref Morais da Silva)

5 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22599: Questões politicamente (in)correctas (55): Na hipótese de terem aceitado vir para Portugal os ex-comandos guineenses, pergunta-se: que tipo de país os iria receber ao aeroporto de Figo Maduro? (José Belo, jurista, Suécia)

20 comentários:

Valdemar Silva disse...

Luís Lomba, sim senhor.
Provavelmente enviaste, para conhecimento/procedimento, cópia desta tua exposição condenatória à ONU, Tribunal Internacional de Haia e todas as demais Instâncias Internacionais para ser anulado a independência da Guiné e condenados todos os intervenientes do 25 de Abril de 1974 que deram azo a esse acontecimento. Os intervenientes podem ser os até à terceira geração, e salgado todo o trajecto de Santarém ao Largo do Carmo para nunca mais se voltar a repetir tal acontecimento sem autorização superior.
(ah! estava tudo combinado, o problema foi o Mário Soares e o Almeida Santos não terem feito a tropa)

Caro Luís Lomba.
Coitados dos militares guineenses do exército português que foram fuzilados pelo PAIGC.
Coitados dos milhares de jovens portugueses que morreram na guerra da Guiné.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz

antonio graça de abreu disse...

"Coitados dos militares guineenses do exército português que foram fuzilados pelo PAIGC.", diz o Valdemar Queiroz. Não é bem coitados, como diz o Valdemar, são crimes, quando lhes havia sido prometido a justiça, aliberdade e a vida..
Pois é. E mais não digo.

Abraço,

António Graça de Abreu

Abilio Duarte disse...

Olá Valdemar,
Pelos vistos, ainda há muita gente com saudades da guerra.

Por vontade de muita gente, ainda hoje havia jovens a caminho de Africa, para a guerra.

Quando vejo e leio tantos textos semelhantes, pergunto a mim mesmo o que la andei a fazer, em 22 meses, e quando me vim embora, estava como ,quando lá cheguei 1969/70.

Hora 4 anos passados 25.4.74, a situação continuava na mesma.

As tuas melhoras e Abraço.

Abílio Duarte

Valdemar Silva disse...

Olá Duarte
O meu coitados é um lamento, uma pena do que aconteceu aqueles militares que faziam parte das NTs, principalmente aqueles fulas que faziam parte da nossa CART11 e que estiveram connosco em todos os momentos da guerra.
Os que lhes aconteceu a eles e aos Comandos, que são os mais referidos, foi o que se pode considerar por crimes de guerra.
Onde estão, ou estavam, os mais "aquilo é criminoso" quando houve conhecimento dos fuzilamentos? O que foi feito ao nível de apresentação de queixas em Tribunais Internacionais do sucedido?
Não tenho conhecimento ter havido alguma acção nesse sentido.
O resto é a eterna 'mais uns mesinhos e aquilo estava ganho e todos regressavam a casa', ou então, dos mesmos, 'aquilo do 25A (vinte e cinco á) estava tudo combinado o problema foi ter aparecido o pc', e, ainda, continuam com esta treta para dar a ideia que sabiam de tudo e não levaram um grande baile.
Faz lembrar aqueles jogos de futebol, nas empresas, entre as chefias e o resto do pessoal. As chefias com dois ou três "importantes" habilidosos e o pessoal com jogadores aplicados e sem peneiras deram um baile e uma cabazada aos chefes. Tá bem ganharam mas nós só queríamos dar uns toques e vocês foram alinhar com o Zeca do arquivo que joga no solportense, disseram os chefes.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

HEI!!! Camaradas!
Podem sair das trincheiras que a guerra acabou.
Joaquim Costa

Hélder Valério disse...

Acabou?!!!

Pois, uma pena!

Hélder Sousa

Valdemar Silva disse...

Acabou?!!! (não estou a imitar o Hélder)

É conforme a moda, ou à la mode, abre-se o armário e ainda lá está a roupinha muito jeitosa para ser usada.
Se ainda fossem calças à boca de sino vá lá, que até davam para usar sapatos de tacão alto e sempre dava nas vistas.

Abraços e saúde
Valdemar Queiroz

ManuelLluís Lomba disse...

Eh, Valdemar:
Ao alinhar este texto de história e de opinião q. b. sobre a Guerra da Guiné enfiei o capacete, a contar com a tua já tradicional porrada (de porra, moca) - não com satisfação, não sou tendencial a masoquices - mas com contentamento, porque, não obstante esse mal de saúde que tanto te apoquenta a vida, não dás mostras de perda nem da vitalidade nem a militância. Isso é vida!
Faço votos pela tua melhor saúde, que Deus te guarde por muitos anos - e que eu te vá provocando a dares provas dessa vitalidade.
Abraço.
Manuel Luís

Valdemar Silva disse...

Oh, meu caro, e quase conterrâneo, Luís Lomba.
Essa da minha 'tradicional porrada' é forte, coitados dos meus bofes que nem se aguentam a espantar uma mosca, quanto mais a manejar uma cachaporra.
Queiramos ou não, os teus conhecimentos, qual sobre o esternocleidomastoideu qual quê, dão azo a interessantes "esgrimidelas" à distância, pelos assuntos/opiniões que nos trazes à conversa.
Por enquanto cá vamos andando, nesta nossa tenra idade, longe venha o chilique que nos prive de mexer os dedinhos no teclado do computador.
Obrigado pelo teu cuidado sobre a minha saúde, e igualmente para ti que os Alcaides também se constipam.
Por nunca terem passado pelo bidonville da Ponte Cayum, ainda temos por cá as tretas do 'estava tudo combinado'.
Abraço
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

O Luis Lomba tem uma frase que era um sentimento genuino da maioria dos portugueses no 26 de Abril, dos portugueses que estavam mais ou menos por dentro dos problemas ultramarinos, quer fossem ou não «salazaristas, colonialistas e imperialistas».

Eis a frase de Luís Lomba, que já é velha e relha na cabeça da maioria de quem passa por aqui, embora nem todos a pronunciem de viva voz:

"Na realidade, não foi a Guiné que se libertou de Portugal, foi Portugal que se libertou da Guiné…"

Esta frase não seria um pensamento geral nos anos 50 e 60, latente na cabeça de muitos dirigentes europeus que deram as independências por exemplo ao Kenia, à Argélia, Nigéria, etc?

Julgando essa Europa que se estava a libertar de um pesadelo?

Se era esse o sentimento, a Europa enganou-se redondamente.

Valdemar Silva disse...

Rosinha
Essa também é interessante.
Quer dizer a guerra entre ingleses e os Mau-Maus no Quénia, a guerra na Argélia e guerra no Biafra foram só para disfarçar?
Quem diz a estas e outras guerras com as potências coloniais, incluindo o nosso caso, foram todas feitas para se libertarem do peso das colónias?
Sim senhor, que grande estratagema tiveram essas cabeças pensantes, talvez por peso na consciência. Nunca ninguém se lembrou disso.

Abraço
Valdemar Queiroz

Carlos Vinhal disse...

Quando era miúdo, tive um amigo da 1ª classe que depois do Ciclo Preparatório seguiu o Curso Geral do Comércio enquanto que eu fui para o Curso de Montador Electricista. Quando os nossos horários de saída coincidiam, vínhamos juntos para Leça da Palmeira, fazendo os cerca de 2,5km a pé, já que os nossos pais só tinham bicicleta e não nos iam buscar e, o autocarro era só para quando chovia. Então, pelo caminho fazíamos um jogo de palavras a que chamávamos desconversar. O tempo passava num ápice e era diversão certa.
Às vezes, aqui, julgo-me a viver nesses já tão longinquos tempos ao ver assuntos sérios que nos dizem respeito serem tratados de modo que considero menos elevado.
Caro amigo Lomba, não me passate procuração mas quero aqui afirmar que és uma pessoa com conhecimentos acima da média, és intelectualmente honesto e escreves sem pensar em agradar a gregos e/ou troianos. Nunca escreveste novelas de cordel, antes livros de História dedicados às Terras de Faria, onde és reconhecido, e sobre a tua experiência como combatente da Guiné.
Provalvelmente a tua escrita gera alguma urticária mas és íntegro, de direita ou de esquerda conforme o prisma de quem te vê.
Sei que encaixas na perfeição os comentários que te são dirigidos, nem sempre concordantes, mas continuas o teu caminho emitindo as tuas opiniões e não aquelas que alguns quereriam ler.
Pela minha parte, muito obrigado. É um prazer editar as tuas opiniões porque sou o primeiro a ler e a adivinhar os ditos comentários.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Eduardo Estrela disse...

A guerra pelos vistos não acabou, já que continuamos a "ouvir" e ler rebentamentos.
Uma das maiores alegrias da minha vida foi ter percebido que a puta da máquina tinha gripado na madrugada de 25 de Abril de 1974.
De atrocidades está a história da humanidade farta e lamentavelmente assim vai continuar para desgraça das gerações vindouras, pois homúnculos sem escrúpulos e sem respeito pelos outros vão continuar a surgir.
Eduardo Estrela

Abilio Duarte disse...

Oh Valdemar,

Esta frase do camarada Eduardo Estrela ...

" A puta da maquina tinha gripado na madrugada de 25 de Abril ", e dos melhores comentários, que tenho lido.

Já tinha lido da espinha cravada, mas esta e sublime. Como dizia o Caco Balde, Fogo neles.

Abilio Duarte

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Manuel Lomba, gostei de ler as tuas opiniões que comungo.

Anónimo disse...

Caro Manuel Luís Lomba
A guerra acabou...mas é um gosto ler tudo o que escreves!
Joaquim Costa

Fernando Ribeiro disse...

Antº Rosinha

Os dirigentes europeus não deram as independências às suas antigas colónias de mão beijada, só para se verem livres delas. Estas independências foram conquistadas com muito sangue.

Os ingleses enfrentaram a guerra dos Mau-Mau no Quénia, travaram uma sangrenta guerra na Birmânia e só não enfrentaram uma guerra na Índia porque o Gandhi era pacifista.

Os franceses, por seu lado, enfrentaram uma duríssima guerra na Argélia, porque não queriam deixar esta sua "joia da coroa", e foram estrondosamente derrotados na Indochina. (Logo a seguir, os americanos não aprenderam a lição dos franceses e foram meter-se no vespeiro do Vietname, também com resultados desastrosos).

O que é que levaria o Salazar a acreditar que o caso seria diferente com Portugal? É claro que não foi diferente.


Valdemar Queiroz

A guerra do Biafra não foi contra os ingleses, mas contra a Nigéria, que já era independente. Esta guerra foi uma tentativa de secessão da região do delta do Níger, o chamado Biafra. O governo português da época apoiou ativamente a secessão, fornecendo armas e munições aos rebeldes a partir de S. Tomé e Príncipe.

Com o Catanga (no Congo), vizinho de Angola, o governo português também tomou partido a favor da secessão. Quando esta secessão falhou, o governo português usou os rebeldes catangueses (os chamados "fiéis"), que se tinham refugiado em Angola, para combaterem o MPLA, com a promessa (nunca cumprida) de apoio a um regresso ao Catanga.

Valdemar Silva disse...

Correcto, Fernando Ribeiro.
Apenas, incluí, ironizando com "aquele método" dos europeus se libertarem das colónias.
Nem sei como ironizar com o "método" do Mussolini na Abissínia/Etiópia.

Abraço
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Só não entende o cinismo das independências africanas à inglesa, (e europeias) substituídas pelo tal neo-colonialismo, depois dos apertos que levaram no Quénia, (e india), só não entende esse tal neo-colonialismo inglês, quem quer justificar como independência, para compensar todas as asneiras que se fizeram em África, desde a escravatura e aquelas fronteiras riscadas em Berlim e o depósito de escravos pela Serra Leoa e vizinhança, e até a Libéria venderam aos americanos para depositar os escravos que tinham levado para lá.

Só que aquelas independências, como o Quénia onde até funcionou maravilhosamente o tal neo-colonialismo bem protegido das influências da guerra fria, mas hoje já nem a Europa podre consegue proteger toda aquela África oriental do veneno dos extremistas islâmicos.

Os Belgas e os Franceses seguiram o exemplo da Inglaterra, só Salazar quis defender a ideia que África "não se conseguia governar".

Era uma meia mentira igual à meia mentira do neocolonialismo.

Amilcar Cabral escreveu num dos seus escritos que o Salazar não dava as independências porque não conseguia manter o tal neocolonialismo das outras potências.

Parece-me que o Valdemar e o Fernando Ribeiro julgam que eu invento o que digo.

Eu o que digo, aprendi quase tudo com os africanos.

Também aprendi com os africanos, que a Europa tem obrigação de recolher todos os africanos naufragados no mediterrâneo e todos os jovens que não têm condições de viver nos seus países e dar-lhes casa, e não é nenhum favor especial.

Ou seja o neocolonialismo, fez virar o feitiço contra o feiticeiro.

Valdemar e Fernando Ribeiro, vão lá viver 30 anos, e depois vejam bem o que Salazar queria dizer e o Amílcar Cabral também.

Mas sobre o Salazar, parece.me que havia mais africanos a compreende-lo do que portugueses, claro que europeus como Degaule e outros calavam-se e até se abstinham na ONU, mensalmente.

Valdemar Silva disse...

Rosinha tu sabes muito melhor do que eu, o que vou escrever.
O Salazar defendia que África 'não se conseguia governar'
Então 1970..1970!!!!, com toda a Europa saída da fome e guerra, nós por cá, Portugal do Minho ao Algarve, Madeira e Açores saídos apenas da fome mas muito bem governados:
1970
36% da população sem electricidade
42% da população sem esgotos
53% da população sem água canalizada
26% dos homens e 35% das mulheres analfabetas
População com 14 e mais anos 6.372.232 =49,8% sem a instrução primária.
Não vou referir os milhões de emigrantes que saíram a procurar melhores condições de via pela Europa e por esse Mundo fora, provavelmente por motivos que não seriam por não se conseguiam governar.
Os pontos de vista do Salazar não servem para nenhuma comparação.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz