Taiti > Polinésia Francesa > 27 ou 28 de fevereiro de 2020 > Uma das praias da ilha
Pormenor do quadro a óleo de Paul Gauguin (1848-1903), "De Onde Viemos? O Que Somos? Para Onde Vamos?, de 1897. Imagem considerada de domínio público. Cortesia de Wikimedia Commons.
1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. Texto e fotos recebidos em 8 de novembro último.
Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas ao mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 290y referências no blogue.
Tahiti, Polinésia Francesa, Oceano Pacífico
por António Graça de Abreu
Sob o caramanchão de glicínias lilás,
as abelhas e eu,
tontas de perfume.
Sophia de Mello Breyner Andersen
Lembrei-me de Sophia, cujos versos trago comigo nesta viagem de volta ao mundo, grande senhora da poesia portuguesa do século XX, a quem os deuses concederam o privilégio da exaltação da palavra poética, em lusitanas paragens, mais por grécias do que por polinésias.
Sophia recorda que existem perfumes que nos entontecem, tal como acontece às abelhas, espalhados por todas as proximidades e lonjuras do mundo.
Chego a Tahiti, em finais de Fevereiro de 2020, perdida no imenso Pacífico, protectorado francês desde 1842. Tenho dois dias para tentar descobrir, entender onde estou.
Papeete, com 30 mil habitantes – franco falantes, gente simpática e educada --, é a capital da ilha. Cidade limpa, organizada, no mercado central rivalizam as cores das flores, da roupa e da comida.
Sob o caramanchão de glicínias lilás,
as abelhas e eu,
tontas de perfume.
Sophia de Mello Breyner Andersen
Lembrei-me de Sophia, cujos versos trago comigo nesta viagem de volta ao mundo, grande senhora da poesia portuguesa do século XX, a quem os deuses concederam o privilégio da exaltação da palavra poética, em lusitanas paragens, mais por grécias do que por polinésias.
Sophia recorda que existem perfumes que nos entontecem, tal como acontece às abelhas, espalhados por todas as proximidades e lonjuras do mundo.
Chego a Tahiti, em finais de Fevereiro de 2020, perdida no imenso Pacífico, protectorado francês desde 1842. Tenho dois dias para tentar descobrir, entender onde estou.
Papeete, com 30 mil habitantes – franco falantes, gente simpática e educada --, é a capital da ilha. Cidade limpa, organizada, no mercado central rivalizam as cores das flores, da roupa e da comida.
Por aqui, as mulheres costumam colocar uma flor por cima da orelha esquerda ou da orelha direita. A flor na cabeça, à esquerda, significa que a mulher já é casada, ou comprometida. A flor à direita corresponde a uma donzela livre de compromissos, esperando o namoro de um qualquer príncipe ou plebeu. Nesta ilha, esquerda e direita, civilizadas, em flor, são duas opções indiscutíveis. Era bom que fosse assim, em todo o mundo.
Tahiti tem uma superfície de mil e quarenta e dois quilómetros quadrados, um pouco maior do que a nossa Madeira. Nos dois dias de estadia, circundei toda a ilha em transportes públicos, só me faltou avançar para a península de Tahiti Itti, com baías e praias de areia branca em todo o seu esplendor que só visitarei numa próxima reencarnação, quando aproveitar um fim de semana, lá pelas paragens do céu, para regressar a Tahiti, nadar num mar esmeralda e me pôr a tostar em Pointe Vénus, neste pedaço de paraíso na terra.
Na primeira meia volta à ilha procurei, na aldeia de Maitreia, o museu Paul Gaugin, junto à última casa que o pintor habitou, antes do exílio definitivo e morte em Huiva Ao, nas ilhas Marquesas, onde também viveu e foi enterrado o genial Jacques Brel, em 1978.
O museu Gaugin está fechado “para obras” desde 2013. Neste lugar, Paul Gaugin pintou algumas das suas obras-primas, lânguidas mulheres polinésias que soube ou não soube amar, em paisagens de estarrecer. Gaugin, aos cinquenta e muito anos, manteve relacionamentos sexuais e tomou por companheiras raparigas polinésias de dezasseis ou vinte anos de idade e retratou-as em quadros plenos da delicadeza da sensualidade. Será por isso que o actual “politicamente correcto” mandou fechar o Museu Gaugin. Eu entendo.
Tahiti tem uma superfície de mil e quarenta e dois quilómetros quadrados, um pouco maior do que a nossa Madeira. Nos dois dias de estadia, circundei toda a ilha em transportes públicos, só me faltou avançar para a península de Tahiti Itti, com baías e praias de areia branca em todo o seu esplendor que só visitarei numa próxima reencarnação, quando aproveitar um fim de semana, lá pelas paragens do céu, para regressar a Tahiti, nadar num mar esmeralda e me pôr a tostar em Pointe Vénus, neste pedaço de paraíso na terra.
Na primeira meia volta à ilha procurei, na aldeia de Maitreia, o museu Paul Gaugin, junto à última casa que o pintor habitou, antes do exílio definitivo e morte em Huiva Ao, nas ilhas Marquesas, onde também viveu e foi enterrado o genial Jacques Brel, em 1978.
O museu Gaugin está fechado “para obras” desde 2013. Neste lugar, Paul Gaugin pintou algumas das suas obras-primas, lânguidas mulheres polinésias que soube ou não soube amar, em paisagens de estarrecer. Gaugin, aos cinquenta e muito anos, manteve relacionamentos sexuais e tomou por companheiras raparigas polinésias de dezasseis ou vinte anos de idade e retratou-as em quadros plenos da delicadeza da sensualidade. Será por isso que o actual “politicamente correcto” mandou fechar o Museu Gaugin. Eu entendo.
Contudo, Paul Gaugin deixa em todos nós um legado mágico, intemporal e louco e é um dos grandes mestres da pintura universal. Basta olhar os seus quadros sobre Tahiti, esfuziantes de cor, a simbiose da alegria e da tristeza, basta beber os seus verdes intensos nas folhas das palmeiras, basta passear os olhos nos azuis acariciando o ondular do mar, basta, tonto pelo perfume da ilha, levitar nos amarelos aquecidos pelo grito do pôr-do-sol.
_____________
Nota do editor:
3 comentários:
António, mais uns dias e ficavas lá "preso" no Taiti (ou Tahiti,é sempre um problema grafar corretamente estes topónimos...).
Também gosto da Sofia e do Gauguin. Mas o Taiti está na minha lista de viagens para a próxima encarnação...quando eu for pássaro ou avião a jacto. Obrigado, em todo o caso, pelo "cheirinho" e a "cor" do Taiti e sobretudo das taitianas... Teu fiel leitor. Luís
Assim também eu, quem não gostaria de dar a volta ao mundo e visitar a ilha Taiti.
E encantado como Gauguin, nem sequer me lembraria ter sido o português Pedro Queiroz o primeiro europeu a avistar a ilha em 1606. E nem me lembraria de outros europeus dos finais do séc. XVIII introduzirem na ilha o álcool, doenças infecciosas e prostituição fazendo com que numa década a população de cerca de 17.000 habitantes devastada pela doença ficasse reduzida a 6.000 pessoas.
Abraço e saúde
Valdemar Queiroz
Antonio Graca de Abreu (by email)
domingo, 5/12/2021, 23:39
Obrigado Luís, pelo teu cuidado.
Abraço, Bom Natal, Excelente 2022.
António Graça de Abreu
Enviar um comentário