quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22770: Efemérides (359): o 1º de Dezembro, as bandas filarmónicas e o patriotismo de ontem e de hoje...



Lisboa > Av da Liberdade > 1 de dezembro de 2017 >   6.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas > Uma representação da banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cuja origem remonta a 1878: da esquerda para a direita, Pedro Margarido, presidente da União das Freguesias da Lourinhã e Atalaia; Paulo José de Sousa Torres,  diretor da AMAL (e meu primo em 3.º grau)  e a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro... O puto é o "porta-estandarte" da AMAL que tem uma escola de música e um grupo de teatro...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Brasão da SEA - Sociedade Euterpe Alhandrense, Alhandra. Diversas bandas filarmónicas por esse país fora foram criadas no 1º de dezembro (ou em homenagem ao 1º de dezembro): por exemplo,  Alhandra, Alpiarça, Atouguia da Baleia (Peniche), Azinhaga do Ribatejo (Golegã), Cuba, Encarnação (Mafra), Moncarapacho (Olhão), Montijo, Nossa Sra. das Misericórdias (Ourém), Pragança (Cadaval) ...  As bandas filarmónicas foram (e ainda são) "sociedades de recreio" mas também escolas de educação musical, artística e cívica... Em 2013 existiam 720 bandas filarmónicas, muitas delas centenárias.

1. Este ano, e devido ao agravamento da situação sanitária provocada pela 5ª vaga da pandemia de COVID-19, não haverá o já tradicional "Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas 1º de Dezembro", integrado nas comemorações do Dia da Independência, e que estava previsto para Lisboa.  Já o ano passado não se realizara, pelos mesmos motivos.

Estava previsto realizar-se hoje o 9.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, mesmo com um número  reduzido de bandas participantes (19, por comparação com as 37 que atuaram em 2019, espectáulo que teve transmissão direta pela RTP), e juntando músicos de várias gerações e dos mais diversos pontos do país. A saúde pública falou mais alto.

É uma evento organizada pelo Movimento 1º de Dezembro, Câmara Municipal de Lisboa e EGEAC, em parceria com a RTP. O 1º Desfile foi em 2012. Recorde-se que nessa altura  houve diversas reações da sociedade civil  em resposta à eliminação do feriado civil do dia 1 de Dezembro, determinada pela Lei nº 23/2012, de 25 de Junho de 2012.Dessas reações nasceu, por exemplo,  o Movimento 1º de Dezembro.

O desfile, entre a Avenida da Liberdade e a Praça dos Restauradores, juntando sempre para cima de 1500 músicos e mais de 3 dezenas de bandas, acaba com a interpretação final e conjunta, na Praça dos Restauradores, dos 3 hinos patrióticos, o Hino da Restauração, o Hino da Maria da Fonte e o Hino Nacional.

2. O nosso editor LG tem acarinhado, no nosso blogue, esta iniciativa (e outras mais antigas), sobretudo pelas suas recordações desta efeméride, que remontam à sua infância. Mesmo sem música, podemos recordar aqui alguns comentários que foram sendo deixados nos diversos postes (*):

(i) Tabanca Grande Luís Graça (Poste P18033)

Era uma festa, o 1º de dezembro, na minha vila da Lourinhã . Primeiro, porque era feriado, não se ia à escola, e segundo, porque a filarmónica local  (, fndadada em 2 de janeiro de 1878) percorria as ruas principais, com o povo e os putos atrás... Era um tradição que já vinha da Monarquia Constitucional, da República e que se manteve no tempo do Estado Novo... Como não sabíamos a letra do hino da restauração, cantarolávamos: "Ó Tí Zé da pêra branca"...

1 de dezembro de 2017 às 11:24

Vou ter o prazer de ver a banda da minha infãncia, a AMAL Associação Musical e Artística Lourinhanense, participar hoje. na Av da Liberdade, em Lisboa, na 6ª Desfile Nacional de Bandas Filarmónica...

É um banda centenária, fundada em 1878... Creio que é a 1ª vez que vemn a este desfile...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2017/11/guine-6174-p18029-agenda-cultural-614.html

1 de dezembro de 2017 às 12:04

(ii) Mário Vitorino Gaspar (Poste P18033)

O 1.º de Dezembro na vila de Alhandra é celebrado desde as 6/7 horas. A Banda Filarmónica da SEA (, Sociedade Euterpe Alhandrense, fundada em 1/12/1861) percorre toda a vila e presta Homenagens a todas as colectividades da terra. Curiosamente,  quase todas foram fundadas a 1 de Dezembro. Em cada sede tocam e sobem os músicos para beberem um copo. 

Todo o trabalhador acorda, tenha estado ou não de serviço durante a noite.  E os putos acompanhavam a Banda. Para a criançada da minha época a letra era: - "Tu não queres é trabalhar... Tum, tum, tum...". Gostaria de ter sido acordado em Gadamael com esta letra...

1 de dezembro de 2017 às 18:22 

(iii) César Dias  (Poste P18033)

Tinha 12/13 anos, no dia 1º de dezembro lá estavam as escolas da Grande Lisboa, representadas nos Restauradores, devidamente perfiladas com os uniformes da Mocidade Portuguesa, cantando o hino da Restauração.

Eram 4 horas difíceis para a rapaziada que nem podia arredar pé para as necessidades, daí os charcos q
ue se viam na Praça depois do toque de destroçar. Outros tempos.

(iv) Luís Graça (Poste  P18047)

Estive, como é habitual, nos Restauradores no desfile nacional de bandas filarmónicas, no 1º de dezembro, gosto que me vem da infância, quando seguia, atrás da banda local, agarrado ao capote do meu pai, pelas ruas da então vilória da Lourinhã, parodiando a letra do hino da 

Restauração: "Ó ti Zé da Pera Branca..., pum, pum, pum..."

Ao meu lado estava um casal de turistas, dinamarqueses, com ar de reformados, pessoas viajadas, instalados num hotel da Av da Liberdade... Metemo-nos à conversa, em inglês... Eles estavam encantados com toda esta movimentação de bandas filarmónicas e sobretudo com as crianças, os putos, muito compenetrados do seu papel, que compunham muitas das bandas... Foi um festival de alegria, juventude e saudável patriotismo... Os dinamarqueses, que adoram Portugal mais do que Espanha, diziam-me que no seu país (que eu, de resto, admiro) não havia nada disto...

(v) Luís Graça (excerto do poste P18047)

(...) Afinal, o que é ser hoje português? E o patriotismo, ainda existe e faz sentido? Pode ser uma reflexão (idiota) de um homem que um dia vestiu a farda do exército português para ir "defender a Pátria" a milhares de quilómetros de casa... Na Guiné, em 1969/71...

Qual a diferença e semelhança entre mim e os meus antepassados que lutaram na "guerra da restauração" (1640-1668), na sequência da rutura com a "monarquia dual" sob a qual Portugal viveu (entre 1580 e 1640), o mesmo é dizer sob o domínio do ramo espanhol da casa de Habsburgo.

Se a geração que fez a guerra colonial (1961/74) tivesse nascido por volta de 1620, teria lutado contra a Espanha dos Filipes em inúmeras batalhas por ex., Cerco de São Filipe (1641-1642); Montijo (1644); Arronches (1653); Linhas de Elvas (1659); Ameixial (1663); Castelo Rodrigo (1664); Montes Claros (1665); Berlengas (1666)... Mas também contra os holandeses no Brasil, em Angola, em São Tomé e Príncipe].

Que custo tem a independência de um país? O que é hoje ser independente? O que ganharam os aliados que nos apoiaram, e nomeadamente os ingleses? Sabemos que os ingleses ganharam um império e a autoestrada da globalização que lhes permitiu ser o 1.º país industrial do mundo... E os holandeses ocuparam boa parte das posições portuguesas na Ásia...

Não há alianças grátis...nem inimigos de borla... E nesse tempo, os portugueses tiveram mais sorte do que os catalães, debaixo da pata dos Filipes, como nós... Sorte?... Foi apenas a sorte 
das armas? (...) (**)

___________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


1 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16784: Agenda cultural (525): comemoração do 1º de dezembro: 5º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas: Lisboa, av da Liberdade, hoje , a partir das 15h: 1600 músicos, 35 bandas e agrupamentos de todo o país... Desfile culmina com a interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12374: Agenda cultural (297): Comemorações do 1º de Dezembro, em Lisboa, na Av Liberdade, 14h30: 18 bandas filarmónicas e mais de mil músicos em desfile, culminando na interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

12 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Por mais que me esforce não consigo "recuperar", de memória, a letra da paródia ao Hino da Restauração, no meu tempo de menino e moço... Só sei que o primeiro verso era "Oh Ti Zé da pera branca"...

A letra era dos putos ou era do meu pai, que me arrancava cedo da cama para ir atrás da banda no 1º de Dezembro ? Admito hoje que fosse dele, que tinha jeito para versejar, em tom jocoso... Improvisava com enorme facilidade...

Como eu com os meus seis ou sete anitos ainda não entendia a letra do Hino da Restauração (que de resto não era cantado, não havia esse hábito, era só a execução acústica...),o meu pai deve-me ter arranjado uma letra engraçada...

Esta noite, a matutar nisto, "recompus" a letra:

Ó Ti Zé da Pera Branca,
Pum pum pum,
Da cama toca a saltar,
Pum pum pum,
Mesmo com a perna manca,
Pum pum pum,
Hoje é dia de reinar!
Pum pum pum.

Era dia, para a criançada, de reinação, de brincadeira, de maravilhamento... Chegavámos a casa esfomeados e nesse dia, por certo, havia rancho melhorado. LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Recorde-se os primeiros quatro versos do Hina da Resturação... É uma quadra de sete sílabas poéticas:


Portugueses, celebremos
O dia da Redenção,
Em que valentes guerreiros
Nos deram livre a Nação.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Quem seria o Tio Zé da Pera Branca ? Um dos conjurados ? O Dom Antão de Almada, apontado como um dos mentores da Restauração ? Ou o próprio Duque de Bragança, futuro Dom João IV ?... Não faço ideia, nem eu na altura devia saber grande coisa da história pátria...


https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%A3o_de_Almada,_7.%C2%BA_conde_de_Avranches

José Botelho Colaço disse...

Amigo Luís como era bom ter cá o tio Luís sapateiro para te avivar a memória. Abraço.

Fernando Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José disse...

Luís Graça,
Os teus comentários chamaram-me a atenção par os meus tempos jovens na Ilha do Faial, então a morar na cidade da Horta, Ilha do Faial. Era costume a Filarmónica “Artista Faialense” sair para a rua com a tocata “Oh Zé…Pum Pum”. A pequenada, e não só, acompanhava aquela excelente Banda entanto aquela canção. Por motivos que nunca descobri, os meus pais não permitiam que eu fizesse parte do “pagode”.
Abraço transatlântico,
José Câmara

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vejo com agrado que da Lourinhã à Horta,no Faial, passando por Lisboa e Alhandra,o 1º de Dezembro era,no nossso tempo de meninos e moços, dia de alvoroço, folguedo, reinação... Não sei que magia há mas, em passando a banda a rua a tocar, todo o mundo se alvoraça... Lembram-se da letra (magnífica!) do Chico Buarque ? E da música...

A banda

Chico Buarque

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto

E em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

Fonte: Musixmatch
https://www.musixmatch.com/pt

Compositores: Chico Buarque / Sidney Keith Russell

Ouvir o áudio aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=mdm6Lys9Agg

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Lembram-se ? Eu tinha 19 anos... E havia uma ditadura, lá (no Brasil) e cá (em Portugal)... e uma guerra em três frentes em África... Lembram-se ? Os nossos filhos e netos não sabem do que falamos...

(...) "Chico Buarque escreveu a música A Banda, um de seus maiores sucessos, e a inscreveu no II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966, se tornando a canção vencedora daquele ano.

A canção fala sobre a alegria de ver a banda passar, permitindo que pessoas façam uma pausa na vida cotidiana, sempre tão dura e corrida. (...)

Muitos interpretam a letra de A Banda tentando fazer correlações com a Ditadura Militar, instaurada dois anos antes do lançamento da música de Chico, em 1 de abril de 1964.

A Banda entrou para o seu primeiro disco, Chico Buarque de Hollanda, cuja capa, que mostra Chico sorrindo de um lado e sério do outro, acabou virando meme recentemente nas redes sociais." (...)

https://www.letras.mus.br/blog/a-banda-chico-buarque-analise/

Antº Rosinha disse...

Luís, feliz ideia de te lembrares de um dos maiores autores em língua portuguesa, com esta da Banda do Chico Buarque.

O Chico Buarque, e aqueles autores brasileiros clássicos, como Caetano, Vinicius de Morais, Milton Nascimento, e muitos mais que cantavam apenas em português do Brasil, onde para ser bom tinha que cantar em Inglês devido a uma adoração que havia no Brasil pelos Estados Unidos da América, foram esses autores que puseram o Brasil a cantar em brasileiro, desaparecendo quase por completo brasileiros a cantar em inglês.

Isto foi mais ou menos durante a ditadura militar o que fez dalguns um tanto ou quanto revolucionários e até exilados.

Em parte aquela ditadura espevitou aqueles brasileiros fabulosos (e o Brasil estava também um pouco mais fabuloso)

Esses autores, onde entram muitos tal como Elis Regina, lembram um pouco o aparecimento dos nossos autores de Abril.



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bolas, não sabia que queria dizer "Euterpe"... Afinal, é a deua grega da música... Os gregos eram uns felizardos, tinham deuses para tudo e todas as ocasiões... E mais tinha, belas deusas, e belos semideuses e semideusas, e outras criaturas mitológicas, como as ninfas com quem os deuses gostavam de "coisar"... Como eu gostaria, se fosse "herói", de ir para o Olimpo... Para já deve ser muito mais divertido do que o Céu dos cristãos...

Leia-se aqui sobre Euterpe:

(...) Na mitologia grega, Euterpe era conhecida por entreter os deuses do Monte Olimpo com sua música e alegria. Em grego, seu nome significa “doadora dos prazeres” ou “doadora dos deleites”.

Euterpe inspirou diversos poetas, autores e dramaturgos e é, geralmente, representada tocando um aulos, instrumento musical de sopro que se assemelha a uma flauta dupla. (...)

https://www.hipercultura.com/as-nove-musas-da-mitologia-grega/

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O nascimento das 9 musas da mitologia grega

De acordo com a mitologia grega, as musas foram concebidas após Zeus e a deusa da memória Mnemósine se relacionarem por nove dias consecutivos. Isso ocorreu após a lendária vitória dos deuses do Olimpo contra os Titãs.

Zeus se relacionou com Mnemósine com o objetivo de dar luz a estas divindades que iriam celebrar a vitória do Olimpo e inspirar a humanidade para o conhecimento e às artes. Em alguns registros, as musas também são retratadas como ninfas aquáticas e elas aparecem na arte em locais como lagos e rios, e por vezes, acompanhadas do deus Apolo, cantando e dançando.

Excerto de:

https://www.hipercultura.com/as-nove-musas-da-mitologia-grega/

José disse...

Luís Graça,
Após as tuas explicações sobre a mitologia grega, acabei compreendi melhor porque havia uma Filarmónica "Euterpe" em Castelo Branco, ilha do Faial. Uma pequena viagem pela internet deu-me a conhecer mais algumas filarmónicas com aquele nome no jardim à beira mar plantado.
Abraço transatlântico.
José Câmara