Lamego, Novembro de 1971 > Desfile da despedida da 35.ª CComandos
1. Mensagem do nosso camarada Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), com data de 24 de Novembro de 2021:
EFEMÉRIDE
50.º ANIVERSÁRIO DA CHEGADA DA 35.ª CCMDS À GUINÉ
Boa-tarde, companheiros e ex-camaradas combatentes
Tenho de concordar, mesmo a contragosto, que estou a ficar velho: completam-se hoje cinquenta anos desde o meu embarque e dos restantes elementos da 35.ª C.C. - no paquete Angra do Heroísmo - a caminho da Guiné, onde chegámos a 29/11/71.
Anexo umas fotos, uma do desfile da despedida, em Lamego (no dia anterior) e as outras já no navio
Naquela altura, e porque me sentia tão bem, lembro-me de desejar que a Guiné fosse em Timor, para ir um mês em viagem, mas uma semana depois já estava em Teixeira Pinto, hoje Canchungo.
Um abraço e os votos de muita saúde para todos.
Ramiro Jesus
Viagem para a Guiné > A bordo do navio Angra do Heroísmo
____________Nota do editor
Último poste da série de 25 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22750: Efemérides (356): Thanksgiving - Dia de Acção de Graças - Fomos recebidos sem reservas pelos EUA. Em troca apenas nos pediram que compreendêssemos e respeitássemos as suas instituições (José Câmara, ex-Fur Mil)
4 comentários:
Teixeira Pinto, Canchungo, 16 de Setembro de 1972
Meti os pezinhos ao caminho, estreei o camuflado e a minha espingarda, bala na câmara e aí fui eu, numa coluna com os Comandos, cerca de cinquenta homens com fitas de balas enroladas em volta do corpo, granadas, espingardas, metralhadoras, enfim não tínhamos o aspecto de quem ia para um piquenique. Avançámos na estrada de alcatrão para dentro da zona onde já há, ou pode haver, guerra a sério, onde os guerrilheiros se movimentam no TO da PU -- ou seja Teatro de Operações da Província Ultramarina, -- montam emboscadas, lutam contra esta tropa branca que lhes invadiu a terra. O caminho era até Bula, quarenta quilómetros atravessando as aldeias e os aquartelamentos do Pelundo e Có, lugares onde já correu sangue inocente em abundância, onde matas e bolanhas foram retalhadas pelos instrumentos que matam pretos e brancos.
Os meus companheiros eram os homens que trazem um crachá vermelho e negro ao peito, a 35ª. Companhia de Comandos. São gente da minha fornada, mais corajosa e melhor preparada. Por isso, senti-me seguro e protegido. Viajei no primeiro jipe, à frente da coluna com o comandante da Companhia, conduzido pelo capitão miliciano António Andrade, um excelente rapaz de Angra do Heroísmo, meu companheiro de conversas por dentro da noite no bar do CAOP 1. Não levámos divisas, se caíssemos debaixo de fogo éramos todos iguais. Mentalizei-me, pensei numa possível emboscada. Os primeiros tiros são os mais perigosos, depois é preciso rastejar rapidamente para fora da estrada e arranjar um lugar abrigado, não ao alcance do fogo do IN. No fundo, sou atirador de Infantaria e na Guiné começo a comprovar a justeza da frase que aprendi em Mafra, e que na altura me pareceu ridícula, um rotundo disparate: “Suor derramado na instrução é sangue poupado no campo de batalha”.
Correu tudo bem, almoçámos com os oficiais do quartel de Bula, o Andrade foi lá combinar uma operação com a tropa da região. Regressámos a meio da tarde. Eu adivinhava os guerrilheiros negros, de coração vermelho como nós, a espreitar na mata, mas não houve nenhum problema, sem contactos. (continua)
Estou a exagerar a perigosidade do itinerário até Bula. É esta a estrada que depois conduz a Bissau, há colunas militares com veículos civis todas as terças e sextas e é raríssimo registarem-se emboscadas. Mas nunca fiando. Regressámos em paz. Acompanhei os Comandos porque queria sair de Canchungo e conhecer. Fez-me bem.
Esta 35ª. Companhia de Comandos já teve cinco mortos em combate. Vieram para a Guiné comandados pelo capitão António Ribeiro da Fonseca. Ora este homem, foi meu instrutor de táctica e guerrilha quando fiz a especialidade como Atirador na Escola Prática de Infantaria, em Mafra. Ele era então alferes Comando, conhecido como o “Bala Real” porque andava sempre com uma espingarda Kalashnikov que trouxera de Moçambique munida de balas reais. De vez em quando, tinha o gosto de disparar sobre as nossas cabeças para nos habituar às balas e fazer perder o medo. Nunca esqueci uma cena delirante.
Estávamos na Tapada a descansar após uma caminhada, perto do Portão Verde, do lado da Murgeira. Um dos cadetes do pelotão foi urinar e plantou-se diante de um pinheiro. Rápido, o “Bala Real” pegou na espingarda, fez pontaria à pila do rapaz e, a mais de vinte metros, disparou. O moço que estava meio de costas a mijar para a árvore, não viu o gesto do alferes Comando mas ouviu o disparo e sentiu o impacto da bala no pinheiro, a centímetros da sua pila. Voltou-se para nós, ainda com a pila na mão, branco, a tremer. O “Bala Real” perguntou-lhe: “Veja lá se a bala furou ou não furou o pinheiro!...” Ele não conseguia ver coisa nenhuma mas era verdade, a bala tinha atravessado a árvore de lado a lado.
O capitão Ribeiro da Fonseca foi o primeiro comandante da 35ª. de Comandos que está connosco no CAOP 1. Em Janeiro, numa operação na Caboiana foi ferido com um estilhaço que lhe perfurou um braço, evacuaram-no para Portugal e já não voltou.
Mas deixou boa fama por aqui. Disse-me um furriel Comando que, com ele, atacavam o IN ao som de um trompete.
O António Andrade, alferes miliciano com a melhor classificação de curso na 35ª, foi graduado em capitão e tem comandado a companhia, a contento de todos.
António Graça de Abreu
Sei hoje que a 35ª de Comandos não teve cinco mortos em combate. Foram menos ou nenhuns. Alguém me pode corrigir?
Abraço,
António Graça de Abreu
Também eu fui para Teixeira Pinto en Novembro de 1971,colocado na ccp122.A classe de sargentos dos páras e comandos estavam nas mesmas instalações e tínhamos óptimas relações.
Enviar um comentário