domingo, 9 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22891: Antologia (80): O Natal, mesmo na guerra, é quando um homem quiser (e puder)... (Jorge Cabral, 1944-2021)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Missirá > Pel Caç Nat 63 > 1970 ou 1971 > O Alf Mil At Art Jorge Cabral mais o seu amigo Malan.

Foto (e legenda): ©  Jorge Cabral (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. As mensagens que acompanhavam as  "estórias cabralianas" eram sempre curtas, para não dizer telegráficas. Como esta que acompamnhou a "estória cabraliana" nº 30 (Natal em Novembro). (*)

Querido Amigo, Para ti e todos os Tertulianos, o Bom, o Melhor, o Óptimo!

Estar vivo é já celebrar o Natal!

Abraço Grande
Jorge

PS - Junto Foto. Regressado de uma operação, tinha sempre à minha espera o meu Amigo Malan


Republico a "estória" como homenagem ao nosso "alfero Cabral" (**), o "alter ego" de Jorge Cabral (1944-2021).  A sua sensibilidade humana e o sua capacidade de contar uma pequena história em meia dúzia de linhas continuam a surpreender os seus leitores e admiradores...  "Um Natal em Novembro", chamou-lhe. Em plena guerra. No regulado do Cuor, em "terra de ninguèm". Afinal, o Natal, mesmo na guerra, é quando um homem quiser (e puder). Um texto de antologia (***).


2. Estórias cabralianas (30): Um Natal em Novembro

por Jorge Cabral


Amanheceu igual, só mais um dia em Missirá. Para o Mato Cão, vai o Alferes, uma secção, e o maqueiro Alpiarça. É lá chegar, esperar, ver o barco e voltar. Não há tempo para o sonho – do outro lado nem Gaia, nem Almada…

Já estamos de regresso, ouvimos restolhar. Vem aí gente. Neste lugar só podem ser os turras. Claro que, como sempre, o Alferes empunha apenas o seu pingalim e, em vez do camuflado, enverga camisa branca e calções de banho.

Paramos, agachamos, aguardamos. Porra, e se são muitos? Apanhado à mão, assim vestido, pensa o Alferes… Mas não, são três mulheres e um bebé. Doente, muito doente, informa a jovem mãe. Quem são, de onde vêm, ninguém pergunta.

Monta-se segurança, rodeando a mãe, o filho e o Alpiarça. O bebé está muito mal, quase não respira.
- Dá-lhe soro, aspira o muco, alivia-lhe os brônquios – grita o Alferes, subitamente médico.

Arrebita o bebé, elas agradecem e partem. Não perguntou o Alferes para onde, mas não era difícil adivinhar…

Foi em Novembro, estava calor, o Menino era Braima e não Jesus, nenhuma estrela iluminava o céu, e o Alferes não se parecia com os Reis Magos. Porém ainda hoje, ele acredita, que ali no meio do mato, naquela tarde, aconteceu Natal.

Jorge Cabral

_________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2369: Estórias cabralianas (30): Um Natal em Novembro (Jorge Cabral)

(**) Vd. poste de 8 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22890: "Alfero Cabral cá mori": Lista, por ordem numérica e cronológica,  das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - Parte II: de 20 a 39

12 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ó pobre alfero, três mulheres e uma criança "apanhadas à mão e levadas para Bambadinca, para o comando do BART 2917, eram um "grande ronco"!...LG

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Com a partida do Alfero Jorge Cabral, o unico, o Blogue, os Veteranos da Guerra da Guiné e todos nos, perdemos um Homem bom e invulgar, um excelente Humorista e Comediante nato. Aproveito esta oportunidade para endereçar os meus sentimentos de pesar a familia enlutada e aos amigos mais proximos.

Sobre o Poste de hoje, gostaria de apresentar algumas notas, a titulo de curiosidades, que, certamente o Alfero e todos os que passaram pela regiao, gostariam de saber.

No ultimo paragrafo do seu Conto de Natal o Alfero Cabral escreve: "Foi em Novembro, estava calor, o Menino era Braima e não Jesus, nenhuma estrela iluminava o céu, e o Alferes não se parecia com os Reis Magos. Porém ainda hoje, ele acredita, que ali no meio do mato, naquela tarde, aconteceu Natal".

Num comentario a um dos Postes anyteriores escrevi, mais ou menos isto: Nao era o menino Jesus, mas estava o menino Braima que é o maior dos Profetas das trés religioes conhecidas. Braima ou Ibrahima vem do Arabe "Ibrahim" e que corresponde ao Abrao ou Abraham dos Cristaos.

O toponimo Missira (nas linguas dos povos muçulmanos da Senegambia) vem, também, do Arabe "Misr" ou "Misra", ou seja o nome dado, pelos arabes, ao Egipto. Sao da mesma origem toponimos como Hamdalaye (cidade de Allah), Keruane ou Quereuane (cidade de Cairo), Madina (Medina, cidade do Profeta, na Arabia Saudita onde foi enterrrado o Profeta Mohammed) e muitos outros. Curiosamente, nao tenho ouvido nenhuma localidade com o nome de Maca (Meca) que, mesmo sendo considerada a cidade santa, nao merece muita reverencia, provavelmente devido ao facto da sua longa resistencia e luta tenaz movida pelo cla dos Kuraisitas (Cla do proprio Profeta) contra a religiao islamica e ao proprio Profeta obrigando-o a fugir e refugiar-se na regiao mais ao Norte onde encontrou apoio entre os clas de Medica.

Na regiao da Africa Ocidental, especialmente nos paises de maioria muçulmana, sao muitos os toponimos de origem Arabe devido a influencia da religiao islamica que aconteceu nos seculos anteriores a colonizaçao europeia, e fundamentalmente no século XIX com a entrada em cena dos povos Fulbés ou fulanis (fulas em portugués) e a fundaçao de importantes reinos teocraticos que alteraram radicalmente o cenario politico, demografico e socio-cultural da regiao, desde o Oceano Atlantico (Senegal/Mauritania) até a Africa Central (Camaroes e RCA). Estes movimentos e reinos nascidos das "Djihads" de letrados Fulbhées da regiao foram depois vencidos ou subjugados através de politicas de Protectorados pelas potencias coloniais. Todavia, assistimos de novo ao recrudescer do fenomeno "Djihadista" sob outras roupagens e carracteristicas, fundamentalmente fruto de politicas erradas e de governos exclusivos e a marginalizaçao de povos inteiros que nao se reconhecem nos governos e lideranças nascidos das independencias precipitadas e mal geridas, cujas consequencias e iumpactos ninguém pode prever, por enquanto.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Fernando Ribeiro disse...

Caro amigo Cherno Baldé e restante pessoal

Existe em Portugal uma localidade chamada Meca. É uma pequena aldeia situada a norte de Alenquer. Fui lá uma vez há muitos anos e deparei-me com uma grande e imponente igreja, grande e imponente demais para uma aldeia tão pequena, o que não é caso único em Portugal. Todos os anos realiza-se no adro fronteiro à igreja uma cerimónia de bênção do gado. Os criadores de gado da região reunem as suas ovelhas, cabras e bois no largo, para que o padre abençoe os animais, aspegindo-os com água benta.

Embora a igreja e o ritual sejam católicos, o nome Meca pode ter origem muçulmana, pois os árabes ocuparam a região durante cerca de quatro séculos e deixaram numerosos vestígios. O topónimo Alenquer, por exemplo, é de origem árabe. Por outro lado, um vulcão extinto existente nas proximidades da aldeia poderia ter sido um local para rituais pagãos realizados muitos séculos atrás, dos quais a bênção do gado poderia ser um sobrevivente.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Cherno e Fernando, ficámos a ganhar com os vossos preciosos comentários.

Em boa verdade esta terra a que chamamos Portugal já foi pagã, muçulmana, cristã... e hoje é laica e sobretudo ecuménica, tolerante, aberta... E sabe valorizar o que de melhor nos deixaram todos os povos que por aqui passaram...LG



Valdemar Silva disse...

Não vou entrar no correr Ceca e Meca ou no nosso correr Ceca (ou Seca?), Meca e olivais de Santarém.
Parece no Ceca e Meca terá a ver com peregrinações e o "nosso" com o fazer muito e não adiantar nada.
Eu, não me recordo perfeitamente, julgo existir uma pequena localidade no Distrito de Santarém chamada Ceca.
Quanto à Igreja de Meca, que também é designada por Basílica, é realmente uma grande e rica igreja de duas torres na pequena localidade. Foi erigida no local de uma pequena ermida em honra de Santa Quitéria por a santa curar os animais da raiva e por isso, julgo, haver a cerimónia anual de concentração e bênção de vacas, bois e cavalos.
Por curiosidade existe na região de Alenquer a localidade Catém, lugar em que havia uma torre, e também outra não muito longe de Meca de nome Abrã.
Também na pequena localidade Encarnação, na zona de Mafra, existe uma grande igreja, semelhante à de Meca mas mais deslumbrante devido às grandes varandas laterais de colunas de pedra, a Igreja de N. Sra. da Encarnação.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Caro Valdemar,
Quando fiz o C.O.M. em Mafra, passei não sei quantas vezes pela Encarnação (quando ia e vinha de fim de semana ao Porto) e nunca dei valor à igreja que lá está, junto à estrada. Sinceramente, não me pareceu que fosse particularmente grande ou rica, talvez porque estava com os olhos cheios do descomunal e esmagador convento de Mafra. Fiquei com a impressão de que a igreja de Meca é maior do que a da Encarnação, mas se calhar estou enganado.

Se há uma igreja na região saloia que merece uma atenta e cuidada visita, essa igreja é, sem dúvida nenhuma, a igreja de São Quintino, nos arredores de Sobral de Monte Agraço. É uma verdadeira joia do Renascimento, ainda com muito de Manuelino. Acho que esta igreja é verdadeiramente deslumbrante, por dentro ainda mais do que por fora! Se alguém puder ir lá, vá sem demora! Não se arrependerá! Se a igreja estiver fechada, peçam a chave numa das casas que ficam ao lado dela.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já registe-se a curiosa expressão idiomática, em português, "correr Ceca e Meca"... Qual a sua origem e o oque quer dizer ? Fomos ao "Ciberdúvidas da Língua Portuguesa" e lá vem a resposta do especialista Carlos Rocha, com data de 6/11/2015:


https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/correr-ceca-e-meca/33634


'Não há certezas acerca da expressão, que é também bastante usada em Espanha.

Uma das explicações tradicionais pretende que Ceca (em português, também se regista Seca1) «era a designação popular da mesquita de Córdova», conforme comenta Sérgio Luís de Carvalho, em Nas Bocas do Mundo (Lisboa, Planeta Manuscrito, 2010, pág.97/98), onde acrescenta:

«[...] correr Ceca e Meca remete para as antigas peregrinações hispano-muçulmanas que se faziam entre a principal cidade santa do Islão e a capital muçulmana da Ibéria. Saliente-se que, de entre todas as antigas cidades islâmicas que tinham mesquita, Córdova era a mais distante de Meca.[...]»

Note-se, porém, que ceca é um termo de origem árabe que significa «casa onde se cunha moeda», e não «mesquita»1. Vem, portanto, a propósito citar F. Corriente, que, no seu Diccionario de Arabismos (Madrid, Editorial Gredos, 2003), observa o seguinte (desenvolveram-se as abreviaturas usadas na fonte consultada):

«Ceca (castelhano y gallego) y seca (catalão) 'casa de moneda' y (portugués, sólo en la expresión Ceca e Meca, similar a la castellana de la Ceca a la Meca o de Ceca en Meca y gallego da Ceca para a Meca 'de un lado para otro'): del andalusí sákka < [árabe] clásico sikkah 'troquel [prensa para cunhar moeda] para hacer moneda'. Tal vez los andalusíes elaboraron dicha frase referiéndose a la casa de la moneda de Córdoba y aprovechando la rima, aunque no está documentado el dicho antes del castellano. [...]»1

Em nota etimológica à entrada ceca, o Dicionário Houaiss parece repetir a tese de Corriente:

«ár. hispânico sekka, red. de dār as-sekka "casa da moeda", e este do ár. síkka "moeda", prov. pelo cast. ceca (1511); em esp., a escolha do voc. na frase "de Ceca en Meca" ou "de la Ceca a la Meca" deve-se, segundo Corominas, a uma consonância com Meca “lugar célebre por ser distante e pertencente ao mundo árabe, como Ceca“; JRFras afirma ainda ser Ceca ou Seca palavra bérbere as-seca "povoação, habitação, casa".»

É, pois, plausível que, na génese da expressão em apreço, Ceca e Meca ocorram sem referência específica a lugares realmente existentes, mas apenas como forma de criar uma rima, que, ao mesmo tempo, permite exagerar (hipérbole) o esforço associado à longa deslocação a que a expressão parece, afinal, aludir.

Refira-se que, em português, existe outra versão desta locução: «por ceca e meca e olivais de Santarém» (ver obra citada de S. Luís de Carvalho).

1 Seca é a forma que ocorre a par de Ceca na obra Nas Bocas do Mundo, de Sérgio Luís de Carvalho. Contudo, na aceção de «casa onde se cunha moeda», a dicionarística em língua portuguesa regista ceca, e não seca, muito embora na toponímia de Portugal meridional se encontre Asseca, que José Pedro Machado considera forma menos adequada do que Aceca e que este lexicógrafo crê remontar ao árabe as-saquīa, "o canal". Observe-se ainda que muitos arabismos introduzidos na língua no período medieval se escrevem com c ou ç, – acelga < as-silqa; açúcar < as-sukkar – e não com s ou ss, o que reforça a adequação de Ceca, do ponto de vista histórico e ortográfico.

2 Note-se que, em espanhol, por andalusí se entende «árabe falado em Espanha nas regiões onde se desenvolveu a cultura árabo-islâmica».'

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/correr-ceca-e-meca/33634 [consultado em 10-01-2022]

Valdemar Silva disse...

Caro Fernando Ribeiro
Há uns anos, aos sábados, sem nada que fazer, ia em deambulações visitar determinada localidade, almoçar e visitar/filmar a igreja local. Até ouvia dizer 'deve ser da TV' ou 'vai haver casamento de ricos'.
Visitei grande parte das localidades da zona oeste, e também fui a São Quintino.
A Igreja de São Quintino (séc. XVI), construída sobre uma outra medieval, é outra bela igreja numa pequena povoação, com um espectacular portal manuelino, que dizem da autoria do mestre Boitac, por ter residido para aquelas bandas. No lado esquerdo portal da igreja aparece esculpida a figura de um índio com penas na cabeça, que parece ser único em todo o País.
Não muito longe de São Quintino, aparece dentro duma propriedade particular as ruínas da Capela românica-gótica (c.1320)de São Salvador do Mundo, provavelmente do tempo da igreja medieval de São Quintino.

Como sou um pouco católico, aproveitava as visitas para deitar abaixo meia garrafinha do bom tinto da região, agora apenas comento 'vinho? pois, disseram que vinham mas não vieram'.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Prezado Valdemar,
Eu desconhecia essa do índio no portal de S. Quintino. Não me apercebi dele e ninguém me chamou a atenção para ele. Isso fez-me lembrar um quadro de Grão Vasco que está em Viseu, chamado "Adoração dos Magos", em que o rei mago negro, tradicionalmente representado nos presépios, aparece substituído por um índio, dizem que da etnia tupinambá. O que é extraordinário é que esse quadro foi pintado entre 1501 e 1506, ou seja, logo após a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil em 1500. Ora Grão Vasco vivia em Viseu, a quase 300 km de Lisboa . Como foi que um índio apareceu representado logo a seguir à descoberta do Brasil (pelos europeus) num quadro pintado em Viseu? O quadro é notável e por si só justifica uma deslocação a Viseu, onde está no Museu Nacional Grão Vasco. É este: https://photos1.blogger.com/blogger/3306/2036/1600/graovasco_adoracao_dos_magos-1.jpg

Eu sou reformado da PT, agora chamada Altice. Fui um dos engenheiros encarregados de fazer os projetos de digitalização das centrais telefónicas da rede de Lisboa, quando a empresa ainda se chamava TLP - Telefones de Lisboa e Porto. Após a criação da Portugal Telecom, em resultado da fusão dos TLP com as Telecomunicações dos CTT, tive a mesma tarefa, mas relativamente a uma área que ia da cidade de Lisboa, exclusive, até Ponte de Sor, inclusive. Muitas vezes tive que me deslocar às centrais a intervencionar, a fim de verificar o seu estado e decidir que obras é que seriam necessárias para a acomodação do equipamento digital que eu também dimensionava. Nessas deslocações, fui a muitas localidades de cuja existência nem sequer suspeitava e ficava com curiosidade em conhecê-las melhor, assim como a região envolvente. Voltava lá num fim de semana e percorria-as com todo o vagar, para apreciar o que lá houvesse para ver. Foi assim que descobri inúmeras maravilhas naturais ou feitas pela mão do homem, como a igreja de S. Quintino.

Um abraço e votos de um bom ano

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre a povoção de Meca, concelho de Alenquer...Vd. o portal Terras de Portugal: Portugal em pormenor!... Alguns excertos, com a devida vénia:

http://terrasdeportugal.wikidot.com/meca

(...) Meca é uma freguesia portuguesa do concelho de Alenquer, com 14,08 km² de área e 1.809 habitantes (2001). Densidade: 128,5 hab/km².

Freguesia situada na margem esquerda do rio de Alenquer, Meca dista cerca de 7 quilómetros da sede do concelho. Confronta a norte com as freguesias de Abrigada e Ota; a sul com as freguesias de Carnota e Santo Estevão; a nascente com as freguesias de Olhalvo, Aldeia Gavinha e Ribafria e a poente com a freguesia de Triana.

Localidades

(...) Toponímia
Tem um topónimo de ressonâncias muçulmanas.

História:

Foi curato anexo à freguesia de Santa Maria da Várzea de Alenquer, tendo posteriormente passado a paróquia independente, com o título de priorado. O arquivo paroquial remonta a 1677. Foi-lhe anexada, em 1842, a antiga freguesia de Espiçandeira, orago São Sebastião, cuja criação remontaria a cerca de 1550.

Compunha-se de 11 fogos, em 1497, número que mais do que triplicará em 30 anos, registando 34 fogos em 1527. Decresceu depois, e em 1712 conta apenas 12 vizinhos e duas quintas. Não voltou a conquistar o nível populacional que atingira no século XVI. Em 1911 contava com 66 habitantes, distribuídos por 17 casas.

Segundo a tradição, no ano de 1238, terá aparecido num espinheiro, no sítio da Quinta de São Brás, uma pequena imagem de Santa Quitéria, advogada contra a hidrofobia (raiva). No mesmo local se terá levantado uma pequena ermida para recolher a imagem. Aumentou a concorrência de devotos, que à intercepção da Santa atribuíam um número crescente de curas milagrosas. Foi necessário edificar ermida maior, o que terá ocorrido já no local da igreja actual. Fundou-se uma confraria que, nas palavras de Guilherme Henriques, “pelo curso dos annos se tornou uma das mais ricas de Portugal”.

Já durante o reinado de D. Maria I, e sob protecção desta rainha, decide a confraria construir novo templo, na proporção das suas posses. Esta obra, terminada em 1799, conforme data inscrita sobre uma janela do edifício, é descrita pelos autores d’ O Concelho de Alenquer como “um perfeito modelo e exemplo da arquitectura neo-clássica, com raízes nos trabalhos do convento de Mafra e uma notória aproximação estilística da Basílica da Estrela e da de Santo António da Sé, suas contemporâneas”. Da Pedreira da Santa, a pouca distância saiu o calcário para a sua edificação.

Personalidades

Entre os soldados portugueses que, durante o século XVI, foram prestar serviço na índia, encontra-se o nome de João de Carvalho, de Meca.

Património

Na povoação avulta a igreja de Santa Quitéria, barroca e setecentista, um templo imponente, antecedido por uma galilé, surpreendente nesta diminuta aldeia. Um pouco mais adiante, já na subida para Casais da Marinela, o verde dos vinhedos passa a ocupar as encostas. Igualmente de notar é a existência de numerosas casas agrícolas, muitas sediadas em edifícios antigos (século XVIII, nomeadamente), algumas das quais de grande qualidade arquitectónica.

Há neste lugar uma fonte, construída em 1809, conforme a lápide que ostenta, com as esmolas dos devotos e confrades de Santa Quitéria para serviço dos romeiros. A Quinta de Meca, defronte da igreja, pertenceu durante séculos aos Castro do Rio Faria e Meneses. Já por finais do século XIX foi adquirida pelos Lobo Garcez Palha de Almeida. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

As influências do Árabe na Língua Portuguesa e locais portugueses com nomes árabes
VxMag por VxMag Mai 5, 2019 em Cultura


https://www.vortexmag.net/as-influencias-do-arabe-na-lingua-portuguesa-e-locais-portugueses-com-nomes-arabes/

Valdemar Silva disse...

'...1238...o número crescente de curas milagrosas...'
Por este facto, passou a haver uma confluência de gente para aquele local e por isso passou a chamar-se Meca = Makka, confluência de gente em árabe.

Valdemar Queiroz