quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22924: (Ex)citações (400): Não, não foi o Cherno Baldé... Divulgação do nome do "matador" do Mário Mendes no dia 25 de maio de 2022, quando passarem os 50 anos do duelo fatal, na Ponta Varela... (António Duarte / Luís Graça)


1. Mensagem,  por email,  de Antonio Duarte,  transformada em comentário ao poste P22920 (*)

[António Duarte, foto à esquerda: [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; tem mais de meia centena de referências no nosso blogue] 

 
Data - quarta, 19/01/2022, 20:04
Assunto - Cherno Baldé, o "matador" do Mário Mendes ?

Boa noite,  camaradas.

Propositadamente não falei em nomes, porque o blogue é público, lido na Guiné e poderia haver constrangimentos, embora eu acredite que provavelmente os envolvidos já faleceram.

O apontador da HK21 era o Braima S..., louvado pelo CAOP 2.

Foram também louvados pelo CAOP 2, para além do referido Braima, o Ansumane B... e o Indrissa B..., todos da equipa da HK21.

O furriel era o José Domingues, também ele louvado.

Estou com estes detalhes, porque consultei o livro do BART 3873, onde na página 4 cap III, figuram os louvores de julho de 72. (O Luís possui a publicação digitalizada que há longo tempo disponibilizei e que com a paciência que ele tem, publicou no nosso blogue).

O fur Domingues foi um dos que rendeu os graduados fundadores da CCaç 12. Tive há muitos anos a informação, sem confirmação, de que teria falecido bastante novo.

E é tudo.

Deixo ao critério do Luís se o detalhe dos nomes ligados a este acontecimento deverão ser publicados no blogue.

Um abraço a todos
António Duarte


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, António, pelos teus esclarecimentos adicionais e pelas tuas preocupações com o direito à privacidade (e ao sigilo) dos nossos camaradas guineenses...

Eu devia ter descartado logo a hipótese do Cherno Baldé, soldado atirador nº mec. 82115269, da minha 1ª secção do meu 4º Gr Comb... (O pelotão que integrei mais vezes durante a minha comissão, tendo embora passado por todos...).

O Cherno foi vítima da mesma mina A/C que eu, tendo sido ferido em 13/01/71, junto ao Destacamento de Nhabijões. Deve ter sido mais tarde substituído pelo Braima S..., de resto mais velho (em termos de antiguidade na tropa), e que foi para a CCAÇ 12 em rendição individual...

Costumamos distinguir 3 "gerações" na composição orgânica da CCAÇ 12: eu e o Cherno Baldé somos da 1ª geração (1969/71), o Victor Alves é da segunda, tal como o Braima S... Tu, António, és da terceira... Infelizmente, só uma história da unidade, e fui eu que a fiz (,vai até fevereiro de 1971; a CCAÇ 12 foi extinta em agosto de 1974).

Obrigado, António, pelas informações adicionais que me deste ao telefone... Talvez publique o teu comentário, com todos os detalhes por ocasião dos 50 anos destes tristes factos...

"Guerra era guerra", diziam-nos os antigos combatentes do PAIGC quando nos encontrámos em Imberém, Gandembel Guileje e Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de março de 2008).

È verdade, "guerra é guerra", morremos e matámos, matámo-nos uns aos outros, naquela guerra. O Mário Mendes "matou" o nosso sold cond auto Manuel da Costa Soares, que deixou um filho por conhecer,o Rogério Soares... O Mário Mendes foi morto, um ano e quatro meses depois pelo Braima S..., e também era casado e tinha filhos...

Os filhos têm o direito de saber como é que os pais morreram na guerra. Não para se vingarem, o que hoje já não faz sentido, mas completarem o "luto", fazerem o seu "choro"...

A paz e a reconciliação entre os povos também passa pelo doloroso processo de falarmos dos nossos mortos,e dos mortos dos nossos inimigos de ontem (, de há 50/60 anos).

Não há razões para não divulgarmos o nome do "matador" do Mário Mendes, quando se completarem os 50 anos sobre o acontecimento, ou seja, em 25 de maio de 2022. O poste já está em modo de edição... O Braima S... infelizmente já não deve estar vivo, se é que não foi  fuzilado pelo PAIGC a seguir à independência, como outros soldados e sobretudo graduados da CCAÇ 12 que transitaram para a CCAÇ 21
 (, comandada pelo tenente 'comando' graduado Abdulai Jamanca)... Se o Braima fosse vivo, teria hoje 80 anos, diz-me o António Duarte.

Faço um minuto de silêncio à memória de todos estes homens que já nos deixaram, uns de morte natural, outros de morte violenta, e que um dia se cruzaram nas nossas vidas... Ontem custou-me à adormecer com todos estes "filmes" na minha cabeça... LG

_________

Nota do editor:

6 comentários:

paulo santiago disse...

O Fur Domingues (ou Domingos) que conheci em Bambadinca,quando lá estive no CIM,era natural de Macinhata do Vouga,aqui no concelho de Águeda.Nunca mais o encontrei,e já lá vão muitos anos,estava com um amigo de Macinhata,falei-lhe no Domingos..."eh pá foi das primeiras vítimas da Sida,tal como a mulher que estaria grávida". Mais tarde um outro amigo meu,médico informou-me que a morte daquele camarada,deu origem a um artigo numa publicação ligada à Medicina. O Domingos,era um grandalhão,quando morreu pesava menos de 50 kg

Santiago

Anónimo disse...

Boa noite
Paulo Santiago, a informação que prestas sobre o fur Domingues (é assim que está identificado no livro do bart 3873), embora eu me lembre dele como Domingos, em 1972, infelizmente deve estar correta. Um ex camarada nosso da ccaç 12, de Oliveira do Bairro, que nos deixou no início de 2018, (António Manuel Sucena Rodrigues) tinha tido essa informação, há muitos anos.
Abraços
António Duarte
cart 3493 e ccaç 12 - jan 71 a jan de 74 (curiosamente faz hoje 48 anos que regressei)

paulo santiago disse...

Boa noite
António Duarte,posso estar enganado,mas julgo que Domingos é o apelido correcto.
Conheci o Sucena Rodrigues na Liga,núcleo de O.do Bairro.Quando estive em Bambadinca (out/71 mar/72) ainda ele não estava na CCaç12.Se estivesse o Domingos teria-me dito,era de um concelho vizinho.
Há muitos anos,num posto médico aqui na zona,encontrei o Sampaio(?) fora Alferes na 12 e tirara Medicina após vir da Guiné.Estava a substituir o médico titular.
Abraços
Santiago

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Bom dia, só para dizer que a história do BART3873 o Luís Graça tem o referido livro que tive o cuidado de lhe mandar quase no início de conhecer o blogue. Cumprimentos, A. sousadecastro@gmail.com

Anónimo disse...

Antonio Espadinha Carda, da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74), natural de Ponte de Sor, escreveu, ontem, no Facebook da Tabanca Grande:

(...) Estive nessa operação com o terceiro grupo de combate da 3494 e com o Mário Mendes morreu outro guerrilheiro que na altura seguia com o Mário Mendes na altura o soldado que se dizia que os matara ,antes de disparar bateu com as unhas no carregador da sua arma para o alertar. (...)

https://www.facebook.com/people/Tabanca-Grande-Lu%C3%ADs-Gra%C3%A7a/100001808348667

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nessa altura, em 1972 os alferes da CCAÇ 12 eram o Jaime (hoje e gestor, casado com a dra-Odete Cardoso, que eu penso que trabalhava no Tribunal de Contas), o Sobral (hoje médico oftalmologista em Coimbra), bem como o Ferreira e o Florindo, todos de rendiçao individual.

Paulo Santiago, não estarás e trocar os nomes ? Sampaio, alf da CCAÇ 12, mais tarde médcio = Deverá ser o Sobral. O Jaime e o Sobral e as respetivas esposas têm procurado manter alguns laços com os nossos antigos camaradas da Guiné, e em especial com o 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé. Estivemos juntos em Coimbra em 2011.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/05/guine-6374-inda-do-jose-carlos-aos.html