quarta-feira, 14 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24399: (De) Caras (197): "Da minha varanda também vejo o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua" (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra) - Parte I


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10

Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colarider > Maio de 2023>    "Da mimha varanda também vejo. o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua"

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso querido amigo e camaraada Valdemar Queiroz:

Data - domingo, 28/05, 17:31
Assunto - Quem não pode sair de casa, vai para a varanda.

Como não saio de casa, por motivos da DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), com o tempo mais quente dá para ir ver "passar as modas" na varanda.(*)

Vi nascer toda a urbanização da zona do prédio da minha casa. Passaram 50 anos, os casadinhos de fresco inauguraram os prédios da urbanização e com o andar dos anos os filhos foram crescendo e arranjaram outros locais para morar.

Os mais velhos, como eu, alguns ficaram, mas a maioria também saiu para outros lados. Agora, há cerca de 6-7 anos, os prédios começaram a ser habitados por outra gente,na maioria famílias de cabo-verdianos, mas também guineenses e angolanos.

E, agora, na rua só se vê gente de origem africana, talvez os de cá, já poucos, prefiram sair só de carro.

Eu, com o tempo mais quente,  vou para a varanda e vejo passar gente que me faz lembrar a Guiné e sempre vou tirando umas selfies apanhando pessoas descontraídas. Hoje passou um homem e duas mulheres com um t-shirt BALDÉ, e de imediato lembrei-me do nosso caro amigo Cherno Baldé.

Anexo umas fotografias tiradas da minha varanda, que são um filme do que vejo todos
os dias, desde a chinchada à velhinha nespereira às flores do jacarandá. (**)

Espero que o Cherno goste
Valdemar Queiroz

E

Valdemar Queiroz, minhoto por criação, lisboeta por eleição, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; aqui, na foto, em Contuboel, 1969. Vive hoje, sozinho, em casa, em Agualva-Cacém. Tem um filho e netos nos Países Baixos. De vez em quando vai de urgência para o Hospital Amadora-Sintra com uma crise aguda, devido à sua "DPOC de estimação"... Não perde, mesmo assim, a sua vontade férrea de viver e o seu saudável humor de caserna... O nosso voto é que ele continue mais teimoso do que a filha da p...
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(**) Último poste da série > 4 de junho de  2023 > Guiné 61/74 - P24366: (De)Caras (196): "Deus deve ter-se esquecido de África": o nosso tabanqueiro nº 643, Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, 1ª CCP / BCP 12 (Angola, 1970/72), num corajoso e sentido depoimento sobre a sua participação na guerra colonial, à Camões TV, Toronto, Canadá

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Da tua janela (que não é virada para o mar)...

Querido amigo e camarada:

Aqui tens a primeira parte, da tua "fotogaleria" da rua de Colaride...que não é virada para o mar, como a do Tristão da Silva...

Tiro-te o quico... A tua DPOC de "estimação" não te tira, mesmo assim, a tua vontade férrea de viver e o teu saudável humor de caserna......Continua a ser mais teimoso do que a filha da p...

A II parte segue mais logo ou amanhá... Um abraço fraterno. Luis


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Aquela Janela Virada Pro Mar

Tristão da Silva (1927-1978)

Cem anos que eu viva não posso esquecer-me
Daquele navio que eu vi naufragar
Na boca da Barra tentando perder-me
E aquela janela virada pró mar

Sei lá quantas vezes desci esse Tejo
E fui p'lo mar fora com alma a sangrar
Levando na ideia os lábios que invejo
E aquela janela virada pró mar

Marinheiro do Mar Alto
Quando as vagas uma a uma
Prepararem-te um assalto
P'ra fazer teu barco em espuma

Reparo na quilha bailando na crista
Das vagas gigantes que o querem tragar
Se não tens cautela não pões mais a vista
Naquela janela virada pró mar

Se mais ainda houvesse mais fortes correra
Lembrando-me em noites de meigo luar
Dos olhos gaiatos que estavam à espera
Naquela janela virada pró mar

Mas quis o destino que o meu mastodonte
E já velho e cansado viesse encalhar
Na boca da barra e mesmo defronte
Naquela janela virada pro mar

Marinheiro do mar alto
Olha as vagas uma a uma
Preparando-te um assalto entre montes de alva espuma
Por mais que elas bailem numa louca orgia
Não trazem desejos de me torturar
Como aquela doida que eu deixei um dia
Naquela janela virada pró mar


https://www.letras.mus.br/tristao-da-silva/478435/

Hélder Valério disse...


Caros amigos

Isto que o Valdemar nos presenteou pode ser observado sob vários aspetos.

O primeiro, imediato, é que me parece ser um "estudo fotográfico" da evolução do bairro onde mora, das ruas, dos habitantes, considerando que os originais se foram para outras paragens, que os habitantes agora são originários de Cabo Verde, Guiné e Angola, que já são habitantes de prédios e não de barracas ou moradias improvisadas, que são pessoas com empregos "normais", não maioritariamente na construção civil.

Considero que as povoações, os bairros, as ruas, são também, ou podem ser, "entidades vivas" com o seu quê de nascimento, crescimento, declínio e/ou substituição e que, por esse prisma, as fotos que fez (e faz) podem ser encaradas como um testemunho etnográfico.

Quanto às fotos em si mesmas, claro que o que imediatamente nos dá curiosidade é o nome estampado na T-shirt que encabeça a série, mas tudo então nos transporta para "outras paragens".

Outro aspeto que podemos considerar é mesmo o facto do Valdemar ser um "resistente", logo à cabeça como habitante do bairro (ainda e sempre, como os irredutíveis gauleses), e depois à situação de inferioridade induzida pela malvada DPOC que apesar de tudo não lhe tira a alegria de viver, o sentido crítico e até a ironia.

Hélder Sousa

Valdemar Silva disse...

As fotografias são tiradas por um telemovel fatela.
Tivesse uma máquina como deve ser, dava para mostrar a envolvência dos fotografados.
Os arruamentos, zonas verdes e prédios têm um bom aspecto devido tratar-se de propriedade horizontal a grande maioria e como tal havido uma boa conservação.
Os prédios nasceram em 1972-1973, no caminho de uma vacaria e moinhos de vento, ainda quase todos para alugar, a receber casados de fresco vindos de Lisboa com a estação dos comboios a 10 minutos, e a meia hora do Rossio.
Levou alguns anos a ficar tudo arranjadinho como agora se vê, e os novos habitantes, principalmente a mulheres, fazem grande motivo de vaidade por viver no 2º. andar, que até dá para estender a roupa a secar.
E até me dizem 'o vizinho está melhor?'

Vai haver mais fotos
Valdemar Queiroz

Eduardo Estrela disse...

Valdemar!!
Ver o mundo que os teus olhos abraçam desde a varanda da tua casa é muito melhor do que ir parar ao Amadora/Sintra.
Os teus exemplos de coragem e obstinação e a forma como verbalizas os momentos menos bons que a p... da DPOC te provoca, também nos transmite a nós força para encarar o futuro.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela

Anónimo disse...

Meu caro Valdemar,
Faço minhas as palavras dos “oradores” que me antecederam (aprendi esta fuga para a frente nas reuniões dos sócios do F.C. Famalicão). Contudo, pelas fotos, bem nos enganas, pois julgo tiradas na varanda (espero que tenha varandas!) do Hotel Royal em Bissau! Conseguir tal proeza não é para quem quer, é para quem pode (A onde é que eu ouvi isto?!). Gostei de te ver, a cores!.

Não me digas que não me compr'endes
quando os dias se tornam azedos
não me digas que nunca sentiste
uma força a crescer-te nos dedos
e uma raiva a nascer-te nos dentes
Não me digas que não me compr'endes
(Que força é essa? Amigo)
Um abraço
Joaquim Costa

Fernando Ribeiro disse...

Pronto, acho que já descobri onde mora o Valdemar Queiroz, com a ajuda das fotografias e do Street View da Google. É claro que não sei qual é o andar, nem sequer tenho a certeza sobre a porta do prédio dele, mas suponho que ele mora muito aproximadamente aqui: https://goo.gl/maps/ugtWqrMAFdbpf1oK7

O Valdemar não tem uma janela virada para o mar, mas merecia, porque parece ter os horizontes muito limitados. Mesmo nas traseiras, deve ter uma vista para o casario da Agualva-Cacém e pouco mais. Além disso, o ar lavado do mar far-lhe-ia bem, com toda a certeza.

A resiliência (como agora está na moda dizer) do Valdemar Queiroz é um exemplo de vida para todos nós. Aprendamos com ele.

Um abraço

Fernando de Sousa Ribeiro

Valdemar Silva disse...

Obrigado pelas palavras.
Uf! ainda bem que não há dúvidas, não sou "Salgado de Colaride Street".

O Luís Graça tem mais umas fotos para publicar, nessas podemos ver a chatice de não poder ir para a rua. Ter uma nespereira carregada quase a um palmo da varanda e não poder ir à chinchada como qualquer um gosta é uma chatice.
Também teria outra fuga até quase ao mar, do terceiro andar do prédio vemos a Serra de Sintra e imagina-se ver o oceano.

Valdemar Queiroz

Juvenal Amado disse...

Valdemar
As fotos da tua bem podem ser as da minha rua na Reboleira.
Embora eu só more aqui de forma permanente há sete anos vi muitas transformações desta zona nos 20 anos que a frequento.
Africanos de varias procedências tanto dos PALOPES como francófonos e Há sete anos existiam Romanescos às cárradas que entretanto foram para outras paragens,

Olha camarada estimo a tua saúde e não sei o mar seria uma bênção pois também há mais humidade

Um abraço

Juvenal Amado

Valdemar Silva disse...

Fenando Ribeiro acertou em cheio na minha porta.

O relvado e as árvores tudo bem tratado, nem parece de um subúrbio dormitório.
A luta que foi para manter/arranjar aquele relvado ao longo dos anos, primeiro um parque de automóveis dos habitantes dos prédios, depois a populucha hortinha para não se morrer de fome.
Agora é preciso crianças para a chinchada à nespereira que deita grande quantidade de nêsperas todos os anos.

Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Obrigado Juvenal.
Eu nasci à beira mar, a cerca de um quilómetro, mas sem hábitos de gentes da borda d'água.
Afife tinha/tem uma grande praia, mas nunca teve pescadores e gente do mar só as mulheres quando iam ao sargaço.
A rapaziada só ia à praia quando ajudava os banhistas no Verão, o mar era muito perigoso.
Mesmo assim, não fora as proximidades do mar teria dificuldades em crescer dado o meu estado de raquitismo.
Em Lisboa, puxava-me ver os golfinhos no Tejo e ir para a praia da Linha de Cascais. Desde os 16/17 anos que fazia campismo selvagem na praia de Troia, e assim cresci mais um bocado mas não chegando ao 1,70 e ao desenvolvimento ósseo.
E até poder, cerca de 2008, sempre tive hábitos de "banhista" nas praias do sudoeste alentejano por mais de vinte anos.
Que bom que era poder dar um mergulho numa onda e descansar na areia a fumar um cigarro (fdap de vício).

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz