sexta-feira, 3 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25475: S(C)em Comentários (35): "Barrigas de meia", no gíria do PAIGC (Cherno Baldé, Bissau)

1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P25465 (*)

"Barrigas de meia", no discurso politico e intimidatório do PAIGC,  seriam os oportunistas que, tendo tirado proveito da vigência do regime colonial,  ainda queriam aproveitar-se do novo poder para satisfazer suas apetências de parasitas. 

É uma metáfora politica usada como arma contra os antigos funcionários do regine colonial. Fazia parte do jogo da exclusão de tudo e todos que não eram da clique do Partido-Estado. 

Como resultado dessa guerra psicológica e das rusgas, todos os antigos funcionários de valor acabaram por abandonar o país e Cabo Verde acolheu uma boa parte.

A realidade depois demonstrou que todos eram "barriga de meia", dependente das circunstâncias e dos contextos. (**)

Cherno Baldé

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Cherno, pela tua pronta resposta. Vai para o nosso "proverbiário"...

Ainda conntinuo a encontrar a expressão nas redes sociais, e numa aceção agora mais lata do que a que era usada pelo PAIGC, a seguir à independência, e durante o regime de partido único, ou seja, enquanto Partido-Estado (como tu lhe chamas, e muito justamente).

Penso que definistes muito bem o que era o "barriga de meia"... Mas eu gostava de saber qual a origem da expressão: se é o que o eu imagino, seria o antigo funcionário civil, da administração, colonial, "barrigudo", que trajava camisa de manga curta, calção, e meia até à barriga perna...(e, no mato, "chapéu colonial").

Cherno Baldé disse...

Caro Luis,

Sim, mais ou menos isso, a relação comparativa que é feita com a "meia" é devido a sua natureza elástica e que nunca enche tal como a barriga de uma giboia, em referência, exactamente, a barriga dos antigos funcionários que aos olhos da nomenclatura politica do partido não passavam de oportunista a procura de novas oportunidades.

Na verdade e mais uma vez as teorias improvisadas e nunca antes testadas de Amilcar Cabral, do meu ponto de vista, estariam na base desses atritos se lembrarmos da teoria de classes sociais na GBissau que se referia a necessidade imperiosa do "suicídio da pequena burguesia" como classe, após a independência, condição necessária para o desenvolvimento do pais, a GBisssau. Na sua deriva teórica, muito aplaudida na Conferencia internacional de Havana, após a independência do país, a pequena burguesia, como única classe preparada, ou se quiser, revolucionária, deveria transformar-se, ou seja, suicidar-se como classe, perdendo a sua natureza burguesa de tipo capitalista baseada na exploração do homem pelo homem, transformando-se numa classe dinâmica e revolucionaria capaz de guiar o povo na senda do desenvolvimento e do bem estar social que era considerado o objectivo prinvipal ou programa maior da luta global do Paigc consagrado nos seus principios basilares. O sucesso da luta armada seria considerado o programa menor ou mínimo.

Amilcar Cabral estava imbuido de boas intenções, mas com a cabeça cheia de utopias e ingenuidades, muito distantes da vida real do território e das populações que eles pretendiam libertar.

Cordialmente,

Cherno Baldé