sábado, 8 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25618: Casos: a verdade sobre... (43): sim, a situação político-militar agravou-se em 1973/74, no CTIG, mas o PAIGC não fez a declaraçáo unilateral de independència... em Madina do Boé: um erro toponímico sistemático que a nossa historiografia militar anda a replicar há meio século...

 

Imagem de satélite (Cortesia de Google Earth)  com indicação de algumas das tabancas situadas na região oriental do Boé. Refere-se, também, Tiankoye, situada em território da República da Guiné, local por onde circularam as forças do PIAGC que atacaram Madina do Boé, em 10 de Novembro de 1966, e onde morreu o cmdt Domingos Ramos (1935-1966). 

Lugajole, Vendu-Leidi e Lela (esta já no território da Guiné Conacri) estão mais próximos do local "misterioso" onde o PAIGC fez a declaração unilateral da independência, a única zona acidentada da Guiné- Bissau (com pequenas colinas que chegar aos 100, 200 e até 300 metros, nas falda do Futa Jalon)... 

Madina do Boé, seguramente, é que não foi o "berço da Nação", embora desse mais jeito ao PAIGC para efeitos propagandísticos...  De Madina do Boé até á fronteira (passando por Vendu-Leidi), a leste, são 70 km, em linha reta. Para sul, são 10 km. (Vd. mapa da antiga província da Guiné, 1961, escvala 1/500 mil)

Naquele tempo não havia GPS, as fronteiras eram porosas, o Boé não tinha estrada para a fronteira a leste (nem picadas transitáveis em plena época das chuvas como era o caso em setembrto de 1973)... 

E todas as testemunhas (os protagonistas) do lado do PAIGC já morreram: o Luís Cabral não se lembrava do nome da tabanca mais próxima, o Vasco Cabral dizia que era Vendu Leidi... Fica a amnésia da História (e de um povo).. .

De qualquer modo, era preciso "ter lata"  para declarar "urbi et orbi" a independência da Guiné... num país estrangeiro. Mesmo assim estava garantida, na ONU, o reconhecimento imediato da nova república logo por cerca de 80 países... 

Foi a grande jogada de mestre do Amílcar Cabral desenhada antes de morrer... E o pior erro estratégico de Spínola, ainda "periquito",  a retirada das NT do Boé (Beli, Madina e Cheche).  E acresente-se: do Hélio Felgas, profundo conhecedor do território, mas que subestimou a importância do Boé para a logística e a propaganda do PAIGC.... De qualquer modo, quem não tinha cão, caçava com gato (*)...

Infografia: Jorge Araújo (2021). Legenda: JA/LG












Painel, reproduzido com a devida vénia, da exposição "MFA 25A - O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril", Lisboa, Gare Marítima de Alcântara (Abril-junho de 2024)

1. A propósito da exposição "MFA 25A - O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril" (**). que está a decorrer na Gare Marítima de Alcàntara, em Lisboa, de 14 de abril a 26 de junho de 2024 (no horário  das 14h00 às 20h00, de quarta feira a domingo), já chamámos a atenção para um erro factual imperdoável: dar Madina do Boé como local onde o PAIGC proclamou a independência unilateral da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973 (ver imagem do painel, acima reproduzida, com o topónimo sublinhado a vermelho, por nós)

Não sabemos de quem é a autoria do texto. Pode ser um deslize, mas é lamentável.  Hã anos que temos batalhado, aqui no nosso blogue, contra este "embuste histórico" do PAIGC, infelizmente replicado  por historiógrafos militares e jornalistas portugueses, para não falar de académicos, uns e outros pouco ou nada conhecedores da geografia  da região do Boé. (*).  

Fica aqui o nosso protesto: damos importância, no nosso blogue, à "verdade factual" (***)... De qualquer modo, continuamos a aconselhar a visita à exposição, a qual, de resto, utiliza alguns materiais do nosso blogue (fotos do Jose Casimiro Carvalho e do Miguel Pessoa).
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

5 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22106: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte I: A variável "clima" (Jorge Araújo)

21 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22122: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte II: Missão a Gaoual (Jorge Araújo)

12 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22275: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte III: A Brigada de Fronteira de Gaoual e o apoio no controlo dos movimentos na Região de Lela em novembro de 1966 (Jorge Araújo)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/06/guine-6174-p22275-um-olhar-critico.html

Mas também:


20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3920: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (2): Opção inicial, uma tabanca algures no sul, segundo Luís Cabral (Nelson Herbert)

1 de março de  2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)

17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4042: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (4): Ajudas de memória (Abreu dos Santos)

9 de outubro de  2009 > Guiné 63/74 - P5079: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (5): Lugajole, disse ele (Luís Graça)


(***) Último poste da série > 24 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25104: Casos: a verdade sobre... (42): O "making of" do livro do Amadu Djaló (1940 - 2015), "Guineense. Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il.) (Virgínio Briote)


8 comentários:

Valdemar Silva disse...

Fora a questão de Madina do Boé, também aparece escrito :
"....GUIDAJE A NORTE E GUILEJE E GADAMAEL A SUL, O 3 G'S "

O que é "O 3 G'S"?
Provavelmente querem dizer "OS 3 GS", mas escreveram o "O" no singular e "G'S" como fosse o plural.
Assim escrito* quer dizer que os 3 pertencem ou são do G e não a ideia da referência do nome das 3 tabancas começar pela letra G .

Valdemar Queiroz

*esta palermice de utilizar " 'S " à inglesa como se fosse plural é mal utilizada nas denominações comerciais de cafés e sapatarias, como se fosse o "Café das Fátima's" ou "Sapataria Paulo's" quando os sócios são dois Paulos.

Antº Rosinha disse...

Cada um faz o uso que entender do histórico 25 de Abril.
Do 25 de Abril que foi em 1974, ano que já nem todos os portugueses recordam de ter decorado na história de Portugal.
Daquilo que se diz das ideias dos "capitães" e daquilo que se diz de Salazar, que já nem governava havia 6 anos.
Cada um deve estudar e formar as suas ideias próprias.
E, quanto à Guiné, como dizem os heróis do PAIGC, " e tanta festa que os portugueses fazem com o 25 de Abril, e nem uma palavrinha de agradecimento à nossa luta".
Este marco histórico, 25 de Abril, como o 5 de Outubro de 1910, como o 28 de Maio de 1926, este que não dá direito a feriado nacional, serviram para os portugueses se livrarem de algo que não agradava ao povo.
1 de janeiro de 1986, quando Portugal e a Espanha passaram a ser membros da CEE, é data injustamente esquecida.

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... «mas o PAIGC não fez a declaração unilateral de independência... em Madina do Boé: um erro toponímico [sic] sistemática [?!] que a nossa historiografia militar anda a replicar meio século depois... »;
- «Há anos que temos batalhado, aqui no nosso blogue, contra este "embuste histórico" do PAIGC».
"Há anos"?!?!?!
E insiste na aldrabice, embrulhada com questões que, em bom rigor, são absolutamente laterais ao "tema" proposto.
Pois é: aquele mesmíssimo manhoso 'hoax', que ao longo de quase duas décadas o proprietário deste berlok objectivamente auxiliou a propagar e agora, qual vestal ofendida, rasga as vestes e surge phenix da Verdade da História.
Mas 'inda por aí l'os hai indefectíveis quem lhe renda créditos... !
Sr. Luís Manuel da Graça Henriques, em vésperas de mais um Dia de Portugal, por uma vez que seja, peço encarecidamente: ganhe vergonha na cara e deixe-se de pantominices.
Votos de melhoras da sua saúde, física e mental.

Carlos Vinhal disse...

Madina do Boé, talvez a opção ideológica do curador da exposição.
Faz lembrar o I Congresso do PAIGC em Cassacá em plena Op Tridente. Cassacá sim, mas no continente.
Carlos Vinhal

Valdemar Silva disse...

Antº. Rosinha, essa do dia 28 de Maio de 1926 não ser comemorado com um feriado é das melhoras que tenho ouvido ou "ouvisto" como diz o outro.
E como se diria, porque raio haveria de ser feriado uma data de implantação de uma ditadura nacional e depois a continuidade com um governo de ideologia fascista (LP,MP e PIDE) com milhares de presos políticos, um campo de concentração, com milhares de portugueses a emigrar por melhores condições de vida e a manter uma guerra por mais de uma década com milhares de mortos ?

Caro Carlos Vinhal, eu vou mais para a hipótese de ignorância.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos: a verdade, ainda que amarga, se traga, diz a filosofia de senso comum, a que chamamos também "populkar"... A honestidade intelectual, a preocupação com o rigor, e essas coisas mais elementares do convívio humano e da nossa atividade bloguística... não têm (ou não devem ter) ideologia.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Madina do Boé: 188 referências no blogue, desde meados de 2005 (as primeiras, sobretudo sobre a retirada de Madina e o desastr de Cheche, no âmbito da Op Mabecos Bravios).

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Madina%20do%20Bo%C3%A9

Hélder Valério disse...

Caros amigos deste espaço

Na realidade, este Blogue, somando a fase inicial, a do "foranada" e a que ainda atualmente vive e sobrevive, com todo o seu valor intrínseco, tem conseguido manter, mesmo com altos e baixos, uma razoável, digo mesmo, muito boa, linha de interação com os seus leitores.

Naturalmente não está a salvo de críticas e isso até é saudável, principalmente as que se afiguram justas e que se orientam por se pautarem por contribuições positivas.

Naturalmente, também, aparecem com alguma regularidade, críticas e observações que se podem enquadrar no entendimento de que são orientadas pelo desejo de protagonismo dos seus autores, de quererem "marcar a agenda", resvalando muitas vezes para a provocação, por vezes bastante reles, no intuito de suscitar respostas para depois haver réplicas e "tréplicas" procurando assim monopolizar as atenções e causar desgaste.

Já se sabe que um pilriteiro dá pilritos, que será bom para fazer chás, mas não dará nenhuma fruta boa de comer.

Hélder Sousa