Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Carlos Fortunato, em Bissau, 2006. Foto: Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné |
Os felupes que eu conheci (1) > O recruta Dudu, em Bolama, 1969
O recruta africano que surge na foto é Dudu, 2º comandante de um pelotão de milícias felupes, o 1º comandante chamava-se Ampánoa.
Adversários temíveis os felupes, possuem elevada estatura e grande robustez física. São referidos como praticantes do canibalismo no passado, são coleccionadores de cabeças dos seus inimigos que guardam ou entregam ao feiticeiro, e usam com extraordinária perícia arcos com setas envenenadas.
O felupe é conhecido como pouco hospitaleiro para com as restantes etnias, pelo que existe da parte destas um misto de animosidade e desconhecimento.
Os felupes são igualmente grandes lutadores, fazendo da luta a sua paixão. Este desporto tão vulgarizado nesta etnia, prende-os, empolga-os, constituindo o mais desejado espectáculo.
Este grupo de felupes é famoso pela sua combatividade, a qual não conhece fronteiras, fazendo incursões frequentes no Senegal.
O felupe da foto, Duda, ficaria gravemente ferido após o seu regressos a Varela, segundo me contou num encontro que tive com ele em Bissau. Um estilhaço de roquete entrou-lhe na cabeça pela testa, num inesperado encontro frente a frente e a curta distância com uma patrulha do PAIGC, em que se atirou para o chão para evitar o disparo do guerrilheiro que lhe apareceu pela frente. Apesar de atingido pelo estilhaço, não falhou o tiro com a sua bazuca, acertando em cheio no guerrilheiro.
Disse-me que já sabia que lhe ia acontecer algo mau, pois dias antes alguém tinha colocado sal no chão à saída da sua porta, e ele tinha-o pisado quando saiu.
As notícias que chegaram depois da independência é que foram todos mortos pelo PAIGC.
[ página que foi descontinuada, por estar alojada no "Sapo", tendo sido "capturada" e "salva" pelo Arquivo.pt; era administrada pelo nosso camarada Carlos Fortunato, ex-fur mil, CCAÇ 2591 / CCAÇ 13 (Bissorã, 1969/71).
publicado em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2006 por Carlos Fortunato. ]
5 comentários:
O nosso querido amigo Carlos Fortunato talvez não saiba mas o Dudu veio para Portugal, ou na sequência dos ferimentos recebidos em combate e/ou após a sua recuperação. Tinha uma placa metálica a reforçar a zona craniana a qual lhe alterava ligeiramente a face.
Tive o privilégio de privar com ele e o Ampanoa na Guiné pois foram connosco Ccaç 14 para a zona operacional de Cuntima. Posteriormente foram para o chão Felipe. Com o Dudu, que vivia na zona de torres Vedras, ainda estive em vários almoços.
Conseguiu a nacionalidade portuguesa e tinha uma pensão de pouco mais de mil euros resultante das sequelas que transportava
Eram muito boa gente.
Abraço. Eduardo Estrela
Eduardo, é caso para dizer... o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande!
Pois é, Eduardo, já me esquecia que vocês, CCAÇ 2592, tinham pessoal natural das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe (a que pertenciam o Duda e o Ampanoa).
A 2ª fase da instrução de formação foi no CIM de Bolama, mas o pelotão Mandinga foi no CIM de Contubooel, juntamente com os soldados das futuras CART 11 e CCAÇ 12 (a minha CCAÇ 2590)... Lembro-me do nosso camarada António Bartolomeu, furriel, de resto nosso grão-tabanqueiro. Nunca percebi por que é que houve esta segregação étnica, manjacos e felupes para um lado (Bolama), mandingas para outro (Contubole)... Os mandingas eram do Leste, ficavam mais ao pé de casa ?
Aquele abraço. Luis
Tudo gento boaLuís!
Algarvios , beirões, alentejanos, fulas, mandingas, manjacos tra no smontanos felupes, gente doutra cultura costumes e forma de comunicar.
Amigos!
Com eles aprendemos coisas que nos prendem à vida.
Com eles aprendemos o r no mundo e na sociedade mas mentes obtusas aniquilaramespeito.
A guerra para que?
Puta que pariu a guerra.
Pódiamos ter escrito uma brilhantehistoria de humanismo
Eduardo Estrela (by email)
26 dez 2024, 21:25
Assunto - A terra e as gentes que continuamos a amar
Luís!!
Tenho cada vez mais, dificuldades em tecer comentários aos posts do blogue.
Acabei de dar um ( OK ) ao que se refere ao Dudu e ao Ampanoa com a certeza de que algo foi mal executado.
Abomino estas merdas das denominadas novas tecnologias. Viva a comunicação oral, escrita, por sinais de fumo, por sons, por movimentos, por formas de andar e de sorrir, por entendimento e respeito pela condição humana.
Não sei como vai surgir no blogue da memória que tu e quem te tem acompanhado continuam a manter com esforço, dedicação e entrega de momentos que podiam ser só de vocês, mas que preferem partilhar com quem continua a ter , como vocês, os sons os cheiros as cores, a PARTILHA, duma terra e dumas gentes que havemos de transportar no nosso coração.
Ainda não consegui aceder ao teu convite de comentador de aprendizagem.
Abraço e que Deus nosso senhor, os bons irans, Buda, Maomé, os homens e as mulheres te protejam a ti e a quem te vai acompanhando neste luta incessante que é a rebeldia racional.
Abraço.
Eduardo Estrela
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