Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O valente Toby, um boxer... Ferido em combate, sobreviveu e regressou a casa com os seus "camaradas de guerra"... Infelizmente, e para grande desgosto do João Sacôto, teve de ser abatido por doença grave, infecciosa, contraída no TO da Guiné. O João nunca mais voltou a ter um cão. "Amigo, guarda-costas, camarada"... são alguns dos epítetos que o seu dono a ele se referiu, em conversa que tivemos ao telefone... Acompanhou o João em diversas operações, e nunca o largava, nomeadamente quando o dono, sozinho, se embrenhava no mato para fazer as suas necessidades... Ficava de sentinela, não fosse o diabo tecê-las!... Um história, tocante, que faltava no nosso blogue...
Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Recorte do "Diárrio de Notícias", 3/2/1966
Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Toby, junto com a malata da CCAÇ 617, desembarcando em Bissau, em 15 de janeiro de 1964. Foto de João Sacôto (2019) |
Data / Hora - 11/02, 14:45
Assunto - o meu cão Toby
Luis:
O meu cão Toby (*) era muito acarinhado pelo pessoal do batalhão [, o BCAÇ 619,] e famoso entre a população local de Catió. Regressou a Lisboa comigo, como documenta o "Diário de Notícias", de 03/02/1966 (em artigo jornalisticamente trabalhado por excesso…) .
Acompanhou a companhia em algumas operações, assim como me fez companhia nos destacamentos que fiz em Ganjola e claro também nos acompanhou no último destacamento da CCAÇ 617 no Cachil, ilha do Como.
Quando foi ferido, durante uma das nossas operações [, no Cantanhez], não nos apercebemos da situação e foi só no dia seguinte que uma patrulha o avistou ao longe e estiveram a pontos de lhe dar um tiro, julgando tratar-se de uma gazela ou outro animal selvagem. Felizmente alguém gritou “Não atirem, é o Toby”. Encontrava-se quase desfalecido na berma da estrada já perto do quartel. A sua recuperação foi longa pois a sua fraqueza não lhe permitia nem levantar-se, nem alimentar-se normalmente. Foi recuperando as forças lentamente, alimentado com papas de farinha diluída em água que lhe ia dando com a ajuda de uma colher.
Em boa verdade, ao contrário do que conta o jornalista, não foi operado, por decisão do nosso médico que achou ser preferível que as feridas com entrada e saída da bala fossem fechando lentamente e de dentro para fora, evitando uma infeção que poderia ocorrer, caso fosse suturado.
Um agradecimento ao José Martins.
Um abraço,
JS
Um agradecimento ao José Martins.
Um abraço,
JS
2. Mensagem do nosso colaborador permanente, José Martins, em complemento da mensagem anterior:
Data - segunda, 11/02, 18:51
Assunto - O “cão-praça Toby”
Não estranhem o título.
No tempo em que a cavalaria era a cavalo, que os oficiais de infantaria se deslocavam em cavalos e a artilharia era de tracção animal (solípedes), os animais eram considerados “cavalo-praça” a que
se seguia o seu número de ordem.
Tinham direito a uma verba para alimentação e, era corrente nos jornais de localidades em que existiam regimentos, haver concursos para “fornecimento de forragens e palha”.
Veio isto a propósito de um recorte de jornal, devidamente explicado, publicado no Diário de Noticias de 2 de Fevereiro de 1966, há portanto 53 anos [, reproduzido acima
A história vai ser escrita/contada pelo Luís mas, não me escuso de antecipar um comentário, com base na notícia e descrição feita pelo Sacôto.
Se o Toby tivesse nascido na terra do Tio Sam, hoje teríamos, nos anais militares, a existência do “cão-praça Toby” com direito a verba para a alimentação e coleira e trela fornecida pelos Serviços de
Material, depois de confeccionada por algum Sargento Artífice Correeiro.
Como cita o tratador, o referido cão-praça foi ferido em acção de combate, tendo desaparecido no decurso dessa operação. Em situação normal, dentro da anomalia da guerra que todos vivemos, ao ser dado como desaparecido em combate, o mesmo teria sido objecto de menção na Ordem de Serviço e, provavelmente, os helis teriam levantado para “bater o terreno de operação”.
Como foi recuperado em condições físicas graves, teria direito a ser socorrido num hospital VET. Como caso raro, seria posteriormente recebido pelo General Comandante-chefe e Governador da Província, para lhe colocar numa “Casaca bordeada a ouro” que seria confeccionada numa
qualquer rua de Bissau, uma condecoração.
Digam lá: Era um grande Ronco, não era?
Gandabraço
Zé Martins
3. Nova mensagem do João Sacôto, com data de 11/02/2019, 19:24
Assunto - O “cão-praça Toby”
Não estranhem o título.
No tempo em que a cavalaria era a cavalo, que os oficiais de infantaria se deslocavam em cavalos e a artilharia era de tracção animal (solípedes), os animais eram considerados “cavalo-praça” a que
se seguia o seu número de ordem.
Tinham direito a uma verba para alimentação e, era corrente nos jornais de localidades em que existiam regimentos, haver concursos para “fornecimento de forragens e palha”.
Veio isto a propósito de um recorte de jornal, devidamente explicado, publicado no Diário de Noticias de 2 de Fevereiro de 1966, há portanto 53 anos [, reproduzido acima
A história vai ser escrita/contada pelo Luís mas, não me escuso de antecipar um comentário, com base na notícia e descrição feita pelo Sacôto.
Se o Toby tivesse nascido na terra do Tio Sam, hoje teríamos, nos anais militares, a existência do “cão-praça Toby” com direito a verba para a alimentação e coleira e trela fornecida pelos Serviços de
Material, depois de confeccionada por algum Sargento Artífice Correeiro.
Como cita o tratador, o referido cão-praça foi ferido em acção de combate, tendo desaparecido no decurso dessa operação. Em situação normal, dentro da anomalia da guerra que todos vivemos, ao ser dado como desaparecido em combate, o mesmo teria sido objecto de menção na Ordem de Serviço e, provavelmente, os helis teriam levantado para “bater o terreno de operação”.
Como foi recuperado em condições físicas graves, teria direito a ser socorrido num hospital VET. Como caso raro, seria posteriormente recebido pelo General Comandante-chefe e Governador da Província, para lhe colocar numa “Casaca bordeada a ouro” que seria confeccionada numa
qualquer rua de Bissau, uma condecoração.
Digam lá: Era um grande Ronco, não era?
Gandabraço
Zé Martins
3. Nova mensagem do João Sacôto, com data de 11/02/2019, 19:24
Obrigado José Martins. Gostei.
O fim da historia é um pouco triste:
Alguns meses após o nosso regresso da Guiné, o Toby adoeceu. A sua doença foi-se agravando até que o levei ao veterinário que lhe diagnosticou uma infecção generalizada do sangue derivado dos imensos ataques dos famigerados mosquitos da Guiné.
Por mais esforços que eu fizesse, tentando protegê-lo dos ataques que ocorriam durante a noite enquanto dormia, pela manhã, no lugar em que tinha estado deitado, era notável uma mancha de sangue, creio que dos mosquitos por ele esmagados quando em desespero se voltava no lugar que lhe servia de leito.
Sem condição de cura da enfermidade, fui confrontado com a solução posta pelo médico veterinário de pôr termo ao seu sofrimento, aplicando-lhe a eutanásia.
Foi para mim muito doloroso mas foi também um acto de solidariedade pondo fim ao sofrimento do “cão-praça TobY”, meu amigo e "camarada de armas”.
Um abraço,
JS
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 17 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19502: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte III: O meu cão Toby, que fez comigo uma comissão no CTIG, e que será depois ferido em combate no Cantanhez
(*) Vd. poste de 17 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19502: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte III: O meu cão Toby, que fez comigo uma comissão no CTIG, e que será depois ferido em combate no Cantanhez
(**) Último poste da série > 6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19476: Recortes de imprensa (101 ): o desastro do Cheche, no rio Corubal, ocorrido na manhã de 6/2/1969 (Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1)