segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25884: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (5): Tabanca do Algarve, com o con inf ref Manuel Figueiras (Tavira e CCS/BCAÇ 2852), o Humberto Reis (CCAÇ 12), e dois camaradas do TO de Moçambique (Eduardo Estrela, ex-fur mil, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)




Tabanca do Algarve > Faro >  21 de agosto de 2024 > Da esquerda para a direita, o João Beles, o Humberto Reis, o cor inf ref Manuel Figueiras, o Eduardo Estrela e o Carlos Ventura. (O Manuel Maria Figueiras foi comandante da CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, vive em Faro; o Humberto Reis, nosso colaborador permanente, foi fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71, faz grandes temporadas pelo Algarve; o Beles e o Ventura estiveram no TO de Moçambique.)


Foto (e legenda): © Eduardo Estrela (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem do Eduardo Estrela, ex-fur mil (ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, Vila Real de Santo António; membro da Tabanca Grande desde 29/2/2012).



Data - quinta, 22/08/2924, 18:34  
Assunto -  Congresso da amizade e da gastronomia


Boa tarde,  Luís!!

Em anexo uma fotografia do almoço de ontem em Faro.

À esquerda e em primeiro plano o João Beles.  Na direita e em primeiro plano o Carlos Ventura. Ambos meus amigos e que pisaram as terras de Moçambique, ano e meio antes de nós termos ido para a Guiné.

 Ao fundo está o coronel Manuel Figueiras que esteve convosco (CCAÇ 12) em Bambadinca (ao tempo do BCAÇ 2852) e que no nosso tempo de Tavira era o director da carreira de tiro.

Foi um bom e bonito encontro.

Abraço fraterno
Eduardo
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25843: Verão 2024: Olá, nós por cá todos bem (4), um bom livro, de sabor camiliano, o último do Joaquim Costa, para se ler na praia, no pinhal ou na esplanada, de trás para a frente e de frente para trás

Guiné 61/74 - P25883: Tabanca da Diáspora Lusófona (25): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - II (e última) Parte (Rui Chamusco / João Crisóstomo)


Foto nº 1



Foto nº 6



Foto nº 3



Foto nº 4



Foto nº 5


Foto nº 7



Foto nº 8


Foto nº 9



Foto nº 10



Foto nº 11





Foto nº 12B


Foto nº 13


Foto nº 14



Foto nº 15


Foto nº 16

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco / João Crisóstomo0 (2024) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Visita à Eslovénia em julho de 2024 - Peripécias




por Rui Chamusco (texto e fotos)
e João Crisóstomo (legendagem das fotos) (*)



Julho 2, terça feira


João, Vilma e Rui estão de malas aviadas para a viagem de ida rumo à Eslovénia. Depois de várias insistências destes amigos para os acompanhar a esta visita às terras originais da Vilma, convenceram-me (a mim, Rui) a acompanhá-los mais nesta aventura, da qual tomarei nota das coisas mais singulares que forem acontecendo.


"Bagagem do Papa"


Se assim não fosse, quem sabe se não teríamos perdido a correspondência no aeroporto de Munique.

Conta-me que um certo homem, muito virtuoso e convencido do bem que fez neste mundo, se lembrou de morrer e passar para o outro lado. Foi, e bateu á porta do céu a fim de receber a sua recompensa. São Pedro abriu a porta e perguntou: " O que é que tu queres?" Ao que o santo homem respondeu: "Portei-me bem na terra, agora quero entrar no céu." E o São Pedro lhe disse: "Hoje não entra ninguém porque está para chegar Sua Santidade o Papa. Volta de novo lá para baixo." E o bom homem lá teve de regressar á terra.

Entretanto, o bom homem começou a pensar em dar a volta ao assunto, melhor dito a São Pedro. Arranjou duas malas grandes, uma em cada mão, e foi de novo bater á porta do céu. Mal São Pedro lhe abriu a porta, ele gritou: "Bagagem do Papa!" Ao que São Pedro acrescentou: "Entra! Entra!"...

O João e a Vilma tinham requisitado uma cadeira de rodas para o João, devido à sua dificuldade de locomoção, e assim foi. A mala do João tinha apensa a etiqueta desta deficiência. O apoio prestado seria para o João e a Vilma como acompanhante, sendo eu excluído da companhia.

Foi então que me agarrei á mala do João e assim fui passando todas as portas e usufruindo todas as benesses adjacentes, sendo sempre os primeiros a entrar nos aviões.


Julho 3, quarta feira - Sal em vez de açúcar


Hoje, ao pequeno almoço, salvei o João de tomar "café abatanado com sal".

Tanto o João gosta de açúcar branco granulado que era desta vez que iria ficar todo salgado. Quando o chamei à atenção pôs o produto no dedo e provou, confirmou e disse: " Pois é!... Ainda bem que me avisaste". Sabendo nós quanto o João gosta de açúcar, com certeza que desta vez ele se converteria numa "pilha de sal".

Primeiras impressões


Este primeiro dia foi passado em visita ao castelo Rajhenburg (Grad Rajhenburg), que outrora foi monastério de monges trapistas, que deixaram bem vincada a sua presença nesta região pela sua forma de vida com o lema "ora et labora" (reza e trabalha).

O museu que nele podemos visitar dá-nos conta das atividades que realizavam neste monastério. Não menos importante foi o momento que passámos na esplanada, com vistas deslumbrantes, acompanhados de um bom sumo de maçã local.

Bem longe daqui fomos almoçar um "burgher de la maison" como nunca vi na minha vida: tudo natural, saboroso e vistoso, que um estômago normal não consegue acabar. Forças recuperadas, seguimos para Kostanjevica visitar a "Galeria Bozidar Jakac", onde a cultura e a arte se fundem com a natureza e a espiritualidade.

Um antigo mosteiro cisterciense da idade média que, a partir de 1974, abriga esta grande exposição de arte. Para além da imponência do edifício, é impressionante a explicação de arte moderna e contemporânea expressa sobretudo em madeira que se estende pelos campos circundantes, onde a arte e a natureza estão de braços dados.

Nada mais reconfortante que um bom gelado para selar este belo dia.


Julho 4, quinta feira - Liubliana, a capital


Hoje fomos rumo à capital, a terceira cidade da Europa mais amiga do ambiente, com muitos espaços verdes e muito bem organizada. É uma cidade aberta, circundada pelo rio Ljubljanica que faz dela uma ilha com grandes atrações.

Bastantes turistas passeando e visitando os sítios mais ícones, alguns utilizando o Bus turístico entre os quais estamos nós, e que nos leva aos principais locais previamente anunciados. Entretanto, sentimos o pulsar do coração da cidade que, â semelhança de Paris, apresenta a "ponte nova" bem mais ornamentada com grande variedade de quincalharia (aloquetes, porta-chaves, pins, emblemas, etc) que desperta continuadamente a curiosidade dos transeuntes.

Ficou na retina a visita à igreja franciscana na praça principal, onde se podem observar as pinturas em todo o corpo da igreja e principalmente do teto. Mas os meus olhos ficaram presos no esplendor do órgão de tubos que o coro do edifício suporta. Não ouvi o seu sonido mas deve ser esplendoroso o seu tocar.


Julho 5, sexta feira - De montanha em montanha.

Logo de manhã, aí vamos nós a caminho da primeira: .....?

Nada de diferente, até pararmos junto a uma árvore Bohor que o João e a Vilma depressa identificaram porque, há cinco anos nela gravaram os seus nomes, a data e um grande coração. Verificaram que tudo ainda estava em ordem, e adicionaram nova inscrição com a data de hoje, que foi selada com um beijo amoroso como documenta a foto que lhes tirei.

Um pouco mais abaixo fizemos paragem num chalet (café), que na entrada, do lado direito ostenta uma placa que data de 1944, e que assinala a reunião dos "partizans" antes da II. Grande Guerra.

Voltamos a casa para almoçar, partindo depois para a segunda montanha, bastante longe da anterior, a montanha de Svenica.

Muitas voltas, muitas curvas, muito arvoredo, muitas belas paisagens. Quão difícil e sinuoso é o caminho que leva ao céu!...

Também aqui, àentrada do café, está uma placa que assinala a presença de vários militares e "partizans " e onde o general Tito, e outras grandes patentes, tomaram as decisões e posições relativas a II Guerra Mundial

Que paisagem deslumbrante, ornamentada em terra por caminheiros estafados, e nos ares por voadores de parapente...


Julho 6, sábado 06.07 - Convívio da família Kracun


A família da Vilma (os que puderam e quiseram) resolveu encontrar-se hoje, na casa de um sobrinho que habita numa das montanhas próximas daqui, Bretanica, filho da mana Mariana, a mais velha das cinco mulheres Kracun.


O pai foi mineiro nas minas de carvão de pedra das quais já só existem vestígios de carris e vagões muito bem tratados para memória futura e coletiva desta atividade local. A mãe foi cozinheira e doméstica . Tiveram filhas (5) e, como diz a Vilma, o pai ficou radiante quando vieram ao mundo os primeiros meninos (rapazes). Por aqui ficaram a irmã mais velha Mariana e a irmã Zvonka. As outras procuraram outras andanças.

É uma família muito bem disposta, onde o sorriso, a simpatia e o bom acolhimento estão sempre presentes, e que encara as dificuldades da vida sempre com otimismo e sentido de humor. Por exemplo a irmã Mariana que no dia em que nós chegamos teve uma queda em que partiu a omoplata e ficou com vários hematomas na cabeça e outras partes do corpo, não para de sorrir por vezes até à gargalhada.

O convívio decorreu muito bem, em ambiente deveras familiar. E, até eu que era intruso, me senti á vontade neste meio. Foi um dia bem passado, onde arranjamos novos amigos e conhecimentos.


Obrigado, família Kracun.


Julho 07 - Domingo, toca-se o sino


Sinos, igrejas e castelos são coisas que aqui não faltam. Logo de manhã, ainda atarantado de levantar, os meus ouvidos são acossados pelo tocar escangalhado dos sinos da igreja de Bretanica que, em meu entendimento, serão de latão e não de bronze.

Por minha causa, a Vilma e o João atrasaram a missa em que pretendiam assistir. Em vez das 7 horas apontaram para as 10, até porque o pároco da terra celebrava os 50 anos de sacerdote. Muita gente, muita cerimônia, muitos padres, muitos paroquianos e muito tempo a aguentar.

E nós, que nem tínhamos a "veste nupcial" ( eu e o João estávamos em calções) começamos a sentir-nos deslocados e a ter de estar sempre em pé, algo insuportável sobretudo para o João. Foi então que, num ápice, decidimos abandonar o local rumo a outra igreja que, por sorte, estava em função, pois ouvia cantar cá de fora o Aleluia gregoriano. Foi o melhor que fizemos, pois pudemos participar numa missa com um ritual simples, agradável e com boa cantoria, coisa que muito me aprouve.

Depois foi o almoço e a visita mais um castelo.


Julho 8, seguna feira - Mais uma visita: mais um castelo

Foi o último a ser visitado. Belas paisagens, grandes horizontes. Não muito diferentes dos outros nas suas valências atuais, deixadas ao turismo, à hospedagem, aos eventos festivos nomeadamente concertos e refeições de casamento.

Desta região é o general Tito que durante bastantes anos foi o caudilho da Jugoslávia.


Julho 09, terça feira  - Há mar e mar... Há ir e voltar

Dia de regresso a Portugal.

Embora sem necessidade, levantamo-nos todos muito cedo. E vai daí, como ainda faltava muito tempo para o início da partida, o João convidou-me para irmos beber um café ao sítio que ele já bem conhecia, não muito longe daqui. No regresso a casa a pé, por um atalho, o João mostrou-me com nostalgia os cantinhos recatados aonde mais a Vilma davam beijos e abraços durante a lua de mel.

E pronto. Toca a arrumar as malas e a fazer as despedidas, porque é chegada a hora da partida, primeiro de carro até Zagreb (Croácia) e depois até Frankfurt e Lisboa.

Considerações:


(i) Sou um privilegiado por ter usufruído esta semana de vida na Eslovénia. No princípio renitente em aceitar o convite do João e da Vilma, mas, devido à pertinência do João, acabei por aceitar. E ainda bem. Foi uma oportunidade única de conhecer este belo país dos Balcãs.

(ii) A Eslovénia é um país verde onde a natureza é rainha. As montanhas e os vales verdejantes serpenteados por rios e ribeiras dão-lhe características únicas, muito semelhantes às paisagens de suíças mais conhecidas.

(iii) O nível de vida é bom. As pessoas são simples e amáveis, sem arrogância nem vaidades.

(iv) É um país muito arrumadinho, com hábitos de cidadania exemplares. Sem lixo nas ruas ou outras transgressões significantes. Um país seguro aonde se não tem medo de andar na rua. A emigração aqui em insignificante. Os albaneses estão em maior número e dedicam-se essencialmente à construção.

(v)  Agradeço de coração ao João e à Vilma e a toda a família Kracun  o acolhimento e a atenção de que fui alvo. Não mais esquecerei, e estou certo que a nossa amizade ficou ainda mais fortalecida.

Um Xi de coração para todos. Rui Chamusco.


E algumas fotos da visita do Rui Chamusco (e nossa também) à Eslovénia

por João Crisóstomo


Fotos nºs 1, 2, 3 e  4 > as primeiras quarto fotos são sobre dois castelos de Brestaniça, terra natal da Vilma. 

Na primeira foto pode-se ver o castelo principal no topo da montanha; abaixo um edifício que é a estação de caminho de ferro e do lado direito um outro castelo, bem mais pequeno que tem recebido pouca atenção e visível falta de manutenção.

Os castelos da Eslovénia ( ver fotos nºs 1, 6 e 7) são bem diferentes dos nossos castelos portugueses. Em Portugal chamar-lhes-iamos "mansões fortificadas”, a que algumas das nossas “pousadas" se assemelham.

O primeiro, no topo é um dos castelos mais conhecidos e bem cuidados da Eslovénia e que está muito relacionado com a Vilma. Este foi utilizado pelos Nazis durante a guerra como uma prisão onde ficavam os prisioneiros, antes de serem enviados para outros destinos, na maioria dos casos para os campos de concentração e extermínio.

O pai da Vilma esteve nele como prisioneiro, mas como era um homem habilidoso, especialmente como carpinteiro ( as janelas do castelo foram na maioria feitas ou reparadas por ele) cujas boas maneiras lhe granjeavam boa vontade mesmo dos alemães. Nas ocasiões em os prisioneiros iam ser distribuídos e enviados para outros destinos, os mesmos alemães avisavam-no e deixavam que ele se escondesse. E porque precisavam dele assim sucedeu até que a guerra acabou.

Ao visitarmos o castelo de repente dei com uma foto igual a uma que temos em nossa casa em Nova Iorque: é que esta foi durante temps a casa da Vilma que estava situada na margem do Rui Saba e onde ficavam as turbinas que durante muitos anos produziram electricidade para o castelo.

As fotos nºs 8, 9, 10 e 11 foram tiradas na bonita cidade de Liubliana, capital da Eslovénia. Parece-me que pela sua beleza se explicam por si mesmas, sendo as fotos j e k da igreja franciscana, que pela sua beleza é uma das coisas a não perder em qualquer visita.


Fotos nº 12A e B : foi coincidência e surpreza: no dia seguinte à nossa chegada recebi um email dum fotógrafo/jornalista amigo da Vilma que tinha ido a Nova Iorque há uns meses atrás (e que até foi a nossa casa ); queria "mais algumas informações”... Quando lhe disse que acabávamos de chegar,  combinamos encontrarmo-nos na capital, onde já tínhamos intenção de ir; e no dia seguinte saiu um artigo sobre a sua visita a nossa casa em Queens com bonitas fotos num dos diários da Eslovénia. Vale a pena estar casado com uma eslovena como a Vilma…

Fotos nºs 13,  14 e 15:   foram tiradas durante algumas passeatas: a foto nº 13  mostra o nosso reencontro com a nossa árvore especial na Eslovénia… a foto seguinte (14)  foi tirada numa passada ao longo dum pequeno lago perto da casa da Vilma, lugar de repouso, picnics, restaurante e passeatas. E a outra, duma placa , marca e lembra um primeiro encontro de Tito com outros dirigentes locais de preparação para o que seria a resistência aos Nazis (Foto n º 15.

A última foto (nº 16) é um “reconhecimento”: de volta a Portugal o Rui retomou s suas funções de chefe e o mordomo presente, cujo trabalho neste dia foi o de "descasca-batatas",  não teve qualquer hesitação em lhe conceder classificação condizente.


Mais um abraço, que nunca serão demasiados.


João Crisóstomo

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Nota do editor:

(*) Último poste da série 25 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25881: Tabanca da Diáspora Lusófona (24): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - Parte I (João Crisóstomo)

Guiné 61/74 - P25882: Notas de leitura (1721): Breve história da evangelização da Guiné (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Da evangelização remota já se falou, aborda-se agora o papel do clero regular com destaque para dois padres guineenses de gabarito, Marcelino de Matos de Barros e Henrique Lopes Cardoso; os autores referem a importância do relatório preparado pelo sexto bispo que pisou a Guiné, D. José Alves Martins, documento que dirigiu ao governador em 1931, dele irá resultar a carta magna das missões católicas na Guiné que perdurará até à independência do país e à subsequente criação da diocese de Bissau, em 1977, não deixando fazer uma descrição pormenorizada da organização missionária. Lembram ainda que a Guiné não tem restos de igrejas dos séculos passados, com exceção da velha capelinha de Nossa Senhora da Natividade, em Cacheu, que vem do século XVII.

Um abraço do
Mário



Breve história da evangelização da Guiné (2)

Mário Beja Santos

Já aqui se deu amplo acolhimento à obra magna do Padre Henrique Pinto Rema, História das Missões Católicas na Guiné, dela até preparei um resumo para um livro que tenho em preparação sobre os textos fundamentais da presença portuguesa na Guiné. Mas também não se pode descurar outras iniciativas como esta Breve História da Evangelização da Guiné, da autoria de dois franciscanos devotados a estudos guineenses. Trata-se de uma edição do Secretariado Nacional das Comemorações dos 5 Séculos, datada de maio de 1997. Os autores explicam o significado daquele ano jubilar, tem a ver com a deslocação de D. Frei Victoriano Portuense, há precisamente 300 anos, saio da sua sede de diocese, na Cidade Velha, na ilha de Santiago, e foi visitar as comunidades cristãs da Guiné; o significado também abrange os 20 anos de existência da Diocese de Bissau.

Referiu-se no primeiro apontamento a história mais remota desta evangelização, não se iludindo a enormidade do insucesso até ao século XVII que foi na Guiné um século de expansão missionária. Cabe agora mencionar o papel do clero secular, tecer a sua apreciação até meados do século XX. Os sacerdotes do clero secular foram os primeiros a fixar-se em algumas praças da Guiné e foram também os mais regulares nessa estadia até aos inícios do século XX. Quando, por exemplo, os Franciscanos Portugueses se ausentaram da Guiné por um período de quase 100 anos (1834-1932) foram os padres seculares os únicos a aguentar o peso da missionação. Estes padres seculares visitavam temporariamente ou fixavam-se nas principais praças (Bissau, Geba, Farim, Ziguinchor, Bolama) e aí atendiam, sobretudo, os moradores das mesmas, ou a elas estritamente ligados: administradores, comerciantes, militares, grumetes. D. João V desejou expressamente deixar ao clero secular o trabalho religioso das praças (centros digamos urbanos) e entregar aos religiosos franciscanos o trabalho de missionação no interior da Guiné e nos rios distantes da Serra Leoa. Entre os séculos XVI a XVIII, os sacerdotes seculares vieram frequentemente à Guiné apenas como simples visitadores; nos séculos seguintes, embora em número sempre escasso, tiveram um caráter de permanência mais regular.

Para um envio de sacerdotes seculares teve real importância no século XIX a criação do seminário de Cernache do Bonjardim bem como no Seminário-Liceu de S. Nicolau, sem esquecer também o seminário na arquidiocese de Goa: o clero secular que missionou na Guiné ao longo dos séculos ou era português ou cabo-verdiano ou goês ou guineense.

Os autores irão destacar duas figuras eméritas de sacerdotes guineenses: os padres Marcelino Marques de Barros (1844-1929) e Henrique Lopes Cardoso (1863-1914). O padre Marcelino frequentou o Colégio das Missões de Cernache de 1855 a 1866, ano em que foi ordenado presbítero, tendo regressado à Guiné em dezembro desse ano. Paroquiou em Bissau, Ziguinchor, Farim, Bolor e Cacheu. Em 1873 foi feito Vigário-Geral da Guiné. Gozou férias em Portugal entre 1877 e 1878, frequentou a Academia de Belas Artes, aspirou a frequentar o curso de Ciências Naturais, mas não lhe deram tempo, teve que regressar à Guiné. Coube-lhe apresentar um trabalho de organização missionária (1880) que ficará mais ou menos letra morta. Em 1885 regressou definitivamente a Portugal onde passou a fazer investigações e a publicar textos do maior interesse. Deve-se-lhe, entre outras, o primeiro dicionário de português-crioulo, com 5.420 palavras.

O padre Henrique Lopes Cardoso nasceu em Bissau em 1863, filho de pai cabo-verdiano e mãe bijagó. Fez o curso do Seminário-Liceu de Cabo Verde, em 1889 foi presbítero e regressou logo à sua terra. Aqui fará a sua primeira estadia de 14 anos paroquiando em Bissau e Geba. Entrará em conflito com o Governador Vasconcelos e Sá que o desterrará para Geba nos finais de 1893, no ano seguinte foi deslocado para a paróquia de Cacheu, será aqui pároco durante 6 anos, acumulando com o cargo de Vigário-Geral. Entrega ao Governo da Guiné um importante parecer a respeito da administração eclesiástica da Guiné, propondo a fundação de uma Missão com Escola de Artes e Ofícios. Tudo letra morta. É na segunda estadia em Bissau que o padre Henrique escreve o seu pequeno, mas importante, “Vocabulário do dialeto Pepel”, seguramente o primeiro e único dicionário pepel até hoje publicado. Até à sua morte, paroquiou em Cabo Verde e Guiné, estando sepultado numa igreja em Santiago.

É significativo que ao longo de 407 anos (até à criação da Missão em 1940) apenas 7 bispos tenham visitado a “terra firme da Guiné”. O sexto bispo a passar pela Guiné foi D. José Alves Martins, foi ele que lançou as bases para uma nova missionação através de um relatório dirigido ao governador com data de abril de 1931, sugeriu uma congregação que se voltasse a fixar na Guiné, falou na necessidade de escolas catequísticas guineenses chefiadas por leigos guineenses. Estas escolas permanentes, a serem subsidiadas pelo Estado, ministrariam o ensino religioso e literário bem como a língua portuguesa. Daqui irá resultar a carta magna das missões católicas na Guiné que perdurará até à independência do país e à subsequente criação da diocese de Bissau, em 1977.

Seguidamente os autores fazem uma descrição muito pormenorizada dessa nova organização missionária, têm uma palavra sobre os hospícios e a evangelização permanente, não deixando de dizer que o número de missionários foi sempre diminuto (raramente ultrapassando a dezena) para um território que até 1886 se estendia desde o Senegal até à Serra Leoa. Até à vinda dos Franciscanos, em 1656, foi possível criar dois pequenos conventos, em Cacheu e Bissau. A Guiné não tem restos de igrejas dos séculos passados, com a única exceção da velha capelinha de Nossa Senhora da Natividade, em Cacheu, que veio do século XVII.

E vamos seguidamente ver o trabalho missionário até ao final do século XX.

Estas quatro imagens foram retiradas do livro em análise
Imagens a cores da viagem
Seminário das missões em Cernache do Bonjardim, na atualidade

(continua)
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Notas do editor

Post anterior de 19 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25859: Notas de leitura (1719): Breve história da evangelização da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 23 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25874: Notas de leitura (1720): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, de 1872 a 1873) (17) (Mário Beja Santos)

domingo, 25 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25881: Tabanca da Diáspora Lusófona (24): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - Parte I (João Crisóstomo)


Foto nº 1

Foto nº 2 

Foto nº 3

Foto nº 4

Foto nº 5

Foto nº 6



Foto nº 7


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo0 (2024) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem que nos enviou, de Nova Iorque, onde reside, o nosso amigo e camarada João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, ex-alf mil, CCAÇ CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); vive em Queens, Nova Iorque, desde 1975, mas vem à sua terra com frequência (A-dos-Cunhados, Torres Vedras, Portugal).


Data - 23 de julho de 2024

Assunto - Umas 'férias consolidadas'

Ora bem !


Depois de longo hiato, estou de volta (*). Mas mesmo assim façø-o aproveitando um relatório/ crónica já escrito por Rui Chamusco (a publicar em próximo poste). Não fora esta crónica do Rui que me empurrou/ prontificou a pegar na caneta, talvez me ficasse mesmo por um ou dois simples telefonemas. 

 Portanto,  isto que segue é tanto ou mais da autoria do Rui do que meu. Eu juntei alguns factos acontecidos ainda recentemente, uma dúzia de fotos e algumas notas e notícias mais abrangentes, pois algumas delas estão de alguma maneira relacionadas com a Guiné (e por isso as incluo) embora em tempo e locais diferentes da crónica do Rui.

Como sabes,  já de há dois anos que venho experimentado problemas de saúde: e como as misérias quando aparecem nunca vêm só, no meu caso foram problemas de ciática e quadril e não sei quantas complicações seguidas que por vezes me fazem sentir um hipocondríaco, bem consciente de que com esta atitude a única coisa que faço com sucesso é incomodar toda a gente à minha volta com as minhas lamúrias. 

 E,  por isso, salvo por ocasiões e razões de força maior que se sobrepunham aos meus problemas, como foram os casos do “Dia da Consciência” e a celebração do 70º aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes (**), eu tenho-me retraido e procurado fazer pouco ou nada mesmo.

Mesmo assim não me safei dum grande susto que podia ter sido o último, se não fosse a intervenção rápida da Vilma cuja experiência de enfermeira me salvou: no dia em que fazia os meus 80 anos, de repente fui obrigado a saltar da cama com um ataque de cãibras. Perdi os sentidos, caí para trás e fui de emergência para o hospital onde passei o dia. 

Podia ter sido pior: depois duns pontos na cabeça e vários exames que mostraram ausência de qualquer fractura cranial, uma vez que a Vilma era enfermeira não insistiram nas 24 horas extras de permanência para observação que na minha idade é mandatória e deixaram-me vir para casa ao seu cuidado.

É que eu tinha planeado ir a Portugal à inauguração da casa de Aristides de Sousa Mendes, um projecto em que também tenho dado o meu contributo e estava-me a custar mesmo não poder ir. O médico com redobrados conselhos de cautela acedeu à minha insistência em viajar, mas que devia voltar o mais depressa possível, o que me obrigou a encurtar para apenas três semanas os três meses de férias que tínhamos planeado.



2. O relato que segue é mais um menos sobre estas três semanas, vistas, vividas e relatadas pelo Rui Chamusco (visita à Eslovénia), com quem tínhamos planeado passar grande parte destes anteriormente planeados três meses, agora reduzidos. 

Incluo algumas fotos tomadas antes destas três semanas porque são de alguma maneira relacionadas: algumas delas tiradas pelo Pedro Leitão, filho do nosso camarada e amigo Manuel Calhandra Leitão, "o Mafra", que veio passar duas semanas comigo em Nova Iorque em estudo e trabalho relacionados com Aristides de Sousa Mendes, Timor Leste e outros em que o Rui e eu temos estado envolvidos.


As fotos anteriores são de momentos relativamente recentes ou mesmo tiradas pelo ou durante a visita/estadia do Pedro em Nova Iorque.


Foto nº 1 > Foi tirada nas mesmas circunstâncias de outras ocasiões que te são familiares: porque não tenho oportunidade de visitar todos os meus familiares quando vou a Portugal, "pus a boca no mundo" que minha filha Cristina tinha resolvido voltar para Portugal : quem quisesse aparecer, eu e minha filha estaríamos em casa da minha irmã mais nova , a Jacinta, para um abraço. Embora menos numeroso do que em ocasiões anteriores ( como sabes a minha família Crisóstomo & Crispim é numerosa), entre sobrinhos, primos e ainda apareceram cerca de 50 familiares.


Foto nº 2 > O Pedro não esteve com pedidos de autorização ou não (não se pode confiar em ninguém..) e apanhou-nos a relembrar um momento em que revivíamos a canção “ Cherish”, do grupo “Kool and the Gang”, que havia sido a nossa canção no dia do nosso casamento.

Fotos nºs 3 e 4 > Compartilhamos sempre a nossa alegria de termos alguém connosco: neste caso foram o Henrique Mano que nos deu a satisfação de vir a nossa casa conhecer o Pedro; e depois o Fernando Santos que, na impossibilidade de vir a nossa casa, insistiu que levássemos o Pedro à sua. Nada melhor para enriquecer a nossa vida do que compartilhar e viver relacionamentos e amizades.

Foto nº 5 > Para o Pedro Leitão e para mim também não podia passar sem levar o Pedro ao reservatório de água de Central Park que, apesar dos anos já passados, me traz sempre fortes recordações e emoções.

Foto nº 6 > Como deves saber, o nosso vizinho conterrâneo Tony Gonçalves (meu familiar Crispim por parte de minha mãe) é um chefe cuja fama não se limita aos Estados Unidos, Há muito que tínhamos combinado um encontro que a presença do Pedro ocasionou. O Tony já começa a falar em tempo de reforma e os seus dois filhos, embora ainda jovens, já estão tão bem preparados que quando o pai sai em viagens ninguém se apercebe da sua falta.

Foto nº 7 > Não, posso deixar de registar o momento em que a Vilma como nova cidadã americana exerceu seu direito de voto pela primeira vez. O que me valeu um raspanete, porque nos recintos de voto é proibido tirar fotos. Mas, declarada a minha ignorância e explicada a razão lá me deixaram focar com a foto, desde que fosse apenas para uso pessoal …


Bom, este relatório está a ficar longo e o melhor é deixar a mencionada crónica do Rui para amanhã.

Um abraço do
João


(Continua)
(Revisão / fixação de texto: LG)

Guiné 61/74 - P25880: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (22): Victor Condeço (1943-2010), o ex-fur mil mec armamento, CCS/BART 1913 (1967/69), que documentou como ninguém o quotidiano da linda vila de Catió - Parte I



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Catió > Quartel > Foto nº 34 > "Fur mil Condeço junto de um dos obus de 14 cm, que iriam substituir os obuses de 8.8 cm [fevereiro de 1968]" (os do tempo do Pel Art do alf mil art  José Álvaro Carvalho, o "Carvalhinho" da ilha do Como, e que esteve em Catió 14 meses, ao tempo do BCAC 619).



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Um aspeto parcial do quartel



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Parada do quartel


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel >  "Vista aérea da Rotunda e Avenida de Catió antes de 1967. O edifício à esquerda na foto era a escola primária que em 1967 já tinha sido modificado".



Guiné > 
Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 6 > Porta de Armas



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Catió >  Vila > Foto nº 34 > "Rua do Bar Catió, à direita as lojas e residência do Sr. José Saad, depois o Bar com a bomba em frente, a seguir o telheiro dos jogos de ping-pong e matraquilhos e por fim o muro do quartel".



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Catió >  Vila > Foto nº 16 > "Uma vista tirada da Rotunda, onde se vê uma DO-27 sobrevoando a zona do quartel, à direita a zona da antiga messe de oficiais e a antena dos Correios à esquerda".





Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Catió >  Vila > Foto nº 21 > "Fur mil Victor Condeço em frente da habitação do administrador, ao cimo da avenida".

 

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Catió > Quartel > Foto nº 16 > "Lavadeiras à porta da camarata de sargentos, do lado direito vê-se parte do bar de sargentos".






Guiné> Região de Tombali > 
Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Cerimónia militar em Fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART 1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG (Comando Terriorial Independente da Guiné), atribuída em julho de 1967, com a presença das entidades civis e população.


Foto 32  do álbum fotográfico do Victor Condeço (1943-2010) > "Militares, civis da administração, correios e comerciantes. Da esquerda para a direita, [?], de costas o Cap Médico Morais (1), o comandante, ten cor Abílio Santiago Cardoso (2), quatro funcionários dos Correios e Administração (3), os comerciantes Srs. José Saad e filha (4), Mota (6), Dantas e filha (5), Barros (7), depois o electricista civil Jerónimo (8), e o alf capelão Horácio  Fernandes (9)".

E o editor LG acrescentou: " Falta aqui o comerciante Manuel de Pinho Brandão... O que se terá passado ? Não foi convidado ? Estaria presente mas não ficou nesta fotografia ? Por outro lado, sabemos que os pais do Leopoldo Amado ( Mateus Teixeira da Silva Amado e Cipriana Araújo de Almeida Vaz Martins Amado) passaram por Catió. O pai foi funcionário dos correios... Poderá ser algum destes civis...

"Ao canto superior direito pode ler-se a seguinte inscrição: 'A nossa intervenção em África é resposta a um desafio que nos lançaram e a afrontas que não podemos esquecer' ". (E a propósito, de quem seria o autor da frase ?)

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. São  fotos do álbum do nosso querido e saudoso amigo e camarada Victor Condeço (Vitinho, para os amigos de Catió),  um dos históricos da nossa Tabanca Grande (ou "tertúlia", como dizíamos inicialmente): sentou-se à sombra do nosso poilão em 3/12/2006. 

Era natural do Entroncamento. Infelizmente a morte levou-o cedo. No mesmo dia, 18 de junho de 2010, em que  levoun outro grande ribatejano e português, o escritor José Saramago (1922-2010), prémio Nobel da Literatura (1998).

Não o conheci pessoalmente Falei com ele, ao telefone, algumas vezes. A última, na véspera do início do seu tratamento no IPO... Foi tudo tão rápido, tão brutal... Começou a ter sintomas da doença que o vitimou, a partir de fevereiro de 2010. Lúcido e corajoso, sabia o que tinha, em mail de 10 de maio... A última vez que falei com ele, foi justamente no início do mês de junho. Estava apreensivo e ansioso, ia começar no dia seguinte o tratamento de radioterapia no IPO... Tarde de mais... 

Era uma homem discreto, afável e prestável, que colaborou connosco de diversas maneiras: disponibilizando fotos de Catió; fornecendo elementos sobre a família Pinho Brandão, em resposta a um pedido da nossa amiga Gilda Pinho Brandão; ajudando guineenses da diáspora, filhos de Catió, como o Suleimane Silá; desejando-nos as Boas festas de Natal e Ano Novo mas também respondendo amavelmente às dúvidas e inquietações da Marisa Tavares, filha do Júlio da Silva Tavares, o Madragoa.

Tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue. Está na altura de revisitar o seu álbum, com belíssimas fotos da linda vila de Catió, meticulosamente organizadas por áreas temáticas e e devidamente legendadas... Mas também dos arredores: Ganjola, Cufar... Estão dispersas no nosso blogue, mais uma razão para para as revisitar, reeditar e mostrar, mais de 15 anos depois...

Um dos seus grandes amigos era o Benito Neves,  ex-fur mil atirador da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), membro da nossa Tabanca Grande desde abril de 2007, natural .de Abrantes,  bancário reformado (e que tive o privilégio de conhecer pessoalmente, por feliz coincidência, no restaurante A Lúria, em São Pedro de Tomar, em 2013.)

Guiné 61/74 - P25879: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (32): "Ciência e poesia"

Adão Pinho Cruz
Ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547
Autor do livro "Contos do Ser e Não Ser"


Ciência e poesia

Encontrava-me num café de Paris, na Place de Contrescarpe, onde Edith Piaf, un petit oiseau, iniciara a sua carreira como cantora de rua.

Eu sonhava… Nessa altura não era proibido sonhar. Pelo contrário, era obrigatório sonhar.

À medida que a luz da manhã crescia, insubstancial e fria, eu descia a rue Mouffetard. À minha direita, descia Tchaikovsky e, à minha esquerda, subia Van Gogh.

Madrugavam ambos as suas inquietas e inflamadas personalidades nessa horizontal e fresca manhã do século dezanove.

- Bonjour, monsieur Van Gogh!
- Bonjour, monsieur Pyotr Ilitch!
- Bom-dia, rapaziada!
- Une merde, une merde, cochicharam os dois!

Sorridente e feliz, segui o meu caminho para a Salpêtrière. Estávamos nos primórdios da ecocardiografia, e debatia-se a soberania da famosa vertente E - F da válvula mitral.

A melodia e a cor entraram em mim pelas mãos da ciência. Para lá do frio, academismo, ciência e poesia confundem-se. A chama da poesia acende os dedos da paixão, onde mora o brilho da inspiração, na conquista da harmonia do saber a caminho do horizonte. A ciência enriquece a poesia. Ciência sem poesia é violino sem alma, mas disso nada entendiam nem Van Gogh nem Tchaikovsky.

Na entrada do anfiteatro, um busto holográfico de Hipócrates falava-nos mansamente. A mim piscou-me o olho e disse-me, por entre dentes: mon fils la vie de la science est le chemin pour la rencontre de nous mêmes.

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Nota do editor

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Guiné 61/74 - P25878: Facebook...ando (62): "Soldado Português", poema de Delfim Silvestre (2)

Guiné-Bissau > Cemitério Militar de Bissau > Talhão Central


Soldado português

Soldado que foi à guerra
Mãe, mulher abandonada
Criança cresce sem pai
De negro se veste a terra
Ao sentir-se ignorada
Por aquele que longe vai

Caixão embandeirado regressa
A terra fica rasgada
Fuzis disparam para o ar
A vida no luto tropeça
Fica a criança abandonada
Sem ter pai a quem amar

E na África esventrada
A luta dura de mais
Como duro é o sofrimento
Jazz no chão que não estrada
Quem morre por ideais
Ou simples padecimento

Partem jovens sem saber
Com tão poucas condições
Nem conhecer o papão
O que vai lá defender
Quem é que são os “mauzões”
A mando de uma nação

Isso sim aconteceu
Tantos foram e não voltaram
Sem poder voltar atrás
Ninguém ganhou ou perdeu
Salvo os que por lá ficaram
Pensando morrer pela paz

Autor:
Delfim Silvestre
2024
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Nota do editor

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