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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27205: Historiografia da presença portuguesa em África (496): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, finais de 1940, princípios de 1941 (52) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Abril de 2025:

Queridos amigos,
Permito-me recordar ao leitor que a análise do Boletim Oficial, tal como estamos a fazer, numa longa sequência cronológica, não passa de um mero instrumento de análise, uma ferramenta que deve ser usada com a necessária dose de circunspeção e prudência. Vimos atrás como houve um governador como Velez Caroço que mandava publicar todo o expediente militar; governadores houve que entenderam que não devia ficar plasmado no Boletim Oficial acontecimentos do tipo insurrecional; Carvalho Viegas é assumidamente um governador respeitador das regras do Império, em momento algum antes se verificara este turbilhão de processos disciplinares; para o investigador, é bastante útil folhear estes documentos para ver como se processou o início da guerra na Europa, como emergiram as dificuldades do abastecimento e como se deu a resposta mais conveniente. Certo e seguro, Carvalho Viegas deixou uma administração mais competente do que a que recebera. O seu sucessor, Ricardo Vaz Monteiro, irá potenciar essa energia, e não será por casualidade que o governador Sarmento Rodrigues será confrontado com uma administração de gente melhor preparada, que irá seguir o seu entusiasmo de tornar a colónia uma parcela visível do Império.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné, finais de 1940, princípios de 1941 (52)


Mário Beja Santos

É o último ano da governação de Carvalho Viegas, é insuficiente, como é natural, apreciar o seu tempo de governação com base no Boletim Oficial, Carvalho Viegas não se coibirá de vir a escrever todo o seu mandato em vários volumes, a tentação hagiográfica é enorme, reconheça-se, porém, que há dados fundamentais da sua governação que o seu substituto, o Major Ricardo Vaz Monteiro, irá gerir e com proficiência. Carvalho Viegas apreciava a retórica e mostrou sempre um forte pendor para exarar doutrina no Boletim Oficial, quis deixar a imagem de um homem que se pautava pela equidade, pela independência face a outros interesses, que era dotado de uma integridade inflexível. Vem isto a propósito do que consta do Boletim Oficial n.º 34, de 19 de agosto de 1940, sai do seu punho uma decisão sobre um pedido do presidente do Tribunal Militar Territorial da Colónia da Guiné, pedia-se ao Governador autorização para poder ser demandado criminalmente o atual Administrador do Concelho de Bissau, ex-Administrador da Circunscrição dos Bijagós.

Matéria de facto, segundo o Promotor de Justiça, era de que o primeiro divulgador do boato do encerramento das operações da Companhia Agrícola e Fabril da Guiné fora Pereira Cardoso, boato que teve como porta-voz em Bubaque António Pires Leitão. Observa o governador:
“O Administrador Pereira Cardoso não faltou à verdade porquanto a referida companhia encerrou os seus estabelecimentos na ilha de Sogá no fim do mês de setembro, mês e que deflagrou a guerra europeia, despedindo centenas de indígenas trabalhadores e a seguir na ilha de Rubane e outras, além de denunciar os contratos com todos os empregados, por ordem da sua sede social em Lisboa, prevendo o seu despedimento forçado pelas circunstâncias de não poder colocar convenientemente os seus produtos. De resto, a todos sabendo as condições em que a companhia labora a sua fábrica, era natural e intuitivo que como o Administrador Pereira Cardoso pensassem, de mais a mais os factos mostrando a sua realidade que o futuro mais veio confirmar.
A presunção do Administrador é, pois, lógica, ponderosa e concordante com a situação de ocasião e futura o que ilide em absoluto a acusação.
Depois, há a considerar o que o caso tem de ridículo se querer criminar um administrador que procura alterar a tranquilidade pública – e numa fábrica e seus estabelecimentos com uns seis empregados civilizados e indígenas que do assunto se alheiam! – quando é o número um dos seus deveres manter na Área da Circunscrição a ordem e a tranquilidade pública.”


E já no final do seu despacho dirá Carvalho Viegas que não pode permitir que se desprestigie as suas autoridades deixando-as ir à barra do tribunal quando reconheça que são vítimas da função difícil e ingrata de administrar, sempre sujeitas às calunias e deturpações dos seus atos. E invocando a legislação competente, o governador denega autorização.

Passando agora para o suplemento n.º 43 referente ao Boletim Oficial n.º 25, de 23 de outubro, o Governador vai mandar deportar um rol de gente. Lendo-se a portaria n.º 162, fica-se a saber que indígenas de raça Papel, do regulado de Bandim, instigados pelos seus balobeiros, levaram a efeito vários crimes, fazendo reviver práticas de costumes bárbaros, havia que reprimir pronta e energicamente o ressuscitar destes famigerados antigos costumes. E determina a deportação para S. Tomé e Príncipe de um conjunto de instigadores e autores e só de autores, eram penas que iam de 1 ano a 28 anos de deportação.


No Boletim Oficial n.º 51, de 16 de dezembro, novo rasgo de firmeza, extinção de um regulado. Vejamos qual a matéria de facto:
“Para obstar aos inconvenientes da luta política travada entre os pretendentes ao regulado de Corlá, Farim, resolveu o governo da colónia que, a título experimental, fosse o território de Corlá anexado ao regulado de Caresse e, assim, acabasse um mal-estar que prometia prolongar-se indefinidamente, embora um dos pretendentes fosse nomeado régulo.
De facto, durante um ano nada se notou de anormal na vida do regulado, até que, ultimamente, por manobras de Demba, um dos pretendentes, apareceu em cena um seu irmão, filho do falecido régulo Djabu, de nome Sambaru, que até então tinha vivido na obscuridade no território francês.
Esta figura apagada que os manejos políticos atiraram para o primeiro plano, apresentou-se agora como pretendente ao lugar e, o que é mais interessante, na iminência de verem para sempre frustrado o seu plano com a anexação definitiva do regulado de Corlá ao de Caresse, todos os pretendentes se apresentaram em Bolama numa frente única e, esquecidos das suas dissensões, todos pretendem que o Governo escolha um deles para régulo de Corlá.

Esta última fase mostra claramente as intenções dos pretendentes em quererem, por todos os meios ao seu alcance, evitar que a região de Corlá seja anexada ao regulado do Caresse e, por consequência, possam desfrutar das vantagens que, por um momentâneo acordo, seriam equitativamente distribuídas por todos, embora um só fosse de facto o régulo e os outros os seus satélites.
Este arranjo, porém, não convém nem aos superiores interesses do Estado nem às populações indígenas. Não convém às populações porque, para satisfazer às necessidades sempre crescentes dos três pretendentes redobrariam as exigências e, por conseguinte, a incidência de maiores imposições aos habitantes da região.
Não convém ao Estado porque, sentindo-se sobrecarregados com os pedidos e exigências do futuro régulo, unido num esforço comum com os outros pretendentes e respetivas comitivas, dentro de pouco tempo os habitantes da região começariam a emigrar para outros regulados ou, o que seria mais grave, para vizinha colónia francesa.

Por todos estes motivos, sendo função do Governo da colónia proteger as populações indígenas contras as arbitrariedades e prepotência dos régulos que, muitas vezes, por excessivas provocam perturbações grandes no meio social indígena e facilitam o nomadismo que caracteriza especialmente os indígenas da raça Fula e, por vezes, os da raça Mandinga, habitando regiões próximas da fronteira.

Não convindo que os elementos perturbadores continuem permanecendo na região onde a sua acção política poderá ocasionar graves prejuízos, não só aos habitantes como também aos interesses do Estado; o Governo da colónia, no uso das atribuições que lhe estão acometidas, determina que seja extinto o regulado de Corlá, cuja região fica anexada ao regulado de Caresse; que, por sua permanência na região de Corlá se tornara inconveniente, aos indígenas Taibo Djamanca, Demba Djamanca e Sambaru Djamanca, seja fixada residência na circunscrição civil de Gabu por dois anos.”


O novo ano promete, veremos logo em fevereiro, por mão do encarregado do Governo, Armando Augusto Gonçalves de Morais e Castro (Carvalho Viegas partiu, Ricardo Vaz Monteiro chegará mais tarde). Publica legislação criando o parque Doutor Vieira Machado, algo de surpreendente e até pelo uso de uma terminologia que os ambientalistas de hoje certamente darão concordância.

Major Ricardo Vaz Monteiro, o governador que vem substituir Carvalho Viegas
Posto Administrativo de Safim, década de 1940
Sociedade Portuense Colonial, Bissau, 1925
Os três primeiros sacerdotes franciscanos da província de Veneza (Itália), na Guiné, impulsionadores da leprosaria de Cumura

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27180: Historiografia da presença portuguesa em África (495): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, primeiros meses de 1940 (51) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27204: (De)Caras (239): Cabos de Manobras (ou marinheiros CM), heróis esquecidos (José António Viegas, ex-fur mil art, Pel Caç Nat 54, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, 1966/68)



Foto nº 1 e 1A



Foto nº 2





Foto nº 3 e 3A




Foto nº 4 e 4A

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > c. 1966/68

Fotos (e legendas): © José António Viegas (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



José António Viegas
1. Mensagem do José António Viegas, ex-fur mil art, Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal, 1966/68); é membro da Tabanca Grande desde 6/11/2012; tem 65 referências no nosso blogue; vive em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve:

Data - 26/08/2025, 10:36

Assunto - Cabos Manobras

Caro Luis, pouco se fala destes homens, os Cabos Manobras, que pilotavam as LDM e LDP, em patrulhamento rio acima rio abaixo, fazendo patrulhas, levando mantimentos, trazendo os camaradas mortos...

De dois tenho conhecimento que morreram num ataque a navegar. Em Portugole onde aportavam várias vezes empatrulhamento e aí ficavam um  ou dois dias nos anos 67/68, deram uma grande ajuda num ataque ao aquartelamento com sua peça de 20mm.  

Um abraço, 
Zé Viegas


2. Comentário do editor LG:

Tens razão, Zé Viegas. São heróis esquecidos. Da nossa Marinha. Da nossa guerra. Vou criar o marcador "cabo de manobra". Na nomenclatura da Marinha, o cabo de manobra chama-se Marinheiro CM, se não erro. Nem sequer existia no nosso blogue esse descritor. Em contrapartida, temos bastantes referèncias às LDG, LDM e até LDP.

Quem eram estes hoemns da Marinha Portuguesa que, apenas com o posto de cabos, comandaram LDM e as LDP ? (*)

Eis o que apurei na Net através dos assistents de IA (Gemini e ChatGPT) e do nosso blogue;

(i) Papel crucial dos cabos de manobra nas Lanchas de Desembarque na Guerra da Guiné (1961-1974)

Durante a Guerra Colonial na Guiné Portuguesa, entre 1961 e 1974, as Lanchas de Desembarque Médias (LDM) e Pequenas (LDP) da Marinha de Guerra Portuguesa desempenharam um papel vital na logística, no transporte de tropas e em operações de combate nos intrincados rios e canais do território.

No seio das suas reduzidas tripulações, a figura do "cabo de manobras" (ou cabo era essencial, acumulando funções de marinharia, liderança e, frequentemente, de combate.


(ii) As múltiplas funções do cabo de manobras


O cabo de manobras (pou marin heiro CM) era um praça especializado da Marinha, com funções técnicas e de comando em pequenas embarcações..Apesar de serem militares de baixa patente, cumpriam a missão de patrão, isto é, eram quem efetivamente conduzia e comandava a LDM ou LDP na operação diária.

Eles assumiam tipicamente o papel de patrão (comandante) das Lanchas de Desembarque Médias (LDM) e das Lanchas de Desembarque Pequenas (LDP), sendo responsáveis pela navegação, segurança, disciplina e missão operacional das suas guarnições.

Os cabos de manobras eram marinheiros promovidos que acumulavam experiência náutica e exerciam funções de comando prático nas lanchas,

As suas responsabilidades a bordo das LDM e LDP eram vastas e críticas para a operacionalidade destas embarcações em ambiente de guerra. As suas principais funções incluíam:
  • Manobra da embarcação: eram responsáveis por todas as manobras de atracação, desatracação, reboque e fundeio; a sua perícia era fundamental para a aproximação a margens não preparadas, para o desembarque e embarque rápido de fuzileiros e material, por vezes vezes sob fogo inimigo;
  • Navegação e governo da Lancha: nas LDP e LDM, o cabo de manobras assumia a função de patrão da lancha, sendo o responsável direto pela sua condução e segurança, navegando por rios traiçoeiros, com correntes fortes e pouca profundidade, er sujeitos a minas e emboscadas (a partir das margens);
  • Manutenção do aparelho do navio: tinham a seu cargo a conservação de todo o material de convés, como cabos, guinchos, ferros e a rampa de desembarque, um elemento crucial destas embarcações;
  • Funções de combate: dada a natureza do conflito e as tripulações reduzidas, os cabos de manobras operavam também o armamento a bordo, como as metralhadoras, e participavam ativamente na defesa da embarcação durante emboscadas e confrontos diretos.

(iii) Tripulações e armamento das LDM e LDP


A composição das tripulações e o armamento variavam consoante a classe da lancha, mas caracterizavam-se por serem reduzidas e multifuncionais.


Tipo de Embarcação | Tripulação Típica | Armamento
  • DM (Lancha de Desembarque Média) | Cerca de 6 praças (frequentemente um cabo como patrão e marinheiros) | 1 peça Oerlikon de 20 mm e 2 metralhadoras MG 42;
  • LDP (Lancha de Desembarque Pequena) | Cerca de 4 a 6 praças (um cabo como patrão e marinheiros) | Variava, podendo incluir 1 peça de 20 mm e/ou metralhadoras ligeiras
Estas embarcações eram a espinha dorsal da Marinha na Guiné, a par das LGG e ad das LFG, , assegurando a mobilidade das tropas num teatro de operações anfíbio. As suas missões iam desde o patrulhamento e escolta de embarcações civis ao desembarque de fuzileiros em zonas de combate e ao reabastecimento logístico de aquartelamentos isolados.


(iv) Memórias de dois cabos de manobras mortos em combate

Apesar das dificuldades em encontrar registos centralizados e detalhados de todas as baixas por especialidade, a investigação documental, nomeadamente em publicações como a "Revista da Armada" e em arquivos de veteranos, permite identificar casos concretos de sacrifício.

Um exemplo documentado é o do Cabo M n.º 2404, Jorge António Pereira.

A 7 de agosto de 1973, na região de Tancroal, no rio Cacheu, a LDM 113 que comandava foi violentamente emboscada. Atingida por fogo de lança-granadas (RPG), a lancha sofreu danos significativos. O Cabo Jorge António Pereira, que atuava como patrão da embarcação, teve morte quase imediata em resultado do ataque.

A sua morte, e a de tantos outros marinheiros, testemunha a dureza e os perigos constantes enfrentados pelas guarnições destas lanchas, que, com bravura e competência, foram um pilar fundamental do esforço de guerra português no território da Guiné. O cabo de manobras, em particular, personificava a resiliência e a polivalência exigidas naquele complexo teatro de operações.

Há ainda o caso, anterior também no TO da Guiné,da LDM 302, que registou oito ataques graves durante a sua vida: os dois primeiros verificaram-se em 1964, sem consequências, ocorrendo nova flagelação em 1965, da qual resultaram 30 impactes no costado, não se registando baixas no seu pessoal, para o que muito contribuiu a resposta imediata e eficiente da sua guarnição; nesse ano foi atacada de novo por mais duas vezes, sendo na última feridos 10 militares de uma unidade do Exército embarcada na lancha.

No dia 16 de dezembro de 1967 foi atacada e afundada no rio Cacheu, incidente que ocasionou a morte do seu patrão, MAR M Domingos Lopes Medeiros, e do GRT A Manuel Santos Carvalho (foram ambos condecorados a título póstumo na cerimónia do 10 de Junho de 1968, com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe).

Trazida à superfície, a LDM 302 foi reparada em Bissau, e posta de novo a navegar. Logo no primeiro cruzeiro, seis meses depois e no mesmo local onde tinha sido anteriormente atacada - Porto Coco, no rio Cacheu - foi de novo atingida com violência, o que teve como consequência a morte do GRT A António Manuel, e ferimentos noutra praça.

De novo reparada, a lancha já não voltou mais ao Cacheu, passando a actuar no rio Grande de Buba, onde mais uma vez sofreu em Fevereiro de 1969 novo ataque, que causaram três feridos. Seria abatida em 30 de Novembro de 1972.(**)

Existem algumas fotos históricas destas lanchas e das suas guarnições, mas imagens individualmente identificadas de cabos manobras são raras. Em blogues de veteranos, como o "Luís Graça & Camaradas da Guiné", é possível encontrar fotografias de LDM (ex: LDM 203, LDM 302) com tripulantes, embora sem identificação detalhada dos cabos manobras ao nível individual. E sobretudo no blogue "Reserva Naval", do nosso amigo e camarada Manuel Lema Santos ( https://reservanaval.blogspot.com/ ).

Essas imagens retratam geralmente pequenas tripulações ao lado da embarcação ou em patrulha junto a margens de rios da Guiné, permitindo visualizar o ambiente operacional típico, mas raramente atribuem nomes diretamente aos cabos manobras.

Resumo: O cabo manobra era o patrão responsável pelo comando prático das LDM e LDP na Guiné, garantindo o cumprimento das missões navais de patrulha e apoio às operações terrestres e ribeirinhas. As fotos existem, mas raramente individualizam estes cabos; surgem geralmente em grupo junto às lanchas nas imagens de arquivo.

(Pesquisa: LG + assistente de IA / Gemini, ChatGPT)

(Revisão / fixação de texto: LG)
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(**) Vd. poste de 

14 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15003: Notas de leitura (747): “A Epopeia da LDM 302”, por A. Vassalo, em BD, Edições Culturais da Marinha, 2011 (Mário Beja Santos)


28 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10084: Antologia (76): Vida e morte da gloriosa LDM 302, a cuja heróica guarnição pertenceu o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, natural da Lourinhã, condecorado com a Cruz de Guerra em 1968 (Manuel Lema Santos / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P27203: Agenda cultural (900): Antestreia da série documental guineense "Martcha", do realizador e produtor Unkaff (pseudónimo de Onésio Caetano Soda, n. 1991): sexta, dia 12, 18h00, no Espaço Mbongi67, Praceta António Sérgio, nº 4, Queliuz



Cartaz da série documental "Martcha"




1. O realizador e produtor da série documental guineense "Martcha" teve a gentileza de nos mandar, já no passado dia 23 de agosto, o convite para assistir à sua antestreia. Infelizmente, não poderei estar presente (estou nas vindimas em Candoz, no Norte do País). Mas aqui vai a informação sobre a data e o local. O convite é dirigido a todos os amigos e camaradas da Guiné:

Data: 12 de setembro de 2025
Hora: 18h00
Local: Espaço Mbongi_67
Praceta António Sérgio, nº 4, Queluz
Entrada livre

2. A série documental "Martcha" dá voz a guineenses, cabo-verdianos e portugueses, reune memórias e testemunhos sobre a luta de libertação e a o papel histórico de Amílcar Cabral
.
Ao longo de três episódios — Iníciu (1950/66), Confrontu (1967/70) e Avansu (1971/74) — a série cruza arquivos históricos, resgata resistências e propõe uma narração feita de disputas, memória e humanismo.

Após a exibição, haverá uma conversa aberta com a equipa de produção e convidados especiais.


3. O realizador e produtor, Unkaff, é o pseudónimo de Onésio Caetano Soda, nascido em Bissau, Guiné-Bissau, em 8 de abril de 1991, é militar (com o posto de tenente), cineasta, escritor, ativista civico e sociólogo.

É  também-fundador e membro da Associação Kabaz Kultural, é membro da Comissão da
Recolha de Dados Históricos da Luta de Libertação Nacional do Estado-Maior General das Forças Armadas e mentor do projeto Nô Ambiente, Nô mamê.


É autor de:

  • filmes de curta-metragem: "Vozes de Mar" (2019) e "Lágrimas de SIDA" (2020);
  • ensaios:  "A Luta na Guiné:da luta pacífica à luta armada"  (2020); "A pequena Guiné e a sua grande história" (2022);
  • livro de contos: "Vidas em letras: contos de tempo nenhum em lado nenhures" (2021); 
  • artigo: "O papel do Museu Militar da Luta Libertação Nacional na formação da Consciência Histórica Guineense" (2021). 

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Nota do editor LG:

Guiné 61/74 - P27202: Facebook...ando (93): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte X: Fortaleza da Amura, hoje Museu Militar da Luta de Libertação Nacional e sede do Quartel General das Forças Armadas da Guiné-Bissau.



Foto nº 1 > Bissau >  Fortaleza da Amura > Área envolvente dos mausoléus


Foto nº 2 > Bissau > Fortaleza da Amura > Parada do antigo QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné).. Dos lados esquerdo e direito, eram as famosas 4 Rep (Repartições)...


Foto nº 3 > Bissau > Fortaleza da Amura > Ao fundo, e sob os centenários poilões, os mausoléus dos heróis da liberdade da Pátria...


Foto nº 4 > Bissau > Fortaleza da Amura > Trecho de muralha exterior, um velho canhão e um poilão


Foto nº 5 > Bissau > Fortaleza da Amura > Mausoléu de Amílcar Cabral (1924-1973)


Foto nº 6 > Bissau > Fortaleza da Amura > Placa alusiva à inauguração, depois de reabilitada, da "nova" Fortaleza da Amura, sede atual  do EMGFA.


Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura >  Maio de 2025

Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




João Melo (ou João Reis de Melo), ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74):

(i) é profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha;

(ii) viaja regularmente, desde 2017, para a Guiné-Bissau, em "turismo de saudade e de solidariedade" (em que distribui material pelas escolas de Cumbijã, e apoia também, mais recentemente, o clube de futebol local);

(iii) regressou, há pouco mais de 3 meses,  da sua viagem deste ano de 2025;

(iv) tem página no Facebook (João Reis Melo);

(vi) tem mais de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue para o qual entrou em 1 de março de 2009.

1. Na sua viagem, em maio passado, de Bissau a Cumbijã, no sul, na região de Tombali, o nosso grão-tabanqueiro João Melo, passou por várias das nossas geografias emocionais... E fotografou esses lugares (Bissau, Quinhamel, Bula, Susana, Cacheu, Bambadinca, Saltinho, Buba, Mampatá, Cumbijã...).

Temos procurado, com a sua autorização, fazer uma seleção das suas melhores imagens. Ele tornou-se um grande conhecedor e um excelente cicerone da atual Guiné-Bissau.

Uma das visitas (demoradas) que fez,  foi  à Fortaleza de São José da Amura  


2. Excerto da página do Facebook do João Reis Melo, postagem de 18 de agosto de 2025, 13:14 (*):

"Retalhos de uma passagem pela Guiné.

Ainda, e sempre, a bela Fortaleza de São José de Amura em Bissau  (**). Hoje, Museu Militar da Luta de Libertação Nacional e também sede do Quartel General das Forças Armadas da Guiné-Bissau.

Esta minha última visita em Maio passado, ficou registada com mais de duas centenas de fotos e vídeos. 

Hoje, destaco a parte envolvente aos mausoléus que veneram os seus heróis nacionais da luta de libertação que têm como seu primeiro representante Amílcar Cabral."

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 7 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27098: Facebook...ando (92): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte IX: Praça Che Guevara (antiga Praça Honório Barreto)

 (**)  Sinopse da história da fortaleza da Amura:


(i) Origens e construção inicial

No final do século XVII, a presença francesa na Guine (hoje Guiné-Bissau)  intensificou-se com a Companhia do Senegal, especializada no tráfico de escravos. Face á ameaça, o capitão-mor do Cacheu, António de Barros Bezerra, informou o rei português, em 1687, sobre as pretensões francesas de erguer uma fortificação em Bissau. Com apoio local, conseguiu impedir esse avanço.

Em 1696, sob comando do capitão-mor José Pinheiro, começou-se a erguer uma fortificação portuguesa. O projeto encontrava-se em dificuldades, pelo que teve de negociar com o rei local para assegurar o terreno.

No entanto, após a não renovação do contrato da Companhia de Cabo Verde e Cacheu em 1703, a capitania foi abandonada em 1707 e a fortificação anterior acabou por ser foi destruída. 

(ii) Reconstruções e remodelações

A fortaleza atual foi reconstruída em novembro de 1753, baseada num projeto de Frei Manuel de Vinhais Sarmento. 

Posteriormente, em 1766, o Coronel Manuel Germano da Mota introduziu alterações no traçado.

Entre 1858 e 1860, houve novos reparos sob a liderança do capitão e engenheiro militar Januário Correia de Almeida .

No século XX, a partir da década de 1970, foi restaurada pelo arquiteto Luís Benavente; a estrutura que vemos hoje é fruto dessa intervenção.
 
(iii) Funções atuais e valor simbólico

A fortaleza possui planta quadrangular em estilo Vauban, com baluartes pentagonais e 38 aberturas para canhões.

 Internamente, albergava a Casa de Comando, quartéis e armazéns;  além disso, havia uma paliçada que ligava a fortaleza a um pequeno forte costeiro com duas peças de artilharia.

Após a independência, em 1974, a Fortaleza passou a ser sede das forças armadas guineenses. Acolhe, além disso,  o Museu Militar da Luta de Libertação Nacional e o Mausoléu de Amílcar Cabral.
 
Diversos heróis da independência nacional estão lá sepultados incluindo Amílcar Cabral (1975), Francisco Mendes, Osvaldo Vieira, Titina Silá, entre outros.

A DW também confirma que ali se encontram os restos mortais de nomes emblemáticos como Amílcar Cabral, Francisco Mendes, Osvaldo Vieira e Titina Silá.
  
(iv) Em resumo:
 
Ontem (ou seja, em termos históricos): a fortaleza foi edificada como defesa contra potências coloniais rivais (principalmente francesas), reconstruída várias vezes ao longo dos séculos XVIII a XX, desempenhando um papel militar e estratégico desde as origens da colonização portuguesa.

Hoje, já na Guiné-Bissau independente: a  fortificação está em boas condições e aberta ao público.
 
Serve como símbolo nacional tanto na preservação da memória militar quanto na homenagem aos fundadores da independência, através do museu e do mausoléu.

Além do caráter memorial, é uma ponte com o passado colonial português e um marco patrimonial a ser preservado.

Fontes: 
Ang |  commons.m.wikimedia.org | Deutsche Welle | TripGrab | Wikipedia (en) | Wikipedia (es) |  Wikipédia  (pt) | 

(Pesquisa: LG | Assistente de IA / ChatGPT)

(Revisão / fixação de texto: LG)

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27201: Agenda Cultural (899): Ciclo de Cinema - Imagens da Guiné-Bissau: Memória, Consciência e Futuro, a levar a efeito entre 23 de Setembro e 18 de Outubro de 2025, no Museu Nacional de Etnologia, Lisboa


De 23 de setembro a 18 de outubro, o Museu Nacional de Etnologia recebe, em parceria com a Casa da Cultura da Guiné-Bissau, o Ciclo de Cinema “Imagens da Guiné-Bissau: Memória, Consciência e Futuro” com uma seleção de filmes que refletem essencialmente sobre a História da Guiné Bissau. A seleção de filmes teve a curadoria de Onésio Soda e Welket Bungé e inclui filmes realizados por Flora Gomes, Sana Na N’Hada, José Magro, José Bolama, Djalma Fettermann e Josefina Lopes Crato.

Em cada sessão, para além das exibições, haverá também um momento de conversa com convidados especiais, com espaço para reflexão e partilha de memórias, consciência e futuros possíveis.

Entrada Livre

Sessões:

23.09.25

- 18h30 “A Pegada de Todos os Tempos”, Flora Gomes, 2009, 5’;
“A República di Mininus”, Flora Gomes, 2012, 78’
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27.09.25

- 16h00 “NOME”, Sana Na N’Hada, 2023, 118’
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04.10.25

- 15h00 “Nha fala”, Flora Gomes, 2002, 112’;
“Bissau d’Isabel, Sana Na N’Hada, 2005, 55’
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11.10.25

- 16h00 “Kadjike”, Sana Na N’Hada, 2013, 115’
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18.10.25

- 16h00 “Nha Sunhu”, José Magro, 2021, 21’ ;
“O Regresso de Cabral”, Sana Na N’Hada, Flora Gomes, José Bolama, Djalma Fettermann, Josefina Lopes Crato, 1976, 33’

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Nota do editor

Último post da série de 10 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27106: Agenda Cultural (898): Foi lançada em Julho a 2.ª edição do livro "Dados Biográficos do coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz - Último Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG", da autoria do nosso Grã-Tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, filho do biografado

Guiné 63/74 – P27200: Filatelia(s) (10): Selos da Guiné Portuguesa da colecção do Alf Mil João Rodrigues Lobo (1)

1. Mensagem do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, 1968/71) com data de 29 de Agosto de 2025:

Boa noite,
Por ter visto alguns selos da Guiné (então da República Portuguesa) no nosso blog, anexo alguns novos da minha pequena colecção.
Talvez seja uma temática interessante para o "nosso" blog.

Grande abraço.
João Rodrigues Lobo






(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 31 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5186: Filatelia(s) (9): Envelopes comemorativos do Dia do Selo, de 1 de Dezembro dos anos de 1963, 1968, 1970 e 1971 (Eduardo Ribeiro)

Guiné 61/74 - P27199: (in)citações (278): Dos nossos “males” sabemos, pelo visto. E dos “males” dos outros? (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Operações Especiais)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Undunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de hoje, 9 de Setembro de 2025:


Dos nossos “males” sabemos, pelo visto. E dos “males” dos outros?

Vejo e leio muitas vezes aqui na Tabanca Grande textos sobre os “os males” provocados pelas Forças Armadas Portuguesas na Guiné, e não só, (como recentemente o uso do napalm), mas raramente, ou nunca, se encontram por aqui textos relatando “os males” que o PAIGC, e não só, provocou nos militares portugueses e nas populações durante a guerra, porque sobre o acontecido depois do 25 de Abril até há alguns textos sobre o que então se passou.

Escreve-se sobre coisas que uma grande parte das vezes apenas se ouviu falar, histórias contadas e que terão sido praticadas pelos militares portugueses, mas sobre coisas semelhantes praticadas pelos militares do PAIGC, pouco ou nada se diz.

Eu, por exemplo, ouvi contar várias histórias que terão acontecido durante e depois de emboscadas feitas pelo PAIGC, mormente no conhecido “carreiro da morte”, mas, porque de tal não sou testemunha presencial e são histórias muitas vezes repetidas, evito falar ou escrever sobre as mesmas.

Mas com tanta gente que aqui vem todos os dias, não haverá ninguém que escreva e dê testemunho sobre isso?

Calculo que não seja politicamente correcto, como hoje em dia se diz, mas se este espaço se quer considerar um repositório mais ou menos fiel dos acontecimentos da guerra na Guiné, não deveria também ter essas histórias do “outro lado” aqui contadas?

É uma espécie de desafio que aqui deixo, para que a verdade não exista só para um dos lados, mas para ambos, pois a paz só se constrói verdadeiramente na verdade.

Marinha Grande, 9 de Setembro de 2025
Joaquim Mexia Alves

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Nota do editor

Último post da série de 4 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27091: (in)citações (277): O cérebro também pode apodrecer (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P27198: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXVII: a igreja de Santa Ana, em Mansoa

Foto nº 1 > Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)  >  A avenida da igreja... À esquerda,  a igreja de Santa Ana (há quem lhe chame apenas capela, mas há diferenças do ponto de vista arquitetónico e litúrgico engre capela e igreja); e o edifício dos CTT à direita.


Foto nº 1A >Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)  >  A avenida principal: à esquerda, ficava a igreja, e à direita, visível na foto, a, o edifício dos CTT (que era "chapa um", igual em todo lado)... A avenida  tinha postos de iluminação pública (pelo menos desde o início dos anos 60, a avalora por fotos mais antigas ... Ao fundo, há edifícios, presumivelmente de comerciantes. Mansoa era sede de cirunscrição.



Foto nº 1B > Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)  > Em primeiro plano, um militar, um 1º cabo (?), muito provavelmente da CCS/
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).



Foto nº 2 > Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Interior da igreja de Santa Ana, de uma só nave, O edifício deve ser dos anos 50, desenhado pelo Gabinete de Urbanização Ultramarina (1951-1957), designado anteriormente por Gabinete de Urbanização Colonial (1944-1974), e a que sucedeu, a partir de 1857, a Direcção de Serviços de Urbanismo e Habitação do Ministério do Ultramar, tudo sempre centralizado em Lisboa.



Foto nº 3 > Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)  > Igreja da paróquia de Santa Ana: pormenor do altar-mor, e da imagem da Santa Ana e da Virgem Maria. O pároco na época era o padre José Patrocínio. 


Foto nº 4 > Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Ábside e torre sineira da capela... Não sabemos como era a orientação geográfica do edifício, mas em princípio a ábside (onde fica o altar-mor) nas  igrejas católicas é virada para leste, enquanto a fachada (ou entrada principal) é para ponte.  Esta orientação  do altar-mor para o leste, era tradicionalmente uma prática da arquitetura religiosa cristão chamada   ad orientem, simbolizando a espera pelo retorno de Cristo pela “luz” do nascer do sol.



Foto nº 4A > Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Se esta foto foi tirada, como parece pela vegetação, no tempo das chuvas (maio / outubro), o galo (/catavento) na torre sineira indicaria que o ventio estava a soprar predominantemente no sentido Sudoeste / Nordeste, vindo do Oceano Atlântics (esstes ventos, conhecidos como monções, são quentes e carregados de humidade, sendo os responsáveis pela elevada pluviosidade que caracteriza esta época do ano naquela parte de África). Sendo assim, a ijreja foi construída "ad orientem".



Foto nº 4B > Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > 
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Igreja católica de Santa Ana (pormenor): parte da ábside e da torre sineira; ao fundo, do lado esquerdo, o edifício dos CTT; em primeiro plano, o capelão, sentado no muro exterior.



Foto nº 5 > Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > 
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >  Igreja de Santa Ana: vista do muro exterior, da ábise, da torre sinera e parte do corpo principal de uma só nave; pela luz, parece a que disposição do edifício é "ad orientem", isto é, com a ábside orientada para leste.  Em 1971/72, a torre sineira terá sido  danificada por um ataque do  PAIGC (facto a confirmar ou documentar).



Foto nº 6 > Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > 
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Igreja de Santa Ana: fachada (entrada principal); grupo de cinco jovens sentados no muro circundante, exterior.



Foto nº 6A> Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > 
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >  Igreja de Santa Ana: grupo de jovens,
 sentados no muro circundante, exterior; pareecem ser "assimilados" (pelo vestuário), e provavelmente  ligadis à paróquia.
  


Foto nº 7> Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > 
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Outra vista da entrada principal (fachada), que dava para a "avenida da igreja"... Em frente, do lado direito, ficava o edifício dos CTT.



Foto nº 7A > Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > 
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Igreja de Santa Ana, poormenor da fachada (1)



Foto nº 7B> Guiné  > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > 
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Igreja de Santa Ana, poormenor da fachada (2)

Fotos do álbum do Padre José Torres Neves, antigo capelão militar.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 


 1. Mais um conjunto de fotos (17) enviadas no passado dia passado dia 2 de agosto pelo nosso  camarada e amigo Ernestino Caniço;

(i) ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fev 1971, hoje médico, a residir em Tomar; o Ernestino Caniço fez amizade com o Zé Neves, e este confiou-lhe o seu álbum fotográfico da Guiné, que temos vindo a publicar desde março de 2022; são cerca de duas centenas de imagens, provenientes dos seus diapositivos, digitalizados; uma coleção única, preciosa;

(ii) o Ernestino Caniço tem sido o zeloso e diligente guardião do álbum fotográfico da

O capelão José Torres Neves,
missionário da Consolata

 Guiné, deste padre missionário da Consolata, José Torres Neves, natural de Meimoa,  Penamacor,  merecendo os dois os nossos melhores elogios e saudações.

(iii) o Padre Neves, nosso grão-tabanqueiro, reformou-se recentemente de uma vida inteira, generosa,  abnegada, dedicada às missões católicas, nomeadamente em África; tm já cerca de 4 dezenas de referências no nosso blogue


2. Neste poste, selecionámos apenas fotos da igrejade Santa Ana. 

Mansoa, localizada na região de Oio, foi um centro de resistência balanta contra a colonização portuguesa até o início do século XX, quando os portugueses estabeleceram um posto militar permanente em 1913 após várias "campanhas de pacificação", onde se destacou o "capitão-diabo" (Teixeira Pinto). (1913-1915). A povoação balanta pertencia ao regulado de Braia.

A missão católica em Mansoa foi fundada oficialmente apenas em 1953, quando monsenhor José Ribeiro criou a missão de Santa Ana de Mansoa e a confiou ao padre franciscano Júlio do Patrocínio. Isso mostra que a presença missionária católica institucional em Mansoa é relativamente recente e só se tornou possível depois do controle colonial efetivo. Até então a presença da igreja católica estava circunscrita ao Cacheu e a Bissau.

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 15 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27017: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXVI: a presença da Igreja Católica em Mansoa

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27197: Notas de leitura (1836): O uso do napalm na guerra da Guiné, na Revista de Relações Internacionais de Junho de 2009 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Não encontro somente na Feira da Ladra correspondência que já devia estar guardada no Arquivo Histórico-Militar, os vendedores de espólios permitem-nos adquirir pequenos tesouros informativos, obras desconhecidas, artigos inseridos em publicações onde não era imaginável encontrar um artigo como este, como o uso de napalm na Guiné. De 2009 à presente década, têm surgido relatos, sobretudo de oficiais da Força Aérea, que sugerem o uso de tais bombas e desfolhantes. Há que aguardar com expectativa o derradeiro livro que o José Matos está a escrever sobre o Santuário Perdido (história da Força Aérea na Guiné, falta o período 1973-1974) para saber se esta questão das bombas de napalm é pelos autores equacionada.

Um abraço do
Mário



O uso do napalm na guerra da Guiné

Mário Beja Santos

Na revista Relações Internacionais R:I, n.º 22, junho de 2009, António Araújo e António Duarte Silva publicaram o artigo intitulado O uso de napalm na guerra colonial. O ponto de partida foi o conjunto de quatro documentos localizados no Arquivo da Defesa Nacional: 

  • um documento datilografado, classificado “muito secreto”, com a assinatura do Tenente-Coronel José Luís Ferreira da Cunha, do Gabinete do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, de 9 páginas, com a data aproximada de 9 de maio de 1973; 
  • um documento em papel timbrado do Comando-chefe das Forças Armadas da Guiné, classificado “secreto”, datado de Bissau, 27 de maio de 1974 e assinado pelo Comandante-Chefe Carlos Fabião; 
  • um documento com indicação “Comando-chefe das Forças Armadas da Guiné – Quartel General, 3.ª Repartição”, datado de 28 de maio de 1974;
  • documento datado de 19 de junho de 1974, não assinado, classificado como “secreto”, do Chefe do Gabinete do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, destinado ao Chefe do Gabinete do Chefe de Estado-Maior da Força Aérea, o assunto é “bombas napalm”.

Da análise interna feita por estes autores, pode apurar-se: um documento anterior ao 25 de abril, muito provavelmente do início de maio de 1973, que justifica a posse e utilização de napalm e outras armas incendiárias pelas Forças Armadas Portuguesas nos três teatros de operações; um ofício, de 27 de maio de 1974, do Comandante-Chefe Carlos Fabião, solicitando instruções quanto ao destino a dar às bombas napalm existentes naquele território, quantificadas em 1170 bombas NAP de 350 litros e 790 bombas NAP de 100 litros, sugere-se a sua transferência para a Ilha do Sal. Documentos de incontestável valor histórico, com o condão de exigir uma reflexão mais aprofundada quanto ao uso de bombas incendiárias em combate por parte das Forças Armadas portuguesas.

À data da publicação deste artigo dizia-se não existirem estudos especificamente dedicados ao tema. Havia algumas menções como, por exemplo, num artigo de Mário Canongia Lopes publicado na revista Mais Alto, e o livro de Luís Alves Fraga intitulado A Força Aérea na Guerra em África – Angola, Guiné e Moçambique, Prefácio, 2004. 

Estas referências aludem a napalm utilizado contra objetivos militares bem definidos, tais como posições de artilharia antiaérea, napalm carregado em depósitos de origem norte-americana havendo combustível fornecido por Israel. Adiantam os autores que era reconhecido o uso de bombas de 50 quilos de 60 litros de napalm em certas operações de destruição de meios antiaéreos do PAIGC, caso das operações Resgate e Estoque.

Parece claro, aceitando o depoimento do Marechal Costa Gomes, que no seu tempo de Comandante-Chefe em Angola nunca se utilizou napalm, embora reconhecendo que havia napalm e desfolhantes no território, que tais desfolhantes foram usados só no Leste. Publicadas estas declarações, vários oficiais vieram negar veementemente que as nossas tropas algum dia tivessem utilizado napalm. E os autores voltam a observar que, pelo menos até meados de 1973, as Forças Armadas portuguesas utilizaram napalm e outras bombas incendiárias nos três teatros de operações em África.

Napalm e bombas incendiárias são uma das matérias mais controversas quanto ao seu uso durante as guerras, daí o silêncio quase absoluto do assunto. A Guiné era o território onde mais se recorria a este tipo de armamento. O consumo médio mensal era de 42 bombas incendiárias de 300 kg, de 72 bombas incendiárias de 80 kg e de 273 granadas incendiárias M64. 

O napalm foi utilizado na Guiné desde 1965, nomeadamente na operação Resgate, realizada na Península do Cantanhez, e tudo indicia que as bombas incendiárias foram usadas até ao 25 de Abril de 1974.

Voltando ao indisfarçável incómodo que se traduzia no uso destas armas, sabia-se que a opinião pública tinha um horror visceral pelo uso destes líquidos inflamáveis à base de gasolina gelificada. E os autores adiantam um elemento histórico informativo sobre o uso do napalm e o pavor da opinião pública, referindo que a partir da guerra do Vietname os seus efeitos sobre os seres humanos apareceram ilustrados em imagens crudelíssimas, divulgadas por todo o mundo. 

É o caso da célebre fotografia de uma rapariga sul-vietnamita de 9 anos, gravemente queimada pelo napalm, a fugir dos bombardeamentos, publicada em 1972. De acordo com a informação disponível não foram captadas imagens deste teor.

Igualmente os autores recordam os preceitos do direito internacional, ao tempo ainda não se podia falar rigorosamente de interdição das armas bacteriológicas (ou biológicas) e, muito menos, das armas químicas. Seja como for, em agosto de 1968, Amílcar Cabral enviara uma petição à Comissão de Descolonização da ONU, assinalando que as forças portuguesas bombardeavam intensamente o território com napalm e fósforo branco e se preparavam para recorrer a produtos químicos desfolhantes e tóxicos contra as populações locais, uma matéria que levou à resolução condenando Portugal. 

No ano seguinte, Cabral voltou a denunciar o uso de napalm pelas forças militares da Guiné, na sua intervenção oral o líder do PAIGC denunciou tais bombardeamentos, estavam comprovados com testemunhos.

Voltando à análise dos quatro documentos constantes do Arquivo da Defesa Nacional, o marechal Costa Gomes despachou favoravelmente a proposta de Fabião para a retiradas das bombas da Guiné, o que não deixa de nos provocar uma certa estupefação já que Costa Gomes tinha afirmado nada saber contra o uso de napalm na Guiné. 

Quanto a António de Spínola, apesar de nunca se ter pronunciado expressamente sobre o tema, podem citar-se alguns testemunhos inequívocos constantes no livro sobre a guerra da Guiné publicado em 1973 na África do Sul, foi seu autor Al Venter, o uso de bombas napalm armazenadas no aeroporto de Bissau, não correspondiam a marcas da NATO ou dos Estados Unidos, alguns dados sugeriam que Portugal se encontrava a produzir as suas próprias bombas. Também da leitura à informação do Tenente Manuel Ferreira da Cunha se pode depreender que havia justificação para a continuação do recurso àquele tipo de armamento.

No termo do seu artigo, os autores realçam um ponto: até ao 25 de Abril uma quantidade apreciável de bombas incendiárias permaneceu em África – ou, pelo menos, na Guiné. Se continuaram a ser utilizadas após a informação de Ferreira da Cunha, é algo que se desconhece. Mas estes documentos revelam que a incómoda e desconfortável presença do napalm em África se prolongou, pelo menos, até maio de 1974.

Napalm montadas em T6, na BA 12. Foto de Arnaldo Sousa
Guiné 1969, T6 com bombas de napalm. Foto de Alberto Cruz
BA 12 - Fiat armado com bomba de Napalm.
Imagens retiradas do blogue Clube de Especialistas do AB4
Imagens retiradas de um artigo do Major General Piloto Aviador Krus Abecasis sobre o uso do napalm em operações para destruição de sistemas antiaéreos do PAIGC, publicado na Revista Militar, dezembro de 2008

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Nota do editor CV:

Por pura coincidência, e uma vez que as recensões do nosso confrade Mário Beja Santos, são publicadas, normalmente, por ordem de chegada, o assunto de hoje tem a ver com o que andamos a discutir actualmente no Blogue, o uso de bombas incendiárias/napalm na Guiné.
Fica a justificação, mesmo que desnecessária.

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Nota do editor

Último post da série de 5 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27188: Notas de leitura (1835): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 10 (Mário Beja Santos)