quarta-feira, 8 de março de 2006

Guiné 63/74 - P598: Dia Internacional da Mulher (3): Referências e experiências vividas com as mulheres (ou bajudas) da Guiné durante a guerra (Mário Dias) e Mulher da Minha Terra, poema de Eunice Borges (Conceição Salgado)

1. Mensagem do Mário Dias

Caro Luis

Tenho andado a dar voltas à tola para satisfazer o teu pedido de referências e experiências vividas com as mulheres (ou bajudas) da Guiné durante a guerra. Sobre este assunto pouco tenho a dizer e julgo que, melhor do que eu, outros tertulianos o poderão fazer.

Se até 1961, antes da guerra, tive aventuras facilmente imagináveis, a partir dessa data, não sofri as privações que os nossos camaradas sofreram, nem me envolvi em românticas aventuras porque já era casado e tinha família constituída em Bissau.

No entanto, não deixo de prestar a minha homenagem às mães, esposas, companheiras e amigas, nossas e do inimigo, que connosco partilharam as agruras daqueles tempos. A história não poderá de forma alguma esquecê-las.

Continuando as minhas crónicas sobre o que era a vida na Guiné antes da guerra, para que todos os camaradas tertulianos sintam que o ambiente era semelhante ao que existe hoje, instalada a paz, envio mais um capítulo sobre Bissau. Conto fazer algo semelhante sobre Farim e Bafatá, por serem as terras onde habitei com carácter mais permanente. Isto, claro, se vires nisso algum interesse.

Um grande abraço para todos os tertulianos e para as mulheres a minha singela homenagem no dia que lhes é dedicado. E que não sejam esquecidas nos restantes 364 dias do ano.

Mário Dias

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2. Mensagem de Conceição Salgado:

Caro Luís,

Segue um poema de homenagem à mulher, sem fundamnetalismos ou feminilismos
doentios. Homenagem a todas as mulheres seja qual for a latitude ou longitude. E uma foto da Mãe-África, como fundo, será que é possível?
Mantenhas

Bissau, 8 de Março de 2006

Conceição Salgado

Mãe-África (escultura)


MULHER DA MINHA TERRA

Mulher da minha terra,
Mulher sofredora,
Mulher escrava,
Que só conhece deveres,
Vem!
Vem que já brilha
Para ti uma nova luz!
Vem de fronte erguida
E grita bem alto
Que ser mulher não é desdouro!
Vem!
Ser mulher não é ser fraca,
Ser mulher não é
Obedecer sem perceber,
Seguir sem conhecer o caminho,
Dar, sem receber
Não! Mulher da minha terra!
Vem!
Vem conhecer o teu valor
De ser mulher,
Deixa a ignorância
E vem aprender a ser mulher!
Vem!
Não precisas de adornos fúteis
Para seres bela
Mesmo coberta de farrapos.
Vem dar o teu contributo,
A tua palavra,
Até mesmo o teu olhar
Tem o seu valor como mulher!
Vem!
Mulher-criança!
Mulher-jovem
Mulher-mãe
Mulher velhinha,
Todas hoje unidas
No mesmo amor,
Vem glorificar
A Natureza que te fez
Mulher.

Eunice Borges
(nascida em Cabo Verde, descende das mais antigas famílias do arquipélago dos Bijagós)

Fonte: Antologia Poética da Guiné-Bissau (Lisboa: Editorial Inquérito, 1990) (1)
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Nota de L.G.

(1) Vd Breve resenha sobre a literatura da Guiné-Bissau (Filomena Embaló, 2004)

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