1. Mensagem do Mário Dias
Caro Luis
Tenho andado a dar voltas à tola para
satisfazer o teu pedido de referências e experiências vividas com as
mulheres (ou bajudas) da Guiné durante a guerra. Sobre este assunto
pouco tenho a dizer e julgo que, melhor do que eu, outros tertulianos o
poderão fazer.
Se até 1961, antes da guerra, tive
aventuras facilmente imagináveis, a partir dessa data, não sofri as
privações que os nossos camaradas sofreram, nem me envolvi em românticas
aventuras porque já era casado e tinha família constituída em Bissau.
No
entanto, não deixo de prestar a minha homenagem às mães, esposas,
companheiras e amigas, nossas e do inimigo, que connosco partilharam as
agruras daqueles tempos. A história não poderá de forma alguma
esquecê-las.
Continuando as minhas crónicas sobre o que
era a vida na Guiné antes da guerra, para que todos os camaradas
tertulianos sintam que o ambiente era semelhante ao que existe hoje,
instalada a paz, envio mais um capítulo sobre Bissau. Conto fazer algo
semelhante sobre Farim e Bafatá, por serem as terras onde habitei com
carácter mais permanente. Isto, claro, se vires nisso algum interesse.
Um
grande abraço para todos os tertulianos e para as mulheres a minha
singela homenagem no dia que lhes é dedicado. E que não sejam esquecidas
nos restantes 364 dias do ano.
Mário Dias
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2. Mensagem de Conceição Salgado:
Caro Luís,
Segue um poema de homenagem à mulher, sem fundamnetalismos ou feminilismos
doentios. Homenagem a todas as mulheres seja qual for a latitude ou longitude. E uma foto da Mãe-África, como fundo, será que é possível?
Mantenhas
Bissau, 8 de Março de 2006
Conceição Salgado
Mãe-África (escultura)
MULHER DA MINHA TERRA
Mulher da minha terra,
Mulher sofredora,
Mulher escrava,
Que só conhece deveres,
Vem!
Vem que já brilha
Para ti uma nova luz!
Vem de fronte erguida
E grita bem alto
Que ser mulher não é desdouro!
Vem!
Ser mulher não é ser fraca,
Ser mulher não é
Obedecer sem perceber,
Seguir sem conhecer o caminho,
Dar, sem receber
Não! Mulher da minha terra!
Vem!
Vem conhecer o teu valor
De ser mulher,
Deixa a ignorância
E vem aprender a ser mulher!
Vem!
Não precisas de adornos fúteis
Para seres bela
Mesmo coberta de farrapos.
Vem dar o teu contributo,
A tua palavra,
Até mesmo o teu olhar
Tem o seu valor como mulher!
Vem!
Mulher-criança!
Mulher-jovem
Mulher-mãe
Mulher velhinha,
Todas hoje unidas
No mesmo amor,
Vem glorificar
A Natureza que te fez
Mulher.
Eunice Borges
(nascida em Cabo Verde, descende das mais antigas famílias do arquipélago dos Bijagós)
Fonte: Antologia Poética da Guiné-Bissau (Lisboa: Editorial Inquérito, 1990) (1)
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Nota de L.G.
(1) Vd Breve resenha sobre a literatura da Guiné-Bissau (Filomena Embaló, 2004)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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