Texto do João S. Parreira (ex-Furriel Miliciano Comando, Brá, 1964/66), acrescentando mais nomes à lista de ex-militares, de origem guineense, que combateram nas NT e foram executados a seguir à independência, pelo PAIGC ou em nome do PAIGC (1). Não sei qual é a fonte usada pelo João (associação de comandos? ex-camaradas dos comandos? familiares?), mas esta é uma missão do nosso blogue, uma missão nobre, útil e necessária (mesmo que dolorosa) que temos de cumprir.
Mais: é um dever dos tugas que conhecerem, treinaram e foram camaradas de armas destes homens, uma obrigação de Portugal e da Guiné-Bissau, dois países que se dizem irmãos e onde ainda existe uma enorme complexo de culpa e um sentimento de vergonha que nos impede falar publicamente, olhos nos olhos, da guerra colonial e pós-colonial, das suas sequelas e dos seus fantasmas... Em Portugal e na Guiné-Bissau, os armários da nossa memória colectiva estão cheios de cadáveres, reais ou fantasmagóricos: temos que os abrir, por mor da verdade histórica e da nossa saúde mental... (LG).
Caro Luís Graça,
Sobre o que tem vindo a lume, posso garantir que durante o tempo que permaneci na Guiné, 1964/66, nunca assisti ou ouvi falar de assassinatos de guineenses pelos comandos africanos que integraram os Grupos existentes na altura.
Estávamos em estado de guerra, onde ninguém pediu para ir, e a intenção, julgo eu, era matar para não morrer. Assim, em ambas as partes, por vezes era inevitável não haver mortos ou feridos em combate. Felizes os camaradas que nunca estiveram metidos em combates, e por isso desconhecem quanto traumatizante é essa situação.
Como todos nós que por lá andámos sabemos, os Grupos de guerrilheiros, a que muitos guineenses se juntaram voluntariamente, estavam nìtidamente em vantagem pois conheciam bem o terreno, tinham grande resistência e mobilidade, sobreviviam com pouco, estavam bem armados e conheciam bem as tácticas de guerrilhas, aprendida em vários países estrangeiros, para além de terem a colaboração natural ou forçada das populações. Em caso de necessidade tinham a vantagem de terem santuário em países vizinhos.
Se os guineenses que mais tarde fizeram parte das companhias de comandos não tivessem optado por se alistarem, e como tal sido treinados pelo nosso Exército, seriam por certo forçados a lutar ao lado dos guerrilheiros.
Agora visto por outro prisma. Se estes africanos eram assim tão sanguinários e assassinos como dizem, pois desconheço, pobres de nós, militares portugueses, se os mesmo se tivessem aliado aos seus irmãos de côr. Ou pior ainda, se mais tarde desertassem e se juntassem à causa da guerrilha.
Veio a verificar-se que fizeram uma opção errada, pois não seriam executados e hoje seriam, talvez, heróis nacionais, já que com o seu treino e perícia, teriam por certo no seu palmarés a morte de manga de portugueses, e quem sabe se algum de nós.
Outros fuzilamentos após a Independência da Guiné:
1º. Sargento Enfermeiro João Baptista (Depósito de Adidos)
2º. Sarg Inf Agnaldo Quinde Baldé (CCS/QG)
Soldado Infantaria Dicó Baldé (CCS/QG)
Sold Inf Miguel Francisco Pires (CCS/QG)
Sold Artilharia Henrique Sello Jaló (GAC 7)
Sold Art Jaló Seidi (GAC 7)
Sold Art Bacar Seidi (GAC 7)
Sold Inf Sello Jaló (GAC 7)
Sold Inf Demba Ganó (CCAÇ 11)
Sold Inf Sidi Jaló (CCAÇ 12)(2)
Sold Inf Aliu Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Baba Gallé Jaló (CCAÇ 18)
Sold Inf Bacar Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Mori Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Braima Jau (CCAÇ 18)
Sold Inf Amadu Baldé (CCAÇ 21)(3)
Sold Condutor Napoleão Jaló (Marinha)
Cmdt Milícia Bacar Alansó Cassamá (Empada)
Cmdt Mil Cabá Santiago (Bissorã)
Cmdt Mil Dantil Mendes (Jolmete)
Cmdt Mil Mamadu Seidi (Mansabá)
Um abraço.
João Parreira
___________
Nota de L.G.
(1) Vd. post de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
(2) Sold 82116369 Sidi Jaló (Apontador de Dilagrama), futa-fula, pertencente à 1ª secção do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (Bambadinbca, 1969/71). Era Comandante deste Gr Comb o Alf Mil de Inf 13002168 António Manuel Carlão. A ele também pertenciam os nossos queridos amigos e camaradas, os furriéis milicianos António Levezinho e Humberto Simões.
Vd. post de 21 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
(3) Poderá tratar-se do Sold 82105669 Amadu Baldé, futa-fula, que pertenceu à 3ª secção do 1º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), grupo esse que era comandado pelo Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira. O comandante da secção era o Fur Mil António Manuel Martins Branquinho, natural de (e residente em) Évora. Houve sodlados e graduados da CCAÇ 12 que integraram, em 1973, a nova CCAÇ 21. O Amadu Baldé poderá ter sido um deles: é apenas uma hipótese.
Vd. post de 21 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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