quinta-feira, 1 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P830: O meu avô Victor Vaz Martins, dos 'Gã' Martins de Empada (Leopoldo Amado)

Texto do Leopoldo Amado, historiador e membro da nossa tertúlia:

Caro Marques,

Fico contente em saber que estiveste em Empada e que mantens relações com população local. Empada foi o torrão onde nasci, apesar de ter crescido em Bolama e depois Bissau. O meu avô, Victor Vaz Martins, pai da minha mãe, era ali agricultor e comerciante, tendo mesmo chegado a desempenhar as funções de chefe do posto administrativo local.

Certamente deves ter ouvido falar dele, pois era uma figura muito conhecida não só em Empada, mas igualmente em Cubisseco, Dar-es-salam e outras localidades circunvizinhas de Empada. Porém, Victor Martins morreu em 1962, após ter sido preso e acusado pelas NT de prestar apoio e colaboração ao PAIGC. Soube-se mais tarde que fora fuzilado e enterrado numa vala comum, com muitos outros guineenses, todos acusados de subversão. Mas isso é uma outra história…

Eu próprio já escrevi sobre Empada, numa tentativa literária de evocação desse passado meio verídico e meio mítico em que o meu avô é referenciado como o verdadeiro patriarca da família e em que Empada prestou-se como cenário de uma quase epopeica dimensão da partilha, protagonizada na época pelo Martins. ( significa em crioulo família, no sentido alargado).

Prometo partilhar contigo esse texto ficcionado que escrevi há já uns anos, onde procurei ficcionar várias estórias entrecruzadas sobre Empada, as quais foram-me contadas e reproduzidas pela minha mãe e tios, mas também onde paradoxalmente narro a minha própria tentativa de reconciliação com Empada, afinal, terra que me viu nascer e que, por capricho do destino, só fui conhecer 29 nove anos após o meu nascimento.

Assim, caro Marques, agradeço de antemão qualquer outra arremetida textual ou iconográfica sobre Empada, qualquer coisa suplementar que possas saber ou ter guardado (fotos, p.e.) e que queiras partilhar, pois ainda vivo com a sensação algo curiosa de estar em divída com a terra que me viu nascer e em que cetamente os Martins conheceram o auge dos tempos idos e a grandeza da terra.


Um abraço amigo

Leopoldo Amado

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