Guiné > Gandembel > Ponte Balana > Novembro de 1968 > Passagem de uma coluna logística Aldeia Formosa/ Gandembel.
Texto e foto: © José manuel Samouco (2006)
Aldeia Formosa - Ponte Balana - Gandembel
Depois de uma ausência mais ou menos prolongada, não do acompanhamento do blogue, mas da minha participação, volto hoje na expectativa de obter alguns esclarecimentos.Como elemento da CAÇÇ 2381, Os Maiorais, e durante a permanência em Aldeia Formosa (Quebo) participei em algumas colunas de reabastecimento a Gandembel.
Colunas de má memória! Em 22 de Agosto de 1968, já no regresso entre Chamarra e Aldeia Formosa fomos surpreendidos com uma violenta emboscada, que nos causou alguns feridos graves e outros menos graves nos quais me incluí.
Evacuado para o Hospital Militar em Bissau, regressei após o tratamento de novo a Aldeia Formosa e vá de continuar com as colunas auto de reabastecimento. Numa das idas a Gandembel veio em sentido contrário, ao nosso encontro, um grupo de Paraquedistas, comandados, se não estou em erro, pelo Tenente Terras Marques, que aproveitaram para levantar um sem número de minas que se encontravam montadas ao longo da estrada (picada) e que o Furriel José Manuel Pedro, com o curso de minas e armadilhas, ia rebentando melhor ou pior.
Chegados a Ponte Balana, momentos de descontracção e de convivência com o pessoal do pelotão aí deslocado (2). Viaturas de novo em movimento e toca a saltar para aproveitar a curta boleia até Gandembel. Curiosamente eu tinha deixado a minha G3 na cabine da última viatura e para aí saltei quando da sua passagem. Um soldado que ainda se encontrava apeado, diz-me:
- Furriel saia daí, já viu como a viatura vai carregada?
Não pensei duas vezes e rapidamente saltei indo apanhar boleia na auto-metralhadora que fechava a coluna. Segundos depois dá-se a tragédia. A viatura carregada de bidons de combustível e com inúmeros paraquedistas rebentou com a ponte. Gritos de dor do pessoal que ficou preso entre os bidons, gritos de pânico, gritos de impotência e a viatura caída no fosso em plano inclinado com a cabine bem lá no fundo.
O pessoal de Ponte Balana (2) começou aos tiros para avisar os de Gandembel que havia problemas. Nós, da CCAÇ 2381, desconhecíamos esse procedimento, pelo que devem imaginar o pandemónio que se seguiu.
Depois desta conversa toda chegam as minhas dúvidas e o pedido de esclarecimento se é que é possível. Foi-me dito na altura que, depois de destruída a ponte sobre o Rio Balana, a Engenharia se encarregou de construir um novo tabuleiro. Como se tratava de uma zona altamente perigosa, o engenheiro militar fez-se deslocar de helicóptero e, sem se apear, calculou o tamanho do tabuleiro a construir.
Tempos depois e aquando da montagem da estrutura, verificou-se que o vão da ponte era maior que o calculado. Solução? Colocar sacos de cimento em cada uma das margens do rio, encurtando o vão da ponte de modo a que a estrutura ali assentasse convenientemente. Molhado o cimento, aí está uma ponte pronta a ser utilizada. Realmente foi utilizada até que se deu a tragédia que acabei de descrever. Será verdade? Quem me esclarece esta dúvida?
Em anexo envio uma foto (em mau estado), de Novembro de 1968, no decorrer de uma coluna Aldeia Formosa/ Gandembel. Transportávamos uma estrutura necessária para a travessia de um riacho, que era montada na ida, levantada e de novo montada no regresso.
José Manuel Samouco
(Ex-Furriel Miliciano,
CCAÇ 2381- Os Maiorais)
___________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 4 de Abril de 20096 > Guine 63/74 - DCLXVIII: O major Fabião e o furriel Samouco, da CCAÇ 2381 (1968/70)
(...) "Apresenta-se o ex-furriel miliciano José Manuel Samouco, pertencente à Companhia de Caçadores 2381, Os Maiorais, que passou pela Guiné entre Maio de 1968 e Abril de 1970. Sou camarada de guerra do Zé Teixeira e por ele viciado no blogue" (...)
(2) Vd. post de 18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69)
A CCAÇ 2317, aquartelada em Gandembel, tinha um grupo de combate a defender a Ponte Balana (de Abril de 1968 a Março de 1969). Estas duas posições foram abandonadas pelas NT.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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