"A fotografia mostra o que resta da antiga capela, num momento em que a AD, em colaboração com a comunidade local, deu início à demarcação e limpeza do terreno, para ter uma melhor vista de conjunto e assim iniciar os trabalhos deste projecto". O croquis que se vê na imagem, foi fornecido pelo Coronel Nuno Rubim e publicado, em primeira mão, na nossa página na Net > Subsídios para a história da guerra colonial > Guiné (13) > Guileje
Por Guileje passaram diversas unidades, incluindo a CCAÇ 726, que foi comandada durante vários meses pelo Cap Rubim, no ano de 1966.
1. À terceira... é de vez ! O coronel Nuno Rubim já nos tinha contactado, em tempos, através do Virgínio Briote, que foi seu alferes miliciano comando, e já tinha colaborado connosco, com o envio de um mapa do aquartelamento de Guileje (1), por ele desenhado em 1998 e que está a agora a ser muito útil ao Pepito e aos seus colaboradores (conforme documenta a foto acima inserida).
Mais recentemente também publicámos um pequeno post, do Nuno Rubin, sobre o corredor da morte (2). Há dias ele mandou-nos uma mensagemque não obteve resposta imediata. como bom artilheiro, ele insistiu... Aqui vai.
2. Texto do Coronel Nuno Rubim:
Dr. Luis Graça:
Tem-me sido muito difícil contactar consigo. Talvez desta vez tenha sucesso, para outro endereço que consegui encontrar ! ...
Transcrevo pois o email que lhe enviei para o endereço lgraca@clixpt
Caro Dr. Luis Graça:
Acho que é a primeira vez que contacto consigo directamente, pois até agora foi por intermédio do Virgínio Briote.
Gostaria de saber como vai o Projecto Guiledge, pois no próximo Sábado [, dia 10 de Junho,]
é a reunião da CCAÇ 726, a unidade que mais tempo permaneceu em Guileje e que comandei durante cerca de cinco meses.
Tenho tenção de pôr o pessoal ao corrente do projecto, pelo menos aos que o desconhecem.
E pergunto-lhe se deseja que na reunião sejam colocados algumas perguntas, pedidos ou esclarecimentos.
Um abraço
Nuno Rubim
3. Resposta, desta vez célere, do L. G.:
Meu caro Nuno Rubim:
(i) Desta vez eu é que estou em falta consigo. De facto, recebi, em boas condições, a sua mensagem, mas estava à espera de poder inseri-la no nosso blogue, divulgá-la e interpelar directamente o nosso amigo Pepito, da ONG de Bissau, AD - Acção para o Desenvolvimento, para saber em que ponto é que está o Projecto Guiledje (como ele gosta e faz questão de escrever).
(ii) Mas vamos por partes. O Briote, que eu só conheço do contacto pela Internet e pelo telefone, fez-me um excelente perfil do Nuno, como homem e como militar. Vejo que, para já, temos em comum o gosto pela história: a mim, por exemplo, interessam-me os serviços de saúde militares ao longo dos tempos, o papel da ordem hospitaleira de São de Deus... Sei que você é um reputado especialista em história da artilharia...
(iii) E é aqui que pode ser útil ao nosso amigo Pepito, que é engenheiro agrónomo de formação (andou no ISA, em Lisboa, tal como o Amílcar Cabral, se bem que ele seja doutra geração) e é uma pessoa de alto gabarito, estando a fazer um trabalho notável à frente da AD, que ele criou e dirige. Julgo que o Nuno já conhece o projecto (que é mais do que a simples reconstrução/reabilitação do aquartelamento de Guileje). Se não, aqui tem o sítio da AD e a página do projecto (segue também ficheiro em formato.pdf).
(iv) Eu ainda não sei muito bem como é que, para além da documentação sobre a guerra e o papel do aquartelamento de Guileje (relatórios,mapas, fotos, testemunhos..., de um lado e de outro), a gente pode ajudá-lo, a ele, Pepito... Para já somos um grupo (de amigos e camaradas da Guiné) que tem divulgado as iniciativas da AD e em especial o Projecto Guiledje... Mas ele precisa de outras coisas, como arquitectos paisagistas, fotógrafos, formadores, especialistas em diversos domínios (fauna, flora... ), mas também em... artilharia. Por exemplo, uma das coisas que ele anda à procura é de um obus 14...
(v) Eu acho que, para já, o mais importante é recolher documentação sobre as unidades militares que por lá passaram, desde o início, incluindo naturalmente a vossa CCAÇ 726... Deve haver muitas fotos e papéis nos baús dos nossos graduados e soldados... Isso não pode morrer, miseravelmente, no caixote do lixo, daqui a uns 10, 15, 20, 25 anos quando começar a desaparecer a geração da guerra colonial... O que eu tenho feito, modestamente, é pôr a malta a falar uns com os outros, a escrever, a divulgar, a contar as suas estórias, a abrir os seus diários, a confrontar-se uns com os outros, em suma, a reconstituir o puzzle da memória (individual e colectiva), como eu gosto de dizer... Este pode ser o melhor contributo para o projecto e a melhor maneira de "a vida triunfar sobre a morte" (sic)... O Pepito irá apreciar, até por que ele é um homem de cultura... Ele está a fazer o mesmo (ou até melhor, através de entrevistas a guerrilheiros e população).
(vi) Sobre Guileje (e Guiledje) já temos dezenas de referências no nosso blogue e nas nossas páginas na Net, incluindo a carta da respectiva região... Um belo dia, iremos lá ao Cantanhez fazer ecoturismo e fazer as pazes com os velhos irãs da floresta, alguns dos quais serão espíritos inquietos dos nossos mortos e das nossas vítimas ...
(vii) Desejo-lhe, meu caro Nuno Rubim, a si e aos seus camaradas, uma bela jornada de convívio no próximo sábado... Divulgue, se possível, o nosso blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné), que está já em dois endereços:
http://blogueforanada.blogspot.com/(até 31 de Maio de 2006)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/(a partir de 1 de Junho de 2006)
Teria muito gosto (e honra) em incluí-lo na nossa tertúlia...Diga-me se me autoriza ou me dá essa honra...
Um ciber-abraço,
PS - Tomo a liberdade de o pôr em contacto com o Guiné 63/74 - CCLXXIV: Projecto Guileje (3): planta do aquartelamento (1966)
(2) Vd. post de 18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXIX: O batalhão do 'corredor da morte' (Nuno Rubim)
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